Zeca Patrocinio, que o adorava e com quem ele tinhagrandes afinidades de temperamento, eraassim tarnbkm:descarnado, livido, frangalho de gente, mas sempre fagueiro,vivaz, agilissimo, dir-se-ia um moribund0 galvanizadoprovisoriarnente paraumafarra. 39Logo a seguir, como se fora umareplica a Sinh6, Bandeiranos narra uma aventura vivida em certa casa "inconfessavel" daruaRiachuelo, momento em que conheceuo boemio morto juntoa seus amigos Ovalle, Catulo e Villa-Lobos. Contudo, antes defalarmos especificamente so<strong>br</strong>e a boemiada Lapa, convem esboqar,a partir de outras cr8nicas inseridas no livro, principios dereflexaes so<strong>br</strong>e dois temas que se anunciamjae que siio recorrentesna relaqiio do poeta com a urbanidade moderna do Rio: aespecificidade de certos costumes da populaqiio (no caso osvelo<strong>rio</strong>s ca<strong>rio</strong>cas, abordados na cr8nica Veld<strong>rio</strong>s, que trata dapublicaqiio de um livro de contos escrito pel0 mineiro M.F. deAndrade, a quem as CrGnicas da provincia do Brasil siiodedicadas) e a funqBo tanto artistica quanto filosofica da morte,parodia boemia ao culto romgntico morbid0 e a morte civicopat<strong>rio</strong>ticadopositivismo, explicita emvelo<strong>rio</strong>s ou subentendidanacondiqiio daproximidade desta entre bo2mios e personagens quepovoam as crbnicas.A qualidade particular do velo<strong>rio</strong> ca<strong>rio</strong>ca reside no fato deque a vigiliapelo morto, por parte de amigos, parentes, cu<strong>rio</strong>sos,se da em clima de encontro social descontraido, quase festa, "decordialidade ehsiva" 40, retirando do ar umapossivel solenidadee profundidade espiritual solitaria, tipicas da oraqBo de rigidezeclesiastica, em nome de umaCCconversa-mole" irresistivel, especiede oraqiio coletivadescompromissadacom dogmas, cumprindoa funqiio de despedida da pessoa querida por meio da manutenqiioda vida social, na qua1 siio peculiares as recordaqaes decasos vividos em comum, discursos suspirantes de homenagempostuma, desvio da conversa para a conversa alheia, mesmo, etalvezprincipalmente, se estaniio dissermais respeito ao expirado,produzindo um tip0 popular solerte, naturalmente repleto de "boas-'
intenq6es" e que niio se constrange "nem mesmo diante daspessoas mais diretamente afetadas pel0 passamento", o "veloristacons~mado"~~, as naarte depapear nestas circ~nstiincias~ atraindoas atenq6es so<strong>br</strong>e si namesmaproporqiio em que se interessapelopapo-furado do outro.Ao afirmar que ficou "vendo os ci<strong>rio</strong>s arder e ouvindo aconversa de amigos", BandeiramantCm uma espiritualidade solithade reversncia a signosreligiosos (que tambem surge no finalda cr8nica, quando esta acompanhando junto a essa a rezaperi6dica do terqo por parte das "pretinhas de cabega <strong>br</strong>an~a"~~da Irmandade), ao mesmo tempo em que participa do espiritoca<strong>rio</strong>ca de velo<strong>rio</strong> ao conversar corn Sinh6, que lhe fora apresentad0naquele momento.Sinh8 tinhapassado o dia ali, eramais de meia-noite,ia passar a noite ali e niio parava de evocar a figura doamigo extinto, contava aventuras comuns, espinafravatudo quanto era musico e poeta, estava danado naquelaepocacom o Villae o Catulo, poeta era ele, musico eraele. Que lingua desgraqada! Que vaidade! mas a genteniio podia deixar de gostar dele desde logo, pel0 menosos que silo sensiveis ao sabor da qualidade ca<strong>rio</strong>ca. 43Sinh8, urn tipico ca<strong>rio</strong>ca, se enquadrava confortavelmentenas leis dos velo<strong>rio</strong>s em sua terra, e, como niio podia deixar deser, aproveitava a oportunidade parausar de autopromoqiio ("poetaera ele, musico era ele"), traqo de sua personalidade que seespraiaem suavozpo6tica, inseridano context0 de profissionalizqiiodo musico que se iniciavaentiio, de mod0 assistematico, nos meiosartisticos dacidade. ParaBandeira, o sabor daqualidade ca<strong>rio</strong>case mostra plenamente nos ve16<strong>rio</strong>s7 quando ha a passagem doambiente familiar parao vel6<strong>rio</strong>public0, de grandes proporqdes,"em que toda a irreverencia se desmancha num movimento deformidavel lirismo" 44. E cita os velo<strong>rio</strong>s que deram origem ascr8nicas que estamos p<strong>rio</strong>rizando por aludirem a Sinh8 como
- Page 2:
A partir do relato feito em cr6nica
- Page 7 and 8: P&MIO CARIOCA DE MONOGRAFIA199510 P
- Page 9: APRESENTACAO, 9PREFACIO, I I0 ENCON
- Page 14 and 15: vem falar dela e a compartilha ate
- Page 16 and 17: "corrompido" pel0 popular, nem vice
- Page 19: Meus agradecimen tos aBeatriz Resen
- Page 23: NA BOCAMnnuei BandeiraSempre tristi
- Page 26: margem nem leito, o rio. 0 Rio de J
- Page 29 and 30: primeira fase do modernismo brasile
- Page 31: NOTAS1 - BANDEIRA, Manuel. (1958) p
- Page 34 and 35: sei se exagero dizendo que foi na r
- Page 36 and 37: e aprendizagem dacidadania, de iden
- Page 38: naladeirado Curvelo, temacentral em
- Page 41 and 42: semicolonial, de economiaanirquica,
- Page 43 and 44: dos patriotismos civicos ufanistas
- Page 45 and 46: da historia, ao contriu-io das outr
- Page 47 and 48: aldeia global, para uma reinterpret
- Page 49 and 50: urn deles urnvalor sirnbolico na co
- Page 51 and 52: compradas doa compositores desconhe
- Page 53 and 54: tdcnicacomposicional intuitiva- ou
- Page 55: Contudo, o "sentido de reverencia a
- Page 59 and 60: fisico terminal, podem ser situados
- Page 61 and 62: No caso de Graqa Aranha ha uma hipe
- Page 63 and 64: apesar da campanha de ridiculo da n
- Page 65 and 66: 15 - BATISTA, Wilson. LP. Se'rie Hi
- Page 67 and 68: 37- MOURA, Roberto. (1983) p.9338-
- Page 69 and 70: A beleza de IracemaCantando Cumparc
- Page 71 and 72: fala gostoso oportugues do Brasil")
- Page 73 and 74: em que a Lapa nZio figurava ainda c
- Page 75 and 76: Deus ovalliano, era Ovalle deificad
- Page 77 and 78: samba ser considerado amaxixado: "f
- Page 79 and 80: Q UEM sA"O ELES?Carreiro, olha a ca
- Page 81 and 82: nuidade n8o abandona forqa erotica
- Page 83 and 84: damalandragemmais inteligente e mai
- Page 85 and 86: E o homenzinhoE perigosoSete Coroas
- Page 87 and 88: Marcava tambem, por outro lado, a a
- Page 89 and 90: maticamente, semas de redundiincia
- Page 91 and 92: letras apresentam amodemarealidade
- Page 93 and 94: contratado da laResidencia" numapen
- Page 95 and 96: sonradas por exercerem tal profissi
- Page 97 and 98: eservada aos boernios e outros tipo
- Page 99 and 100: 0 aspect0 sincrktico da cultura urb
- Page 101 and 102: desreprimidas e satinicas que tomam
- Page 103 and 104: de alguma entidade superior ancestr
- Page 105 and 106: Na cr8nica Candomble', usando outra
- Page 107 and 108:
Sique, a escurinha de raizes afro-a
- Page 109 and 110:
QUEM sA"O ELES? (samba)A Bahia e' b
- Page 111 and 112:
32 - MOURA, Roberto. (1 983) p.4033
- Page 113 and 114:
poema, Opd, em sua homenagem. Alvar
- Page 115 and 116:
43 - T INHO~O, Jose Ramos. (1 972)
- Page 117 and 118:
CARNAVAL E POESIA NA VIDA CARIOCANe
- Page 119 and 120:
de slogans, maximas morais reestrut
- Page 121 and 122:
festivo da cidade cosmopolita seja
- Page 123 and 124:
participaqiio efetiva nas festivida
- Page 125 and 126:
civilizatorios recorrentes nos disc
- Page 127 and 128:
a ser o espaqo popular frequentado
- Page 129 and 130:
na vida concreta, danqando a vida i
- Page 131 and 132:
os laqos comunit~ios e de sangue ex
- Page 133 and 134:
freqiienciaafesta tal como ocorrian
- Page 135 and 136:
qar-se indignado no tema, que a fes
- Page 137 and 138:
arato, como se todos quisessem, emb
- Page 139 and 140:
em momentos privilegiados, a ponte
- Page 141 and 142:
modinheiros nacionais pop~llares; o
- Page 143 and 144:
BURRO DE CARGA(samba)(... )Deus fez
- Page 145 and 146:
inquestionaveis, funciona no reino
- Page 147 and 148:
Ha tambemum determinado tipo de con
- Page 149 and 150:
Ora vejam s6A mulher que ezl arranj
- Page 151 and 152:
Ou em Trem de ferro:06.. .Quando me
- Page 153 and 154:
CABECA E AS(samba)Nunca mais um car
- Page 155 and 156:
Se aqui o clima de magia niio perde
- Page 157 and 158:
Sabia, sabib cantou nu mataE anunci
- Page 159 and 160:
N6o ha mulciria nem mole'stia de Ch
- Page 161 and 162:
38 - WISNIK, Jose Miguel. (1989) p.
- Page 163 and 164:
DUO TEMATICO-ESTIL~STICO:ESTRELA DA
- Page 165 and 166:
dialogo, tambem pode nos ajudar com
- Page 167 and 168:
Te esperarei corn mafuas novenas ca
- Page 169 and 170:
a compreensiio da dubiedade formado
- Page 171 and 172:
especie de transe" em confront0 com
- Page 173 and 174:
JURA (samba)Jura jura juraPelo Senh
- Page 175 and 176:
de juramento de fidelidade que se m
- Page 177 and 178:
fragment0 de Deus nos livre (... do
- Page 179 and 180:
6 - DICIONARIO Pratico da Biblia Sa
- Page 181 and 182:
17 - Que vale a "nota" sem o carinh
- Page 183 and 184:
\20 - SILVA, Ismael. LP. Se'rie Nov
- Page 185 and 186:
interpessoais tradicionais. E uma c
- Page 187 and 188:
ALENCAR, Edigar de. Nosso Snhd do s
- Page 189 and 190:
CANDIDO, Antonio, CASTELO, Jose Ade
- Page 191 and 192:
LOPEZ, Tele Porto Ancona. Mario de
- Page 193:
SILVA, Maximiano de Carvalho e et a
- Page 196 and 197:
Baudelaire. 166Bernardes, Artur. 84
- Page 198 and 199:
Lamartine das Serenatas (ver Cearen
- Page 200 and 201:
TiaCiata. 83,95,96Tinhoriio Uose Ra
- Page 202 and 203:
COLEC~O BIBLIOTECA CARIOCAA ERA DAS
- Page 204 and 205:
Andrt Gardel nasceu em Canoas, RS,