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A lista de Schindler - Mietek Pemper

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confundir violência e falta <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração com capacida<strong>de</strong> sadia <strong>de</strong> imposição e frieza<br />

emocional com razão. Também não <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar uma escassez <strong>de</strong> empatia como<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar a necessária atenção aos próprios interesses sem nos sobrecarregarmos<br />

com os problemas dos outros.<br />

O século passado po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>signado com justiça como o saeculum horribile no duplo<br />

significado da palavra horribilis, que po<strong>de</strong> ser traduzida como horrível, assombroso e<br />

admirável. Eu notei os dois significados da palavra em duas pessoas — no assassino em<br />

massa Amon Göth e no salvador <strong>de</strong> vidas Oskar <strong>Schindler</strong>.<br />

Por um lado, o século XX conseguiu elevar nitidamente a expectativa média <strong>de</strong> vida da<br />

população na Europa, assim como a mortalida<strong>de</strong> infantil pô<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ravelmente reduzida.<br />

Por outro lado, o número <strong>de</strong> vítimas <strong>de</strong> uma guerra mundial aumentou seis vezes da Primeira<br />

Guerra para a Segunda, apenas vinte e sete anos mais tar<strong>de</strong>. Em 1939, <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scoberta, a penicilina pô<strong>de</strong> ser aplicada como medicamento contra muitas infecções até<br />

então mortais. No mesmo ano, iniciou-se uma guerra para subjugar quase toda a Europa e<br />

assassinar facilmente — e <strong>de</strong> maneira quase industrial — milhões <strong>de</strong> pessoas por motivos<br />

raciais.<br />

Depois da guerra, ocorreu um fato que me <strong>de</strong>ixou otimista, quase eufórico. O motivo foi<br />

uma foto <strong>de</strong> Ralph Johnson Bunche. No final dos anos 1940, ele estava a serviço da paz como<br />

consultor internacional, entre o recém-fundado Estado <strong>de</strong> Israel e seus inimigos Jordânia,<br />

Síria, Líbano e Egito. Como secretário geral substituto da ONU, ele ficou conhecido como<br />

“Mr. Peacekeeping”. Em 1950, Ralph Bunche recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seu<br />

trabalho. Na época, eu pensei: se um negro, um afro-americano, neto <strong>de</strong> escravo, po<strong>de</strong> se<br />

tornar secretário-geral substituto das Nações Unidas e receber uma con<strong>de</strong>coração tão alta em<br />

Estocolmo, então, graças a Deus, alcançamos uma fase na qual po<strong>de</strong>mos viver bem uns ao<br />

lado dos outros e com os outros. Não precisamos <strong>de</strong> mais nada. Isso já <strong>de</strong>ve bastar para<br />

impedir o próximo genocídio. Do ponto <strong>de</strong> vista atual, meu otimismo <strong>de</strong> então talvez tenha<br />

sido ingênuo, certamente antecipado. Mas isso não <strong>de</strong>veria nos impedir <strong>de</strong> continuar<br />

contribuindo incansavelmente para a sensibilização política e humana, e colocar diariamente<br />

sinais claros <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> reconciliação em um mundo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sumanida<strong>de</strong>.<br />

Contra spem spero. Contra toda a esperança, eu tenho esperança.

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