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POBREZA E CURRÍCULO UMA COMPLEXA ARTICULAÇÃO

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2013). Ele é, portanto, um artefato social e cultural (MOREIRA; SILVA, 2008). Reflete “[...]<br />

todas as experiências organizadas pela escola que se desdobram em torno do conhecimento<br />

escolar.” (MOREIRA, 2001, p. 68, grifos no original). Exprime a ideologia, as relações de<br />

poder e a cultura de cada unidade escolar. O currículo nunca é neutro. Podemos, por<br />

exemplo, reproduzir as desigualdades e injustiças sociais ou contribuir para a construção<br />

de uma sociedade efetivamente democrática. Convivemos com três tipos currículos: um<br />

formal, um real e um oculto 1 . Essa compreensão inicial é fundamental para nossa discussão<br />

neste módulo sobre currículo e pobreza.<br />

1. Sobre as vivências da pobreza e os currículos<br />

Feitos esses primeiros apontamentos sobre currículo, passamos à discussão sobre currículo e<br />

pobreza com um questionamento fundamental: em quem devemos pensar quando nos propomos a<br />

articular currículo e pobreza? A resposta é simples, quase evidente, embora o tema seja extremamente<br />

complexo. Devemos pensar nos milhões de crianças e adolescentes submetidos à pobreza (considerando<br />

os parâmetros que indicam a pobreza e a pobreza extrema 2 ) que estão nas escolas ou que em breve<br />

estarão lá. Essas crianças trazem vivências, saberes, valores, identidades construídas a partir de suas<br />

experiências. E o que encontram na escola?<br />

É possível incorporar uma reflexão sobre a pobreza nos currículos de Educação Básica? As respostas<br />

não são simples, pois as vivências e sofrimentos da pobreza, bem como os processos históricos de sua<br />

produção são complexos, e tentar tratar nos currículos essas vivências e essa história é uma tarefa<br />

extremamente desafiante. Talvez por isso a pobreza, suas vivências, os pobres e a história de sua<br />

produção tenham estado ausentes tanto nos currículos de Educação Básica quanto nos de formação de<br />

seus profissionais.<br />

No Brasil, os 17 milhões de crianças, adolescentes e jovens beneficiários(as) do Programa Bolsa<br />

Família que chegam às escolas públicas com vivências de pobreza e extrema pobreza poderão ter um<br />

percurso escolar até exitoso e saírem da escola sem nunca terem ouvido falar da pobreza, sem ter<br />

recebido explicações, conhecimentos que os ajudem a entender suas vivências e os processos históricos<br />

da produção de sua condição, ou seja, por que são condenados a essa situação. Na maioria das escolas,<br />

os professores e gestores já devem ter percebido que muitos alunos vivem na pobreza ou na pobreza<br />

extrema, visto que a extensa quantidade de dados gerados pelo Programa Bolsa Família nos permite saber<br />

a quantidade de alunos e alunas menores de 17 anos que, por serem de famílias cuja renda per capita é<br />

menor que o valor da linha de pobreza, participam do PBF. Do total de alunos e alunas matriculados nas<br />

escolas públicas brasileiras de Educação Básica, mais de 45% são participantes do programa.<br />

Módulo IV - Pobreza e Currículo: uma complexa articulação 7

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