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Revista Dr Plinio 014

Maio de 1999

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />

Quer dizer, ao considerar a possibilidade de se unir<br />

em matrimônio, um homem deve ponderar: “É razoável<br />

que eu me case com aquela, porque ela possui tais e tais<br />

virtudes, e traz consigo tais e tais circunstâncias. Pode<br />

ser que eu não me inflame trovadorescamente com ela.<br />

Mas eu não sou trovador! Sou um conde, ou um burguês,<br />

um comerciante, um professor ou um operário. Se<br />

algo há que não sou, é trovador. Deixe o trovador de lado!<br />

Eu preciso de uma mulher que me acompanhe na<br />

vida e na faina diária. Se ela for bonita, tanto melhor. A<br />

beleza física, porém, é o de menos. Preciso ver o seu<br />

bom senso, o seu critério, e em que medida ela corresponde<br />

à descrição que a Sagrada Escritura faz da mulher<br />

ideal, da mulher forte, diligente, modelo da esposa<br />

avisada e prudente. Não o modelo da dengosa e ‘xodozenta’.<br />

É com a mulher sensata que devo me casar.”<br />

Esta é a noção correta do casamento, escoimada do<br />

sentimentalismo trovadoresco.<br />

Na raiz da crise,<br />

a intemperança afetiva<br />

Infelizmente, o medieval se deixou intoxicar pelo<br />

sentimentalismo. E a partir do momento em que esta<br />

peste vingou, transformada a mulher no principal bibelô<br />

do homem (o que ela não é de maneira alguma),<br />

este tipo de influência foi impregnando cada vez mais a<br />

sociedade, atingindo o auge na França de Luís XV e de<br />

Luís XVI, ou seja, no Ancien Régime que antecedeu de<br />

perto a sangrenta Revolução Francesa.<br />

Chegou-se a um ápice de elegância, de distinção, de<br />

frufru, de espuma, de encanto, de graça, mas também<br />

de superficialidade, de sensualidade, de leveza inconsiderada<br />

e de irreflexão.<br />

Os salões franceses, arquétipos de todos os salões da<br />

Europa daquele tempo, não queriam mais saber de<br />

coisas grandes e sérias.<br />

Esse auge de frivolidade desembocou na Revolução<br />

Francesa e nas demais convulsões sociais e igualitárias<br />

que se lhe seguiram, sepultando em ruínas a Cristandade<br />

Medieval.<br />

Se formos analisar a fundo a gênese dessa decadência,<br />

veremos que uma intemperança afetiva conduziu a<br />

outras formas de intemperança, desvirtuando o que seria<br />

um legítimo movimento rumo ao requinte da Civilização<br />

Cristã. Para que esta se tornasse excelente em<br />

matéria de costumes, de elegância e de riqueza de espírito,<br />

não era necessário que a força nativa do medieval<br />

morresse. Ela poderia deixar de ser bruta sem<br />

deixar de ser forte.<br />

Tanto o homem como a mulher se tornaram cada vez<br />

mais moles em virtude do sentimentalismo, cada vez<br />

menos heróis, e mais debilitados para vencer o apelo<br />

da impureza. O vigor primevo cedeu ao desequilíbrio<br />

dos sentimentos e das paixões, nascido desse regato<br />

originário que foram os trovadores e as novas tendências<br />

que eles trouxeram consigo. O regato se transformou<br />

numa caudal que levou tudo atrás de si, resultando<br />

na terrível crise moral e social que abala o mundo<br />

moderno.<br />

<br />

A frivolidade trovadoresca desembocou na Revolução Francesa<br />

e nas demais convulsões sociais que se lhe seguiram,<br />

sepultando em ruínas a Cristandade Medieval<br />

Cenas da Revolução Francesa, em 1789; e da Sorbonne, maio de 1968<br />

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