11.07.2015 Views

Untitled - História da Medicina

Untitled - História da Medicina

Untitled - História da Medicina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

39Encontrei receitas semelhantes em livros <strong>da</strong>tados de1686, (o Tesouro de Prudentes), de 1840, (O LunárioPerpétuo) e de 1879, (O Formulário de Chernoviz(10ª edição) que pertenceu ao barbeiro <strong>da</strong>s Relvas,já falecido).Ca<strong>da</strong> família colhia os seus remédios, os simples,como colhia o seu pão, o seu vinho, o seu azeite, osseus frutos e legumes e tinha a sua farmácia práticade que fazia parte a garrafa de azeite virgem passadopelo “copo do licorne”, o frasco de “manteiga degado’’, o arrobe, o sebo, o unto sem sal, a enxúndiade galinha, a jarra de mel (nas lojas, lugar maisfresco) e montes de ervas... Se algum desteselementos faltava em casa, recorria-se às vizinhasou parentes que lho facultavam de boa vontade. Eensinava-se, <strong>da</strong>va-se conselhos aos mais novos emenos familiarizados com a doença. Veja-se a atitude<strong>da</strong> ti Rita, a benzedeira - personagem do meu livro AFlor do Feto Real. Essas mulheres nunca cobravamdinheiro a ninguém pelos seus serviços que erampres-tados como um acto de amor.II. Práticas mágicas. ensalmos e esconjuros.Havia certas enfermi<strong>da</strong>des para as quais amedicina caseira não <strong>da</strong>va, certamente, a respostadeseja<strong>da</strong>. Recorreu-se, então, ao sagrado esobrenatural. Cristãos de fé ardente, mas tambémsupersticiosos, os naturais do concelho, seguindo atradição oral, que se perde na noite dos tempos,recorreram às três Pessoas <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong>de,a Jesus e Maria, aos Santos e empregaram fórmulase rituais do Cristianismo que misturaram com práticasmágicas. Era uma medicina religiosa e mágica. OSinal <strong>da</strong> Cruz era o gesto talismânico mais usado eo principal de todos os rituais benéficos. Paciente ebenzedeira elevavam o pensamento para Deus,fazendo o Sinal <strong>da</strong> Cruz, antes de começar qualquerprática. Criava-se assim a “cadeia mágica’’ forma<strong>da</strong>pelo paciente, a benzedeira (o elo) e as forças doBem: Deus, Jesus, Maria e, por vezes, um santo.Depois fazia-se a prática - ensalmo ou esconjunro -ca<strong>da</strong> um com os seus gestos e materiais própriospara ca<strong>da</strong> caso.Além <strong>da</strong> Virgem, a mais importante consoladorados aflitos, os santos que a fé popular, nesta região,investiu no poder de curar (pessoas e animais),espécie de santos curandeiros, eram Santa Luzia,protectora dos olhos, Santo António, S. Neutel, S.Marcos e S. Brás, que “aplaca todos os males”.Também havia quem fizesse invocação “porcorrespondência”, por intermédio de parentes eamigos, a S. Bento, para obter a cura <strong>da</strong>s verrugas.Bastava enviar o ‘’recado’’ e a esmolacorrespondente, às vezes um sapato de trigo...Para curar o farpão (inflamação que dizem começardo canto interior do olho para fora) pegavam numamoe<strong>da</strong> que tivesse uma cruz ou num anel ou ain<strong>da</strong>em duas folhas de oliveira (conforme as aldeias)formando uma cruz, com as quais faziam cruzessobre o olho afectado e diziam três vezes:Em virtude de Deus,Santo Nome de Jesus,E é Jesus e é Maria,E é a SenhoraDa Santa LuziaPara curar a cabrita que distinguiam como umainflamação que começava <strong>da</strong> parte de fora do olho,para a de dentro, uns faziam cruzes apenas com opolegar direito, outros com duas folhas de oliveiracruza<strong>da</strong>s e outros com um anel:Se és cabritaOu outra feri<strong>da</strong> maldita,Deus te benza,Deus te queira benzer.Plas cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo,Em louvor de Santa Luzia,Pai-Nosso e Avé-Maria.No fim, rezavam um Pai-Nosso e uma Avé-Maria erepetiam tudo cinco vezes. Se doía muito, faziam a‘’cura’’ três vezes por dia.Nalgumas povoações, em vez <strong>da</strong>s cinco chagas,invocavam as três Pessoas <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong>de.No Malha<strong>da</strong>l, encontrei agora um texto compósito,que servia quer para o farpão, quer para a cabrita ouqualquer outra inflamação, também utilizavam asfolhas de oliveira cruza<strong>da</strong>s:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!