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Revista LiteraLivre

Revista Literária que une textos de autores do Brasil e do mundo com textos de todos os estilos escritos em Língua Portuguesa. Acesse nosso site e participe também: http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 1<br />

Rio Doce<br />

Marcos Santiago<br />

Governador Valadares/MG<br />

Permita-me apresentar:<br />

Chamo-me Rio Doce, ou melhor, os outros é que assim me chamam.<br />

Não sei se há algo de doce em mim, senão a várzea que enamoro.<br />

Nasci no aconchego montanhoso de Minas Gerais, no encontro entre Do Carmo e<br />

Piranga.<br />

Como menino inquieto, rompi a terra rumo ao Atlântico, iluminado pelo Espírito<br />

Santo.<br />

Mato a sede de muita gente, de cidade em cidade. Essa é minha sina, e doravante<br />

arrisco rima, sou de dar alegria pra quem é de amizade.<br />

Mas já me excedi, peço desculpas. É que o ressentimento me transbordou. Note<br />

que o tom amarronzado pode ser claustrofobia. Às vezes tenho saudades do<br />

tempo em que me espreguiçava pelas margens que hoje me sufocam (noite e dia).<br />

Ando meio esgotado, se é que me entende. Carente de atenção dessa gente, que<br />

culpada ou inocente, faz minha alma assorear.<br />

Trafego magro e melancólico, sem o reflexo cristalino de outrora. Até os peixes me<br />

deixaram como se em triste degola. Mas para os amigos, não vou lamuriar, ainda<br />

me resta - o resto - da mata ciliar.<br />

Aos pés do Pico da Ibituruna sigo corrente, pelo caminho que bravamente construí.<br />

Guardo comigo os feitos de desbravadores que navegaram por aqui. E quando a<br />

chuva vem, minha rima melhora, minha cabeceira se alegra e me deleito como<br />

outrora.<br />

Ainda vivo e vou cantando pelas terras que beijei. Se sou doce, isso já não sei.<br />

Sei é que sou líquido da vida – tomara que bem vivida - na torneira dos que ouvem<br />

minha estória. E se ainda rego o sorriso de uma criança, isso me basta como<br />

memória.<br />

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