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A lista de Schindler - Mietek Pemper

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pu<strong>de</strong>ra <strong>de</strong>scumprir or<strong>de</strong>ns rigorosas em tal medida? Já em 1946, no processo contra Amon<br />

Göth, <strong>de</strong>pus como principal testemunha da acusação; mas, naquela ocasião, nada fora expresso<br />

sobre o extraordinário <strong>de</strong> minha posição como escrivão <strong>de</strong> Göth. Só após a reação<br />

consternada <strong>de</strong> Gerhard Maurer, em 1951, tomei consciência da minha posição única durante<br />

todo o período nazista no campo Płaszów — e isso me foi confirmado por outras pessoas.<br />

Em função <strong>de</strong>sses mais <strong>de</strong> quinhentos e quarenta dias no “epicentro do mal”, minha vida<br />

uniu-se inseparavelmente à história do campo Cracóvia-Płaszów, já que <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1943 a 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1944 eu trabalhei junto ao comando do campo — inicialmente, até<br />

como única força <strong>de</strong> trabalho. Mas minha vida está igualmente ligada, e <strong>de</strong> modo inseparável,<br />

a Oskar <strong>Schindler</strong>, com quem colaborei estreitamente durante boa parte daquele tempo até 8<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1945. No campo <strong>de</strong> Płaszów sobreviveram mais ju<strong>de</strong>us do que em outros campos,<br />

em média, o que também está relacionado à ação salvadora <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong>, pois os mil<br />

sobreviventes da “<strong>lista</strong> <strong>de</strong> <strong>Schindler</strong>” provinham <strong>de</strong> nosso campo. Nessa <strong>lista</strong> também estavam<br />

os nomes <strong>de</strong> meus pais, <strong>de</strong> meu irmão e o meu — <strong>de</strong>vemos nossa sobrevivência a Oskar<br />

<strong>Schindler</strong>.<br />

A história do Holocausto está estreitamente vinculada aos avanços no front oriental.<br />

Inicialmente, a guerra <strong>de</strong>corria vantajosamente para o exército alemão e seus aliados. Isso só<br />

mudou com as enormes perdas humanas na invasão da União Soviética, especialmente após a<br />

<strong>de</strong>rrota dos alemães em Stalingrado. Des<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1943, a Alemanha se encontrava em<br />

uma profunda crise <strong>de</strong> economia <strong>de</strong> guerra. A força <strong>de</strong> trabalho, então, era uma mercadoria<br />

escassa, e o ritmo dos assassinatos em massa ia diminuindo. Em compensação, a exploração<br />

do trabalho dos prisioneiros crescia. A “guerra total”, à qual Joseph Goebbels conclamou a<br />

população alemã em seu pronunciamento no Palácio <strong>de</strong> Esportes <strong>de</strong> Berlim, no início <strong>de</strong> 1943,<br />

mostrou amplas consequências, uma vez que, a partir <strong>de</strong> então, toda a economia fora subjugada<br />

a órgãos controladores, cuja tarefa principal consistia no aumento da produção <strong>de</strong><br />

armamentos. Para nós, os poucos ju<strong>de</strong>us que permanecemos, isso teve um significado<br />

<strong>de</strong>cisivo. No outono <strong>de</strong> 1943, vários guetos e campos <strong>de</strong> trabalhos forçados que produziam<br />

principalmente têxteis foram dissolvidos no Governo Geral, mas nosso campo <strong>de</strong> Cracóvia-<br />

Płaszów foi preservado. No escritório <strong>de</strong> comando do campo pu<strong>de</strong> colher informações <strong>de</strong><br />

documentos secretos e estive envolvido secretamente em manter o campo preservado, o que<br />

salvou muitos colegas <strong>de</strong>tentos da <strong>de</strong>portação para Auschwitz. Sem essa estratégia, <strong>de</strong>scrita<br />

em <strong>de</strong>talhes nas próximas páginas, o resgate <strong>de</strong> Oskar <strong>Schindler</strong>, um ano mais tar<strong>de</strong>, durante o<br />

outono <strong>de</strong> 1944, não teria sido possível.<br />

Em uma estadia nos Estados Unidos no começo dos anos 1970 encontrei ju<strong>de</strong>us que ficaram<br />

admirados por eu ter escolhido a Alemanha para viver. Porém, o que os espantou ainda mais<br />

foi o fato <strong>de</strong> eu po<strong>de</strong>r dizer tantas coisas positivas sobre um antigo membro nazista como<br />

Oskar <strong>Schindler</strong>. Até sua morte, em 1974, Oskar <strong>Schindler</strong> e eu mantivemos relações <strong>de</strong><br />

amiza<strong>de</strong>. Na época, o gran<strong>de</strong> público ainda não conhecia seu nome; poucos sabiam do esforço<br />

excepcional que ele fizera para salvar vidas em Płaszów e, mais tar<strong>de</strong>, em Brünnlitz. Depois<br />

<strong>de</strong> ter trabalhado para Amon Göth e ter podido estar com Oskar <strong>Schindler</strong>, perguntei-me<br />

muitas vezes o que teria acontecido se não tivessem existido a guerra e a i<strong>de</strong>ologia nazista<br />

com sua loucura racista. Nesse caso, Göth não teria se tornado um assassino em massa e

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