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Revista Dr Plinio 014

Maio de 1999

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />

“O prêmio era entregue pela dama...”<br />

O deus<br />

do amor,<br />

baixo-relevo<br />

em marfim<br />

(fins da Idade<br />

Média)<br />

vestida, com ricos adornos, etc., e não com os trajes de<br />

quem estivesse deitada na cama àquela hora da noite.<br />

Então a dama olhava para baixo, as cintilações do luar<br />

se refletiam em sua face e em seus longos cabelos... Depois<br />

de alguns minutos, ela apontava para a lua, numa<br />

espécie de sinal que era dirigido ao guerreiro. Entrava,<br />

fechava a janela, e ele se afastava lentamente, a cavalo,<br />

seguido dos trovadores. Dentro do seu quarto, ela ainda<br />

ouvia à distância o trote do valente animal em que ia<br />

seu cavaleiro, e as melodiosas vozes dos menestréis cantando<br />

para ela.<br />

Daí nasceram os romances de amor. Romeu e Julieta,<br />

de Shakespeare, é caracteristicamente uma obra dessas.<br />

Resultado: os aspectos da alma do homem que caminhavam<br />

para o requinte de elegância e gentileza, se<br />

transviaram por essa intoxicação do sensual e do sentimental<br />

dentro do delicado. Estavam escancaradas as<br />

portas para a decadência da Cristandade.<br />

Tanto mais quanto a Europa se inundou de trovadores.<br />

Naquelas eras em que não existia rádio nem televisão,<br />

ouvir música constituía um verdadeiro regalo. Imagine-se<br />

um castelo perdido no campo onde, há dois ou<br />

três anos, mulheres e homens não ouvem senão cânticos<br />

religiosos entoados na capela e em procissões. Ora,<br />

o “amor de corte” já havia posto a efervescer neles tendências<br />

que não se exprimiam através do canto da Igreja.<br />

E que ficavam retidas, aprisionadas, borbulhando de<br />

vontade de se manifestar, de se expandir, até que aparecesse<br />

um trovador. De repente, este surge, dedilhando<br />

seu alaúde, entoando encantadoras melodias...<br />

Não é difícil compreender como os trovadores se<br />

tornaram muitíssimo apreciados. Compositores talentosos,<br />

sempre faziam rimas a contento dos cavaleiros<br />

que desejavam homenagear suas damas:<br />

— Menestrel! Uma composição para minha Yolanda.<br />

— Ah, pois não! Para Dona Yolanda? Quem é Yolanda?<br />

— É aquela.<br />

O músico tirava seu pontiagudo chapéu de feltro,<br />

ornado com uma pena de faisão, e se inclinava numa<br />

grande reverência para a Yolanda. E começava a cantarolar<br />

a mesma lengalenga que ele já tinha entoado<br />

para outras Yolandas! Claro que ele fingia estar compondo<br />

na hora, pois então a recompensa seria mais<br />

alta...<br />

A Europa inundou-se de trovadores. Vindos em geral<br />

da Itália, país da música, e da Provença, ensinavam<br />

sua arte por contágio aos alemães e franceses que encontravam<br />

no começo do caminho. Depois entravam<br />

pelos reinos da Espanha, iam a Portugal e chegavam até<br />

a Escócia. Tinham livre curso onde quisessem, fazendo<br />

com que o centro da vida social deixasse de ser o que<br />

era antes do aparecimento deles.<br />

A deturpação de um sadio<br />

entretenimento<br />

É concebível que, na sociedade temporal, os homens<br />

queiram alternar o trabalho com a recreação. Por isso, a<br />

vida social é, fundamentalmente, uma legítima ocasião<br />

para entretenimento.<br />

Ora, nos bons tempos da Idade Média, o modo por<br />

excelência de se distrair era a conversa em torno de<br />

uma mesa bem guarnecida, onde os vinhos vão surgindo<br />

e vão sendo sorvidos. O banquete passava, então, a ser a<br />

forma mais própria à distração. E as grandes comedorias<br />

nos castelos foram se requintando: as salas de jantar<br />

ganharam maiores dimensões, suas paredes se revestiram<br />

de estupendas boiseries e não menos belas tapeçarias.<br />

As mesas costumavam ser de carvalho, abati-<br />

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