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Março/2016 - Revista VOi 128

Grupo Jota Comunicação

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• HISTÓRIAS<br />

H ISTÓRIAS<br />

cURITIBANAS<br />

Amores e a cidade<br />

Quando deixamos<br />

a escola, normalmente<br />

a deixamos<br />

acreditando já termos<br />

aprendido o necessário<br />

para enfrentar a<br />

vida adulta: álgebra,<br />

predicado, equações,<br />

bhaskara, correntes<br />

climáticas e por aí<br />

vai. O irônico é que<br />

desde os 16 anos nunca<br />

mais tivemos que<br />

somar catetos ou elevar<br />

“b” ao quadrado,<br />

tampouco encontrar<br />

o valor do “x”. Coisas<br />

da vida.<br />

A verdade é que<br />

se tivessem usado este<br />

tempo para nos ensinar<br />

sobre o amor, provavelmente<br />

teríamos<br />

sofrido menos. Não<br />

há na grade curricular<br />

uma disciplina explicando que nem sempre as histórias de<br />

amor têm finais felizes - e que o mundo não irá parar para<br />

sofrermos em paz. Isso, às vezes, aprendemos em algum<br />

terminal de ônibus, afinal, invariavelmente, as pessoas que<br />

mais gostamos um dia vão partir.<br />

A intangibilidade que o verbo “gostar” traz consigo<br />

é fantástica. Gostar é ótimo na infância porque você não<br />

precisa se esforçar: é sim ou não. E já diria o ditado popular<br />

que um desconhecido cunhou e perdeu para a posteridade:<br />

“O amor é uma palavra que envolve duas consoantes, duas<br />

vogais e dois idiotas”.<br />

Por essas e outras, já me apaixonei no Terminal do<br />

Cabral, no Parque Tingui e às três da manhã em um antigo<br />

Mercadorama 24 horas. A explicação mais lógica que encontrei<br />

foi culpar Curitiba,<br />

suas praças, ruas,<br />

enfim, sua gente. Dessa<br />

forma, sempre que encontro<br />

aquela quase<br />

senhora correndo em<br />

torno do Barigui, religiosamente<br />

por volta<br />

das 17h, o coração<br />

dispara. E sorte minha<br />

ela correr, já que se<br />

caminhasse, talvez a<br />

alcançasse e pudesse<br />

lhe explicar os motivos<br />

da minha fascinação: o<br />

mais recente amor quase<br />

perdido simboliza<br />

todos os anteriores que<br />

o tempo já fez questão<br />

de apagar.<br />

E não se trata, muitas<br />

vezes, de uma simples<br />

pessoa. Por vezes<br />

essa paixão momentânea<br />

pela cidade se<br />

manifesta através de um local, um parque ou um bairro.<br />

Quantas histórias perdidas há nas Mercês? Talvez as<br />

respostas só sejam encontradas em algum cantinho do<br />

Água Verde. O quão fascinante pode ser uma rodoviária<br />

encravada na região central de uma cidade?<br />

Na verdade, nunca saberemos, porque ao final do<br />

dia, lá no fundo, é só mais uma paixão passageira que em<br />

breve desaparecerá. O céu já está nublado, afinal, um dia<br />

típico curitibano precisa contemplar as quatro estações.<br />

Anoitece e com a noite vem a garoa. Se o universo nos<br />

tem negado alguns amores, então providenciemos outros<br />

ao nascer do próximo dia.<br />

Pensando melhor, talvez eu tenha aprendido tudo o<br />

que precisava na escola.<br />

Texto: M.B. / Ilustração: Fernanda Domingues<br />

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