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Um poeta à sombra da estante - Academia Brasileira de Letras

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Tania Franco Carvalhal4 Montello,Josué. “<strong>Um</strong>aprofecia <strong>de</strong>Machado <strong>de</strong>Assis”. Rio <strong>de</strong>Janeiro. Jornal doBrasil, 23.6.60.chado <strong>de</strong> Assis”, 4 comenta que o mestre, no capítulo LXXI <strong>da</strong>sMemórias póstumas, profetizou que um senhor magro e grisalho, em1950, se inclinaria para <strong>de</strong>scobrir-lhe o senão do livro. Para Montello,Machado teria adivinhado a figura esguia <strong>de</strong> Augusto Meyer, <strong>de</strong>bruçadonas páginas do romance “a esmiuçar-lhe o pensamento navolúpia <strong>da</strong> boa leitura”. Observa que a profecia machadiana está certaquando “alu<strong>de</strong> à paixão dos livros, que é o traço dominante <strong>da</strong>personali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Augusto Meyer, e ain<strong>da</strong> quando no-lo mostra a ir evir pelas linhas impressas”.A continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s leituras <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Machado consagra a idéia<strong>de</strong> que um livro se <strong>de</strong>sdobra no tempo e nele adquire, por força <strong>da</strong>sleituras que o renovam, outros sentidos. Por isso dirá: “Impossívelimaginá-lo senão em an<strong>da</strong>mento no tempo, avultando ou <strong>de</strong>crescendo<strong>de</strong> importância, quase esquecido às vezes, para ressurgir mais tar<strong>de</strong>,transfigurado à imagem <strong>de</strong> outras gerações.”Essa observação crítica sobre Machado <strong>de</strong> Assis po<strong>de</strong> ser aplica<strong>da</strong>hoje com relação ao próprio Meyer. A bela metáfora <strong>da</strong> obra queatravessa o tempo, revivi<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> passo pela ação <strong>da</strong> leitura que lheinjeta novo alento e interpretações, serve igualmente para o escritorgaúcho. Retomar sua obra, lê-la nas diversas formas em que se expressou– poesia, relatos <strong>de</strong> memória, crônicas, ensaios críticos – éperceber que ela se organiza graças a uma lei <strong>de</strong> reflexos que garantea uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste universo literário. Tomá-la em uma <strong>de</strong> suas facetas éain<strong>da</strong> aludir às <strong>de</strong>mais, associa<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s por um singular traço <strong>de</strong> estilocaracterizado pela elegância e naturali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> expressão. Domesmo modo, reler seus estudos sobre Machado <strong>de</strong> Assis significaperceber como seu pensamento, sem per<strong>de</strong>r a segurança <strong>da</strong>s primeirasintuições, se vai enriquecendo nos modos <strong>de</strong> ler e nas in<strong>da</strong>gaçõesdiversas a que submete o objeto <strong>de</strong> análise.Vê-se, então, por que a obra <strong>de</strong> Machado seria para Meyer um<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> inteira. Como leitor ele assim julgava: “Os anos vão32

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