Augusto Meyer, um ensaísta <strong>da</strong> Comarca do Pampaaí, publica a partir <strong>de</strong> 49 o romance-síntese <strong>da</strong> formação gaúcha; umpunhado <strong>de</strong> jovens interioranos fun<strong>da</strong> os CTGs; um intelectual cosmopolitacomo Meyer, já provado na matéria nacional (Machado <strong>de</strong>Assis), como que reflui ao pago para meditar sobre autores ou obrastidos como secundários, senão menores mesmo. Quem era mesmoSimões Lopes Neto em 1943?Hoje se per<strong>de</strong>u esta referência, mas aqui po<strong>de</strong>mos repor os méritos.Na altura em que Meyer o estu<strong>da</strong>, o autor dos Contos gauchescos épouco mais que uma curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Da mesma forma, o “poemetocampestre” Antônio Chimango é, naqueles anos, ain<strong>da</strong> e apenas umapeça política contra Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros – que por sinal ain<strong>da</strong> estávivo nos anos 40: governou o Estado entre 1889 e 1928, com umainterrupção apenas, enfrentou duas revoluções, entregou o po<strong>de</strong>r aum jovem sucessor chamado Getúlio Vargas e viveu até 1961. Serájustamente o trabalho <strong>de</strong> Meyer, ao apreciar os dois casos, entre outros,que irá realizar a vira<strong>da</strong>: por causa <strong>de</strong> seu trabalho crítico, quediscerniu ali matéria literária superior, a Editora Globo <strong>da</strong>queletempo tomará a providência <strong>de</strong> reeditar as obras <strong>de</strong> ambos, agora emalto estilo – e com os comentários do crítico que as salvou <strong>da</strong> gangabruta, pepitas que eram e são. (A edição dos Contos gauchescos, com notas<strong>de</strong> Aurélio Buarque <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong> e comentários <strong>de</strong> Augusto Meyere biografia por Carlos Reverbel, é <strong>de</strong> 1948, e esta é a primeira vezque a obra <strong>de</strong> Simões Lopes Neto ganha leitores fora do circuitoacanhado <strong>da</strong>s duas primeiras edições, meramente locais. De formaque não é forçar <strong>de</strong>masia<strong>da</strong>mente a nota falar nos Contos eemO continentecomo contemporâneos, quanto à circulação.)A atenção que Meyer prestou à matéria regional é notável. Numcomentarista <strong>de</strong> feição cosmopolita forjado na leitura dos maiores,57
Luís Augusto Fischer9 Segredos <strong>da</strong>infância, p. 13.que lugar po<strong>de</strong>ria ter aquele conjunto <strong>de</strong> realizações meramente tentativas,sem reconhecimento maior justamente por não terem atingidoa maiori<strong>da</strong><strong>de</strong> estética? Aqui cresce a figura do crítico, que põe emação seu alto discernimento. E cresce, entre outros fatores, por tersabido operar mesclando a exigência forte <strong>da</strong> literatura com a brandurado coração, mescla que vislumbramos ao justapor seus comentárioscríticos a suas memórias pessoais.Para quem, como eu, conhece um pouco o que significa ser <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> alemães no contexto do Sul do Brasil – não, não há na<strong>da</strong><strong>de</strong> grave, apenas a consciência <strong>de</strong> diferença em relação aos estereótiposgauchescos –, Meyer oferece um espetáculo dos mais interessantes.Não sei se para os brasileiros em geral haverá tanto interesse nestetema, mas <strong>de</strong> todo modo o aponto aqui: sendo <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> alemãesque vieram nas primeiras levas, já na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1820, e no caso<strong>de</strong>le vieram para o campo, não para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, Meyer se sente plenamenteintegrado na vi<strong>da</strong> simbólica do Estado, que é forte e exigentee toma como base as formas culturais não <strong>da</strong> colônia, como se sabe,mas as <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> do extremo sul, do pampa aberto, <strong>da</strong>s coxilhas, <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> estancieira. Já nas primeiras linhas <strong>de</strong> suas memórias está o relatomeio fantasioso <strong>de</strong> uma incursão <strong>de</strong> sua bisavó colona, MariaKlinger, que <strong>de</strong>man<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para buscar a justiça que até ali falhara,no reconhecimento <strong>da</strong> morte <strong>de</strong> seu marido, bisavô <strong>de</strong> Augusto,falecido em combate na Guerra dos Farrapos. É nosso homenageadoquem diz, em referência ao bisavô morto: “Do teu fracasso, em compensação,resulta um neto <strong>de</strong> Farroupilha.” 9Quero dizer que não há, para ele, um abismo intransponível entreser gaúcho, bisneto <strong>de</strong> guerreiro – ain<strong>da</strong> que <strong>de</strong> uma guerra que não<strong>de</strong>ve ter feito muito sentido lá para a lógica do imigrante... –, e serum leitor germânico <strong>de</strong> formação e temperamento. E essa falta <strong>de</strong>problema, essa espécie <strong>de</strong> naturali<strong>da</strong><strong>de</strong> é que chama a atenção, numquadro em que outros intelectuais, no Rio Gran<strong>de</strong>, se <strong>de</strong>dicavam à58
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