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Revista Dr Plinio 014

Maio de 1999

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />

“N<br />

o século XIV começa a observar-se, na Europa cristã, uma transformação de mentalidade<br />

que ao longo do século XV cresce cada vez mais em nitidez.”<br />

Assim se inicia na obra “Revolução e Contra-Revolução” um trecho no qual, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

descreve de forma suscinta e genial as causas primeiras da colossal crise que, há mais de cinco<br />

séculos, vem abalando os fundamentos da Cristandade. Continua ele:<br />

“O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. As diversões se vão tornando<br />

mais freqüentes e mais suntuosas. (...) Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura<br />

e na arte o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e dos sentidos vai<br />

produzindo progressivas manifestações de sensualidade e moleza. (...) A Cavalaria, outrora<br />

uma das mais altas expressões da austeridade cristã, se torna amorosa e sentimental, a literatura<br />

de amor invade todos os países, os excessos do luxo e a conseqüente avidez de lucros se<br />

estendem por todas as classes sociais.”<br />

Na conferência abaixo transcrita, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aborda mais em profundidade o papel do romantismo<br />

e do sentimentalismo nesse processo destrutor.<br />

Quando, por volta dos séculos XIV e XV, a<br />

cristandade medieval começou a se desvirtuar,<br />

passou a aceitar determinados elementos<br />

amolecedores e extrínsecos à idéia de civilização,<br />

definidamente deformantes. Entre estes sobressai o<br />

aparecimento do sentimentalismo amoroso.<br />

Até então, o homem tinha para com o elemento feminino<br />

uma consideração como nunca se havia visto na<br />

História: a mulher a quem ele se unia era a esposa do<br />

casamento indissolúvel, instituído pela Igreja; era a fiel<br />

conselheira e sua melhor ajuda.<br />

Característico dessa condição é o exemplo das antigas<br />

rainhas francesas. Enquanto o monarca dirigia o<br />

reino, a sua mulher supervisionava as finanças do Palácio<br />

real, que se confundiam com a economia do Estado.<br />

E assim como faz a dona de casa com o orçamento doméstico,<br />

era a rainha quem detinha as chaves dos cofres<br />

e determinava quanto dinheiro o rei podia gastar ou<br />

não. Isto significava uma participação viva na própria<br />

direção do reino, redundando num profundo respeito à<br />

rainha por parte do soberano e dos súditos.<br />

Com poucas exceções, durante o período áureo da<br />

Idade Média o homem e a mulher, o marido e a esposa,<br />

procuravam viver na harmonia ditada pelos ensinamentos<br />

de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

Exagerada idealização da mulher<br />

Ora, um dos primeiros sintomas da decadência medieval<br />

foi precisamente a deturpação desse equilíbrio de<br />

sentimentos entre os dois sexos, com o surgimento do<br />

chamado “amor de corte”. Tal “amor” idealizava a mulher<br />

como um tipo sublime, a personificação do que há<br />

de mais delicado, elegante e distinto no gênero humano,<br />

daquilo para o que o homem tende quando foge da barbárie.<br />

Ou seja, subjacente estava a idéia de que ele deixava<br />

de ser um rústico quando apreciava esses atributos<br />

e qualidades femininas.<br />

O guerreiro, nos intervalos das batalhas, participava<br />

de torneios para satisfazer sua nostalgia da guerra, uma<br />

vez que não sabia viver sem lutar. Eram competições<br />

que antes valiam como exercício para futuros combates,<br />

mas se tornaram também espetáculo, presenciado pelas<br />

mulheres numa arquibancada. O cavaleiro vencedor recebia<br />

o prêmio das mãos da dama que era o alvo de suas<br />

afeições.<br />

Surgem os trovadores<br />

Quando não se preparava para a batalha, nem realizava<br />

torneios para brilhar como combatente aos olhos<br />

das donzelas, o guerreiro procurava espreitar a sua<br />

dama em lugar e ocasião propícios. Por exemplo, sob o<br />

terraço para o qual abria a janela do quarto dela. Ali,<br />

durante a noite, à luz do luar, reunia ele dois ou três<br />

menestréis para cantarem melodias em que se louvavam<br />

as extraordinárias qualidades de sua amada...<br />

Em certo momento, quando ela o percebia cansado<br />

de cantar, abria a janela do quarto e aparecia no terraço,<br />

afetando indiferença. Mas ela surgia belamente<br />

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