45AINDA AS 1. as JORNADASPromovi<strong>da</strong>s pela Socie<strong>da</strong>de Portuguesa deEscritores Médicos, Museu Tavares Proença Júniore Grupo de Médicos de Castelo Branco, realizaramseas primeiras jorna<strong>da</strong>s sobre este tema, tão invulgarentre nós, e que honra quem o pensou e organizou.Os objectivos enunciados no programa eramambiciosos, pois visava-se, ‘’numa perspectivainterdisciplinar e tendo como pólo referenciador aquiloa que usualmente se chama de <strong>Medicina</strong>, umencontro de especialistas <strong>da</strong>s diferentes áreas <strong>da</strong>sCiências Humanas que encontrem a substância <strong>da</strong>ssuas comunicações na reali<strong>da</strong>de cultural <strong>da</strong> BeiraInterior”.Um primeiro grupo temático incidiu sobre figurasde médicos ilustres, sendo Amato Lusitano de longeo mais evocado, e particularmente analisa<strong>da</strong>s ascélebres Centúrias, quer a propósito de problemasliterários, <strong>da</strong> história <strong>da</strong> morte no século XVI quermesmo <strong>da</strong> defesa <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de médica. Além deAmato, tivemos Ribeiro Sanches, o autor do “Tratado<strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> saúde dos povos’’, cuja obra dehigienista foi especialmente foca<strong>da</strong>, e atéconsidera<strong>da</strong>, em pleno século XVIII, precursora deuma atitude ecológica. E Henrique Jorge Henriques,médico renascentista cujo ‘’Retrato del perfectomédico” foi julga<strong>da</strong> actual em termos dos problemas<strong>da</strong> ética médica, e ain<strong>da</strong> Plácido <strong>da</strong> Costa.Um segundo grupo de comunicações já de teorantropológico e etnológico, incidiu sobre as formasde medicina popular e o conjunto de crenças e costumesa ela associa<strong>da</strong>s, sendo referidos osesconjuros, rezas, exorcismos e outras práticasmágicas, assim como um numeroso e curiosoconjunto de receitas caseiras, mezinhas e preparadosnaturais para as mais diversas maleitas,principalmente referi<strong>da</strong>s às aldeias <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong>Gardunha e ao concelho de Proença-a-Nova. Outraapresentação centrou-se nos ex-votos, amuletosprofiláticos e painéis <strong>da</strong> Beira Interior, <strong>da</strong> Colecçãodo Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia.Num terceiro feixe de comunicações a investigaçãohistórico-social constituiu o objectivo principal, sobreas condições de assistência na doença em CasteloBranco em fins do século XV - inícios do século XVI,ou o Hospital <strong>da</strong> Misericórdia do Fundão no séculoXIX. Noutra comunicação, de Iria Gonçalves“Médicos diplomados na Beira interior, emquatrocentos’’, constata-se que podiam serdiplomados e não diplomados, mas que eram muitopoucos os físicos diplomados. E também difíceis deconsultar, só nos grandes centros e era preciso terdinheiro. Assim, o primeiro apoio para a cura dosmales eram os curandeiros e benzedores,numerosos e procurados, e “ervas e palavras santaspor amor de Deus”. Noutro trabalho ‘’A terra e oshomens <strong>da</strong> Beira Interior nos relatórios médicos nosinícios do século XIX” Maria Adelaide Salvado analisao célebre “Jornal de Coimbra” (1812-1820). Nestaimportante publicação, onde entre outros escreveuBernardino António Gomes, publicaram-se relações<strong>da</strong>s enfermi<strong>da</strong>des que os médicos e cirurgiõesprovidos nos partidos <strong>da</strong>s câmaras, hospitais civis,casas de expostos e cadeias observavam, comindicação <strong>da</strong>s causas a que as atribuíam e dos meiosterapêuticos utilizados. São referi<strong>da</strong>s as relaçõesentre as condições atmosféricas e a saúde <strong>da</strong>spessoas, assim como as duras condições de vi<strong>da</strong> ede trabalho, causas de doença em terras interiores,que ‘’não são lugares de passagem, mas de destino’’.O recurso a médicos só acontecia muitas vezes emcircunstâncias graves, evidencia este trabalho que érevelador dos temas e preocupações <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong>demédica <strong>da</strong> altura, receituário corrente, doenças maisfrequentes e em geral <strong>da</strong>s condições de assistênciano início do século XIX.Houve finalmente um outro grupo deapresentações de temas mais ou menos isolados,sejam a Pré-História, o Termalismo, ou aEpistemologia do Senescer que de algum modoapontou um dos temas dos próximos encontros.Armando Moreno, com “Médicos-Escritores <strong>da</strong> BeiraInterior’’, fez uma longa digressão, entrando aliás peloséculo XX e fazendo considerações sobre a obraliterária de numerosos médicos através dos séculos.Evidencie-se uma vez mais a importância que oespírito inquisitorial na religião e na política teve nahistória portuguesa, e de como alguns dos melhoresespíritos europeistas, homens de ciência e judeus,foram perseguidos e se exilaram com asconsequências para o país que se conhecem. Ou, epara citar o tão pouco citado Maximiano de Lemos,“a intolerância religiosa foi o principal estorvo queencontrou, entre nós, o desenvolvimento <strong>da</strong>medicina, como de resto o de to<strong>da</strong>s as outrasciências’’ (História <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> em Portugal, Lisboa,1899).É claro que algum criticismo se pode fazer àsjorna<strong>da</strong>s: a leitura histórica não passou algumasvezes <strong>da</strong> ‘’história dos grandes homens’’ (neste casomédicos), com as evidentes limitações, a importânciae o significado <strong>da</strong>s medicinas populares nunca foidiscutido, quando o seu debate seria necessário pois
46algumas divergências foram bem notórias, houvefalta de representantes de disciplinas diversas, osestudos interdisciplinares não apareceram. Dequalquer modo, a corajosa aposta dos organizadoresfoi ganha, dezenas de pessoas de diversasformações estiveram juntas e comunicaram durantetrês dias, e o caminho só poderá ser o retomar doprojecto inicial, alargando o âmbito dos temas e <strong>da</strong>sparticipações. Só assim se cumprirá o sentido <strong>da</strong>sjorna<strong>da</strong>s, que de algum modo se realizaram sob aégide de José Lopes Dias, homem de ciência e decultura, como recordou António Salvado, o principalobreiro deste encontro. No final foi recor<strong>da</strong><strong>da</strong> anecessi<strong>da</strong>de de tradução do latim de várias obras,deixando de estar reserva<strong>da</strong>s para meia dúzia deestudiosos, e foi decidi<strong>da</strong> a publicação dos trabalhosem volume.Para o ano haverá II Jorna<strong>da</strong>s e um dos temasserá ‘’Doença, Envelhecimento e Morte”.Gostaria de informar quem não saiba, e a propósitodestes temas, que se iniciou em 1988 a publicaçãode ‘’Médicos Escritores Portugueses’’ em fascículos,por Armando Moreno, e também a Revista ‘’De<strong>Medicina</strong>” de Coimbra, dirigi<strong>da</strong> por Alfredo Rasteiro.Paralelamente às jorna<strong>da</strong>s, decorreram duasexposições, uma bibliográfica de médicos-autores<strong>da</strong> Beira Interior, outra de quadros de FernandoNamora, 45 anos depois <strong>da</strong> sua primeira exposiçãoem Castelo Branco, a maioria deles sobre paisagens,figuras e rostos de Monsanto e Tinalhas, onde foimédico. E, com a presença <strong>da</strong> viúva do escritor, foiexibido um diaporama, numa comovi<strong>da</strong> evocação deMonsanto com textos <strong>da</strong> “Nave de Pedra’’.José Morgado Pereira(in Revista Crítica de Ciências Sociais, n° 27/28, Junhode 1989, pp. 345, 346)AS PRÓXIMAS JORNADASMEDICINA NA BEIRA INTERIORDA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XIX2ªs Jorna<strong>da</strong>s de Estudo“A DOENÇA E A MORTE NA BEIRA INTERIOR”CASTELO BRANCO, 16, 17 e 18 de Novembro 90Organização de:“<strong>Medicina</strong> na Beira Interior” - Cadernos de CulturaCom o patrocínio <strong>da</strong>Socie<strong>da</strong>de Portuguesa de Escritores Médicose a colaboração do Instituto Politécnico de CasteloBrancoO Secretariado funciona na Urb. Qta. Dr. Beirão, 23- 1 ° E - 6000 Castelo Branco, para onde deverão serenvia<strong>da</strong>s as inscrições, indicação de temas <strong>da</strong>scomunicações e qualquer outra correspondência.Inscreva-se já.
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