Revista LiteraLivre
Revista Literária que une textos de autores do Brasil e do mundo com textos de todos os estilos escritos em Língua Portuguesa. Acesse nosso site e participe também: http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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<strong>LiteraLivre</strong> nº 1<br />
A dona do verbo<br />
Francine S. C. Camargo<br />
Vinhedo-SP<br />
Era uma vez uma garotinha que não se fazia entender por palavras. Isso mesmo.<br />
Emitia o som em porte adequado, desfrutava de acertado vocabulário, pronunciava-se em<br />
relação a qualquer assunto, falava mesmo pelos cotovelos e discutia, muitas vezes, com<br />
a própria imagem ao espelho. Mas, curiosamente e ninguém sabia explicar o porquê, não<br />
se podia compreender o que ela dizia, por maior que fosse o seu entusiasmo ou a<br />
disposição e empenho do interlocutor.<br />
Apesar desse detalhe quase irrelevante da falta de comunicação, ela continuava<br />
senhora de si e expressava-se da maneira como conseguia. Experimentava verdadeira<br />
paixão pelos vocábulos, enxergava letras no ar e tentava apanhá-las, em fantasia, para<br />
formar seu nome. É fato que preferia o A e o M, tinha certo medo do Z e do H e ria-se toda<br />
quando o I ensaiava sair de sua boca.<br />
Complicado era decifrá-la quando seus olhinhos aflitos algo solicitavam, quando<br />
esperava por uma resposta. Chorava um pouquinho, mas em seguida, novamente um<br />
turbilhão de frases saía de si, para talvez um dia fazer sentido.<br />
Muitas vezes, solicitou à mãe que comprasse a ela uma nova voz ou algum chá de<br />
entendimento no mercado, na loja da esquina, no centro da cidade, na loja online da<br />
China. Não era possível, em algum lugar deveria haver a sua solução em troca de<br />
algumas moedas! Mas sua mãe não achava em parte alguma.<br />
Até que em um dia, a menininha se enfastiou e resolveu parar de falar, se é que de<br />
fala podemos chamar a sua constante tentativa frustrada de conversação. Cerrou os<br />
lábios, cruzou os braços e negou-se a ser a pseudo-tagarela de antes. Todos,<br />
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