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REBOSTEIO 4

Revista REBOSTEIO DIGITAL número quatro - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.

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Marginal<br />

Meu poema é soneto quando bem quer.<br />

A tônica o sufoca na sexta sílaba.<br />

O verso dá minha cara à tapa,<br />

dobra meus joelhos, põe tudo a perder.<br />

Conta-me a vida em tortas linhas<br />

impondo a meu olhar agudo, desejo mudo,<br />

o ângulo reto.<br />

Vespertina<br />

Ela disse: Eternidade.<br />

Numa língua serpentina<br />

Enroscou-se em meu nome,<br />

cheiro e albumina.<br />

Faz-me descer quadrado,<br />

Arremessa-me de frente contra o muro.<br />

Aponta-me sempre a porta dos fundos.<br />

Exposto ao ridículo, sou maltrapilho,<br />

seu aprendiz, seu filho.<br />

Caminho trôpego entre versos cultos.<br />

Mata-me de prazer<br />

Deu voltas em meu pescoço<br />

falou descalço em meu ouvido:<br />

-Vem comigo! Vem comigo!<br />

Lotou meus dias de feitos vazios.<br />

Lagarto cruzou a estrada<br />

a engravidou de uma montanha russa.<br />

Parto sem dor,<br />

algo de puro nesse despudor,<br />

algo de muro nesse corredor.<br />

Acorde tímido, gemido rouco.<br />

-Fica mais um pouco!<br />

-Fica mais um pouco!<br />

-Eu te preciso, preciso.<br />

Em minhas mãos dez coordenadas.<br />

Metáfora do alcance.<br />

Em minhas mãos descoordenadas.<br />

Meta fora do alcance.<br />

Um lance que já estava dentro<br />

bem antes do antes do antes.<br />

Dois canudos no mesmo refrigerante.<br />

De tão claro<br />

chega a ser abismo.<br />

De tão inevitável<br />

chega a ser sentença.<br />

De tão verdade<br />

chega a ser tristeza.<br />

De tão suave<br />

chega a ser carícia.<br />

Malícia.<br />

Delícia que envolve.<br />

A maré revolta<br />

da língua se solta.<br />

O insano escolta<br />

à tua prisão perpétua.<br />

Emissário da morte<br />

que a queda atiça.<br />

Preguiça.<br />

Cobiça<br />

o que teu pecado capita.<br />

Por meus pêlos velejam teus dedos<br />

decifrando-me a pele em trêmulo solfejo.<br />

Como último apelo<br />

termino<br />

em<br />

teu<br />

beijo.

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