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A lista de Schindler - Mietek Pemper

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dos tais trabalhadores civis na respectiva empresa, a proteção contra possíveis<br />

contatos com o mundo exterior. 67<br />

Em 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1944, minha mãe sofreu um <strong>de</strong>rrame no campo <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong><br />

Płaszów e, <strong>de</strong>pois disso, ficou paralisada <strong>de</strong> um lado. Quase não se podia ajudá-la na época e,<br />

dali em diante, teve <strong>de</strong> andar com o auxílio <strong>de</strong> uma bengala. Naquela época, eu tinha muito que<br />

fazer no comando e frequentemente trabalhava até tar<strong>de</strong>. Certa noite, esperei por um momento<br />

propício e <strong>de</strong>ixei Göth saber o quão importante era, para mim, ficar com minha mãe o mais<br />

tempo possível. Göth não <strong>de</strong>u uma resposta clara à minha insinuação, por isso <strong>de</strong>cidi agir e<br />

falar com o médico alemão do campo, o Dr. Blancke. Eu o informei <strong>de</strong> que Göth concordava<br />

que minha mãe, Regina <strong>Pemper</strong>, ficasse tanto tempo no campo quanto eu estivesse ali.<br />

Naturalmente, Blancke me conhecia como estenógrafo do campo e não duvidou <strong>de</strong> que eu lhe<br />

dizia a verda<strong>de</strong>. Eu tinha confiado nisso — o que comprovou estar correto. Blancke e Göth<br />

tinham a mesma patente (SS-Hauptsturmführer). Por isso, especulei, Blancke não iria se<br />

informar com o comandante do campo se um <strong>de</strong>tento o enganava ou não. Em todo caso, se<br />

tivesse perguntado a Göth, eu seria hoje um homem morto. Mas eu tinha <strong>de</strong> ariscar. Em virtu<strong>de</strong><br />

disso, minha mãe, apesar <strong>de</strong> sua limitada habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção, não foi selecionada para a<br />

“chamada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”, em maio <strong>de</strong> 1944, e mandada para Auschwitz.<br />

As equipes <strong>de</strong> vigilância no campo pertenciam ao batalhão <strong>de</strong> vigilância da SS que estava<br />

sob a supervisão do SS-Hauptsturmführer Raebel. Elas eram compostas pelos mesmos<br />

integrantes da SS e por policiais, como no tempo em que Płaszów ainda não era um campo <strong>de</strong><br />

concentração, pois a Central <strong>de</strong> Administração Econômica da SS não dispunha <strong>de</strong> equipes <strong>de</strong><br />

vigilância. Entre essas equipes havia as chamadas tropas <strong>de</strong> povos estrangeiros, que vinham<br />

do campo <strong>de</strong> treinamento da SS Trawniki, perto <strong>de</strong> Lublin. Eram, na maioria, prisioneiros <strong>de</strong><br />

guerra russos, lituanos, letões e ucranianos. Eles usavam uniformes pretos e nós, <strong>de</strong>tentos, os<br />

temíamos, pois eram especialmente brutais. Eles nos apressavam com espingardas, carabinas<br />

e chicotes <strong>de</strong> couro. Não havia neles uma distinção clara entre tratamento rigoroso e matança<br />

sem consi<strong>de</strong>ração. A vigilância na fábrica <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong>, na rua Lipowa, também era<br />

constituída por pessoas <strong>de</strong>sse tipo, mas <strong>Schindler</strong> os “subornava” com aguar<strong>de</strong>nte e cigarros.<br />

Assim, os trabalhadores — principalmente as mulheres — no campo <strong>de</strong> sua fábrica podiam<br />

dormir mais tranquilos à noite.<br />

Em vista da gradual <strong>de</strong>terioração da situação do exército alemão em ambos os fronts, em 17<br />

<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1944 Heinrich Himmler entregou expressamente a “[...] segurança militar dos<br />

campos <strong>de</strong> concentração e dos campos <strong>de</strong> trabalho situados em suas áreas” ao Alto Dirigente<br />

da SS e da Polícia. 68 Assim, o Alto Dirigente da SS e da Polícia no leste, o general Wilhelm<br />

Koppe (sucessor do general Krüger), tornou-se simultaneamente o mais alto encarregado <strong>de</strong><br />

segurança no Governo Geral. Em casos graves, ele podia intervir imediatamente sem<br />

consentimento prévio da Central <strong>de</strong> Administração Econômica. Suponho que tenha sido ele<br />

quem or<strong>de</strong>nou a Göth, em meados <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1944, a elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> segurança<br />

para o campo <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> Płaszów. No dia 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1944 os aliados<br />

<strong>de</strong>sembarcaram na Normandia e no dia 20 <strong>de</strong> julho ocorreu o atentado contra Adolf Hitler. Eu

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