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O problema estava resolvido e retomou-se<br />
a conversa. (Dois anos depois,<br />
em seu leito de agonia, esse tio<br />
se reconciliaria com a Igreja e receberia<br />
os Sacramentos, graças à intervenção<br />
de Dª Lucilia.)<br />
No dia marcado, procurei o Alcântara<br />
Machado e entreguei minha<br />
contribuição. Estava vencida mais<br />
uma dificuldade.<br />
Candidatura impugnada,<br />
em virtude da idade<br />
Um dia, a “Folha de S. Paulo”<br />
trouxe na primeira página: “Inelegível<br />
o Sr. <strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira...”<br />
Dentro vinha uma notícia explicando<br />
que especialistas em Direito<br />
Constitucional haviam chegado à<br />
conclusão de que, pelo Código Eleitoral,<br />
para ser deputado era preciso<br />
ter 24 anos. Ora, quando fosse feita<br />
a eleição, eu teria 23 anos. A meu<br />
ver, aquele assunto que punha em<br />
perigo minha candidatura não estava<br />
claro. Preparei uma defesa e pedi<br />
a um amigo que a levasse ao Rio de<br />
Janeiro, para o Alceu Amoroso Lima<br />
— o Tristão de Ataíde, que naquele<br />
tempo era muito amigo meu<br />
—, e com ele procurasse o Cardeal<br />
Leme para expor a questão.<br />
O caso deveria ser julgado pelo<br />
Superior Tribunal Eleitoral, então<br />
situado no Rio de Janeiro, a capital<br />
federal. Eu me achava mais ou menos<br />
perdido. Estava nesta situação,<br />
quando recebi um aviso de outro<br />
candidato, dizendo que, se eu quisesse,<br />
ele obtinha para mim um parecer<br />
a meu favor do <strong>Dr</strong>. Sampaio<br />
Dória, professor de Direito Constitucional<br />
e uma notabilidade em São<br />
Paulo nessa matéria.<br />
Aceitei o oferecimento, e foi<br />
acertado um encontro com o Sampaio<br />
Dória, que, aliás, havia sido<br />
meu professor. Fui ao local combinado<br />
e lhe expus a situação. Ele me<br />
disse:<br />
— Eu acho que você tem o direito<br />
de concorrer.<br />
— <strong>Dr</strong>. Dória, o senhor poderia<br />
preparar um parecer?<br />
— Posso. Você me procura no<br />
café tal, às tantas horas; nós conversamos<br />
um pouquinho e daí lhe entrego<br />
o parecer.<br />
Na hora acertada, estávamos os<br />
dois no ponto de encontro. À certa<br />
altura da conversa, depois de ele me<br />
expor algumas idéias gerais a respeito<br />
do Brasil, disse-me:<br />
— Vamos à Secretaria tal. Eu lá<br />
lhe dou o meu parecer.<br />
Era feriado, mas numa amostra<br />
de sua influência naquele lugar, fezlhe<br />
abrirem todas as portas, até chegarmos<br />
a um escritório, onde entregou-me<br />
o documento. Agradeci muito<br />
e saí. Enviei logo os papéis ao<br />
Rio de Janeiro, pedindo ao Tristão<br />
que acompanhasse o caso junto ao<br />
Superior Tribunal Eleitoral. Graças<br />
a Deus, o parecer do Prof. Dória<br />
venceu.<br />
O Arcebispo de São Paulo, D. Duarte<br />
Leopoldo e Silva<br />
As eleições<br />
Apesar de saber que o eleitorado<br />
católico era enorme, não tinha eu<br />
idéia de qual parte dele que os outros<br />
três candidatos da LEC levariam<br />
consigo. Nenhum deles me procurou,<br />
nenhum me pediu um voto.<br />
Julguei que estavam seguros com<br />
sua votação. Mas eu, considerandome<br />
o mais fraco de todos, lancei-me<br />
de corpo e alma à campanha.<br />
No dia das eleições, já me encontrava<br />
bem cedo na Liga, porque tinha<br />
a responsabilidade de mandar<br />
cédulas dos nossos quatro candidatos<br />
para todas as urnas de São Paulo.<br />
Esse serviço de distribuição havia<br />
sido muito bem organizado. O<br />
único episódio a registrar durante<br />
esse dia foi um telefonema. Ao atendê-lo,<br />
alguém me disse:<br />
— Aqui fala o Arcebispo.<br />
Julguei reconhecer a voz de um<br />
congregado mariano com quem eu<br />
tinha uma certa intimidade, e respondi:<br />
— Deixe de brincadeira<br />
e diga logo o que<br />
você quer!<br />
A voz insistiu:<br />
— Fala o Arcebispo!<br />
— Deixe de bobagem,<br />
Fulano, e diga o que você<br />
quer!<br />
— Fala o Arcebispo!<br />
Será que é o Arcebispo?<br />
Ele não tem o costume<br />
de telefonar. Se eu<br />
tratar essa pessoa como<br />
Arcebispo, ele me passará<br />
um trote. Mas... Pode<br />
ser que seja o Arcebispo...<br />
Prefiro passar por<br />
um bobo para esse sujeito<br />
do que fazer um papel<br />
pífio perante o Arcebispo.<br />
— Ohhh! Sr. Arcebispo,<br />
perdão, não tinha reconhecido<br />
sua voz! —<br />
Era ele mesmo.<br />
— Estou recebendo<br />
notícias de que toda a<br />
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