- REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES EDITORIAL , -1';- Os Serviços da Administração Pública são apenas sistemas de inf armação, no sentido de que somente recolhem, armazenam, processam e difundem informações. Os gestores dos serviços da Administração Pública limitam-se a gerir os processos de produção da informação necessária à tomada de decisões de índole governativa. O sistema de gestão do Hospital: Contributo para uma visão sistémica Os hospitais, embora no âmbito do Direito possam ser englobados no conceito de Administração Pública, são serviços produtores de cuidados. Os gestores hospitalares, além de gerirem sistemas de informação específicos, são responsáveis pela tomada de decisões conducentes à optimização da relação custos/ benefícios na prestação de cuidados aos doentes. Sejamos claros: aos gestores hospitalares incumbem responsabilidades acrescidas, e qualitativamente diferentes, relativamente às outras carreiras do funcionalismo público. Confundir a prática e responsabilidades da Administração <strong>Hospitalar</strong> com a Administração Pública, é desconhecer que esta abre às nove e fecha às dezassete horas, enquanto os hospitais funcionam nas vinte e quatro. É desconhecer que a Administração Pública atende o público ao postigo, e que os hospitais recebem-no dentro de casa e intervêm em situações de doença. É desconhecer que a Administração Pública lida só com papéis, com máquinas de escrever e até com computadores, e que os hospitais têm tudo isso mais um conjunto muito variado de grupos profissionais, milhões de contos de equipamentos e de consumos de bens, o que exige uma estrutura organizacional e decisional capaz de coordenar todos esses recursos de forma a conseguir a prestação dos melhores cuidados na pessoa do doente, ao mais baixo custo possível. Os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es Portugueses não rejeitam, antes aceitaram, as responsabilidades que distinguem as suas funções, mas reclamam o direito a estatuto remuneratório adequado e o tratamento diferenciado que a correcta avaliação dos poderes e das responsabilidades envolvidas exige. Olhar para o lado não modifica a realidade nem envolve nenhum dos problemas que dela se suscitam. Pegar em alibis equivale à vontade deliberada de que tudo fique como está. E está mal, na convicção generalizada dos utentes, dos profissionais hospitalares e dos gestores. APRESENTAÇÃO No primeiro núm·ero de G. H. o Prof. Coriolano Ferreira afirmava que «os hospitais são entidades extremamente complexas, das mais complexas dos tempos de hoje». Os motivos desta complexidade poderemos resumi-los em duas ideias-força: variedade e interdependência. A variedade significando o número de elementos diferentes que constituem o sistema hospitalar; a interdependência referida à relação entre esses elementos ·e à interacção entre o sistema global e o seu meio a mbiente. Grande variedade e forte interacção concorrem então para caracterizar o hospital como um sistema aberto e complexo. Por isso a clássica abordage·m tem dificuldades .em apreender a realidade hospitalar. O Hospital é mais do que a simples justaposição de mecanismos técnicos e administrativos isoladamente reguláveis. * Administrador <strong>Hospitalar</strong>. Administrador Regional de Informática do Norte - Centro Regional de Informática da Saúde - Porto. J. A. MENESES CORREIA * A noção estática de optimização local deive, aqui, ceder, face ao conceito dinâmico de evolução controlada de todo o sistema. O Hospital há-de ser pensado como uma totalidade, compost a de múltiplas partes interconectadas, em interacção com o universo exterior e prosseguindo objectivos globais. Cada uma dessas partes possui características estruturais e funcionais idênticas à do sistema g-lo1bal e ·constitui, ela própria, um sistema (sub -sistema). A descrição duma empresa, a partir duma rede de sub-sistemas, depende, essencialmente, das finalidades em vista. Por isso tendo em atenção o objectivo deste artigo, utilizaremos como referência um modelo de descrição da empresa particularm·ente adaptado à análise do sistema de gestão. A partir dessa análise, ensaiaremos algumas conclusões, sobre as propr ieda~es que devem caracterizar o Sistema de <strong>Gestão</strong> do Hospital. Entretanto, dada a importância que a cibernética assume na ab~rdagem sistémica, começaremos exactamente por uma breve reflexão nesse domínio. 2 3