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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />
Quer dizer, ao considerar a possibilidade de se unir<br />
em matrimônio, um homem deve ponderar: “É razoável<br />
que eu me case com aquela, porque ela possui tais e tais<br />
virtudes, e traz consigo tais e tais circunstâncias. Pode<br />
ser que eu não me inflame trovadorescamente com ela.<br />
Mas eu não sou trovador! Sou um conde, ou um burguês,<br />
um comerciante, um professor ou um operário. Se<br />
algo há que não sou, é trovador. Deixe o trovador de lado!<br />
Eu preciso de uma mulher que me acompanhe na<br />
vida e na faina diária. Se ela for bonita, tanto melhor. A<br />
beleza física, porém, é o de menos. Preciso ver o seu<br />
bom senso, o seu critério, e em que medida ela corresponde<br />
à descrição que a Sagrada Escritura faz da mulher<br />
ideal, da mulher forte, diligente, modelo da esposa<br />
avisada e prudente. Não o modelo da dengosa e ‘xodozenta’.<br />
É com a mulher sensata que devo me casar.”<br />
Esta é a noção correta do casamento, escoimada do<br />
sentimentalismo trovadoresco.<br />
Na raiz da crise,<br />
a intemperança afetiva<br />
Infelizmente, o medieval se deixou intoxicar pelo<br />
sentimentalismo. E a partir do momento em que esta<br />
peste vingou, transformada a mulher no principal bibelô<br />
do homem (o que ela não é de maneira alguma),<br />
este tipo de influência foi impregnando cada vez mais a<br />
sociedade, atingindo o auge na França de Luís XV e de<br />
Luís XVI, ou seja, no Ancien Régime que antecedeu de<br />
perto a sangrenta Revolução Francesa.<br />
Chegou-se a um ápice de elegância, de distinção, de<br />
frufru, de espuma, de encanto, de graça, mas também<br />
de superficialidade, de sensualidade, de leveza inconsiderada<br />
e de irreflexão.<br />
Os salões franceses, arquétipos de todos os salões da<br />
Europa daquele tempo, não queriam mais saber de<br />
coisas grandes e sérias.<br />
Esse auge de frivolidade desembocou na Revolução<br />
Francesa e nas demais convulsões sociais e igualitárias<br />
que se lhe seguiram, sepultando em ruínas a Cristandade<br />
Medieval.<br />
Se formos analisar a fundo a gênese dessa decadência,<br />
veremos que uma intemperança afetiva conduziu a<br />
outras formas de intemperança, desvirtuando o que seria<br />
um legítimo movimento rumo ao requinte da Civilização<br />
Cristã. Para que esta se tornasse excelente em<br />
matéria de costumes, de elegância e de riqueza de espírito,<br />
não era necessário que a força nativa do medieval<br />
morresse. Ela poderia deixar de ser bruta sem<br />
deixar de ser forte.<br />
Tanto o homem como a mulher se tornaram cada vez<br />
mais moles em virtude do sentimentalismo, cada vez<br />
menos heróis, e mais debilitados para vencer o apelo<br />
da impureza. O vigor primevo cedeu ao desequilíbrio<br />
dos sentimentos e das paixões, nascido desse regato<br />
originário que foram os trovadores e as novas tendências<br />
que eles trouxeram consigo. O regato se transformou<br />
numa caudal que levou tudo atrás de si, resultando<br />
na terrível crise moral e social que abala o mundo<br />
moderno.<br />
<br />
A frivolidade trovadoresca desembocou na Revolução Francesa<br />
e nas demais convulsões sociais que se lhe seguiram,<br />
sepultando em ruínas a Cristandade Medieval<br />
Cenas da Revolução Francesa, em 1789; e da Sorbonne, maio de 1968<br />
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