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A lista de Schindler - Mietek Pemper

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pedido a <strong>Schindler</strong> para incorporar à sua <strong>lista</strong> os aproximadamente vinte planejadores <strong>de</strong><br />

trabalho aos quais <strong>de</strong>via especial gratidão. <strong>Schindler</strong> concordou. Mas, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sse<br />

acréscimo, o contingente <strong>de</strong> setecentos homens e trezentas mulheres ainda não tinha sido<br />

alcançado. Então, mesmo sem acordo prévio com <strong>Schindler</strong>, também foram incluídos <strong>de</strong>tentos<br />

do campo principal na <strong>lista</strong>. Depois da guerra, meu amigo Heinz Dressler perguntou-me se<br />

<strong>de</strong>via a mim o fato <strong>de</strong> ele e sua família (pais e irmã) terem feito parte da <strong>lista</strong> <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong>.<br />

Infelizmente, não posso me lembrar dos <strong>de</strong>talhes. Só sei que fiz algo por Heinz. Tudo tinha <strong>de</strong><br />

transcorrer muito discretamente, pois, oficialmente, tratava-se da transferência <strong>de</strong> uma<br />

importante fábrica <strong>de</strong> armamentos e não <strong>de</strong> salvar pessoas judias. Isso significava que, perante<br />

a SS, <strong>Schindler</strong> tinha <strong>de</strong> trabalhar <strong>de</strong> modo muito habilidoso.<br />

Eu não tinha nenhuma autorização para <strong>de</strong>cidir e seguia as instruções <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong>. Talvez<br />

isso tenha sido um erro. Até hoje tenho a sensação <strong>de</strong> não ter feito o suficiente por meus<br />

familiares mais distantes. O nome <strong>Pemper</strong> não soa especialmente ju<strong>de</strong>u nem polonês: ele é<br />

raro e, naquela época, saltaria aos olhos <strong>de</strong> um alemão, até por ser breve. Como já foi<br />

<strong>de</strong>scrito, essa <strong>lista</strong> tinha <strong>de</strong> passar por várias situações, das quais não conhecíamos todas. Mas<br />

era a <strong>lista</strong> <strong>de</strong> trabalhadores técnicos numa produção “<strong>de</strong>cisiva para a vitória”. Se, em algum<br />

lugar, um integrante da SS percebesse uma gran<strong>de</strong> repetição do nome <strong>Pemper</strong>, isso po<strong>de</strong>ria<br />

novamente provocar questionamentos e controles. Também teria sido concebível riscar<br />

arbitrariamente alguns dos sobrenomes comuns. Meu primo, só alguns anos mais novo que eu,<br />

não sobreviveu. Por outro lado, nem sei como o po<strong>de</strong>ria ter salvado, pois Marcel Goldberg<br />

fazia tantas manipulações que, a cada dia, eu me alegrava que ele não tivesse riscado meu pai,<br />

minha mãe, meu irmão ou a mim. O aspecto mais pérfido em todas as <strong>de</strong>cisões no campo era<br />

que nunca se podia prever com segurança suas consequências.<br />

Nesse tempo, literalmente no último momento, Oskar <strong>Schindler</strong> tentou persuadir Julius<br />

Madritsch a salvar também sua gente, mas Madritsch não parecia interessado nisso. Ele<br />

transferiu sua fábrica para perto do Bo<strong>de</strong>nsee e entregou seus quase oitocentos operários e<br />

operárias ju<strong>de</strong>us à própria sorte. <strong>Schindler</strong> empreen<strong>de</strong>u uma última tentativa e, com o auxílio<br />

<strong>de</strong> Raimund Titsch, o dirigente da fábrica <strong>de</strong> Madritsch, elaborou <strong>de</strong> improviso uma relação<br />

<strong>de</strong> sessenta pessoas, que <strong>de</strong>clarou simplesmente serem seus “alfaiates <strong>de</strong> fábrica” e colocou<br />

na <strong>lista</strong> 83 . Ao novo pedido <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong> <strong>de</strong> pensar mais uma vez sobre a ação salvadora<br />

proposta para seus trabalhadores, Julius Madritsch supostamente respon<strong>de</strong>u: “Querido Oskar,<br />

economize suas palavras, isso é coisa perdida, eu não invisto mais nenhum tostão nisso” 84 .<br />

Duas semanas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter saído da solitária na ca<strong>de</strong>ia do campo, pu<strong>de</strong> efetivamente ser<br />

incluído na relação <strong>de</strong> transporte dos “ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong>”. Eu não sabia se aquele segundo<br />

interrogatório tinha sido <strong>de</strong>cisivo para minha dispensa para o campo, se as investigações no<br />

caso Göth — no que me dizia respeito — estavam encerradas ou se eu continuava a ser<br />

consi<strong>de</strong>rado um <strong>de</strong>sagradável portador <strong>de</strong> segredo para algum posto da SS.<br />

Em 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1944, um carregamento com aproximadamente quatro mil e quinhentos<br />

<strong>de</strong>tentos masculinos <strong>de</strong>ixou o campo <strong>de</strong> Płaszów. Amontoaram-nos em vagões <strong>de</strong> gado, sem<br />

água nem instalações higiênicas. Aproximadamente um dia <strong>de</strong>pois chegamos a Gross Rosen.<br />

Sem a presença <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong>, nos sentíamos <strong>de</strong>sprotegidos e abandonados. O fato <strong>de</strong> nós,

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