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Em Israel, <strong>Schindler</strong> era venerado como “o justo entre as nações”, e, em 1967, plantou ali<br />
uma árvore no Yad Vashem Memorial. Na Alemanha, ele recebeu a Gran<strong>de</strong> Cruz <strong>de</strong> Mérito<br />
Fe<strong>de</strong>ral, mas faltou dar-lhe a verda<strong>de</strong>ira estima. Em seus últimos anos <strong>de</strong> vida, ele <strong>de</strong>caiu<br />
rapidamente. Acreditávamos que viveria cem anos, mas Oskar <strong>Schindler</strong> morreu em 1974,<br />
doente e solitário, em Hil<strong>de</strong>sheim. Entretanto, quando Emilie <strong>Schindler</strong> morreu, em outubro <strong>de</strong><br />
2001, pessoas <strong>de</strong> todo o mundo manifestaram seus pêsames. Até chefes <strong>de</strong> Estado mandaram<br />
cartas <strong>de</strong> condolência. A carta do presi<strong>de</strong>nte norte-americano para a sobrinha <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong><br />
mostra que até hoje a ação salvadora <strong>de</strong> Oskar e Emilie <strong>Schindler</strong> é mais valorizada no<br />
exterior do que na Alemanha.<br />
Depois da guerra, ouvi em diferentes ocasiões que <strong>Schindler</strong> nos ajudara principalmente<br />
por obrigação, perante seus antigos colegas <strong>de</strong> colégio e amigos ju<strong>de</strong>us. Mas, <strong>de</strong> acordo com<br />
as conversas que tive com ele, consi<strong>de</strong>ro seus motivos mais como um mixtum compositum,<br />
uma mistura <strong>de</strong> motivos em que os pesos mudaram no <strong>de</strong>correr da guerra. No início, <strong>Schindler</strong><br />
era exclusivamente um homem <strong>de</strong> negócios que queria ganhar dinheiro rápido. Depois, quando<br />
viu a miséria em que éramos obrigados a viver no gueto, seu impulso <strong>de</strong> nos ajudar começou a<br />
crescer. No campo, sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ficar do nosso lado já tinha se fortalecido <strong>de</strong> tal maneira<br />
que ele se arriscava por nossa causa e aceitava sacrifícios. E, na sequência, veio a jogada<br />
realmente gran<strong>de</strong> e única <strong>de</strong> sua ação salvadora: a <strong>lista</strong>, a mudança para Brünnlitz e a<br />
perseverança até a libertação em maio <strong>de</strong> 1945. Em todas essas coisas, seu comportamento<br />
não combina com a imagem <strong>de</strong> um fabricante nazista em um campo <strong>de</strong> concentração externo.<br />
Oskar <strong>Schindler</strong>, início dos anos 1960<br />
Claro que <strong>Schindler</strong> tinha seus <strong>de</strong>feitos, mas sustento a opinião <strong>de</strong> que só se <strong>de</strong>ve falar <strong>de</strong><br />
seus aspectos positivos. Quando me perguntam, em minhas palestras, se é verda<strong>de</strong> que<br />
<strong>Schindler</strong> tinha tantos relacionamentos com mulheres quanto se comenta, limitome a dizer:<br />
— Vejam, nós que estamos nos afogando <strong>de</strong>scobrimos na margem um homem que já tirou a<br />
jaqueta para pular na água. O senhor acredita realmente que <strong>de</strong>veríamos perguntar a esse<br />
homem corajoso se ele é fiel à sua esposa, porque, se não for, não po<strong>de</strong>rá nos tirar da água?