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Revista LiteraLivre

Revista Literária que une textos de autores do Brasil e do mundo com textos de todos os estilos escritos em Língua Portuguesa. Acesse nosso site e participe também: http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 1<br />

Uma rajada de vento violenta e cortante inflou as velas, derrubou os objetos e<br />

desequilibrou alguns tripulantes perdidos. A caravela que antes reinava soberana<br />

transformou-se um reles brinquedo a balançar nas águas negras. As ondas atacavam o<br />

casco incessantemente, como uma turba medieval feroz a caçar uma bruxa a fim de jogala<br />

na fogueira. Um redemoinho se abriu diante dos olhos atemorizados dos marujos, como<br />

uma colossal garganta demoníaca pronta para engolir a todos. A rapidez com que as<br />

águas gradualmente se moviam tornavam-no um pesadelo aquático.<br />

O primeiro imediato, Juan, deu ordens aos berros com a intenção de organizar os<br />

tripulantes e evitar que a embarcação navegasse rumo ao seu fim. Em um misto de<br />

coragem e fé, disse àqueles homens que não aceitam a finitude e não abandonassem o<br />

navio até o seu último suspiro. Logo, o capitão Ávila saiu às pressas de sua cabine, mas<br />

não havia nada que poderia fazer frente ao imenso poder da Natureza. Não eram nada<br />

mais do que pobres ratos à deriva no mar, o fim era inexorável.<br />

Tudo se tornou um breu. Nada mais poderia ser visto, nem mesmo em que lugar cada<br />

um se situava na caravela. Alguns artilheiros tentavam subir do deque ao convés, em vão.<br />

Não havia contra o quê lutar, o inimigo não era de carne e osso e nem estava viajando em<br />

um navio. De repente, ouviu-se um baque. O barco inteiro estremeceu. Vários marujos<br />

caíram nas águas profundas e negras. Alguns conseguiram se manter presos nas cordas,<br />

no mastro e nos corrimões. Mais e mais marujos gritavam horrorizados. Provavelmente,<br />

haviam batido em um recife. Ouvia-se claramente a água preenchendo as partes<br />

inferiores da embarcação e agora nada lhes restava além afundar lentamente em direção<br />

ao baú de Davy Jones, como era natural dos homens ao mencionarem o fundo do mar.<br />

Eis que um clarão surgiu nas trevas. Foi possível, em um breve momento, distinguir<br />

algumas formas e objetos. Sucessivos clarões se iniciaram, até que se pôde avistar um<br />

navio holandês, um fluyt, navegando à distância, sem bandeira e sem cores, vindo em<br />

direção à Esperanza. Eram piratas, sem dúvidas. Estavam atracando ao lado da caravela.<br />

Lançaram cordas e pranchas de madeira. Seus marinheiros, homens robustos de todos<br />

os tipos e etnias, invadiram a embarcação em um piscar de olhos. Não havia em seus<br />

rostos nenhuma feição afável, nenhuma gota misericórdia em seus olhos. Eles eram a<br />

morte em pessoa. Aqueles eram os verdadeiros lobos do mar, predadores das águas.<br />

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