18.05.2016 Views

A lista de Schindler - Mietek Pemper

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

uma jovem <strong>de</strong>tenta, <strong>de</strong>finiu Płaszów mais tar<strong>de</strong> como um “[...] planeta <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um cosmos<br />

surreal”. 33 Quando os comandos externos voltavam à noite e queriam saber o que tinha<br />

acontecido durante o dia no campo, os outros <strong>de</strong>tentos gritavam algo que mais parecia o<br />

resultado <strong>de</strong> um jogo <strong>de</strong> futebol: “três a zero” ou “quatro a zero”. Na verda<strong>de</strong>, aquilo<br />

significava que Göth já tinha matado três ou quatro <strong>de</strong>tentos naquele dia. Assim, todos no<br />

campo ficavam sabendo <strong>de</strong> forma abreviada como o dia transcorrera.<br />

Quase sempre Göth estipulava as penas mais severas para <strong>de</strong>litos leves. No mezanino e no<br />

primeiro andar da chamada Casa Cinza, que ainda hoje fica no antigo terreno do campo,<br />

viviam os suboficiais. Em 1944, <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> Göth, fiquei lá por duas semanas, na<br />

solitária. No porão também havia vários abrigos. Eram minúsculas celas nas quais não se<br />

podia <strong>de</strong>itar nem ficar em pé — mal se podia sentar. Era uma punição especialmente dura ter<br />

<strong>de</strong> passar a noite ali e precisar trabalhar normalmente no dia seguinte.<br />

Nas cartas para seu pai, Göth mencionava repetidas vezes que estava ocupado com a<br />

ampliação do campo e criara gosto pela arquitetura. Aparentemente, ele flertava com a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> estudar <strong>de</strong>pois da guerra e tornar-se arquiteto, mas, ao mesmo tempo, tinha certeza <strong>de</strong> que<br />

isso não seria fácil em ida<strong>de</strong> avançada. Além disso, diariamente ele tinha diante dos olhos um<br />

homem — o engenheiro ju<strong>de</strong>u e arquiteto do campo Zygmunt Grünberg, cuja enorme<br />

habilida<strong>de</strong> jamais alcançaria. Grünberg tinha a solução para qualquer questão<br />

arquitetonicamente difícil. On<strong>de</strong> outros <strong>de</strong>sistiam, Grünberg ainda encontrava uma solução.<br />

Göth se impressionava visivelmente com isso; talvez por inveja <strong>de</strong> Grünberg ele o odiasse,<br />

visto que constantemente o surrava e torturava <strong>de</strong> maneira implacavel. Estive presente quando<br />

Göth mandou <strong>de</strong>molir uma fileira <strong>de</strong> casas bem na fronteira do campo e queria saber <strong>de</strong><br />

Grünberg quantos tijolos resultariam. Grünberg começou imediatamente os cálculos, que fazia<br />

<strong>de</strong> cabeça. Mas Göth queria que ele tivesse a resposta imediatamente. “Mais rápido, mais<br />

rápido”, berrava, batendo <strong>de</strong>scaradamente em Grünberg. Quando o promotor público<br />

perguntou a Göth, no processo em 1946, “O acusado tinha o direito <strong>de</strong> bater no engenheiro<br />

Grünberg?”, ele respon<strong>de</strong>u sem qualquer sinal <strong>de</strong> remorso: “Eu tinha esse direito”. 34 Göth<br />

usava a aguda escassez <strong>de</strong> recursos humanos para tentar justificar seus métodos cruéis. A<br />

maioria dos membros das equipes <strong>de</strong> segurança era formada por antigos prisioneiros <strong>de</strong> guerra<br />

russos, que haviam passado por um curto treinamento em Trawniki, um campo <strong>de</strong> treinamento<br />

da SS perto <strong>de</strong> Lublin. Eles não seriam tão confiáveis quanto o pessoal alemão, explicava<br />

Göth, dizendo que, por isso, tivera <strong>de</strong> manter um “regime duro” no campo <strong>de</strong> trabalhos<br />

forçados.<br />

Umas das primeiras cartas que datilografei como novo escrivão do comandante do campo<br />

foi um texto do SS-Hauptscharführer Albert Hujer para Oskar <strong>Schindler</strong>. Eu tinha encontrado<br />

Hujer na dissolução do gueto em 13 e 14 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1943. Como num transe sanguinário, ele<br />

corria pelas ruas e atirava aleatoriamente em torno <strong>de</strong> si. No hospital, ele até assassinou as<br />

pessoas que estavam <strong>de</strong> cama, além da médica, a dra. Blau. Agora, Hujer ditava uma carta<br />

para <strong>Schindler</strong>, na qual informava ao diretor da fábrica que seus operários da Emalia não<br />

po<strong>de</strong>riam voltar ao trabalho. O documento tinha a assinatura <strong>de</strong> Göth, mas o sinal <strong>de</strong><br />

estenografia “Hu” referia-se a Hujer. E “MP” significava “<strong>Mietek</strong> <strong>Pemper</strong>”. 35

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!