Augusto Meyer, um ensaísta <strong>da</strong> Comarca do Pampates <strong>da</strong> prática analítica <strong>de</strong> Meyer; com base em tal diagnóstico, procuraremosoferecer algumas consi<strong>de</strong>rações interpretativas, que talveztenham algum interesse para além <strong>da</strong> mera curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para registro:estamos referindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o título à conheci<strong>da</strong> categoria <strong>de</strong>Ángel Rama, o gran<strong>de</strong> crítico uruguaio, que imaginava po<strong>de</strong>r tratar acultura e a literatura <strong>da</strong> América Latina a partir <strong>de</strong> comarcas supranacionais,como é o caso <strong>da</strong> Comarca do Pampa, que abrangeria – euacho que abrange mesmo – a maior parte <strong>da</strong> Argentina, o Uruguai eo Sul do Brasil.Já <strong>de</strong> saí<strong>da</strong>, entretanto, cabe um registro. Meyer, como sabemostodos, foi um crítico que, na linguagem relativamente apressa<strong>da</strong> <strong>da</strong>historiografia, se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> “impressionista”, e que nós,para consumo momentâneo, talvez pudéssemos consi<strong>de</strong>rar, mais especificamente,como não-sistêmico, isto é, como um crítico a quemnão afeiçoava o enquadramento dos tópicos que analisava em estruturas<strong>de</strong> significação e interpretação abrangentes, totalizantes, englobantes,preferindo ele, antes, o comentário focado, <strong>de</strong> uma parte,no próprio objeto <strong>de</strong> que se ocupava, naturalmente, e <strong>de</strong> outra, emuma meia dúzia <strong>de</strong> premissas mais ou menos universais, cuja vigênciana obra em questão ele tratava <strong>de</strong> averiguar.Isso significa dizer que nosso homenageado, tendo sido, comotodos reconhecemos e as novas gerações precisam conhecer, um senhorcomentarista <strong>da</strong> literatura, não era um intérprete que buscassesistematização, nem na linha <strong>de</strong> um historiador <strong>da</strong> literatura, nem nalinha <strong>de</strong> um teórico em sentido estrito, um formulador <strong>de</strong> sistemainterpretativo. Por <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> honesti<strong>da</strong><strong>de</strong>, e mesmo por convicção <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m epistemológica, <strong>de</strong>vo dizer, entre parênteses, que nisso, permitindo-meagora uma intromissão mais ou menos impertinente, euestou quase nas antípo<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Meyer. Não que eu seja critério parana<strong>da</strong>, naturalmente, mas cabe anunciar que meu ponto <strong>de</strong> vista é justamenteaquele que busca sistema, que procura encontrar regulari<strong>da</strong>-47
Luís Augusto Fischer<strong>de</strong>s, particularmente em função <strong>de</strong> duas coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s, fáceis <strong>de</strong> mencionare certamente difíceis <strong>de</strong> diagnosticar – a excelência estética e arelevância sociológica <strong>da</strong> literatura. Para dizer <strong>de</strong> modo sintético epoupar o tempo <strong>da</strong> platéia, diria que meu ponto <strong>de</strong> vista trata <strong>de</strong> enxergaro caminho formativo <strong>da</strong>s coisas, usado o adjetivo no sentidopostulado por Antonio Candido em várias partes, nomea<strong>da</strong>menteem sua Formação <strong>da</strong> literatura brasileira. Espero não cometer injustiçascom nenhum <strong>de</strong>les.Assim, o que teremos nos próximos minutos é um programacomposto <strong>de</strong>: (a) um pequeno quadro <strong>de</strong> aferição <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>analítica <strong>de</strong> Augusto Meyer, o que se po<strong>de</strong>ria talvez nomear pomposamentecomo a epistemologia <strong>de</strong> nosso ensaísta; (b) diagnóstico dotratamento dispensado a Meyer às questões do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,que se acompanha <strong>de</strong> certo quadro <strong>da</strong>s referências em que ele se movimentanessa matéria gaúcha, nessa época; e (c), finalmente, um comentáriosobre o alcance e a vigência <strong>de</strong> tal tratamento e <strong>de</strong> tais referênciasno <strong>de</strong>bate contemporâneo. A pretensão é muita, meu talentopouco, o tempo escasso; só resta esperar que a generosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> platéiaseja suficiente para chegarmos ao termo <strong>de</strong>ste passeio. A1 Barbosa, JoãoAlexandre, Textoscríticos, p. 22.Doravante,mencionaremosessa edição comoTC, seguido donúmero <strong>da</strong>página.Iniciemos por aqui: a um leitor atento <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Meyer po<strong>de</strong>ráparecer um disparate o dizer que não alimentava ele o gosto pelas totalizações,se pusermos em <strong>de</strong>staque uma passagem <strong>de</strong> seu ensaio“Ciência e espírito histórico” em que o autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a superiori<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> história “para alcançar a suma dos conhecimentos humanos”. 1Sua visão, parece, está atravessa<strong>da</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alismo, em vários sentidos<strong>da</strong> palavra, i<strong>de</strong>alismo que ao longo do tempo – o ensaio <strong>de</strong> que tratamosaqui é <strong>de</strong> 1947 – Meyer parece abandonar em favor <strong>de</strong> mais ceticismoe mesmo <strong>de</strong> mais materialismo filosófico; i<strong>de</strong>alismo que48
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