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Um poeta à sombra da estante - Academia Brasileira de Letras

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Luís Augusto FischerReconheci<strong>da</strong>s as virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Borges, e Meyer faz isso em alto ebom som, terá sido para nosso caro homenageado, penso eu, umapaz e simultaneamente um tumulto o perceber que logo ali, na vizinhança<strong>de</strong> sua Porto Alegre, no centro <strong>da</strong> Comarca do Pampa que éBuenos Aires, centro portanto <strong>da</strong>quela literatura gauchesca que sepraticou em espanhol como em português, <strong>da</strong> qual Meyer era íntimo,logo ali estava alguém que havia formulado saí<strong>da</strong>s para os impassesmentais que se viviam em to<strong>da</strong> a comarca, incluindo aquelescom que Meyer se entreteve por tanto tempo, com tanto empenho etanta quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entre nós, sul-americanos, talvez apenas outra figuramaiúscula tenha percebido e enunciado o problema tal como Borges;refiro-me a Machado <strong>de</strong> Assis, que duas ou três gerações antes<strong>de</strong> ambos, e por sinal no auge <strong>da</strong> civilização do Rio <strong>de</strong> Janeiro, enten<strong>de</strong>uo tamanho relativo <strong>da</strong>s coisas, na tensa e tumultua<strong>da</strong> relaçãoentre centro e periferia, e alcançou dizer claramente isso, em crítica eem prosa geniais.Ao dizer isso que acabo <strong>de</strong> dizer, não imagino estar diminuindo aimportância <strong>de</strong> Augusto Meyer no contexto <strong>de</strong> seu centenário <strong>de</strong>nascimento, aqui nesta Instituição que ele ajudou a fazer existir.Penso que a hipótese que apresentei, que tem o traço <strong>da</strong> insubordinaçãointelectual e o <strong>de</strong>feito <strong>da</strong> relativa improvisação, po<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r apensar em nosso homenageado, especialmente na parte <strong>de</strong> sua obraque se refere ao mundo sulino, que ele tanto prezou e que ajudou aconfigurar criticamente. Augusto Meyer, que vislumbrou justamenteem Machado um maior que foi capaz <strong>de</strong> inovar superando por<strong>de</strong>ntro os impasses intelectuais que acometem os críticos e os letrados<strong>da</strong> periferia do mundo, foi por todos os títulos um dos maiorescomentaristas <strong>da</strong> literatura jamais aparecidos entre nós, e por issoprecisa ser confrontado com os maiores, para sobreviver e continuara ser apreciado. E sobreviverá, é certo: sua prosa inteligente, sua erudiçãocarrega<strong>da</strong> com leveza, sua atenção à representação <strong>da</strong> dinâmica66

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