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Um poeta à sombra da estante - Academia Brasileira de Letras

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Caminhos <strong>da</strong> crítica <strong>de</strong> Augusto MeyerAqui, to<strong>da</strong>via, o que mais impressiona e ao poema confere um valor extraordinárioé justamente a disciplina<strong>da</strong> harmonia do conjunto, a períciagenial com que esse domador <strong>de</strong> imagens violentas sugere a um só tempo afúria superficial <strong>da</strong> tempesta<strong>de</strong> e a profun<strong>da</strong> calma do abismo, simboliza<strong>da</strong>a espaços por aqueles afogados que vão dormir na transparência <strong>da</strong> on<strong>da</strong>...(p. 61)A seguir, voltemo-nos para as consi<strong>de</strong>rações realiza<strong>da</strong>s em torno<strong>de</strong> Camões, o Bruxo. Diga-se <strong>de</strong> passagem que o relativismo crítico<strong>de</strong> Augusto Meyer limitava-se pelo interesse na qüidi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>composição e na autonomia verbal <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> autor. Daí que, no ensaiosobre Eça, tenha <strong>de</strong>ixado escapar estes dizeres: “para ca<strong>da</strong> autor, ummodo <strong>de</strong> abordá-lo sem exigência <strong>de</strong>scabi<strong>da</strong>. Nunca pedir mistérioao Eça, equilíbrio a Camilo e outros absurdos.” (p. 225)Que <strong>de</strong> especial extrai o crítico <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Camões? Entre tantosaclaramentos preciosos, fruto <strong>da</strong> visão comparativa e do amplo epormenorizado conhecimento <strong>da</strong>s <strong>Letras</strong>, um predicado singular fazdo trabalho <strong>de</strong> Augusto Meyer um caso único: a apreensão do estratofônico como instrumento para atingir o substrato <strong>da</strong> poesia.Ao investigar a obra <strong>de</strong> Antero <strong>de</strong> Quental, Augusto Meyer seindispunha contra as simetrias interpretativas. E, ao fazer a exegese<strong>de</strong> Camões, o crítico se vale <strong>da</strong>s observações <strong>de</strong> Said Ali a respeito<strong>da</strong> aliteração, cuja importância advém <strong>de</strong> o som estar associado àidéia. E o filólogo acrescenta: “A imagem que o espírito liga aosom po<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r-se ao mesmo fonema reproduzido em outrosvocábulos próximos, resultando <strong>da</strong>í a sensação <strong>de</strong> reforço <strong>da</strong> mesmaidéia.” (p. 253)Pois bem. No comentário às a<strong>da</strong>ptações que Camões empreen<strong>de</strong>u<strong>de</strong> poemas <strong>de</strong> Petrarca, Augusto Meyer revela alto conhecimento dojogo mimético e, ao mesmo tempo, transporta essa apreensão para ocampo <strong>de</strong> juízo <strong>de</strong> valor, para, afinal, registrar a alta superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> do<strong>poeta</strong> português. Permitam-nos transcrever as palavras do crítico:77

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