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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />
“O prêmio era entregue pela dama...”<br />
O deus<br />
do amor,<br />
baixo-relevo<br />
em marfim<br />
(fins da Idade<br />
Média)<br />
vestida, com ricos adornos, etc., e não com os trajes de<br />
quem estivesse deitada na cama àquela hora da noite.<br />
Então a dama olhava para baixo, as cintilações do luar<br />
se refletiam em sua face e em seus longos cabelos... Depois<br />
de alguns minutos, ela apontava para a lua, numa<br />
espécie de sinal que era dirigido ao guerreiro. Entrava,<br />
fechava a janela, e ele se afastava lentamente, a cavalo,<br />
seguido dos trovadores. Dentro do seu quarto, ela ainda<br />
ouvia à distância o trote do valente animal em que ia<br />
seu cavaleiro, e as melodiosas vozes dos menestréis cantando<br />
para ela.<br />
Daí nasceram os romances de amor. Romeu e Julieta,<br />
de Shakespeare, é caracteristicamente uma obra dessas.<br />
Resultado: os aspectos da alma do homem que caminhavam<br />
para o requinte de elegância e gentileza, se<br />
transviaram por essa intoxicação do sensual e do sentimental<br />
dentro do delicado. Estavam escancaradas as<br />
portas para a decadência da Cristandade.<br />
Tanto mais quanto a Europa se inundou de trovadores.<br />
Naquelas eras em que não existia rádio nem televisão,<br />
ouvir música constituía um verdadeiro regalo. Imagine-se<br />
um castelo perdido no campo onde, há dois ou<br />
três anos, mulheres e homens não ouvem senão cânticos<br />
religiosos entoados na capela e em procissões. Ora,<br />
o “amor de corte” já havia posto a efervescer neles tendências<br />
que não se exprimiam através do canto da Igreja.<br />
E que ficavam retidas, aprisionadas, borbulhando de<br />
vontade de se manifestar, de se expandir, até que aparecesse<br />
um trovador. De repente, este surge, dedilhando<br />
seu alaúde, entoando encantadoras melodias...<br />
Não é difícil compreender como os trovadores se<br />
tornaram muitíssimo apreciados. Compositores talentosos,<br />
sempre faziam rimas a contento dos cavaleiros<br />
que desejavam homenagear suas damas:<br />
— Menestrel! Uma composição para minha Yolanda.<br />
— Ah, pois não! Para Dona Yolanda? Quem é Yolanda?<br />
— É aquela.<br />
O músico tirava seu pontiagudo chapéu de feltro,<br />
ornado com uma pena de faisão, e se inclinava numa<br />
grande reverência para a Yolanda. E começava a cantarolar<br />
a mesma lengalenga que ele já tinha entoado<br />
para outras Yolandas! Claro que ele fingia estar compondo<br />
na hora, pois então a recompensa seria mais<br />
alta...<br />
A Europa inundou-se de trovadores. Vindos em geral<br />
da Itália, país da música, e da Provença, ensinavam<br />
sua arte por contágio aos alemães e franceses que encontravam<br />
no começo do caminho. Depois entravam<br />
pelos reinos da Espanha, iam a Portugal e chegavam até<br />
a Escócia. Tinham livre curso onde quisessem, fazendo<br />
com que o centro da vida social deixasse de ser o que<br />
era antes do aparecimento deles.<br />
A deturpação de um sadio<br />
entretenimento<br />
É concebível que, na sociedade temporal, os homens<br />
queiram alternar o trabalho com a recreação. Por isso, a<br />
vida social é, fundamentalmente, uma legítima ocasião<br />
para entretenimento.<br />
Ora, nos bons tempos da Idade Média, o modo por<br />
excelência de se distrair era a conversa em torno de<br />
uma mesa bem guarnecida, onde os vinhos vão surgindo<br />
e vão sendo sorvidos. O banquete passava, então, a ser a<br />
forma mais própria à distração. E as grandes comedorias<br />
nos castelos foram se requintando: as salas de jantar<br />
ganharam maiores dimensões, suas paredes se revestiram<br />
de estupendas boiseries e não menos belas tapeçarias.<br />
As mesas costumavam ser de carvalho, abati-<br />
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