Augusto Meyer, leitor <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assispectivamente <strong>de</strong> “<strong>Um</strong>a cara estranha”, “Presença <strong>de</strong> Brás Cubas” e“Trecho <strong>de</strong> um posfácio”.Nesta perspectiva <strong>de</strong> resgate dos textos, ressalte-se que seus primeirosestudos críticos, publicados em O Exemplo – Jornal do Povo,<strong>de</strong>Porto Alegre, em 1922, sob o pseudônimo <strong>de</strong> Guido Leal, se ocupamcom “As idéias <strong>de</strong> Brás Cubas”. 11Três anos <strong>de</strong>pois, ao iniciar a militância crítica no jornal Diário <strong>de</strong>Notícias, <strong>de</strong> Porto Alegre, o fará com dois artigos sobre “Machado <strong>de</strong>Assis e a alma contemporânea”. 12Finalmente, os últimos ensaios sobre Machado, em sua maioriareunidos em A forma secreta, 13 com os títulos <strong>de</strong> “Silvio e Silvia”,“Pratiloman”, e “A casa <strong>de</strong> Rubião”, iniciam a parte do livro <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong><strong>de</strong> “O aprendiz grisalho”.Assim, do <strong>de</strong>spertar <strong>da</strong> vocação crítica, nos anos 20, à plena maturi<strong>da</strong><strong>de</strong>dos anos sessenta, Meyer foi um fiel leitor <strong>de</strong> Machado. Opercurso crítico indicado nas <strong>da</strong>tas do livro <strong>de</strong> 58 po<strong>de</strong>, portanto,ser ampliado para sua conta real: <strong>de</strong> 1922 (o primeiro texto sobreMachado publicado) a 1965 (ano <strong>da</strong> edição <strong>de</strong> A forma secreta) são 43anos <strong>de</strong> leituras continua<strong>da</strong>s <strong>da</strong> obra do autor <strong>de</strong> Brás Cubas.Essa constância é que nos permite hoje acompanhar o percursocrítico do autor na evolução <strong>de</strong> seus estudos machadianos. Neles, ocrítico se i<strong>de</strong>ntifica. Neles, ele se confronta consigo mesmo. É o queinteressa aqui examinar. I. Os estudos <strong>da</strong> fase inicial(1922 a 1935) 14No texto “<strong>Um</strong> <strong>de</strong>sconhecido”, que encerra o volume Machado <strong>de</strong>Assis. 1935-1958, publicado pela Livraria São José, Meyer busca seuinterlocutor preferido em uma biblioteca, no “silêncio do gabinete”.“Pois”, como <strong>de</strong>fine, valendo-se <strong>de</strong> outra bela metáfora, “uma bi-11 Os doisartigos citadosforampublicados,respectivamente,em 17.9.1922 e24.9.1922.12 Os artigosforampublicados noreferido jornalem 01.11.1925 e12.11.1925.13 Meyer,Augusto. A formasecreta. Rio <strong>de</strong>Janeiro, Li<strong>da</strong>dor,1965.14 Procureiestu<strong>da</strong>r emprofundi<strong>da</strong><strong>de</strong> acrítica <strong>de</strong> Meyer,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu início,no livro O críticoà <strong>sombra</strong> <strong>da</strong> <strong>estante</strong>.Porto Alegre,Ed. Globo,1976.37
Tania Franco Carvalhal15 Meyer,Augusto. Machado<strong>de</strong> Assis.1935-1958. Rio<strong>de</strong> Janeiro,Livraria São José,1958, p. 235.16 Carvalhal,Tania. “Meyer, achave e asmáscaras” In:“Dez anos semAugusto Meyer”,Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Sábado,jornal Correio doPovo, 12.7.1980,p. 16.17 Meyer, A.Machado <strong>de</strong> Assis,1958, p. 224.18 Meyer, A.1958, p. 13.19 Meyer, A.1958, p. 41.20 Meyer, A.1958, p. 17.blioteca é antes <strong>de</strong> tudo solidão e silêncio, o silêncio <strong>da</strong>s vozes <strong>de</strong>sencontra<strong>da</strong>se a solidão dos gran<strong>de</strong>s ajuntamentos.” 15Ali, uma vez mais, Machado revive diante do seu exemplar leitorpara dizer-lhe, num fio <strong>de</strong> voz: “Ouça, menino, ca<strong>da</strong> alma émais do que um mundo à parte em ca<strong>da</strong> peito, é um enigma parasi própria...”Curiosamente, no último texto do livro <strong>de</strong> 58 se recompõe a situaçãoinaugural do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>slin<strong>de</strong> a que Meyer submeteu permanentementea obra <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, fazendo-nos voltar aoensaio <strong>de</strong> 35 e aos primeiros estudos. Já aí o encontramos no plenoexercício <strong>da</strong> crítica como leitura, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como <strong>de</strong>cifração <strong>da</strong>obra, sempre metaforicamente <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> como enigma. Ressalteiesse aspecto ao examinar um dos livros mais notáveis <strong>de</strong> Meyer, Achave e a máscara (1964), 16 no qual, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o título, a associação consciente<strong>da</strong>s duas palavras <strong>de</strong>ixa transparecer ao mesmo tempo um conceito<strong>de</strong> crítica – chave – numa função <strong>de</strong>sveladora, e um conceito<strong>de</strong> obra literária – máscara, em seu caráter ambígüo e encobridor.Nesta perspectiva, é fácil enten<strong>de</strong>r a atração do crítico pela obra machadiana,pois este cultivou, como poucos, “a arte <strong>da</strong> dubie<strong>da</strong><strong>de</strong> e afalsa transparência <strong>da</strong> máscara”. 17Portanto, como anota no texto <strong>de</strong> 35, “em Machado, a aparência<strong>de</strong> movimento, a pirueta e o malabarismo são disfarces que mal conseguemdissimular uma profun<strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> – <strong>de</strong>veria dizer: uma terrívelestabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.” 18Toma, então, o traçado <strong>da</strong>s personagens para i<strong>de</strong>ntificar o autor.Flora, segundo ele, aludiria a Machado na medi<strong>da</strong> em que “hesitaentre Pedro e Paulo como o pensamento do autor, entre uma escolhae outra que a suprime”. Todo o pensamento <strong>de</strong> Machado “secorporifica nessa figura <strong>de</strong> mulher, chave <strong>de</strong> sua obra perversa e perfeita”.19 Da mesma forma, consi<strong>de</strong>ra Brás Cubas um pretexto e, noromance, “o senão do livro é o senão <strong>de</strong> si mesmo”. 2038
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