13.07.2015 Views

Um poeta à sombra da estante - Academia Brasileira de Letras

Um poeta à sombra da estante - Academia Brasileira de Letras

Um poeta à sombra da estante - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Eduardo Portella“Luci<strong>de</strong>z <strong>de</strong> manhã, quando as idéias voam com asas <strong>de</strong> luz e nãopousam. To<strong>da</strong> a idéia que pousa morreu. No momento em que elafechar as asas minha <strong>sombra</strong> <strong>de</strong>scerá sobre mim. To<strong>da</strong> idéia que voavive. To<strong>da</strong> idéia que eu agarro é um punhado <strong>de</strong> cinzas. Que seria <strong>de</strong>mim se eu achasse o caminho?”Vê-se que a obra to<strong>da</strong> <strong>de</strong> Meyer é este contraponto entre prosa epoesia. Essa <strong>de</strong>struição, essa dinamitação do limite. A prosa guar<strong>da</strong>,revela uma extrema palpitação poética e a poesia não ultrapassa certoslimites, o que implicaria uma poetização <strong>de</strong> gosto duvidoso. AsFolhas arranca<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> 1940, e Últimos poemas, <strong>de</strong> 1950, são livros quecompletam o percurso, sempre em íntima conexão com o trabalhoensaístico, porque a obra <strong>de</strong> Augusto Meyer se <strong>de</strong>sdobra em duasfrentes: a <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> linguagemea<strong>da</strong>compreensão do fazer literário.Ele é, portanto, um produtor <strong>de</strong> linguagem, um inventor.<strong>Um</strong> inventor que se serve <strong>da</strong> palavra para inventar. E é também umgran<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>dor do fazer literário, alguém que reflete o tempotodo, que pensa ca<strong>da</strong> palavra que escreve.Diversa e múltipla, sua obra abriga estudos mo<strong>de</strong>lares sobre questõese autores <strong>de</strong> culturas outras. O núcleo principal do seu entendimentohermenêutico se reparte entre Luís <strong>de</strong> Camões, ArthurRimbaud e Machado <strong>de</strong> Assis. Ao autor <strong>de</strong> Os Lusía<strong>da</strong>s ele consagrouuma série <strong>de</strong> textos e <strong>de</strong> aulas-texto, reuni<strong>da</strong>s no livro Camões, o bruxo eoutros estudos (1958). Meyer enten<strong>de</strong> como ninguém dos bruxos, porqueele próprio era um bruxo. <strong>Um</strong> bruxo dissi<strong>de</strong>nte, alternativo, talvezaté com sotaque, porém um bruxo. No caso, alguém que fala para e comalém <strong>da</strong> razão. O bruxo seria, assim, aquele que pôs a serviço, à disposição<strong>da</strong> língua, pela via <strong>da</strong> linguagem, impulsos intersubjetivos ain<strong>da</strong>não catalogados pelos códigos retóricos. Por essas e outras razões,Meyer inscreve Camões no cerne do Renascimento.Deixando <strong>de</strong> lado os sinais <strong>de</strong> crise, há duas maneiras recentes <strong>de</strong>ler Camões: uma, é fazer opção do Camões no coração do Renasci-24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!