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Revista Dr Plinio 014

Maio de 1999

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ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA<br />

A tradição não é, então, o contrário da verdadeira<br />

democracia, vigente — pelo menos em tese — em toda<br />

a América? Ouçamos Pio XII: “Segundo o testemunho<br />

da História, onde reina uma verdadeira democracia a<br />

vida do povo está como que impregnada de sãs<br />

tradições, que é ilícito abater. Representantes destas<br />

tradições são, antes de tudo, as classes dirigentes, ou seja,<br />

os grupos de homens e de mulheres ou as associações<br />

que dão, como se costuma dizer, o tom na aldeia e<br />

na cidade, na região e no país inteiro.<br />

“Daí a existência e o influxo, em todos os povos civilizados,<br />

de instituições eminentemente aristocráticas,<br />

no sentido mais alto da palavra, como são algumas<br />

academias de larga e bem merecida fama” (idem,<br />

“L’Osservatore Romano” de 17-1-1946).<br />

Mas, poder-se-á ainda objetar, tal concepção da família<br />

conduz a uma sociedade escalonada em classes diversas?<br />

Perfeitamente. É ainda Pio XII que no-lo afirma:<br />

“As desigualdades sociais, inclusive as ligadas ao<br />

nascimento, são inevitáveis; a natureza benigna e a<br />

bênção de Deus à humanidade iluminam e protegem os<br />

berços, beijam-nos, porém não os nivelam. Atentai<br />

mesmo para as sociedades mais inexoravelmente niveladas.<br />

Nenhum artifício jamais logrou ser bastante eficaz<br />

a ponto de fazer com que o filho de um grande<br />

chefe, de um grande condutor de multidões, permanecesse<br />

em tudo no mesmo estado de um<br />

obscuro cidadão perdido no povo. Mas se<br />

tais disparidades inelutáveis podem, quando<br />

vistas de maneira pagã, parecer uma inflexível<br />

conseqüência do conflito entre<br />

forças sociais e da supremacia conseguida<br />

por uns sobre outros segundo as leis cegas<br />

que se supõe regerem a atividade humana,<br />

de maneira a consumar o triunfo de alguns<br />

com o sacrifício de outros; pelo contrário,<br />

tais desigualdades não podem ser consideradas<br />

por uma mente cristãmente instruída<br />

e educada, senão como disposição desejada<br />

por Deus pelas mesmas razões que<br />

explicam as desigualdades no interior da<br />

família, e portanto com o fim de unir mais<br />

os homens entre si, na viagem da vida presente<br />

para a pátria do Céu, ajudando-os<br />

da mesma forma que um pai ajuda a mãe e<br />

os filhos” (idem, “L’Osservatore Romano”<br />

de 5/6-1-1942).<br />

Vimos que para Pio XII a desigualdade<br />

cristã é fonte de concórdia entre as classes.<br />

Ouçamo-lo ainda: “Para o cristão, as<br />

desigualdades sociais se fundem em uma<br />

grande família humana; e (...) portanto as<br />

relações entre classes e categorias desiguais<br />

devem permanecer governadas por uma honesta<br />

e igual justiça, e ao mesmo tempo animadas por respeito<br />

e afeição mútua, que ainda sem suprimir a disparidade,<br />

lhes diminuam as distâncias e temperem os contrastes.<br />

(...) Nas famílias verdadeiramente cristãs, por<br />

acaso não vemos nós os maiores dentre os patrícios e as<br />

patrícias, vigilantes e solícitos em conservar para com<br />

seus empregados, e todos os que os cercam, um comportamento<br />

consentâneo por certo com sua posição,<br />

mas escoimado de presunção, propenso à cortesia e<br />

benevolência nas palavras e modos que demonstram a<br />

nobreza dos corações; patrícios e patrícias que vêem<br />

neles homens, irmãos, cristãos como eles, e a eles<br />

unidos em Cristo, com os vínculos da caridade, daquela<br />

caridade que mesmo nos palácios ancestrais conforta,<br />

sustém, ameniza e dulcifica a vida entre os grandes e os<br />

humildes, máxime nas horas de dor e tristeza, que nunca<br />

faltam?” (idem “L’Osservatore Romano” de 5/6-1-<br />

1942). Noto de passagem que o termo “patrício”, usado<br />

pelo Pontífice, se refere a membros da alta aristocracia<br />

romana.<br />

Assim, a família gera de per si a tradição e a hierarquia<br />

social. Para abolir a tradição e a hierarquia, é mister<br />

depauperar, estiolar, reduzir e frangalhar a família.<br />

É o que muitos não sabem ou não querem ver...<br />

(Publicado na “Folha de S. Paulo”, em 24/4/1969)<br />

Nas famílias cristãs, a caridade<br />

dulcifica a vida entre<br />

os grandes e os humildes<br />

(“A senhora e a criada”, tela de Vermeer)<br />

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