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Janelle Monáe vai parar o trânsito na Avenida - Fonoteca Municipal ...

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Daniel Monzón é herdeiro de um cinemaque explora a existência ultrapassadados géneros: entre filmes debárbaros adaptados à imagi<strong>na</strong>ção juvenil(“El corazón del guerrero”,2000), de assaltos caricatos (“El robomás grande jamás contado”, 2002)ou de “acção psicológica” (“A CaixaKovak”, 2006), as suas obras remetempara categorias do cinema popularcoladas a determi<strong>na</strong>das épocas.Consciente da dificuldade de sobrevivênciade um cinema de género,atira-se, <strong>na</strong> sua quarta longa, à adaptaçãode um “livro negro”, “Cela 211”,a história de um funcionário prisio<strong>na</strong>lque opta por chegar mais cedo ao seunovo local de trabalho e que se vê nocentro de um motim. Deixado a sósentre os prisioneiros, a sua sobrevivênciaestá dependente da sua interpretaçãocomo conde<strong>na</strong>do recémchegado.Monzón sentiu-se atraído por prendero espectador, o seu verdadeiroalvo, <strong>na</strong> sua própria cela. “O livro pareceu-meum ponto de partida estupendopara colocar o espectador nomesmo sítio que a perso<strong>na</strong>gem. Ouseja, uma pessoa normal colocadanuma situação de angústia excepcio<strong>na</strong>le que descobre coisas da sua intimidadedas quais não suspeitava.”Essa intimidade, exposta e exploradano filme tanto pela violência dos acontecimentos,é aquela queleva um “homem comum” a transformar-senum sanguinário, frustadopela incapacidade de resposta dasautoridades das quais depende. “Omeu desafio era colocar o espectadorno centro do motim”, diz Monzón.“Ele teria de viver, <strong>na</strong> sua própria pele,aquilo que se coloca perante a perso<strong>na</strong>gemde Juan Oliver [o jovem funcionárioda prisão].”O espaço da prisãoA cela 211 é onde Oliver acorda, já como motim em marcha. Oliver será levadoao encontro com Malamadre (LuisTosar), líder da revolta e vilão que olevará a essa “descoberta íntima”. “Ofilme foi rodado numa prisão verdadeira,com toda a energia que desprendia”,conta Monzón. Que se serviuda produção para interagir com arealidade do local. “Metade dos figurantessão presos reais ou ex-presos,alguns tinham estado <strong>na</strong> prisão ondefilmámos, outros estavam em liberdadecondicio<strong>na</strong>l”. A produção serviupara cumprir essas pe<strong>na</strong>s: “Consegui,graças às instituições presidiárias, queo trabalho comunitário dessas pessoasfosse, precisamente, participarneste filme.”Mas a prisão, apesar de já não funcio<strong>na</strong>rcomo tal (o filme foi rodado <strong>na</strong>antiga prisão de Zamora), não deixade jogar com as intenções da ficção.Monzón confessa que tinha medo deestar encerrado “durante 9 sema<strong>na</strong>scom prisioneiros reais a filmar umahistória negra e violenta, de ter umabolha de pressão” a explodir-lhe <strong>na</strong>cara. Contudo, afirma que o cinemadá poderes a quem se dedica a contaruma história. “Os presos envolveramsede uma forma que nunca teria imagi<strong>na</strong>do,tinham mais notas no guiãodo que alguns dos actores. São pessoasque estão encerradas num mundomuito duro durante muitos anose que, ao interpretarem-se a si mesmos,vivem uma fantasia.”Esse controlo sobre os intervenientespassou por um momento centralda filmagem: a chegada de Malamadre,personificação da brutalidade.“Quando fiz o meu plano de rodagem,fiz com que fosse imposto o seu estatutode líder entre os presos, tanto nofilme como <strong>na</strong> realidade”. Assim, oprimeiro dia de filmagens foi para odiscurso de Malamadre no centro dagaleria para os prisioneiros. “Era precisoque o vissem como líder, ele nãopodia dirigir-se a algumas pessoas ouandar em certas galerias se não sentisseque o consideravam como tal”,diz Monzón.Se Monzón introduziu a sua dosede realidade no filme, o resultado relembramais, contudo, a estética dosfilmes ásperos de série B. “O estiloteria de ser o de um folhetim informativoque viesse da televisão, quecolocasse o espectador sem defesas”,diz Monzón. Mas não assume umainspiração directa. “Apesar de admirarDon Siegel, Sam Peckinpah ouRobert Aldrich, não quis fazer umexercício cinéfilo. Mas estou conscienteque já tenho comigo esse mundo eque este género ganha muito com oseu estilo directo.”Mas tal como nos “filmes prisio<strong>na</strong>is”esconde-se por trás de “Cela 211”a história trágica de perso<strong>na</strong>gens que“O meu desafio eracolocar o espectadorno centro do motim.Ele teria de viver,<strong>na</strong> sua própria pele,aquilo que se colocaperantea perso<strong>na</strong>gemde Juan Oliver[o jovem funcionárioda prisão]”Daniel Monzónse juntam para a ruptura fi<strong>na</strong>l das suasvidas. “‘Cela 211’ é um filme de género,com os seus códigos, mas temtambém algo da tragédia clássica: ahistória de um homem que, um diaantes de começar a sua nova vida, vêsenuma situação sem saída em duashoras.” O retrato dessa tragédia teriade vir, necessariamente, de relatosreais. “Decidimos recorrer à realidadepara que a nossa história fosse amais fielpossível. Fomos a prisões e entrevistámospresos de todo o tipo, assimcom funcionários e familiares de presos.Fizemos quase tudo, exceptodormir <strong>na</strong> prisão.”Dessa transposição vem a inclusãoda realidade socio-política espanhola:entre os presos do filme, encontramseterroristas etarras. Mas Monzónevita uma tese política e defende ahistória huma<strong>na</strong>. “Se quisermos fazeruma reflexão política num filme, amelhor maneira será colocar o nossoponto de vista através das perso<strong>na</strong>gens.”“Cela 211” acaba por ser isso:o encontro improvável de dois opostosda vida huma<strong>na</strong>, o funcionáriocorrecto e o vilão assassino, que seconfundem nos seus papéis para adefesa da sua sobrevivência. “O queé mais bonito é a história dos destinosdessas pessoas, de Juan Oliver e Malamadre,e foi nisso que me desejeifocar.” Uma intenção que não rejeitauma crítica ao poder instituído, tantodas instituições públicas como daquelesque se sentem embriagados porele. Segundo Monzón, “o poder nãotem nenhum complexo em manipularou elimi<strong>na</strong>r o indivíduo para se perpetuar.”“Cela 211” acaba, desse modo,por surgir como “uma fábula emtorno do poder e da sua manipulação”,segundo o realizador, “ou comose evoca muitas vezes, em nome dobem-comum, a elimi<strong>na</strong>ção de benscolaterais. Mas esses bens colateraissão pessoas.”“Cela 211” é a prisão mais popularde Espanha: venceu oito PrémiosGoya, os galardões máximos da indústriaespanhola, e “fez mais de doismilhões de espectadores só em Espanha.”Ver crítica de filmes págs. 42 e segs.celaO espectador <strong>na</strong> suaOliver, umfuncionárioprisio<strong>na</strong>l,será levadoao encontrocom Malamadre,vilãoque o levaráa uma“descobertaíntima”“Cela 211”, o folhetim de um homem comum que se encontra, quase por acaso,no centro do motim de uma prisão, é a prisão mais popular de Espanha. Francisco Valente24 • Sexta-feira 3 Dezembro 2010 • Ípsilon

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