18.05.2016 Views

A lista de Schindler - Mietek Pemper

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Por volta das seis horas da manhã tocou a campainha. Abri a porta. O policial:<br />

“Bom dia, o senhor é Rudolf Gräber?” E <strong>de</strong>pois ele me revelou que eu estava<br />

sendo banido. Ele queria meu passaporte. Simplesmente, não acreditei nele. “Isso<br />

não po<strong>de</strong> ser verda<strong>de</strong>! Eu moro neste apartamento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1911! 5<br />

Aproximadamente <strong>de</strong>zoito mil pessoas, entre elas estudantes secundaristas, foram<br />

embarcadas <strong>de</strong> modo forçado para a fronteira polonesa a oeste da Posnânia. No entanto, a<br />

<strong>de</strong>portação falhou em alguns casos e aproximadamente mil ju<strong>de</strong>us retornaram para suas<br />

localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem na Alemanha. Ainda assim, <strong>de</strong> um dia para o outro, quase <strong>de</strong>zessete mil<br />

se encontravam, numa área sem jurisdição; pessoas das quais a Alemanha queria se <strong>de</strong>sfazer e<br />

às quais a Polônia negava entrada no país. Chaim Yechieli, um garoto que na época tinha 14<br />

anos, nascido na Alemanha, mas com passaporte polonês, escreveu sobre isso:<br />

A SS levou-nos para além da fronteira, para uma terra <strong>de</strong> ninguém, e nos batia<br />

com paus. Estivemos por seis horas entre as duas fronteiras. Chuviscava. De um<br />

lado, os alemães com os revólveres em punho, e do outro lado, os soldados<br />

poloneses com baionetas nos rifles. 6<br />

Finalmente, milhares <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>portados pu<strong>de</strong>ram atravessar a fronteira da Polônia e foram<br />

alojados precariamente, sob circunstâncias <strong>de</strong>ploráveis, em Zbąszyń, uma cida<strong>de</strong> mediana<br />

perto da fronteira. De lá, só pu<strong>de</strong>ram continuar em direção ao interior do país no final <strong>de</strong><br />

novembro, <strong>de</strong> on<strong>de</strong>, então, se esforçaram para emigrar para a América ou outros países.<br />

Menos <strong>de</strong> um ano mais tar<strong>de</strong>, todos aqueles que não tinham conseguido um visto caíram nas<br />

mãos da SS, quando da incursão dos alemães. O casal Grynspan figurava entre os ju<strong>de</strong>us<br />

involuntariamente transportados para Zb1szyń. Menos <strong>de</strong> uma semana <strong>de</strong>pois do violento<br />

banimento <strong>de</strong> seus pais, o filho Herschel, <strong>de</strong> 17 anos, assassinou em Paris o adido alemão<br />

Ernst Eduard von Rath, e os nazistas tomaram esse ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero como pretexto para a<br />

noite do pogrom <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1938, a qual, na verda<strong>de</strong>, já estava planejada.<br />

No final <strong>de</strong> 1938, eu pertencia àquele grupo <strong>de</strong> estudantes ju<strong>de</strong>us com conhecimentos <strong>de</strong><br />

alemão que se dispôs a prestar assistência aos ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>portados. Muitos dos banidos não<br />

falavam uma palavra em polonês. Afinal <strong>de</strong> contas, eles cresceram — e parte <strong>de</strong>les nasceu —<br />

na Alemanha, mesmo que seus avós talvez fossem originários da Polônia. Estavam agora<br />

completamente <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> auxílio e eu os ajudava escrevendo cartas a seus<br />

parentes no exterior — todos queriam <strong>de</strong>ixar a Polônia, tanto fazia para on<strong>de</strong>, o importante era<br />

sair.<br />

David Gutter e sua família também faziam parte <strong>de</strong>sses banidos. Quatro anos mais tar<strong>de</strong>, no<br />

verão <strong>de</strong> 1942, Gutter foi <strong>de</strong>signado como o “comissário lí<strong>de</strong>r” da comunida<strong>de</strong> judaica em<br />

Cracóvia, por or<strong>de</strong>m da Polícia <strong>de</strong> Segurança Alemã. Ali nos conhecemos. Muitos dos<br />

<strong>de</strong>portados foram alojados em Cracóvia, no Hotel Royal, na rua Gertrud, pela bem organizada<br />

Comunida<strong>de</strong> Judaica. Quantas vezes ouvi <strong>de</strong>les o conselho <strong>de</strong> advertência: “Jovem, tente<br />

<strong>de</strong>ixar a Polônia o mais rápido possível; Hitler também virá para cá”. Na época, eu<br />

consi<strong>de</strong>rava tais prognósticos um pânico exagerado, mas os <strong>de</strong>portados da Alemanha estavam

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!