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LOCKE-Segundo_tratado_Sobre_O_Governo

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| CLUBE DO LIVRO LIBERAL<br />

nada declarou neste sentido. Na verdade, para “restaurar” o direito antigo seria preciso que o novo rei recebesse<br />

as mesmas atribuições que o patriarca. Ora, sabe-se que os reis de Israel detinham um poder muito superior<br />

àquele de Abraão. Além disso, Davi era descendente de um ramo mais jovem. Se os irmãos mais moços<br />

herdarem em virtude da primogenitura, todo mundo pode invocar o direito da primogenitura, até Filmer. Eis uma<br />

maneira estranha de consolidar os títulos das coroas.<br />

Filmer diz que, designando um rei, Deus habilita a posteridade dele a sucedê-lo; mas trata-se de toda a<br />

posteridade ou de um único descendente? Ele evita tomar partido, pois os reis são sucedidos, em muitos casos,<br />

sem que haja respeito à ordem sucessória; em virtude de um desígnio divino não reconhecido ou que consagrava<br />

uma ordem diferente. Deus nem sempre intervinha: Jefté foi escolhido pelo povo. De uma maneira geral, os Juízes<br />

detinham apenas um poder que dizia respeito à vida, que não passavam a seus filhos. O final do Livro dos Juízes,<br />

que contém a narrativa das lutas entre os levitas e os benjaminitas, mostra que o governo dos Judeus não foi<br />

monárquico em todas as épocas. É falso que Deus tenha previsto tacitamente a transmissão sucessória a um<br />

herdeiro único, todas as vezes que conferia um poder. Se fizermos uma estimativa, o povo Judeu só teve reis<br />

hereditários em menos de um terço dos 1750 anos de sua história.<br />

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