12.07.2015 Views

Janelle Monáe vai parar o trânsito na Avenida - Fonoteca Municipal ...

Janelle Monáe vai parar o trânsito na Avenida - Fonoteca Municipal ...

Janelle Monáe vai parar o trânsito na Avenida - Fonoteca Municipal ...

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

FOTOGRAFIAS DE FÁBIO TEIXEIRAEncontradosPormenores de uma relação amorosa: o tradutorTraduzir é mais que uma leitura especializada.É entrar dentro dos livros,ter um contacto íntimo, físico,com as palavras. É também conhecerquem escreveu o texto que está <strong>na</strong>smãos do tradutor. Fomos tentar descobriros pormenores de que se revesteesta relação amorosa.O tradutor encerra-se <strong>na</strong> companhiade dicionários e do texto que temem mãos para verter para outra língua.É um trabalho em que o tradutorTraduziu Cabrera Infante,Borges, Salinger, Pynchon ouNabokovSalvato Telles deMenezes “Por um lado,com o contacto pessoal [como autor], apercebemo-nos depeculiaridades que podemilumi<strong>na</strong>r a obra; por outro,há sempre algum receio de que,perante uma incompreensãodo tradutor, o autor, por maisbenévolo que seja, recalcitre,sobretudo se interpretámosmal os si<strong>na</strong>is.”“tem de estar <strong>na</strong> toca,” como nos dizArtur Guerra, que traduz com a mulher,Cristi<strong>na</strong> Rodriguez.“É quase trabalho de copista, deasceta, é preciso ter muito cuidadopara não perdermos a noção do origi<strong>na</strong>l,”diz, por sua vez, Jorge Fallorca.Conseguimos imaginá-lo fechado<strong>na</strong> sua torre de marfim, com um origi<strong>na</strong>lespanhol ou catalão à frente, a“copiá-lo” para português. Está sentadoa uma secretária, com um computador,e uma pilha de dicionáriosao lado, fiéis companheiros desta actividade.Ainda assim, solitário como é, nãodeixa de ser um trabalho que se fazem diálogo. Obrigatoriamente o diálogocom o texto que se traduz. Masmuitas vezes com os autores, com osseus intermediários ou com colegasde profissão.Procurar a origemPaulo Faria (n. 1967) <strong>vai</strong> ainda maislonge (e aqui deve ler-se também emsentido literal). Tendo traduzido quasetodos os livros de Cormac McCarthypublicados em Portugal — a excepçãoera “Belos Cavalos”, mas sairáno próximo ano nova edição comtradução de Faria —, viajou até Knoxville,Tennessee, para melhor traduzir“Suttree”.Antes tinha já estabelecido contactocom o autor. Obteve resposta, emborajá o tivesse tentado sem sucesso,aquando da sua primeira tradução de“Meridiano de Sangue” (2004). Primeira,porque acaba de sair nova tradução,feita totalmente de raiz, pelomesmo Paulo Faria (e se isto não éamor ao trabalho, o que será?).Este contacto com o autor revelase,muitas vezes, fundamental. “Sãovaliosas as explicações que os autoresnos podem dar sobre passos/expressõesempregues, ou sobre informaçãocultural ou subtexto ideológico quenos escapou.” Quem o diz é MargaridaVale de Gato (n. 1973), que traduziujá Lewis Carroll, Dickens, Yeats, Melville,Poe ou Michaux, e dá aulas <strong>na</strong>licenciatura em Tradução da Faculdadede Letras de Lisboa.E não é só o tradutor que ganha. Opróprio autor também sai beneficiadoquando se estabelece esta relaçãocom o tradutor. Di-lo Margarida eFallorca sublinha-o: “Os autores sãoos mais interessados nisso, proporcio<strong>na</strong>ro máximo de informação aotradutor, para que haja um bom resultadofi<strong>na</strong>l. Quando um tradutorpõe dúvidas ao autor, o autor fica contente,porque aquele não escolheuuma solução mais fácil.”Solução que, acrescentamos, possivelmentedaria mau resultado. ArturGuerra (n. 1949) e Cristi<strong>na</strong> Rodriguez(n. 1955) são casados e traduzem muitasobras em conjunto. Traduziramos três livros de Roberto Bolaño publicados<strong>na</strong> Quetzal (e mais se seguirão),bem como o mais recente romancedo prémio Nobel deste ano,Mario Vargas Llosa: “O Sonho do Celta”.Se há uns bons anos atrás contactavamtambém com os autores, agorafazem-no menos. “Com a Internet jáconseguimos resolver muitos problemas,”diz Cristi<strong>na</strong>. Artur acrescentaque se tor<strong>na</strong> “mais fácil dialogar comoutros tradutores, do mundo inteiro,e há dicionários e ferramentas online”que facilitam a tarefa. O facto de seremdois ajuda. Completam-se. “OArtur viveu onze anos em Espanha,<strong>na</strong> zo<strong>na</strong> de Valência, tem experiênciasdiferentes das minhas”, diz-nos Cristi<strong>na</strong>Rodriguez, filha de pai espanhol.Para Jorge Fallorca (n. 1949), tradutorde Vila-Matas, Piglia, Bioy Casaresou Tosca<strong>na</strong>, mesmo com as possibilidadesque a Internet oferece o contactocom os autores é fundamental.“Eu tento sempre interagir com o autor.Na fase fi<strong>na</strong>l, <strong>na</strong> pré-revisão digamosassim, junto questões e colocolhas.”Só não o faz, logicamente, paraautores mortos, como Bolaño, dequem traduziu “Estrela Distante” paraa Teorema.Fallorca conta-nos como, numaobra do argentino Ricardo Piglia, emque nem o dicionário de lunfardo (ocalão de Buenos Aires) lhe iluminouo caminho, foi espantosa a ajuda quedeu o autor. “Porque eu não vou pôra perso<strong>na</strong>gem a falar alentejano oucom sotaque da Beira. Há uma toada,uma musicalidade, que se perde inevitavelmente,mas procuro ter o cuidadode não atraiçoar o origi<strong>na</strong>l, queo livro não seja muito português.”O autor está quase sempre receptivoa este contacto com o tradutor. Masem quem traduz não poderá este contactocausar maior pressão? Ou deixálo-ámais à vontade por saber quepode recorrer à pessoa que melhorconhece o texto que está a traduzir?“Existe a possibilidade de as duassituações se manifestarem,” diz-nosSalvato Telles de Menezes (n. 1949),26 • Sexta-feira 3 Dezembro 2010 • Ípsilon

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!