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eyond the line<br />
Divulgação<br />
Que propaganda é essa?!<br />
As agências precisam se habituar a um<br />
processo <strong>de</strong> criação que extrapola formas<br />
Alexis Thuller PAgliArini<br />
Dois dos cases mais premiados em Cannes<br />
este ano têm muita coisa em comum.<br />
Ambos foram originados da i<strong>de</strong>ia<br />
da criação <strong>de</strong> um personagem forte. Não<br />
aquele personagem criado para estrelar<br />
campanhas, como o saudoso Baixinho da<br />
Kaiser, o Garoto Bombril ou, ainda, o Bom<br />
<strong>de</strong> Boca, da Cepacol. São personagens em<br />
três dimensões.<br />
Por incrível coincidência, esses dois cases,<br />
que ganharam milhões <strong>de</strong> views, likes e<br />
compartilhamentos nas re<strong>de</strong>s sociais, são...<br />
estátuas. Sim, estátuas produzidas por artistas<br />
plásticas. Ambas foram expostas ao<br />
público e geraram intensa comoção. Refiro-<br />
-me a Fearless Girl (Garota sem medo), case<br />
ganhador <strong>de</strong> nada menos do que quatro<br />
Grand Prix, além <strong>de</strong> muitos ouros, pratas<br />
e bronzes; e o Graham, ganhador <strong>de</strong> dois<br />
Grand Prix e também outros Leões em diversas<br />
categorias.<br />
E o que esses cases fantásticos têm mais<br />
em comum? Eles não foram objetos <strong>de</strong> uma<br />
campanha publicitária convencional. Não<br />
foram julgados anúncios, filmes ou outras<br />
peças publicitárias. Sua força está representada<br />
pela materialização <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia.<br />
Literalmente! Materialização expressa em<br />
figuras em 3D, vistas e admiradas por milhões<br />
<strong>de</strong> pessoas pelo mundo inteiro (na<br />
verda<strong>de</strong>, foram mais <strong>de</strong> 1 bilhão <strong>de</strong> views<br />
<strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las).<br />
Peças que se sobressaíram pela sua forma,<br />
mas também por outros fortes motivos.<br />
Impactaram pela sua pertinência e relevância<br />
para muitas pessoas.<br />
A primeira, expressando o empo<strong>de</strong>ramento<br />
feminino <strong>de</strong> forma impactante e<br />
inequívoca. Um grupo financeiro cria um<br />
fundo formado só por empresas li<strong>de</strong>radas<br />
por mulheres e, para divulgá-lo, encomenda<br />
uma estátua <strong>de</strong> uma garota em posição<br />
altiva e corajosa e a instala, exatamente no<br />
Dia da Mulher, em frente ao famoso touro<br />
<strong>de</strong> Wall Street, numa posição <strong>de</strong> sereno enfrentamento.<br />
Não há mulher que não se projete naquela<br />
garota corajosa. A estátua foi concebida<br />
para ficar por um período naquele lugar,<br />
mas já há petições para fazê-la permanente,<br />
com o apoio até do prefeito <strong>de</strong> Nova<br />
York. Que outra campanha po<strong>de</strong>ria impac-<br />
tar mais as mulheres, público-alvo da State<br />
Street?<br />
Foquemos agora a outra estátua: o<br />
Graham. Vendo suas campanhas <strong>de</strong> prevenção<br />
<strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes caírem na mesmice,<br />
apesar do uso <strong>de</strong> imagens chocantes <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes,<br />
a Transport Acci<strong>de</strong>nt Commission<br />
Victoria, órgão responsável pela segurança<br />
<strong>de</strong> trânsito do estado <strong>de</strong> Victoria, da Austrália,<br />
lança mão <strong>de</strong> um recurso diferente.<br />
Encomenda a criação do único “ser” que<br />
po<strong>de</strong>ria resistir à maioria dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />
carro, o Graham.<br />
Com o apoio <strong>de</strong> um cirurgião especializado<br />
em traumas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong> um engenheiro<br />
<strong>de</strong> trânsito, uma artista plástica cria<br />
uma figura que estaria imune aos aci<strong>de</strong>ntes.<br />
O resultado é uma estátua com traços humanos,<br />
mas muito mais parecida com horrendos<br />
seres do imaginário <strong>de</strong> ficção, <strong>de</strong> outras<br />
galáxias. O recado está dado: se você não se<br />
parece com o Graham, tome cuidado ao dirigir,<br />
porque você po<strong>de</strong> se ferir seriamente.<br />
Pois bem, duas i<strong>de</strong>ias fantásticas foram<br />
criadas por excelente agências: McCann<br />
New York e Clemenger BBDO, <strong>de</strong> Melbourne<br />
– esta última a Agência do Ano do Cannes<br />
Lions 20<strong>17</strong>.<br />
Mas a questão é a seguinte: são elas agências<br />
<strong>de</strong> propaganda? Sim, e das melhores!<br />
Mas que propaganda é essa? Supostamente,<br />
os publicitários não <strong>de</strong>veriam se ater às<br />
expressões típicas <strong>de</strong> campanhas publicitárias?<br />
E a resposta é simples: não mais!<br />
As agências precisam se habituar a um<br />
processo <strong>de</strong> criação que extrapola formas<br />
convencionais. A boa i<strong>de</strong>ia é aquela que<br />
impacta, envolve, engaja e mobiliza, sem se<br />
restringir a formatos e convenções.<br />
A partir <strong>de</strong>ssa constatação, outras questões<br />
aparecem. Como são remuneradas as<br />
agências que geram i<strong>de</strong>ias como essas? Por<br />
um percentual sobre o custo da estátua?!<br />
Nossas escolas estão formando profissionais<br />
com esse <strong>de</strong>scondicionamento <strong>de</strong><br />
raciocínio? Essa nova propaganda reflete a<br />
essência do termo, que vem do latim: Propagare,<br />
que significa multiplicar, por produção<br />
ou geração.<br />
Essa é a verda<strong>de</strong>ira propaganda. Acostumemo-nos<br />
a ela.<br />
Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />
da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Agências<br />
<strong>de</strong> Propaganda)<br />
alexis@fenapro.org.br<br />
18 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> 20<strong>17</strong> - jornal propmark