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ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA<br />
A tradição não é, então, o contrário da verdadeira<br />
democracia, vigente — pelo menos em tese — em toda<br />
a América? Ouçamos Pio XII: “Segundo o testemunho<br />
da História, onde reina uma verdadeira democracia a<br />
vida do povo está como que impregnada de sãs<br />
tradições, que é ilícito abater. Representantes destas<br />
tradições são, antes de tudo, as classes dirigentes, ou seja,<br />
os grupos de homens e de mulheres ou as associações<br />
que dão, como se costuma dizer, o tom na aldeia e<br />
na cidade, na região e no país inteiro.<br />
“Daí a existência e o influxo, em todos os povos civilizados,<br />
de instituições eminentemente aristocráticas,<br />
no sentido mais alto da palavra, como são algumas<br />
academias de larga e bem merecida fama” (idem,<br />
“L’Osservatore Romano” de 17-1-1946).<br />
Mas, poder-se-á ainda objetar, tal concepção da família<br />
conduz a uma sociedade escalonada em classes diversas?<br />
Perfeitamente. É ainda Pio XII que no-lo afirma:<br />
“As desigualdades sociais, inclusive as ligadas ao<br />
nascimento, são inevitáveis; a natureza benigna e a<br />
bênção de Deus à humanidade iluminam e protegem os<br />
berços, beijam-nos, porém não os nivelam. Atentai<br />
mesmo para as sociedades mais inexoravelmente niveladas.<br />
Nenhum artifício jamais logrou ser bastante eficaz<br />
a ponto de fazer com que o filho de um grande<br />
chefe, de um grande condutor de multidões, permanecesse<br />
em tudo no mesmo estado de um<br />
obscuro cidadão perdido no povo. Mas se<br />
tais disparidades inelutáveis podem, quando<br />
vistas de maneira pagã, parecer uma inflexível<br />
conseqüência do conflito entre<br />
forças sociais e da supremacia conseguida<br />
por uns sobre outros segundo as leis cegas<br />
que se supõe regerem a atividade humana,<br />
de maneira a consumar o triunfo de alguns<br />
com o sacrifício de outros; pelo contrário,<br />
tais desigualdades não podem ser consideradas<br />
por uma mente cristãmente instruída<br />
e educada, senão como disposição desejada<br />
por Deus pelas mesmas razões que<br />
explicam as desigualdades no interior da<br />
família, e portanto com o fim de unir mais<br />
os homens entre si, na viagem da vida presente<br />
para a pátria do Céu, ajudando-os<br />
da mesma forma que um pai ajuda a mãe e<br />
os filhos” (idem, “L’Osservatore Romano”<br />
de 5/6-1-1942).<br />
Vimos que para Pio XII a desigualdade<br />
cristã é fonte de concórdia entre as classes.<br />
Ouçamo-lo ainda: “Para o cristão, as<br />
desigualdades sociais se fundem em uma<br />
grande família humana; e (...) portanto as<br />
relações entre classes e categorias desiguais<br />
devem permanecer governadas por uma honesta<br />
e igual justiça, e ao mesmo tempo animadas por respeito<br />
e afeição mútua, que ainda sem suprimir a disparidade,<br />
lhes diminuam as distâncias e temperem os contrastes.<br />
(...) Nas famílias verdadeiramente cristãs, por<br />
acaso não vemos nós os maiores dentre os patrícios e as<br />
patrícias, vigilantes e solícitos em conservar para com<br />
seus empregados, e todos os que os cercam, um comportamento<br />
consentâneo por certo com sua posição,<br />
mas escoimado de presunção, propenso à cortesia e<br />
benevolência nas palavras e modos que demonstram a<br />
nobreza dos corações; patrícios e patrícias que vêem<br />
neles homens, irmãos, cristãos como eles, e a eles<br />
unidos em Cristo, com os vínculos da caridade, daquela<br />
caridade que mesmo nos palácios ancestrais conforta,<br />
sustém, ameniza e dulcifica a vida entre os grandes e os<br />
humildes, máxime nas horas de dor e tristeza, que nunca<br />
faltam?” (idem “L’Osservatore Romano” de 5/6-1-<br />
1942). Noto de passagem que o termo “patrício”, usado<br />
pelo Pontífice, se refere a membros da alta aristocracia<br />
romana.<br />
Assim, a família gera de per si a tradição e a hierarquia<br />
social. Para abolir a tradição e a hierarquia, é mister<br />
depauperar, estiolar, reduzir e frangalhar a família.<br />
É o que muitos não sabem ou não querem ver...<br />
(Publicado na “Folha de S. Paulo”, em 24/4/1969)<br />
Nas famílias cristãs, a caridade<br />
dulcifica a vida entre<br />
os grandes e os humildes<br />
(“A senhora e a criada”, tela de Vermeer)<br />
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