26.01.2017 Views

Revista LiteraLivre

Revista Literária que une textos de autores do Brasil e do mundo com textos de todos os estilos escritos em Língua Portuguesa. Acesse nosso site e participe também: http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

Revista Literária que une textos de autores do Brasil e do mundo com textos de todos os estilos escritos em Língua Portuguesa. Acesse nosso site e participe também: http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>LiteraLivre</strong> nº 1<br />

Maluco de fazenda<br />

Guilherme Giublin<br />

Curitiba-PR<br />

Sempre fui meio excluído, saca? Tipo não pertencia aquele lugar. Mas fazer o quê?<br />

O mundo era aquele ali, aquele cercado. Todos da família diziam isso, esse é nosso lugar.<br />

Depois tem outros lugares, claro que tem, mas são lugares dos outros, cada um na sua.<br />

Acho importante ficar cada um na sua, mas isso pode acontecer estando junto,<br />

saca? Eu respeito você e você me respeita, na boa, mas pra que separados? Esse<br />

negócio de cada um em seu lugar, cada um em seu cercado é muita opressão, nunca foi<br />

pra mim. Mas fazer o quê? Era preso naquele lugar, um prisioneiro, assim como a<br />

mentalidade dos que tavam a minha volta. Veja bem, nunca fui um prisioneiro da minha<br />

mente. Sempre fui livre, queria conhecer a natureza e tal, ela já me dava muito, sabia que<br />

ela podia me dar mais, que em outros lugares ela seria diferente, precisava viajar. Mas<br />

assim, os meus mais chegados, que nunca me entendiam – apesar que eu também não<br />

entendia eles – esse viviam em dois cercados, o físico ali, que impedia de sair e ter<br />

relação com os outros lugares da natureza, e o mental. O mental é muito pior, saca? Uma<br />

cerca física você até pode conseguir escapar, eu consegui, mas da mental é impossível<br />

fugir, é ela que mata o cara, aprisiona 24 horas por dia, faz o cara viver só pra função que<br />

o sistema manipula ele.<br />

E o que o sistema queria de mim? Nunca soube e não quero saber, saca? Sou livre<br />

e descobri o que eu quero do sistema, quero estar fora. Mesmo agora, aqui, caído, eu sei<br />

que é o fim. Não adianta me dizer que não. Mas, pode crê, nunca vou esquecer o que<br />

você fez por mim, maluco. Vir até aqui, me dar água, escutar minha história pessoal, você<br />

é especial, deixou um maluco feliz na hora da morte.<br />

Mas vou te botar a fita de como consegui fugir: tava maior ventania mesmo, folhas<br />

para tudo quanto é lado e um dos caras de chapéu, que tiravam a nossa liberdade física,<br />

tava lá, colocando água no coxo. De repente bateu um branco, fez um cabum cabuloso e<br />

um cavalo caiu pertinho assim da gente, caiu e começou a tremer, muito assustador.<br />

Só sei que o cara do chapéu saiu mais acelerado que eu conseguia, bateu a<br />

porteira, mas, no desespero, esqueceu de trancar. Pá, o céu ficava mais escuro, mais<br />

45

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!