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Um poeta à sombra da estante - Academia Brasileira de Letras

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Eduardo PortellaEle era uma figura discreta, silenciosa, amena, mas extremamentesensível, extremamente perceptiva. Com essa sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e essapercepção, mais uma instrumentalização crítica, ele pô<strong>de</strong> construiruma obra que reflete exatamente essas duas vertentes básicas <strong>da</strong>construção <strong>de</strong>le. A percepção, o contato subjetivo e a programaçãocrítico-racional <strong>de</strong> todo aquele material.Para se ingressar na construção múltipla <strong>de</strong> Augusto Meyer po<strong>de</strong>-serecorrer a diferentes possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Várias são as passagensque se abrem diante <strong>de</strong> nós. Em to<strong>da</strong>s elas predomina o traço literário,o vinco inegociável <strong>da</strong> literarie<strong>da</strong><strong>de</strong>. É fun<strong>da</strong>mental dizer queMeyer não foi bem um intelectual <strong>de</strong> padrão mo<strong>de</strong>rno, um intelectualao estilo <strong>de</strong> Voltaire, um intelectual que o Oci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>senvolveua partir <strong>da</strong>s Luzes. Ele era fun<strong>da</strong>mentalmente um homem <strong>de</strong> letras,alguém voltado para a construção e para a in<strong>da</strong>gação do fazer literário.Se começarmos pelas suas poesias – e aqui utilizamos a edição <strong>da</strong>Livraria São José, <strong>de</strong> 1957 – seremos surpreendidos por uma coletânea<strong>de</strong> textos que não encontrou a ressonância mereci<strong>da</strong>, talvez peladificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> classificação. Seus poemas, não raro poemas em prosa,narrativas, pequenos ensaios, crônicas, são todos textos <strong>de</strong> fronteira,à boa maneira dos pampas, mas com uma <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> reflexivapouco freqüente em nossa literatura. A opção <strong>da</strong> simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> o protegeu<strong>da</strong>s retóricas opulentas ou equivoca<strong>da</strong>mente solenes.O primeiro livro, Alguns poemas, é <strong>de</strong> 1922. A <strong>de</strong>scrição, <strong>de</strong> fundoromântico, se compraz em <strong>de</strong>senhar cenas simples, on<strong>de</strong> se revezamsom e imagem sem nenhuma fúria – para aludir a alguma coisa queficou no ar graças a Shakespeare e a Faulkner. O mesmo acontececom o livro seguinte. Vê-se nesse bucolismo congênito que a voraci<strong>da</strong><strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnista não havia chegado ain<strong>da</strong> aos seus pagos gaúchos. OSul não havia ain<strong>da</strong> tomado conta <strong>da</strong> plataforma <strong>de</strong> governo lança<strong>da</strong>em 1922 em São Paulo. O mesmo acontece com Coração ver<strong>de</strong>, <strong>de</strong>1924. O lirismo comedido atravessa o âmbito <strong>da</strong> natureza e alarga o22

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