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Untitled - História da Medicina

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40Em virtude de Deus,Santa Luzia,Mistério <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong>de,Vinde curar esta enfermi<strong>da</strong>deQuer seja farpão ou cabritaOu outra qualquer nasci<strong>da</strong>,Atrás torne, adiante nã vá,Vertudes qu’a Nossa Senhora fazC’a sua mão divina,Obra milagres junta c’a minha.Diziam que, quando se tinha cabrita ou farpão, nãoera bom olhar para animais com pêlo (cabras, burros,bois...). Por isso, deviam manter o olho coberto.Para “curar’’ a erisipela a que chamavam “zípela”ou ‘’zipéla’’ usavam palhas que variavam de povoaçãopara povoação: numas eram de centeio, noutras deesparto, que molhavam no azeite <strong>da</strong> candeia e faziamcruzes na pele inflama<strong>da</strong>, enquanto diziam:Donde vens, S. Julião?- Venho de Roma.O que vistes tu por lá?- Munta gente morta,De zípela e zipelões.Volta pra trás, S. JuliãoE vai curar essa genteCom azeite virgemE três palhinhas do campo;Na graça de DeusE do Divino Espírito Santo.Na Catraia Cimeira, em vez de azeite <strong>da</strong> candeia,usavam azeite virgem.Nas Corgas, em vez de S. Julião, diziam Pedro ePaulo e usavam um pe<strong>da</strong>cinho de lã virgem, em vezde palhas. Quando uma pessoa tinha dor de cabeçae má disposição geral, diziam que estava comquebranto, que tinha sido vítima de mau olhado.Então, preparavam um prato com água, ondedeitavam três gotas de azeite e diziam o ensalmo:Fulanola, Deus te fez,Deus te criou,Esta lua por ti passou,Ela te torne a deixar;Em louvor <strong>da</strong>s três PessoasDa Santíssima Trin<strong>da</strong>de,Em Nome do Pai, do FilhoE do Espírito Santo.Se tivesse mau olhado, o azeite espalhava-se, durantea repetição <strong>da</strong>s palavras mágicas.Nalgumas povoações, usavam uma tijela comágua, sobre a qual faziam cruzes com um ramo dealecrim ou moita a arder, os ramos queimados caíamna água e iam logo ‘’de ponta” ao fundo, se tivessemau olhado. Por fim, atiravam a água para o lume,pelo lado esquerdo por detrás <strong>da</strong>s costas.Para o quebranto, encontrei várias fórmulas. Napovoação do Padrão deram-me uma híbri<strong>da</strong> muitointeressante, que parece ser para uso pessoal, poisdiz ‘’me’’ e não “te” como é habitual. A informadoradisse ser para curar o quebranto.Deus me fez,Deus me criou,Deus me curede quem mal pra mim olhou.Duas ma botaram,Três ma handem tirar:As três Pessoas <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong>de.Se és quebranto, é t’espanto,Se és estrepasso, é te passo,Se é p’la testa, Dês m’acu<strong>da</strong> depressa,E se é por trás, Dês m’acu<strong>da</strong>, S. Brás.Se é por diente, Dês m’ acu<strong>da</strong> sempre.Também usava o prato de água, com a gota deazeite. Quando uma criança teve medo de qualquercoisa, como uma trovoa<strong>da</strong>, por exemplo, se ficoudeprimi<strong>da</strong> ou se gaguejava, costumavam benzê-lado “estrepasso”:Se é estrepasso, é te passo,Se é quebranto, é te espantoC’a graça de DeusE do Divino Espírito Santo;Se és quebranto, é t’espantoSe é estrepasso, é te passo; etc.Repetia-se nove vezes, sempre trocando a ordemdos versos e passando a criança, o mesmo númerode vezes, por uma mea<strong>da</strong> de linho galego com novefios. A mea<strong>da</strong> aberta metia-se pela cabeça e desciaaté aos pés.Este esconjuro é semelhante a um que vêm nomeu livro A Flor do Feto Real, recolhi<strong>da</strong> no Malha<strong>da</strong>lem 1978 e que termina “Em virtude do Santo Nomede Jesus”.Para a infecção na pele a que chamam cobrão eque atribuíam a “uns bichinhos peçonhentos”, hápovoações em que usavam o óleo de trigo queimadoem ferro em brasa, mas noutras usavam apenas oesconjuro. Além de uma fórmula curta que vem nomeu livro, encontrei há pouco, também no Malha<strong>da</strong>l,a seguinte:P’lo rio Douro passei,Cobras e cobrões cortei.P’lo rio Douro, tornei a passarE cobras e cobrões tornei a cortarR sar<strong>da</strong>niscas, sardões, cobras, cobrõesQue cobrem o corpo todo.

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