Augusto Meyer, leitor <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assiscompreensão, pelo crítico rio-gran<strong>de</strong>nse.” 24 Este comentário <strong>de</strong>uorigem certamente ao estudo sobre a sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Os <strong>de</strong>mais trabalhos do último bloco são os incluídos em Preto &branco (1956). Eles tomam, em seu conjunto, uma feição quase ficcional.Em textos como “Os galos vão cantar”, “O enterro <strong>de</strong> Machado<strong>de</strong> Assis” e “<strong>Um</strong> <strong>de</strong>sconhecido”, Meyer procura recriar a figurado escritor e, diante <strong>de</strong> sua morte física, pensar como se <strong>da</strong>rá sua permanênciano gosto e na imaginação dos leitores. São textos como essesque justificam o parecer <strong>de</strong> Otto Maria Carpeaux, que reconheciaa força criadora <strong>da</strong> crítica meyeriana capaz, como observa, <strong>de</strong>“criar o seu objeto”. 25Nesses textos, irá também consoli<strong>da</strong>r sua concepção <strong>de</strong> leitor,cuja função ganha ca<strong>da</strong> vez mais importância. Desaparecido o escritor,a crítica assume um papel fun<strong>da</strong>mental no processo literário,pois lhe cabe assegurar a sobrevivência <strong>da</strong>s obras. Dirá, então, que“quando os olhos são ricos, até os livros medíocres po<strong>de</strong>m reviver,transfigurados”. É em Machado que Meyer encontra essa sugestão,pois o autor <strong>de</strong> Dom Casmurro tinha consciência <strong>de</strong>sse fato ao dizer:“Na<strong>da</strong> se emen<strong>da</strong> bem nos livros confusos, mas tudo se po<strong>de</strong> meternos livros omissos.” 26Diante disso, a “vagui<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>da</strong> obra machadiana é um dos seusgran<strong>de</strong>s atributos, por solicitar a ca<strong>da</strong> momento a colaboração diretado intérprete e o envolvimento dos leitores. Daí o seu “enigmatismo”ser “voluntário”.Como se percebe, Meyer completa um círculo nos textos reunidosem 1958: retoma, sob outro prisma, a questão inicial <strong>da</strong> obracomo enigma e reitera a relação entre ela e o leitor.24 Pereira, LúciaMiguel. Rio <strong>de</strong>Janeiro, Gazeta <strong>de</strong>Notícias,15.9.1935.25 Carpeaux,O.M. “O críticoAugusto Meyer”,Tribuna <strong>de</strong> Santos,29.7.1956.26 Meyer, A,1958, p. 155.41
Tania Franco Carvalhal III. Machado em variantes27 Meyer, A.1958, p. 214.28 Integra<strong>da</strong> porAntônio JoséChediak,AntônioHouaiss, CelsoCunha e Galante<strong>de</strong> Sousa,publica, em1960, a ediçãocrítica <strong>de</strong> QuincasBorba.29 Meyer, A.1958, p. 153.Publicado o volume <strong>de</strong> 1958, não se esgota o interesse do críticosobre a obra machadiana. Em seus dois últimos livros, A chave e a máscara(1964) e A forma secreta (1965), ain<strong>da</strong> são incluídos estudos quepo<strong>de</strong>riam integrar um outro volume semelhante. No entanto, interessaressaltar que o crítico se modifica. Sem <strong>de</strong>scartar integralmentea orientação psicológica – é ain<strong>da</strong> o autor o “sistema vivo” segundoo qual a obra se or<strong>de</strong>na – a metodologia crítica incorpora um suporteteórico mais atual. Ao centrar-se na obra, chega ao autor <strong>de</strong>sprezandoas interpretações biográficas, mesmo que lhes reconheça umacerta utili<strong>da</strong><strong>de</strong> secundária. Assim, observa: “Por mais oportuna queseja esta reação <strong>da</strong> neocrítica contra o exagero <strong>da</strong>s interpretaçõesbiográficas, não <strong>de</strong>vemos concluir <strong>da</strong>í pelo divórcio completo entreas duas formas <strong>de</strong> vivência; sem uma correlação <strong>de</strong> fundo, que sentidoatribuíra tantos vestígios inegáveis <strong>de</strong> uma conexão íntima, <strong>da</strong>qual só restam, aliás, em nossa visão crítica, os <strong>de</strong>stroços mais vagos– paralelismos, convergências, semelhanças oblíquas, <strong>de</strong>formações<strong>de</strong> imagens pelo meio refletor...” 27Meyer apontara, ao final do volume <strong>de</strong> 58, para a relevância <strong>da</strong>sedições críticas <strong>da</strong>s Obras Completas, com uma séria revisão bibliográficae crítica, que vinha sendo leva<strong>da</strong> a bom termo pela ComissãoMachado <strong>de</strong> Assis 28 e alertava para “a falta <strong>de</strong> uma sadia consciênciametodológica em nossos arraiais literários, como vem observandoAfrânio Coutinho”. Volta-se, então, para os aspectos formais dotexto, ocupa-se com variantes e atenta para questões <strong>de</strong> linguagem,sob o influxo dos estilistas Leo Spitzer e Dámaso Alonso. Acentua,ca<strong>da</strong> vez mais, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> leitura reitera<strong>da</strong> e sob diferentes ângulos,pois, como observa: “A obra <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> escritor possui váriascama<strong>da</strong>s superpostas, muitos <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> iniciação, e só po<strong>de</strong>ráser conquista<strong>da</strong> em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> pouco a pouco.” 2942
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