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• HISTÓRIAS<br />
H ISTÓRIAS<br />
cURITIBANAS<br />
Amores e a cidade<br />
Quando deixamos<br />
a escola, normalmente<br />
a deixamos<br />
acreditando já termos<br />
aprendido o necessário<br />
para enfrentar a<br />
vida adulta: álgebra,<br />
predicado, equações,<br />
bhaskara, correntes<br />
climáticas e por aí<br />
vai. O irônico é que<br />
desde os 16 anos nunca<br />
mais tivemos que<br />
somar catetos ou elevar<br />
“b” ao quadrado,<br />
tampouco encontrar<br />
o valor do “x”. Coisas<br />
da vida.<br />
A verdade é que<br />
se tivessem usado este<br />
tempo para nos ensinar<br />
sobre o amor, provavelmente<br />
teríamos<br />
sofrido menos. Não<br />
há na grade curricular<br />
uma disciplina explicando que nem sempre as histórias de<br />
amor têm finais felizes - e que o mundo não irá parar para<br />
sofrermos em paz. Isso, às vezes, aprendemos em algum<br />
terminal de ônibus, afinal, invariavelmente, as pessoas que<br />
mais gostamos um dia vão partir.<br />
A intangibilidade que o verbo “gostar” traz consigo<br />
é fantástica. Gostar é ótimo na infância porque você não<br />
precisa se esforçar: é sim ou não. E já diria o ditado popular<br />
que um desconhecido cunhou e perdeu para a posteridade:<br />
“O amor é uma palavra que envolve duas consoantes, duas<br />
vogais e dois idiotas”.<br />
Por essas e outras, já me apaixonei no Terminal do<br />
Cabral, no Parque Tingui e às três da manhã em um antigo<br />
Mercadorama 24 horas. A explicação mais lógica que encontrei<br />
foi culpar Curitiba,<br />
suas praças, ruas,<br />
enfim, sua gente. Dessa<br />
forma, sempre que encontro<br />
aquela quase<br />
senhora correndo em<br />
torno do Barigui, religiosamente<br />
por volta<br />
das 17h, o coração<br />
dispara. E sorte minha<br />
ela correr, já que se<br />
caminhasse, talvez a<br />
alcançasse e pudesse<br />
lhe explicar os motivos<br />
da minha fascinação: o<br />
mais recente amor quase<br />
perdido simboliza<br />
todos os anteriores que<br />
o tempo já fez questão<br />
de apagar.<br />
E não se trata, muitas<br />
vezes, de uma simples<br />
pessoa. Por vezes<br />
essa paixão momentânea<br />
pela cidade se<br />
manifesta através de um local, um parque ou um bairro.<br />
Quantas histórias perdidas há nas Mercês? Talvez as<br />
respostas só sejam encontradas em algum cantinho do<br />
Água Verde. O quão fascinante pode ser uma rodoviária<br />
encravada na região central de uma cidade?<br />
Na verdade, nunca saberemos, porque ao final do<br />
dia, lá no fundo, é só mais uma paixão passageira que em<br />
breve desaparecerá. O céu já está nublado, afinal, um dia<br />
típico curitibano precisa contemplar as quatro estações.<br />
Anoitece e com a noite vem a garoa. Se o universo nos<br />
tem negado alguns amores, então providenciemos outros<br />
ao nascer do próximo dia.<br />
Pensando melhor, talvez eu tenha aprendido tudo o<br />
que precisava na escola.<br />
Texto: M.B. / Ilustração: Fernanda Domingues<br />
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