Sapeca - 13

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Entrevista com Francisco Inácio Peixoto Que diz sobre a famosa revista Verde e sua turma? Nada além do que já foi dito e escrito. Leia-se, por exemplo, a apresentação que fez Guilhermino César – remanescente do grupo – para a edição facsimilada da revista, lançada pela Metal Leve S. A., graças à iniciativa de seu presidente, José Mindlin. De minha parte, por motivos que julgo óbvios, não bati palmas à ‘ressurreição’ da revista, embora não as negue à benemerência do Sr. Mindlin. Quanto à sua turma, parte morreu e parte se dispersou. Só eu, quase falecido também, permaneço (permaneci) em Cataguases. Tendo obtido sempre sucesso como escritor, por que tarda tanto a publicar livros e até mesmo a colaborar na imprensa? Nunca obtive sucesso como escritor. Sempre tive o voo curto. Os poucos livros publicados, à exceção de um, foram-no às expensas minhas. Vender, não se venderam. Incumbi-me eu de esgotá-los. Jamais os vi nos balcões das livrarias, o que demonstra, além de tudo, que foram mal distribuídos, ou sequer distribuídos. Apenas um livro – a tradução de Oblomov, de Gontcharov, foi publicado por conta das Edições O Cruzeiro. Guardo disto triste lembrança, pois o livro, sem minha tão solicitada revisão, saiu com uma enormidade incrível de erros, entre outras imperdoáveis falhas. A enormidade parece que passou despercebida. Mas já ressalvei o erro deplorável, na hipótese de uma segunda edição. Dificilmente me ocorreu ou ocorre ser solicitado para colaborar na imprensa indígena e, muito menos, alhures. E por que seria? Além do que sou desajustado por preguiça antiga. É conhecida a grande amizade que o ligou a Marques Rebelo. Que diz, em linhas gerais, sobre ele? Deixo que o próprio Marques diga e, pela segunda vez, transcrevo trecho de carta sua: ‘Chico, se eu morrer amanhã, você ficará livre de minhas cóleras e paixões, mas perderá a pessoa que mais acredita em você e lhe quer bem”. Tendo sido inovador no início de sua carreira literária, como encara os inovadores de agora? Claro que acho imprescindíveis os inovadores. Se nem sempre posso aplaudi-los, louvo-os. Se não pelo que escrevem, pelo muito que lutam. Acha que pode haver uma linha definida a ser seguida pelos contistas ou cada qual deve encontrar seu próprio caminho?
Claro que não há linhas definidas. Que cada qual encontre o seu próprio caminho. Mesmo um escritor muito moderno deve ter conhecimento profundo dos clássicos? Muito moderno? Escritor muito moderno? A pergunta, tal como foi formulada, me confunde. Dou resposta à outra parte, implícita no questionário: o conhecimento dos clássicos não é o que iria condicioná-los ao eterno. Qual é o gênero literário de sua predileção? Não tenho predileção por gêneros literários. A seu ver, o que explica o fato de Cataguases ser a cidade do interior brasileiro que mais oferece valores às letras, de geração em geração? Resumo a reposta: Cataguases sempre foi, e agora mais do que nunca, um equívoco. Entrevista extraída do livro Palavra puxa palavra, de José Afrânio Moreira Duarte, Editora do Escritor, São Paulo, 1982. Francisco Inácio Peixoto, Cataguases-MG, 1909-1986. Estudou no ginásio local e faculdades de BH e RJ. De volta, advogou por quatro anos e pensou em tentar a carreira diplomática, estabelecendo-se como diretor de fábrica e, por um tempo, de banco. Teve contos incluídos em 4 antologias, uma delas na Argentina. Disse ter se tornado um chômeur (desempregado) travestido de fazendeiro. A partir da Verde, publicou os livros Meia-Pataca, poemas (com Guilhermino César), Dona Flor e A janela, contos, Passaporte proibido (impressões de viagem à Tcheco-eslováquia e à Rússia) e Erótica, poemas. Sua tradução de Oblomov, de Gontcharov, além de mal editada, foi plagiada, fato divulgado na imprensa, em 2004. Segundo a Folha de São Paulo, o plágio vai da primeira à última página, até os erros são os mesmos da primeira edição. Coisa de uma editora chamada Germinal, culpada de outros plágios. As filhas do plagiado recorreram. ‘Casa de Francisco Inácio Peixoto, projeto de Oscar Niemeyer, tem a frente voltada para o Rio Pomba, que passa nos fundos da casa’. Assim está escrito no Google. Estranhei, depois li que Niemeyer desenhou a varanda no andar superior pra ficar na frente, feito nos velhos casarões, e o Chico inverteu. Pra preservar sua privacidade?
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