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Um poeta à sombra da estante - Academia Brasileira de Letras

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Eduardo Portellatica do Mo<strong>de</strong>rnismo, ou seja, aquele lado <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> que seempenhou o tempo todo em fazer a crítica do edifício compacto <strong>da</strong>mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> plena.Essa mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> não tardou muito para assinar um protocolo<strong>de</strong> cooperação com o pessimismo. A literatura plena se <strong>de</strong>bilita, se<strong>de</strong>splenifica. Apesar <strong>de</strong> ressaltar, pela voz do seu Machado, o <strong>de</strong>scrédito<strong>da</strong> aventura literária e a miséria <strong>da</strong>s interpretações, AugustoMeyer apostou na literatura até o fim. Até mais não po<strong>de</strong>r.O próprio pessimismo, que Machado e Meyer dividiram <strong>de</strong>modo <strong>de</strong>sigual, não teria sido uma forma <strong>de</strong> confiança, uma espécieestranha e chocante do niilismo positivo? Há quem diga que sim.Lembro-me <strong>de</strong> que, uma vez, Albert Camus disse que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>todo não há um sim. Então, o aparente pessimismo, o niilismo contun<strong>de</strong>nte,no caso <strong>de</strong> Meyer, era uma forma <strong>de</strong> construção. Os pessimistasagem, põem vi<strong>da</strong> na negação, mesmo que <strong>de</strong>sola<strong>da</strong>mente.Augusto Meyer é um homem <strong>de</strong> letras na mais alta acepção <strong>da</strong> palavra.Nem superestimou as articulações <strong>de</strong> arte e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, nemaplaudiu a mágica dos prestidigitadores. Meyer compreen<strong>de</strong>u a literaturacomo enti<strong>da</strong><strong>de</strong> pluridimensional, constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> diferentesdimensões; multidisciplinar, forma<strong>da</strong> por diferentes disciplinas: a filosofia,a história, a teoria literária, a psicologia e tantas outras disciplinas,superiormente oblíqua e dissimula<strong>da</strong>. Por isso ele se enten<strong>de</strong>utão bem com Capitu. Por isso percebe que “Capitu atravessa olivro numa névoa <strong>de</strong> mistério”.Capitu é a literatura, é o impulso vital, é a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do real.É inútil submetê-la ao julgamento mecânico <strong>de</strong> qualquer tribunalmoralizante. A visão monofocal não é capaz <strong>de</strong> ler o paradoxo. A literatura,como a vi<strong>da</strong>, é constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> relações perigosas, <strong>de</strong> perguntassem respostas. É indispensável dispor <strong>de</strong> percepção aparelha<strong>da</strong>. Etanto Machado quanto Meyer dispunham. E foi assim que AugustoMeyer retirou a sua singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> sua plurali<strong>da</strong><strong>de</strong>.28

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