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Gestão Hospitalar N.º 12 2018

Entrevista a Xavier Corbella, Secretário Geral da International Fedaration Internal Medicine

Entrevista a Xavier Corbella, Secretário Geral da International Fedaration Internal Medicine

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JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO <strong>2018</strong><br />

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE<br />

ADMINISTRADORES HOSPITALARES [APAH]<br />

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ISSN: 0871-0767<br />

Entrevista<br />

a Xavier<br />

Corbella<br />

SAÚDE E ASSISTÊNCIA<br />

SOCIAL: A NECESSIDADE<br />

DE UMA ABORDAGEM<br />

INTEGRADA<br />

Luís Campos<br />

TELESAÚDE<br />

– EXPERIÊNCIA<br />

DOS AÇORES<br />

Ana Raquel Santos<br />

Luísa Sousa Melo Alves<br />

REMEDI<br />

REQUISIÇÕES MÉDICAS<br />

Bruno Silva<br />

Pedro Rodolfo<br />

PRÉMIO CORIOLANO<br />

FERREIRA − RAZÃO DE SER<br />

Rui Santana, Sílvia Lopes<br />

E AINDA...<br />

– Caminho dos Hospitais<br />

– Academia APAH<br />

– Conferências de Valor<br />

– Homenagem a Augusto Mantas,<br />

João Urbano e Margarida Bentes


APOIO INSTITUCIONAL<br />

PARCEIROS INSTITUCIONAIS<br />

Ordens Profissionais<br />

Outros Parceiros Estratégicos<br />

PARCEIROS FORMAÇÃO<br />

ENTIDADES PATROCINADORAS<br />

Patrocinadores<br />

de Mérito<br />

Patrocinadores<br />

de Valor<br />

GESTÃO OPERACIONAL<br />

www.apah.pt/academia-apah


SUMÁRIO<br />

03<br />

EDITORIAL<br />

04<br />

SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL: A NECESSIDADE DE UMA<br />

ABORDAGEM INTEGRADA<br />

08<br />

Implementação do programa ERAS® − Enhanced<br />

Recovery After Surgery na cirurgia de cólon e<br />

reto no Hospital Beatriz Ângelo<br />

<strong>12</strong><br />

Telesaúde − Experiência dos Açores<br />

18<br />

ENTREVISTA A XAVIER CORBELLA<br />

26<br />

REMEDI − REQUISIÇÕES MÉDICAS<br />

28<br />

AS CAUSAS DAS RECLAMAÇÕES<br />

35<br />

CAMINHO DOS HOSPITAIS<br />

38<br />

Portugal recebe o maior congresso europeu de<br />

gestores hospitalares − EAHM <strong>2018</strong><br />

40<br />

CONFERÊNCIAS DE VALOR APAH<br />

DIREÇÃO<br />

Alexandre Lourenço | Bárbara Carvalho<br />

Emanuel Magalhães de Barros | Margarida França<br />

REDAÇÃO<br />

Catherine Alves Pereira<br />

DESIGN GRÁFICO<br />

Fedra Santos<br />

REVISÃO<br />

Ângela Barroqueiro<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

Gratuita<br />

PROPRIEDADE<br />

APAH − Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Apartado 13040<br />

Estação CTT Casal Ribeiro<br />

1000-994 Lisboa<br />

secretariado@apah.pt<br />

www.apah.pt<br />

46 Diagnóstico sobre a utilização da Contabilidade<br />

Analítica nos Hospitais Públicos Portugueses<br />

50 ICHOM<br />

54 Homenagem a Augusto Mantas, João Urbano<br />

e Margarida Bentes<br />

56 ESPAÇO ENSP [SAÚDE E INVESTIGAÇÃO]:<br />

PRÉMIO CORIOLANO FERREIRA − RAZÃO DE SER<br />

58 APAH MARCA A AGENDA<br />

60 Academia Apah<br />

PERIODICIDADE<br />

Trimestral<br />

DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />

16288/97<br />

ISSN N.<strong>º</strong><br />

0871–0767<br />

TIRAGEM<br />

2.000 exemplares<br />

IMPRESSÃO<br />

Rainho & Neves, Lda. – Santa Maria da Feira<br />

FOTO CAPA © Fedra Santos<br />

Esta revista foi escrita segundo as<br />

novas regras do Acordo Ortográfico


© MARGARIDA FRANÇA<br />

EDITORIAL<br />

O Administrador <strong>Hospitalar</strong> João Santos Cardoso foi um insigne devoto da causa<br />

pública e, particularmente, do Serviço Nacional de Saúde.<br />

Juntamente com Eduardo Sá Ferreira, Raúl Moreno, João Urbano, Júlio Reis, José<br />

Carlos Lopes Martins e Jorge Varanda, integrou em 1981 a primeira Direção da<br />

Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH). Entre 1984<br />

e 1987 assume a presidência da APAH. Em 1983 fundou a Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

que dirigiu até 1986.<br />

Após 35 anos continuamos a promover este seu legado, marca no tempo, do<br />

trabalho continuado de diferentes gerações de Administradores e Dirigentes<br />

<strong>Hospitalar</strong>es que se empenharam em inovar e demonstrar capacidades e competências,<br />

bem como profunda vontade de adicionar valor às políticas públicas,<br />

ao ensino e formação, à investigação e à gestão das unidades de saúde.<br />

Reconhecendo a sua relevância, recentemente, digitalizámos todos os números<br />

destes anos de revista, sendo agora disponibilizados universal e gratuitamente<br />

no nosso site. Para celebrar os 35 anos estamos a preparar uma edição<br />

comemorativa da <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>. Desde a primeira hora, o João Santos Cardoso<br />

disponibilizou-se generosamente para escrever o seu editorial.<br />

Para que entendesse este homem, e o seu papel na história da administração<br />

hospitalar, a colega Fernanda Taborda partilhou-me: “Numa conversa de café,<br />

o Santos Cardoso confidenciou ao Cassiano Póvoas que o Prof. Coriolano Ferreira<br />

(Diretor Geral dos Hospitais) não pedia a ficha da PIDE/DGS nos processos<br />

de recrutamento. Foi desta conversa que muitos de nós viemos para a Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>”.<br />

Um dia antes da sua partida, foi possível atribuir-lhe o título de sócio de mérito.<br />

Ia completar 85 anos no próximo dia 4 de setembro.<br />

Em 1984, Santos Cardoso fez o discurso inaugural do 5.<strong>º</strong> Congresso da Associação<br />

Europeia de Diretores de Hospitais, o primeiro organizado pela APAH<br />

(no próximo mês de setembro decorrerá o 27.<strong>º</strong> Congresso no Estoril, o terceiro<br />

organizado pela APAH), termina a sua intervenção bastante crítica da gestão<br />

hospitalar em Portugal com:<br />

“o conhecimento e as ideias são armas poderosas em Democracia.”<br />

Nada mais justo do que dedicar a próxima edição especial da <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

à memória deste Homem de Liberdade.<br />

ALEXANDRE LOURENÇO<br />

Presidente da APAH


SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL:<br />

A NECESSIDADE DE UMA<br />

ABORDAGEM INTEGRADA<br />

LUÍS CAMPOS MD MSc FACP (Hon)<br />

Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna<br />

Presidente da Comissão de Qualidade e Assuntos Profissionais da EFIM<br />

Diretor do Serviço de Medicina do HSFX/CHLO<br />

Professor Auxiliar convidado da Faculdade de Ciências Médicas/UNL<br />

recente inquérito promovido pela Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, com a<br />

O<br />

colaboração da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna,<br />

que mostra que permanecem nos hospitais do SNS,<br />

depois de terem alta clínica, mais de mil doentes internados<br />

por motivos sociais ou a aguardar vaga na Rede<br />

Nacional de Cuidados Continuados, destapa um problema<br />

com que nos defrontamos há muito: os hospitais, e particularmente<br />

os serviços de Medicina, onde estão mais de<br />

50% destes doentes, estão transformados em centros de<br />

resolução dos problemas sociais dos doentes. Esta realidade<br />

vai-se agravar de dia para dia, tornando impossível<br />

cada vez mais separar os problemas de saúde dos problemas<br />

sociais.<br />

O que se esconde por detrás destes números? Vamos<br />

relatar dois casos reais com nomes fictícios, para que se<br />

entenda do que estamos a falar.<br />

Dois casos clínicos<br />

Senhor António, doente de 50 anos, toxicodependente,<br />

HIV positivo e com patologia psiquiátrica. Tem<br />

uma reforma por invalidez de 200 euros. Foi referenciado e<br />

aceite em Unidade da RNCCI de longa duração há três anos,<br />

mas a mãe foi buscá-lo e, passado 1 mês, trouxe-o de novo<br />

para o hospital porque não consegue tomar conta dele em<br />

casa. A mãe acha que ele está bem é no hospital. Foi referenciado<br />

novamente para RNCCI, mas foi chumbado por<br />

falta de critérios. Ao mesmo tempo iniciou-se o processo de<br />

interdição do doente junto do Ministério Público para nomeação<br />

de tutor (porque a mãe se recusava a colaborar), no<br />

entanto o ministério nomeou a mãe como tutora. Recusado<br />

duas vezes na casa de Saúde do Telhal por falta de critérios,<br />

nomeadamente porque não era autónomo. Foi referenciado<br />

à Segurança Social, dois anos depois, para integração<br />

O recente inquérito promovido pela Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, com a colaboração da Sociedade Portuguesa<br />

de Medicina Interna, que mostra que permanecem nos hospitais<br />

do SNS, depois de terem alta clínica, mais de mil doentes internados<br />

por motivos sociais ou a aguardar vaga na Rede Nacional de Cuidados<br />

Continuados, destapa um problema com que nos defrontamos há muito:<br />

os hospitais, e particularmente os serviços de Medicina,<br />

onde estão mais de 50% destes doentes, estão transformados<br />

em centros de resolução dos problemas sociais dos doentes.<br />

4


Angustiamo-nos diariamente com realidades sociológicas<br />

cada vez mais dramáticas, como idosos que ficam dependentes<br />

e não têm família, idosos maltratados em casa ou em lares, pais abandonados<br />

pelos filhos, pensões miseráveis que sustentam famílias, casas para<br />

onde não temos coragem de reenviar os nossos doentes, famílias<br />

que acham que o Estado tem a obrigação de resolver todos os problemas.<br />

numa residência assistida. Ao mesmo tempo foi feito um<br />

pedido a título excepcional à Misericórdia de Lisboa, que o<br />

recusou por ser doente fora da área. Até ao momento sem<br />

resposta. Foi referenciado a um Centro de Apoio Social mas<br />

foi recusado. Está internado há mais de um ano no serviço<br />

de Medicina de um hospital central.<br />

Dona Lurdes, de 81 anos, autónoma, orientada, com<br />

dois filhos, vivendo com um deles. Os filhos e a doente recusaram<br />

simplesmente sair do hospital depois da alta ou<br />

referenciação a rede. Os filhos continuavam a receber a<br />

reforma dela de 400 euros. Ambos profissionalmente ativos.<br />

Ficou 1 ano no hospital até que acabou por sair para<br />

casa ficando com o apoio de um centro de dia.<br />

Estes são exemplos dos problemas com que nos defrontamos<br />

no nosso quotidiano, nos serviços de Medicina, nós<br />

e as assistentes sociais que integram as nossas equipas.<br />

Uma realidade sociológica<br />

em rápida mudança<br />

Pertenço a uma geração que assistiu e protagonizou<br />

as mais vertiginosas e extraordinárias mudanças<br />

de toda a história da humanidade, das quais fomos,<br />

ao mesmo tempo, agentes e vítimas no plano político e<br />

tecnológico, basta lembrar que o primeiro computador<br />

pessoal foi introduzido pela IBM em 1981, e o telemóvel<br />

em 1992. Ao mesmo tempo temos a triste consciência de<br />

deixar o mundo pior do que o recebemos dos nossos pais:<br />

mais inseguro, mais degradado, mais insustentável.<br />

Também ao nível sociológico as mudanças são impressivas.<br />

Eu vivo nos hospitais há quase 40 anos. Nestes 40<br />

anos assistimos à evolução de uma família trigeracional<br />

para uma família bigeracional e agora, quando as pessoas<br />

divorciadas superam as casadas, para uma família diluída,<br />

múltipla e diversa. Nestes 40 anos assistimos à completa<br />

emancipação da mulher e a uma mudança radical na relação<br />

homem-mulher, assim como a uma mudança na relação<br />

pais-filhos. A esperança de vida passou de 70,5 anos<br />

para 81,2 anos e o envelhecimento inverteu a pirâmide<br />

etária 1 . Há 40 anos tínhamos cerca de um milhão de idosos,<br />

atualmente temos já mais de dois milhões mas as projeções<br />

demográficas apontam para que Portugal tenha,<br />

em 2050, uma percentagem de idosos superior a 35%,<br />

tornando-se o terceiro país da OCDE com mais idosos, depois<br />

do Japão e Espanha 2 . Há 17 anos tínhamos 100 idosos<br />

para 100 jovens, atualmente temos cerca de 150 e dentro<br />

de 30 anos teremos 300 idosos para cada 100 jovens 3 . Em<br />

2011 tínhamos 400 mil idosos a viver sozinhos e 800 mil<br />

a viver na companhia de outros idosos, em 2016 calcula-<br />

-se que esse número terá triplicado. O número de anos de<br />

vida saudável depois dos 65 é de 6,2 anos, inferior à média<br />

da OCDE que é de 9,4 anos e muito inferior à Suécia, onde<br />

os idosos podem contar ainda com 16,3 anos de vida saudável.<br />

A percentagem da população idosa com algum tipo<br />

de incapacidade é de 45,5%, muito superior aos 32,7% de<br />

média nos países da OCDE.<br />

O medo da morte e a mitificação da Medicina, entre outros<br />

fatores, induziu a hospitalização da morte. Há 40 anos<br />

morriam 3 pessoas em cada 10 no hospital, atualmente<br />

esse número duplicou e morrem 6 em cada 10 4 .<br />

A situação atual<br />

Os nossos hospitais foram invadidos por uma população<br />

predominantemente idosa, muitos com<br />

algum grau de incapacidade, e com multimorbilidades. O<br />

impacto desta mudança já foi apelidado de silver tsunami.<br />

A idade média dos doentes internados nos serviços<br />

5


Este é um dos piores exemplos de desperdício no sistema de saúde,<br />

porque nos ocupa o tempo em que devíamos estar a tratar dos nossos<br />

doentes, porque nos obriga a utilizar camas fora dos nossos serviços,<br />

suspendendo a atividade programada desses serviços, porque estamos<br />

a utilizar inadequadamente camas em hospitais de agudos que custam<br />

o preço de uma suite dum hotel de cinco estrelas com doentes que estariam<br />

melhor noutras instalações a custar cinco vezes menos, porque expõe<br />

o défice de planeamento no SNS, a incongruência de alguma legislação<br />

e a incapacidade dos hospitais de tomarem decisões básicas em termos<br />

de gestão, como implementarem soluções fora do hospitais.<br />

de Medicina é de 76 anos. No meu serviço saem com uma<br />

média de doze diagnósticos.<br />

A resolução dos problemas sociais dos doentes consome<br />

muita da nossa energia, já de si exaurida por uma<br />

carga assistencial elevadíssima, nas urgências, nas enfermarias,<br />

nas unidades, nas camas espalhadas por todo o<br />

hospital, nos hospitais de dia, em consultas, em ensino, na<br />

investigação e em múltiplas comissões.<br />

Angustiamo-nos diariamente com realidades sociológicas<br />

cada vez mais dramáticas, como idosos que ficam dependentes<br />

e não têm família, idosos maltratados em casa<br />

ou em lares, pais abandonados pelos filhos, pensões miseráveis<br />

que sustentam famílias, casas para onde não temos<br />

coragem de reenviar os nossos doentes, famílias que<br />

acham que o Estado tem a obrigação de resolver todos os<br />

problemas. Esbarramos diariamente na incapacidade das<br />

famílias, no cansaço dos cuidadores, na falta de resposta<br />

dos Cuidados Continuados, dos Cuidados Paliativos, da<br />

Segurança Social, da Misericórdia, do Ministério Público.<br />

Deparamo-nos diariamente com as incongruências da lei,<br />

como as famílias continuarem a receber as pensões dos<br />

doentes com internamentos inapropriados, os doentes e<br />

as famílias decidirem simplesmente que preferem ficar no<br />

hospital sem que possamos fazer nada em contrário, os<br />

doentes terem que ficar internados até terem vagas em<br />

cuidados continuados ou paliativos.<br />

Este é um dos piores exemplos de desperdício no sistema<br />

de saúde, porque nos ocupa o tempo em que devíamos<br />

estar a tratar dos nossos doentes, porque nos obriga a utilizar<br />

camas fora dos nossos serviços, suspendendo a atividade<br />

programada desses serviços, porque estamos a utilizar<br />

inadequadamente camas em hospitais de agudos que<br />

custam o preço de uma suite dum hotel de cinco estrelas<br />

com doentes que estariam melhor noutras instalações a<br />

custar cinco vezes menos, porque expõe o défice de planeamento<br />

no SNS, a incongruência de alguma legislação e<br />

a incapacidade dos hospitais de tomarem decisões básicas<br />

em termos de gestão, como implementarem soluções fora<br />

do hospitais.<br />

Na realidade a profissão de médico, particularmente de<br />

médico no hospital, situa-nos num privilegiado observatório<br />

da natureza humana e da evolução sociológica, mas<br />

também nos traz a angústia do confronto quotidiano com<br />

a pobreza, o abandono dos idosos, com a dissolução dos<br />

laços familiares, com a emergência de estratégias feias de<br />

sobrevivência e com exasperação de nos vermos de mãos<br />

atadas e de vermos a lentidão com que o sistema reage à<br />

evolução da realidade sociológica.<br />

As mudanças necessárias<br />

Sociedade Portuguesa de Medicina Interna tem<br />

A falado com frequência deste problema, no entanto<br />

estamos conscientes da sua elevada complexidade e como<br />

tal as respostas também são complexas e diversas. Entre<br />

outras destaco três áreas que temos que mudar: investir<br />

mais em cuidados de longa duração, integrar a saúde com<br />

a assistência social e mudar a legislação.<br />

Em Portugal a percentagem da população idosa que recebe<br />

cuidados de longo termo é de 2,1/1000, um sexto da<br />

média dos países da OCDE (OECD 13/1000). Somos o país<br />

da OCDE com menos camas de longo termo. Somos o segundo<br />

país em que é atribuída menos verba aos cuidados<br />

de longa duração (3%), sendo a média da OCDE de 14% 2 .<br />

Estima-se que haja em Portugal 71.500 a 85.000 doentes<br />

com necessidade de cuidados paliativos e que necessi-<br />

6


temos de cerca de 500 camas, no entanto temos apenas<br />

cerca de 360 5 .<br />

Mas para além disso existe falta de equidade entre<br />

regiões, em termos de capacidade instalada, como por<br />

exemplo no número de camas de cuidados continuados.<br />

O número de camas por 100 mil idosos variava em 2015<br />

entre as 262 na região de Lisboa e Vale do Tejo e as 596<br />

no Alentejo. Um dos resultados que me surpreendeu no<br />

inquérito da APAH foi que o Norte é a região onde existe<br />

a maior percentagem de doentes com internamento<br />

inapropriado por incapacidade de resposta de familiar ou<br />

cuidador, quando o norte é a região que preservava mais<br />

os laços de solidariedade familiar, e o Centro e Alentejo são<br />

as regiões com maior percentagem de doentes a aguardar<br />

resposta na RNCCI, quando são das regiões que têm mais<br />

camas por cem mil idosos.<br />

Por outro lado é cada vez mais difícil separar os<br />

problemas de saúde dos problemas sociais, temos que<br />

pensar os dois sectores em conjunto, como já aconteceu<br />

no nosso país e como está acontecer em alguns países,<br />

com a Escócia ou a Irlanda.<br />

É ainda necessário mudar legislação, retirando aos<br />

doentes e familiares a possibilidade de recusarem a<br />

referenciação para outro nível de cuidados. Isto implica<br />

também a gratuitidade deste nível de cuidados, que teria<br />

de ser gerido pelo SNS. Há que acabar com o incentivo<br />

perverso de as famílias continuarem a receber as pensões<br />

dos doentes internados, após a alta hospitalar. Existe<br />

também a necessidade de criar uma via rápida para a<br />

decisão sobre tutores pelo Ministério público.<br />

É preciso devolver aos médicos o poder de decidir<br />

colocar os doentes nos sítios mais adequados para a sua<br />

condição, criar redes locais e regionais que integrem os<br />

vários níveis de cuidados e mobilizem os recursos das<br />

comunidades, permitir que os hospitais tenham unidades<br />

de retaguarda onde possam colocar estes doentes, e<br />

muitas outras medidas possíveis.<br />

Há muito para fazer, mas não há soluções milagrosas.<br />

Perante esta realidade só não temos uma opção que é não<br />

fazermos nada.<br />

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna está profundamente<br />

preocupada com este problema e por isso<br />

promoveu um debate público em maio sobre ele, em parceria<br />

com a APAH. Mas este não é um problema da Medicina<br />

Interna, é um problema de toda a sociedade, um<br />

problema que cresce dia a dia ante os nossos olhos, que<br />

submerge diariamente os serviços de Medicina Interna, e<br />

que ameaça colapsar a rede hospitalar do SNS e depois a<br />

sustentabilidade da própria sociedade, tal como a conhecemos.<br />

Há muito para fazer, mas não há soluções milagrosas.<br />

Perante esta realidade só não temos uma opção<br />

que é não fazermos nada.<br />

Bibliografia<br />

1. Eurostat. Healthy life years statistics.Disponível em: http://ec.europa.eu/eurostat/statisticsexplained/index.php/Healthy_life_years_statistics.<br />

Acedido a 24 de Julho de 2017.<br />

2. OECD. Health at a Glance 2017: OECD Indicators. Paris: OECD Publishing; 2017.. Disponível em: http://www.oecd-ilibrary.org/social-issues-migration-health/health-at-a-glance-2017_health_glance-2017-en<br />

. Acedido em 28 de Dezembro de 2017.<br />

3. INE. Projecções da população residente 2015-2080. 2017. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_<br />

destaques&DESTAQUESdest_boui=277695619&DESTAQUESmodo=2&xlang=pt Acedido em 21 de Abril de <strong>2018</strong>.<br />

4. Sarmento VP, Higginson IJ, Ferreira PL, Gomes B. Past trends and projections of hospital deaths to inform the integration of palliative care in one<br />

of the most ageing countries in the world. Palliative Medicine 2015: 1-11.<br />

5. Comissão Nacional de Cuidados Paliativos. Plano Estratégico para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos. 2017. Disponível em https://www.<br />

sns.gov.pt/wp-content/uploads/2016/11/Plano-Estratégico-para-o-Desenvolvimento-CP-2017-<strong>2018</strong>-2.pdf. Acedido em 25 de Abril de <strong>2018</strong><br />

7


Implementação do programa<br />

ERAS® − Enhanced Recovery<br />

After Surgery na cirurgia<br />

de cólon e reto no Hospital<br />

Beatriz Ângelo<br />

LUÍS PALMA FÉRIA<br />

MARIA MANSO<br />

SUSANA BARREIRA<br />

HELENA PESTANA<br />

Assistente <strong>Hospitalar</strong><br />

graduado de Cirurgia<br />

Geral do Hospital Beatriz<br />

Ângelo<br />

Assistente <strong>Hospitalar</strong><br />

de Anestesiologia do<br />

Hospital Beatriz Ângelo<br />

Enfermeira do Hospital<br />

Beatriz Ângelo<br />

Departamento de<br />

Acreditação e Certificação<br />

de Qualidade da Luz Saúde<br />

JOANA OLIVEIRA<br />

Assistente <strong>Hospitalar</strong> de<br />

Anestesiologia do Hospital<br />

Beatriz Ângelo<br />

FRANCISCO MOTA<br />

Diretor de Operações do<br />

Hospital Beatriz Ângelo<br />

RUI MAIO<br />

Diretor Clínico do Hospital<br />

Beatriz Ângelo<br />

ARTUR VAZ<br />

Presidente da Direção<br />

Executiva do Hospital<br />

Beatriz Ângelo e membro do<br />

Conselho de Administração<br />

CARLOS PEREIRA<br />

Assistente <strong>Hospitalar</strong><br />

de Medicina Interna do<br />

Hospital Beatriz Ângelo<br />

E RAS® − Enhanced Recovery After Surgery é um<br />

programa multidisciplinar, baseado na evidência<br />

e centrado no doente, com o objetivo final de diminuir as<br />

complicações e melhorar a recuperação cirúrgica.<br />

Este programa teve início há mais de 10 anos no norte<br />

da Europa, tendo sido já adotado em múltiplos hospitais<br />

por todo o Mundo. Atualmente é considerado como parte<br />

essencial das boas práticas peri-operatórias.<br />

O Hospital Beatriz Ângelo, hospital do Sistema Nacional<br />

de Saúde, localizado no Concelho de Loures, serve<br />

uma população de cerca de 300 mil habitantes. Trata-se<br />

de um Hospital de nível II, com 418 camas. Realiza mais de<br />

14 mil cirurgias por ano, das quais cerca de 150 são cirurgia<br />

eletiva de cólon e reto.<br />

Analisando os resultados deste tipo de cirurgias, foi<br />

possível ter a perceção de que a taxa de complicações e o<br />

tempo médio de internamento poderiam ser melhorados,<br />

surgindo deste modo a necessidade de mudar práticas. O<br />

programa ERAS ® parecia responder de forma global a um<br />

objetivo de melhoria da qualidade e segurança do doente.<br />

Os resultados das suas recomendações, baseadas na<br />

evidência, estavam já comprovados em inúmeras publicações<br />

1,2,3,4,5 , pelo que se decidiu adotar este projeto.<br />

A sua implementação obriga a um trabalho multidisciplinar<br />

no sentido de garantir os melhores resultados e<br />

inclui uma ferramenta de auditoria (EIAS ® – ERAS ® Interactive<br />

Audit System), já validada em múltiplos países,<br />

que por um lado obriga a uma recolha e monitorização de<br />

variados indicadores e por outro garante a fiabilidade dos<br />

resultados alcançados.<br />

Atualmente, o Hospital Beatriz Ângelo é o único centro<br />

em Portugal que completou o Programa de Implementação,<br />

estando acreditado como Centro de Excelência, o que<br />

lhe confere capacidade formativa para os restantes hospitais<br />

portugueses.<br />

8


Objetivos<br />

objetivo principal da introdução do Programa<br />

O ERAS ® é a melhoria do outcome dos doentes cirúrgicos,<br />

colocando o doente no centro de todas as decisões.<br />

Pretende-se diminuir a taxa de complicações, em especial<br />

as que têm maior impacto na qualidade de vida dos<br />

doentes, diminuir o tempo de internamento e promover<br />

uma recuperação mais rápida com retorno à vida quotidiana<br />

habitual. Nos doentes com patologia oncológica<br />

que necessitem de terapêutica adjuvante (Quimioterapia<br />

ou Radioterapia) pretende-se o início mais precoce desta<br />

última.<br />

A implementação deste programa implica uma abordagem<br />

transversal do percurso do doente cirúrgico, desde<br />

que é decidida a cirurgia até à alta. Consequentemente,<br />

deve ser garantida a multidisciplinaridade, a comunicação<br />

entre equipas e a uniformização das formas de atuar dos<br />

diferentes intervenientes (cirurgia, anestesiologia, enfermagem,<br />

fisiatria, nutrição, serviço social, entre outros<br />

participantes no modelo de cuidados).<br />

A introdução destas alterações na prática clínica deve<br />

realizar-se de forma rápida e sustentada e deve conduzir<br />

à formação de equipas abertas à mudança.<br />

Em última análise este processo conduz a um aumento<br />

da eficiência dos cuidados de saúde nos doentes submetidos<br />

a cirurgia, representando uma nova forma de gestão<br />

da doença e dos doentes.<br />

Metodologia de Implementação<br />

projeto inicia-se com a definição da área cirúrgica<br />

O e da equipa que vai liderar a implementação do<br />

programa no hospital. Deve incluir pelo menos um cirurgião<br />

e um anestesiologista, assumindo um destes o papel<br />

de Team Leader, um enfermeiro (ERAS ® Coordinator), um<br />

elemento da administração e outros elementos considerados<br />

importantes na prática dos cuidados perioperatórios<br />

de cada hospital (como, por exemplo, nutricionista, fisiatra,<br />

fisioterapeuta ou intensivista).<br />

O Programa de Implementação é uma adaptação da<br />

Breakthrough Series Methodology, desenvolvida e usada<br />

extensamente pelo Institute for Healthcare Improvement,<br />

como método de apoio às organizações na introdução da<br />

mudança e melhoria da qualidade dos serviços. Tem uma<br />

duração de oito a doze meses e está organizado em três<br />

seminários presenciais, um seminário online e três períodos<br />

de ação (que decorrem entre os seminários).<br />

Devem realizar-se reuniões semanais da equipa para<br />

adaptação dos protocolos internacionais à realidade portuguesa<br />

e à instituição. Após a implementação do programa<br />

estas reuniões são essenciais para a monitorização do<br />

programa e dos seus resultados de modo a adotar medidas<br />

corretivas dos desvios detetados, assim como garantir<br />

a manutenção das práticas.<br />

Deve fazer-se avaliações frequentes (mensais, trimestrais,<br />

semestrais e anuais) dos resultados com divulgação<br />

a todos os elementos envolvidos, incluindo os Cuidados de<br />

Saúde Primários.<br />

Resultados<br />

Foi feita uma análise retrospetiva dos doentes sujeitos<br />

a cirurgia colorretal no Hospital Beatriz Ângelo.<br />

Compararam-se 2 grupos de doentes, um antes da<br />

aplicação do protocolo (Pré-ERAS ® ) e outro após a sua implementação<br />

(ERAS ® ). Os dados foram obtidos através da<br />

base de dados do sistema de auditoria do programa ERAS ®<br />

(EIAS – ERAS ® Interactive Audit System) e a análise estatística<br />

elaborada com recurso ao programa SPSS Statistics<br />

23.0. Os principais outcomes estudados foram o tempo de<br />

internamento, o tempo até retorno do trânsito intestinal e<br />

até tolerância de alimentos sólidos, a incidência de complicações<br />

e a mortalidade.<br />

Foram avaliados 67 doentes consecutivos antes da<br />

implementação do programa ERAS ® e 72 após a sua introdução<br />

(num período de 6 meses), num total de 139<br />

doentes. Observou-se uma diminuição estatisticamente<br />

significativa no tempo até emissão de gases (2.11±1.247<br />

vs 1.49±0.653, p-value = 0.007) e no tempo até emissão<br />

de fezes (3.22±1.964 vs 2.25±1.21, p-value = 0.001).<br />

A diminuição no tempo até tolerar alimentação sólida<br />

não foi estatisticamente significativa (5.92±11.847 vs<br />

2.69±2.447, p-value = 0.035). Registou-se um aumento<br />

estatisticamente significativo na incidência de náuseas e<br />

vómitos (4.5% vs 19.4%, p-value = 0.007). Constatou-se<br />

uma redução estatisticamente significativa na incidência<br />

de complicações respiratórias (10.4% vs 0%, p-value<br />

= 0.005), no tempo de internamento (14.03±21.797 vs<br />

6.24±4.016, p-value = 0.003) e uma tendência para redução<br />

na mortalidade (7.5% vs 0%, p-value 0.018). Estes<br />

resultados foram obtidos sem um aumento na incidência<br />

de complicações no geral (52.2% vs 48.6%, p-value =<br />

0.669), complicações cirúrgicas (22.4% vs 13.9%, p-value<br />

= 0.192), readmissões (7.5% vs 6.9%, p-value = 0.906) ou<br />

reoperações (19.4% vs 15.3%, p-value = 0.52).<br />

Discussão<br />

A aplicação do conceito ERAS® assenta na adoção de<br />

condutas cientificamente comprovadas em 23 elementos<br />

clínicos no pré, intra e pós-operatório. Existe uma<br />

relação direta entre a taxa de adesão a estes elementos<br />

9


e a melhoria de outcome e do tempo de internamento 1,2 .<br />

A adoção destas condutas implica uma alteração de<br />

paradigmas, o desafiar de práticas clínicas profundamente<br />

enraizadas na abordagem tradicional do doente cirúrgico,<br />

mas que se encontram associadas a efeitos deletérios<br />

à recuperação pós-operatória. Foca-se na educação do<br />

doente, na otimização da capacidade funcional antes da<br />

cirurgia, na diminuição do tempo de jejum, na escolha de<br />

técnicas cirúrgicas com menor agressão possível, na restrição<br />

de fluidos, no controlo eficaz da dor com efeitos secundários<br />

mínimos e na reintrodução precoce da alimentação<br />

oral e da atividade física após a cirurgia.<br />

Um dos grandes desafios deste projeto consiste em<br />

criar uma equipa multidisciplinar, centrada no doente, capaz<br />

de mudar mentalidades e atitudes numa instituição<br />

de saúde. O verdadeiro trabalho em equipa, multiprofissional,<br />

em oposição à tradicional organização de serviços<br />

estanques, permite alterações eficazes e sustentadas à<br />

prática clínica e cria um ambiente geral de abertura à inovação.<br />

A uniformização das atitudes de toda a equipa que<br />

presta cuidados ao doente cirúrgico cria confiança e facilita<br />

o ensino e o envolvimento dos doentes e das suas<br />

famílias numa recuperação ativa e participada.<br />

Muitos estudos têm sido feitos no sentido de avaliar os<br />

resultados da implementação deste programa, focando-<br />

-se a maioria deles na evolução da taxa de complicações<br />

pós-operatórias e no tempo de duração do internamento.<br />

Observam-se reduções de quase 50% na morbilidade<br />

pós-operatória, especialmente no que se refere às complicações<br />

não cirúrgicas, e uma diminuição de cerca de<br />

2 dias na estadia hospitalar, isto sem alterar as taxas de<br />

readmissão 1,2,3,4 .<br />

No que respeita ao Hospital Beatriz Ângelo, nos primeiros<br />

6 meses de programa, verificou-se uma diminuição<br />

das complicações médicas e cirúrgicas graves de 20.9%<br />

para <strong>12</strong>.9%, da mortalidade de 7% para 0% e do número<br />

de re-intervenções de 19% para 14%. As três complicações<br />

mais frequentes na fase pré- ERAS ® foram a infeção<br />

da ferida operatória (16%), a deiscência da anastomose<br />

(15%) e a pneumonia (7%). Após a implementação do programa,<br />

as complicações mais frequentes passaram a ser<br />

náuseas e vómitos (20%) - cujo aumento poderá dever-se<br />

à sua avaliação e registo sistemático –, a infeção da ferida<br />

operatória (14%) - que se mantém estável – e a deiscência<br />

da anastomose (4%). Constata-se também que o tempo<br />

médio de internamento diminuiu de 14.7 para 6.5 dias<br />

(mediana de internamento passou de 7 para 5 dias), sem<br />

aumento da taxa de readmissões (que diminuiu de 0.6%<br />

para 0.3%). Estes resultados são provavelmente decorrentes<br />

do aumento da compliance geral com o programa<br />

que passou de 37% na fase Pré-ERAS ® para 89% com a<br />

sua implementação.<br />

Os fundamentos do conceito ERAS ® aliados aos bons<br />

resultados obtidos levaram a equipa de implementação<br />

do programa a planear a sua introdução em outras áreas<br />

cirúrgicas, eletivas e urgentes e a estudar a sua aplicação<br />

a outras áreas não cirúrgicas.<br />

Conclusões<br />

Os resultados alcançados reproduzem os dados da<br />

literatura internacional 5,6,7 , reforçando o conceito<br />

ERAS ® como uma ferramenta de melhoria de Cuidados de<br />

Saúde, tanto no âmbito da qualidade como da segurança.<br />

De realçar que o investimento efetuado na aquisição<br />

do Programa de Implementação (24.000€ + IVA à taxa<br />

em vigor), na formação das equipas e no tempo dedicado<br />

pelos profissionais demonstrou ter um retorno rápido<br />

e significativo, não só pela diminuição da demora média<br />

de internamento (21.600€, contabilizando apenas a redução<br />

em 2 dias de hotelaria por doente, em 6 meses),<br />

como pela melhoria dos resultados alcançados ao nível<br />

da qualidade do serviço prestado, traduzida pela redução<br />

das complicações major (com impacto financeiro também<br />

considerável).<br />

Bibliografia<br />

1. Greco, M; Capretti, G; Beretta, L; Gemma, M; Pecorelli, N; Braga, M.<br />

Enhanced recovery program in colorectal surgery: a meta-analysis of<br />

randomized controlled trials. World J Surg. 2014 Jun; 38(6):1531-41.<br />

2. ERAS Compliance Group. The impact of enhanced recovery protocol<br />

compliance on elective colorectal cancer resection. Ann Surg.2015;<br />

261:1153-1159.<br />

3. Adamina, M; Kehlet, H; Tomlinson, GA; Senagore, AJ; Delaney, CP.<br />

Enhanced recovery pathways optimize health outcomes and resource<br />

utilization: a meta-analysis of randomized controlled trials in colorectal<br />

surgery. Surgery 2011; 149: 830–40.<br />

4. Visioni, A; Shah, R; Gabriel, E; Attwood, K; Kukar, M; Nurkin, S.<br />

Enhanced Recovery After Surgery for Noncolorectal Surgery?: A Systematic<br />

Review and Meta-analysis of Major Abdominal Surgery. Ann<br />

Surg.2017 Apr 21.<br />

5. Nelson, G; Kiyang, LN; Crumley, ET et al. Implementation of Enhanced<br />

Recovery After Surgery (ERAS) Across a Provincial Healthcare<br />

System: The ERAS Alberta Colorectal Surgery Experience. World J Surg<br />

2016;40(5):1092–103.<br />

6. Nguyen, T; Anderson, C; Tracy, W; Jeannette, L; Faris, P;<br />

Thanh, NX; Chuck, AW; Wasylak, T et al. An economic evaluation of<br />

the Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) multisite implementation<br />

program for colorectal surgery in Alberta. Canadian Journal of<br />

Surgery. 2016;59(6):415-421. doi:10.1503/cjs.006716.<br />

7. Stone, AB, Grant, MC; Pio Roda, C; Hobson, D; Pawlik, T; Wu, CL; Wick,<br />

EC. Implementation costs of an enhanced recovery after surgery program<br />

in the United States: A financial model and sensitivity analysis<br />

based on experiences at a quaternary academic medical center. J Am<br />

Coll Surg 2016; 222 (3): 219-225.<br />

10


11


Telesaúde<br />

– Experiência dos Açores<br />

ANA RAQUEL SANTOS<br />

Coordenadora do Gabinete<br />

de <strong>Gestão</strong> de Prestações<br />

em Saúde e Contratualização<br />

da Saudaçor, S.A.<br />

LUÍSA SOUSA MELO ALVES<br />

Presidente do Conselho<br />

de Administração<br />

da Saudaçor, S.A.<br />

Agradecimentos<br />

A realização dos projetos apresentados não teria sido possível sem a inestimável<br />

colaboração do Dr. Rui Suzano, Diretor Clínico do Hospital da Horta, da Dra. Lurdes<br />

Dias, Diretora do Serviço de Nefrologia do Hospital de Santo Espírito da ilha Terceira<br />

e do Enfermeiro Pedro Rosa, Especialista em Enfermagem de Reabilitação do<br />

Hospital Divino Espírito Santo e do Dr. Miguel Correia, Médico Dermatologista.<br />

1. Breve Caracterização do Serviço<br />

Regional de Saúde dos Açores<br />

Região Autónoma dos Açores (RAA) é um arquipélago<br />

transcontinental e um território autónomo da<br />

A<br />

República Portuguesa, constituído por nove ilhas dispersas<br />

na zona leste do Atlântico Norte, distando aproximadamente<br />

1 500 km da costa ocidental da Europa e 3 900<br />

km da América do Norte.<br />

Atendendo às caraterísticas deste arquipélago, marcado<br />

pela dispersão e fragmentação territorial, as estruturas<br />

prestadoras de Cuidados de Saúde encontram-se,<br />

necessariamente, distribuídas pelas 9 ilhas de forma a garantir<br />

que a prestação global de cuidados de saúde abranja<br />

a universalidade da população.<br />

A nível da oferta de Cuidados de Saúde Primários,<br />

cumpre assinalar que a RAA possui um total de 9 Unidades<br />

de Saúde de Ilha, uma por cada ilha, com um total de<br />

17 Centros de Saúde (vide imagem n.<strong>º</strong> 1). Neste contexto,<br />

os Cuidados de Saúde Primários desempenham um papel<br />

fundamental no acesso a cuidados de saúde, especialmente<br />

nas ilhas sem hospital, quer pela sua proximidade<br />

junto das populações locais, quer pela gama de cuidados<br />

que asseguram, designadamente meios complementares<br />

de diagnóstico e tratamento, serviço de internamento,<br />

serviço de atendimento permanente e consultas de especialidade.<br />

Acresce registar que todas as Unidades de Saúde<br />

de Ilha dispõem de nutricionista, psicólogo, dentista, e<br />

fisioterapeuta, reforçando a capacidade de resposta para<br />

as necessidades locais.<br />

1 Centro de Saúde:<br />

Vila do Corvo<br />

1 Centro de Saúde:<br />

Santa Cruz da Graciosa<br />

1 Centro de Saúde:<br />

Santa Cruz das Flores<br />

Corvo<br />

Flores<br />

Graciosa<br />

2 Centros de Saúde:<br />

Calheta<br />

Velas<br />

Terceira<br />

2 Centros de Saúde:<br />

Angra do Heroísmo<br />

Praia da Vitoria<br />

Faial<br />

São Jorge<br />

1 Centro de Saúde:<br />

Horta<br />

Pico<br />

3 Centros de Saúde:<br />

Madalena<br />

Lajes do Pico<br />

São Roque do Pico<br />

São Miguel<br />

5 Centros de Saúde:<br />

Nordeste<br />

Ponta Delgada<br />

Povoação<br />

Ribeira Grande<br />

Vila Franca do Campo<br />

1 Centro de Saúde:<br />

Vila do Porto<br />

Imagem n.<strong>º</strong> 1 Unidades de Saúde de Ilha do Serviço Regional de Saúde dos Açores.<br />

Santa Maria<br />

<strong>12</strong>


Em relação aos Cuidados <strong>Hospitalar</strong>es, a RAA é apoiada<br />

por três hospitais que estão localizados em três ilhas,<br />

a saber:<br />

> Hospital do Divino Espírito Santo, E.P.E., na ilha de<br />

São Miguel;<br />

> Hospital do Santo Espírito da Ilha Terceira, E.P.E., na<br />

ilha Terceira;<br />

> Hospital da Horta, E.P.E., na ilha do Faial.<br />

De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional<br />

de Estatística, respeitantes à população residente<br />

nos Açores, os referidos serviços de saúde abarcam um<br />

total de 246 772 habitantes. Contudo importa notar que<br />

existe uma distribuição muito diferenciada, em termos<br />

geográficos, pelas 9 ilhas, justificada pelas especificidades<br />

territorial, histórica e socioeconómica (vide quadro n.<strong>º</strong> 1).<br />

Concretamente, a ilha de São Miguel assume o papel preponderante<br />

com 55,86% da população Açoriana, seguida<br />

pela ilha Terceira com 22,87%, ao passo que a ilha do Faial<br />

ronda os 6,08%. Por sua vez as restantes ilhas (6) representam<br />

cerca de 15% da demografia Açoriana, todas elas<br />

com cifras de expressão mais reduzida: Pico – 5,73%; São<br />

Jorge – 3,72%; Santa Maria – 2,25%; Graciosa – 1,78%;Flores<br />

– 1,54% e Corvo – 0,17%.<br />

Local de<br />

População %<br />

residência<br />

residente<br />

Região Autónoma dos Açores 246 772 100%<br />

Santa Maria 5 552 2,25%<br />

São Miguel 137 856 55,86%<br />

Terceira 56 437 22,87%<br />

Graciosa 4 391 1,78%<br />

São Jorge 9 171 3,72%<br />

Pico 14 148 5,73%<br />

Faial 14 994 6,08%<br />

Flores 3 793 1,54%<br />

Corvo 430 0,17%<br />

Fonte: INE, <strong>2018</strong><br />

Quadro n.<strong>º</strong> 1 População Residente nos Açores<br />

No que concerne aos recursos humanos ao nível da<br />

saúde os Açores apresentam o mais baixo rácio de médicos<br />

por 1000 habitantes (3,1), inferior ao registado na<br />

Região Autónoma da Madeira (3,8) e no Continente (4,9).<br />

Por fim, e certamente não menos relevante, cumpre<br />

assinalar a mudança dos tempos e o seu impacto para a<br />

saúde em geral. Na verdade, o nosso tempo atual carateriza-se<br />

por uma vertiginosa evolução digital que modificou<br />

por completo a orgânica e funcionamento das relações<br />

humanas, onde os sistemas de informação e os meios tecnológicos<br />

são perspetivados como instrumentos auxiliares,<br />

cada vez mais importantes na conceção e prestação<br />

de serviços. Em passos largos e alucinantes adensa-se<br />

o eWorld: o planeta está eletrónica e informaticamente<br />

conectado. A mobilidade pessoal é cada vez mais sintetizada<br />

e simplificada através de uma mobilidade digital<br />

com as vantagens que a reprodução de som e imagem<br />

permitem em tempo real sem perdas de eficiência ou de<br />

tempo. Como deixamos subentendido, o setor da saúde<br />

não pode fugir a esta realidade, mais ainda porque esta<br />

aceitação e crescente expansão do e-world estão evidenciadas<br />

nas expetativas e exigências dos utilizadores (e<br />

financiadores), que partem do pressuposto que sistemas<br />

e tecnologias de informação são encarados pelo Estado, e<br />

pelos serviços públicos em particular, como ferramentas<br />

auxiliares da prestação de cuidados.<br />

2. Porquê a Telesaúde 1 na RAA.<br />

Tendo em consideração as razões e os fatores acabados<br />

de mencionar, podemos pois inferir com<br />

alguma propriedade que a Telesaúde é uma necessidade<br />

e simultaneamente uma evidência que a RAA não pode<br />

precludir. Com efeito, a ultraperiferia geográfica, a disparidade<br />

territorial e demográfica, os elevados custos de<br />

mobilidade para o erário público e os ocasionais constrangimentos<br />

climatéricos constituem fatores que mais do<br />

que justificam a pertinência e oportunidade da Telesaúde<br />

enquanto instrumento promotor da interação entre utentes<br />

e prestadores. Neste enquadramento, a Telesaúde<br />

pode e deve ser assumida como um caminho essencial<br />

na procura de novas soluções organizacionais que promovam<br />

acessibilidade, integração, efetividade e eficiência da<br />

prestação de cuidados de saúde.<br />

2.1. Objetivos<br />

A aposta na disponibilização de ferramentas de Telesaúde<br />

visa as seguintes finalidades:<br />

> Promover a equidade pela melhoria dos tempos de<br />

resposta e redução das listas de espera;<br />

> Contribuir para a eficiência e sustentabilidade do<br />

Serviço Regional de Saúde na afetação de recursos económico-financeiros<br />

(e.g. a redução de deslocações, a eliminação<br />

de atos duplicados, o diagnóstico precoce);<br />

> Exponenciar a acessibilidade a consultas de especialidade<br />

hospitalar;<br />

1 No presente artigo segue-se a noção de Telesaúde defendida pelo Center of<br />

Connected Health Policy (CCHP), que passamos a citar “uma ampla variedade de<br />

tecnologias para fornecer serviços médicos, de saúde e de educação digitais. Telesaúde<br />

não é um serviço específico, mas uma coleção de meios para melhorar a<br />

prestação de cuidados e a educação”. Acrescenta ainda o CCHP que a Telemedicina<br />

“é frequentemente usada quando se pretende referir ao diagnóstico clínico tradicional<br />

e monitorização fornecido pela tecnologia. No entanto, o termo “Telesaúde”<br />

é agora mais comumente usado, pois descreve uma ampla gama de cuidados, de<br />

educação prestados por médicos e outros profissionais.” (http://www.cchpca.org/<br />

what-is-telehealth).<br />

13


Minimizar os problemas de mobilidade da população,<br />

evitando o isolamento;<br />

> Melhorar a integração de cuidados entre USI e Hospitais;<br />

> Aumentar a satisfação do utente através da diminuição<br />

das deslocações e tempos de espera, bem como do<br />

aumento do conforto dos cuidados prestados;<br />

> Reduzir o impacto negativo da distribuição geográfica<br />

dos recursos no plano das finanças públicas em nome<br />

da solidariedade e coesão regional e nacional.<br />

3. Metodologia de Implementação<br />

introdução da Telesaúde na RAA resultou de uma<br />

A decisão estratégica tomada pela Secretaria Regional<br />

da Saúde e a sua operacionalização encontra-se a cargo<br />

da Saudaçor, S.A..<br />

Foram assumidos dois pressupostos metodológicos de<br />

base para a introdução da Telesaúde na RAA. Em primeiro<br />

lugar, a seleção das especialidades que apresentassem<br />

caraterísticas e potencial de aproveitamento. Em segundo<br />

lugar, a definição do âmbito da Telesaúde dependia, necessariamente,<br />

de um substrato de profissionais recetivos<br />

para o efeito, tanto no serviço regional de saúde como no<br />

setor convencionado/privado.<br />

Neste seguimento, após a identificação das especialidades<br />

objeto de Telesaúde foram elaborados projetos especificamente<br />

direcionados a cada especialidade, em conjunto<br />

com os profissionais envolvidos, abrangendo quer os hospitais<br />

quer os cuidados de saúde primários quando aplicável.<br />

Em concreto, cada projeto densifica os processos, as<br />

responsabilidades e os intervenientes, de acordo com a<br />

especialidade em causa, de modo a permitir uma visão<br />

compreensiva, global e holística do projeto e do seu alcance,<br />

sem prejuízo da existência de mecanismos de flexibilização<br />

e de adaptação em função das particularidades de<br />

cada especialidade.<br />

Em consequência deste trabalho de equipa resultou<br />

um documento orientador para cada projeto com a seguinte<br />

estrutura organizacional:<br />

> Âmbito do Projeto;<br />

> Requisitos de Instalações e Equipamentos;<br />

> Fluxograma do Processo;<br />

> Detalhe do Processo.<br />

Para a concretização deste(s) projeto(s) assumiu especial<br />

relevo a disponibilização de uma plataforma informática<br />

que permitiu a realização de consultadoria médica e<br />

de enfermagem em modo síncrono e assíncrono, garantindo<br />

deste modo uma adequada proteção na transferência<br />

de ficheiros e, porventura mais relevante ainda, a confidencialidade<br />

da informação clínica. Foram promovidas<br />

sessões de formação para a utilização da plataforma aos<br />

utilizadores médicos e de enfermagem.<br />

A este respeito, importa ainda assinalar que quando a<br />

operacionalização dos projetos dependia da disponibilização<br />

de instalações e equipamentos específicos, as USI e/<br />

ou a Saudaçor, S.A. desencadearam os procedimentos administrativos<br />

e contratuais, nos termos legais, tendentes<br />

à aquisição dos referidos equipamentos.<br />

4. Resultados<br />

Até ao momento encontram-se em curso vários<br />

projetos de Telesaúde, entre os Hospitais e Unidades<br />

de Saúde de Ilha e entre Hospitais do Serviço Regional<br />

de Saúde e Hospitais do Serviço Nacional de Saúde.<br />

O primeiro projeto desenvolvido abrangeu um médico<br />

dermatologista do setor convencionado e médicos dos<br />

Cuidados de Saúde Primários de ilhas sem hospital. A<br />

primeira experiência decorreu no ano de 2015 com a ilha<br />

das Flores, sendo ao longo do ano expandida para Santa<br />

Maria, São Jorge e Graciosa. No ano 2017, com a disponibilização<br />

da especialidade de dermatologia no Hospital<br />

da Horta, a ilha de São Jorge passou a relacionar-se com<br />

o Hospital da Horta. Já em <strong>2018</strong> será abrangida a ilha do<br />

Pico que enviará os seus pedidos para o Hospital da Horta.<br />

A especialidade de Nefrologia do Hospital de Santo<br />

Espírito da ilha Terceira acompanha doentes crónicos, e<br />

clinicamente estáveis, que tenham a sua residência nas<br />

ilhas Graciosa e São Jorge, desde o final do ano 2017. Os<br />

doentes portadores de doença renal crónica necessitam<br />

de uma avaliação de rotina cuja regularidade varia de<br />

acordo com a gravidade. Assim, após observação de análises<br />

clínicas realizadas na ilha de residência, o nefrologista<br />

indica ao médico de medicina geral e familiar a abordagem<br />

terapêutica mais correta para cada caso, em casos programados<br />

ou urgentes. Trata-se de consultadoria em tempo<br />

real entre o médico de medicina geral e familiar e o médico<br />

nefrologista com a presença do doente.<br />

Ainda a especialidade de nefrologia do Hospital de<br />

Santo Espírito da ilha Terceira acompanha doentes transplantados<br />

seguidos neste serviço e no Hospital de Santa<br />

Cruz, em Lisboa, com início no último trimestre de 2017.<br />

Trata-se de uma consultadoria com a presença do doente,<br />

e de dois médicos nefrologistas, um no Hospital de Santo<br />

Espírito da ilha Terceira outro no Hospital de Santa Cruz.<br />

Relativamente aos meios complementares de diagnóstico<br />

realizados pelos utentes, são enviados previamente pelos<br />

clínicos do Hospital de Santo Espírito da ilha Terceira e<br />

analisados em conjunto.<br />

O projeto de Anestesiologia consiste na avaliação de<br />

casos clínicos pré-cirúrgicos por médico anestesiologista<br />

do Hospital da Horta e por médico de medicina geral<br />

e familiar da USI das Flores, cujo início de execução data<br />

de finais de 2017. Aquando da consulta da especialidade<br />

14


cirúrgica, que efetuou a proposta, o utente preenche um<br />

questionário-tipo, que permite ao médico juntamente com<br />

a consulta do processo clínico do utente, constante no sistema<br />

de informação hospitalar, avaliar se a consulta pré-<br />

-anestésica se realizará com a presença do doente no hospital<br />

ou se pode ser efetuada, com recurso a tecnologias<br />

de informação e comunicação, sem deslocação do doente.<br />

Caso possa ser efetuada com recurso a tecnologias de informação<br />

contará com a presença do utente e do médico<br />

de medicina geral e familiar, ambos na ilha de residência<br />

do utente, e do médico anestesiologista no hospital.<br />

No que respeita à área de enfermagem foi desenvolvido,<br />

em 2015, o projeto para apoio no tratamento da pessoa<br />

com ferida. Trata-se de um projeto pioneiro, quer a nível<br />

Regional, quer a nível Nacional, e que tem como finalidade<br />

uniformizar as práticas de prevenção e tratamento da<br />

pessoa com ferida (v.g. úlcera de perna, úlcera do pé nos<br />

casos de pessoas com diabetes, úlcera por pressão), promovendo<br />

destarte a articulação e a partilha de conhecimentos.<br />

Importa ainda referir que a referenciação da pessoa<br />

ferida é efetuada através do preenchimento de ficha<br />

de admissão pré-definida. A realização da consultadoria,<br />

entre o Hospital Divino Espírito Santo e a USI que a solicitou,<br />

é efetuada sempre com a presença do doente.<br />

No que respeita ao número de teleconsultadorias realizadas,<br />

tiveram uma maior expressão a partir do ano 2016.<br />

Neste contexto, a especialidade médica com maior volume<br />

de produção é a dermatologia que, nos três anos em<br />

análise, atingiu as 722 consultadorias. Em seguida, podemos<br />

encontrar as consultadorias de enfermagem para<br />

tratamento de feridas, tendo apresentado um número<br />

total de 615 até dezembro 2017.<br />

No que concerne à especialidade de nefrologia, relembramos<br />

que o projeto com as USI apenas teve início no último<br />

trimestre de 2017 pelo que é compreensível que ainda<br />

não tenham ocorrido teleconsultadorias. Não obstante,<br />

importa adiantar que já existem agendamentos para o<br />

ano <strong>2018</strong>, o que configura um sinal positivo e encorajador.<br />

Quanto ao projeto com o Hospital de Santa Cruz teve um<br />

total de 6 consultadorias em 2017.<br />

2015 2016 2017<br />

Unidade de Saúde de Ilha Santa Maria<br />

Convencionado Dermatologia n.a. 65 49<br />

Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 45 65 16<br />

Unidade de Saúde de Ilha Graciosa<br />

Convencionado Dermatologia n.a. 0 170<br />

Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 0 2 0<br />

Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira Nefrologia n.a. n.a. n.a.<br />

Unidade de Saúde de Ilha Pico<br />

Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 44 11 1<br />

Unidade de Saúde de Ilha Flores<br />

Convencionado Dermatologia n.a. 82 28<br />

Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 0 1 0<br />

Hospital da Horta Anestesiologia n.a. n.a. 6<br />

Unidade de Saúde de Ilha São Jorge<br />

Hospital da Horta Dermatologia 8 253 67<br />

Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 25 7 2<br />

Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira Nefrologia n.a. n.a. n.a.<br />

Unidade de Saúde de Ilha São Miguel<br />

Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 114 116 65<br />

Unidade de Saúde de Ilha Terceira<br />

Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 34 40 27<br />

Unidade de Saúde de Ilha Totais<br />

Convencionado + Hospital da Horta Dermatologia 8 400 314<br />

Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 262 242 111<br />

Hospital da Horta Anestesiologia n.a. n.a. 6<br />

Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira Nefrologia n.a. n.a. n.a.<br />

Quadro n.<strong>º</strong>2 Resultados entre Hospitais e USI nos anos 2015 a 2017<br />

15


5. Discussão<br />

Em primeiro lugar, e desde logo, apraz assinalar que<br />

os projetos desenvolvidos até ao momento permitiram<br />

observar que o acesso a consultas de especialidade<br />

se encontra facilitado, através da minimização do tempo<br />

do processo de referenciação e da eliminação da distância<br />

na prestação de cuidados. Esta inferência é especialmente<br />

visível na capacidade de resposta efetuada pelo especialista<br />

hospitalar de dermatologia cuja orientação clínica é<br />

efetuada no máximo em 3 dias.<br />

Em segundo lugar, cumpre registar que a qualidade<br />

no processo de comunicação entre profissionais contribuiu<br />

decisivamente para a melhoria da articulação entre<br />

prestadores de saúde. Com efeito, a introdução do questionário<br />

orientador do pedido de referenciação ou ficha de<br />

admissão, mediante o envio de imagem, melhorou substancialmente<br />

o processo de referenciação, conferindo robustez<br />

à informação clínica enviada.<br />

Em terceiro lugar, importa assinalar que a Telesaúde se<br />

revelou adequada às necessidades de acompanhamento<br />

de doentes crónicos clinicamente estáveis, aumentando<br />

a comodidade dos cuidados oferecidos aos doentes, pela<br />

possibilidade de usufruírem de uma resposta especializada<br />

na sua ilha de residência.<br />

Por sua vez, a reorganização de trabalho permitida pelas<br />

novas tecnologias contribuiu positivamente quer para a<br />

integração de cuidados, quer para a formação contínua dos<br />

profissionais, permitindo em ambos os casos uma redução<br />

dos custos inerentes à prestação de cuidados. Concretamente,<br />

a possibilidade de realização de consultadoria entre<br />

níveis de cuidados diferentes proporcionou a criação de<br />

pontes de proximidade para a transmissão de conhecimento,<br />

essenciais a uma abordagem holística do doente. A isto<br />

acresce a diminuição dos recursos financeiros despendidos<br />

na prestação de cuidados, em especial as despesas com<br />

transporte de doentes e/ou profissionais e na mitigação das<br />

situações de duplicação de meios complementares de diagnóstico.<br />

Em suma, foi possível tirar partido das novas tecnologias<br />

de informação e alcançar maiores níveis de eficiência<br />

garantindo um melhor acesso e integração na prestação de<br />

cuidados de saúde a menores custos, sem perder de vista<br />

que o eixo gravitacional continua centrado no utente.<br />

Não obstante, importa alertar que a ausência de contato<br />

visual pode impossibilitar o estabelecimento de<br />

diagnóstico final, pelo que a consultadoria realizada não<br />

elimina totalmente a necessidade de eventual contacto<br />

presencial, em especial nos projetos em que a consultadoria<br />

é realizada em modo assíncrono.<br />

Desafios<br />

Muito embora a facilidade no acesso a novas tecnologias<br />

e as dificuldades de transporte e de mobilidade pudessem<br />

sugerir que a utilização da Telesaúde nos Açores<br />

fosse uma realidade necessária e adquirida, de facto apenas<br />

no ano de 2015 foi possível concretizar de forma consolidada<br />

projetos neste âmbito. Com efeito, o processo de<br />

introdução e desenvolvimento da Telesaúde na RAA foi<br />

afetado por dificuldades e limitações que acabaram por<br />

atrasar a realização dos projetos-piloto previstos para a<br />

sua implementação.<br />

A primeira grande dificuldade encontrada foi de ordem<br />

tecnológica, consistiu no elevado custo de aquisição das<br />

soluções informáticas de suporte disponíveis no mercado<br />

para a implementação da Telesaúde. Infelizmente, os sistemas<br />

informáticos em utilização nos Cuidados de Saúde<br />

Primários e nos Hospitais não dispõem de módulos para<br />

a realização de Telesaúde, o que força as instituições a<br />

optarem por sistemas não integrados, obrigando os profissionais<br />

a duplicarem registos administrativos e clínicos,<br />

pois que não existe interoperabilidade entre sistemas.<br />

Em segundo lugar, foi possível constatar que os profissionais<br />

de saúde, em especial os médicos com idade<br />

avançada, denotaram dificuldades e alguma resistência<br />

na adaptação à utilização de novos sistemas de informação.<br />

De facto, nalguns casos, a plataforma de Telesaúde<br />

foi percecionada, numa primeira fase, como mais uma<br />

obrigação de registo, que retira tempo para realização de<br />

consultas, o que exigiu um esforço adicional de formação<br />

e de sensibilização junto desses profissionais.<br />

Em terceiro lugar, cumpre notar que não existe uma base<br />

legal, nem tão-pouco regulamentar, que enquadre devidamente<br />

a teleconsulta enquanto ato médico 2 especificando<br />

as suas características (i.e. natureza, objeto, finalidades e<br />

termos de prestação) e que simultaneamente defina um regime<br />

jurídico que desenvolva em maior detalhe os artigos<br />

46.<strong>º</strong> a 49.<strong>º</strong> do Código Deontológico dos Médicos, com especial<br />

ênfase para a responsabilidade civil médica. A título<br />

ilustrativo, recordamos que foi apresentado um projeto no<br />

Hospital do Santo Espírito da Ilha Terceira, nomeadamente<br />

no apoio a consultas a menores realizadas no âmbito do serviço<br />

de atendimento permanente das USI sem hospital, que<br />

não chegou a avançar justamente por recusa dos profissionais<br />

hospitalares com fundamento no facto de não existir<br />

um regime jurídico suficientemente esclarecedor quanto ao<br />

âmbito, requisitos e alcance da responsabilidade médica.<br />

Importa ainda esclarecer que o referido quadro de indefinição<br />

jurídico-legal a nível da Telesaúde tem contribuído<br />

negativamente para uma falta de consenso entre especia-<br />

2 Sobre o conceito de ato médico cf. com interesse, Raposo, V.L. (2016: 13) «até ao<br />

momento o conceito do que seja o ato médico tem sido controvertido, tanto mais<br />

que o diploma que entre nós pretendia dar uma definição do mesmo, a Lei do Ato<br />

Médico, acabou por ser vetado em 1999 (…). O art.1<strong>º</strong> da referida lei determinava<br />

que “constitui acto médico a actividade de avaliação diagnóstica, prognóstica e<br />

de prescrição e execução de medidas terapêuticas relativas à saúde das pessoas,<br />

grupos, ou comunidades”».<br />

16


listas e profissionais de saúde sobre os conceitos básicos 3<br />

necessários à afirmação da Telesaúde no nosso ordenamento<br />

jurídico 4 , servindo de barreira à sua implementação.<br />

Próximos Desenvolvimentos<br />

No que respeita a projetos futuros pretende-se no âmbito<br />

da consultadoria médica introduzir mais especialidades<br />

do Hospital da Horta, a saber:<br />

> Psiquiatria (acompanhamento de doentes clinicamente<br />

estáveis de patologias minor),<br />

> Obstetrícia (acompanhamento de grávidas entre as<br />

32 e as 36 semanas, com transmissão de informação de<br />

Cardiotocografia) e,<br />

> Neurologia (acompanhamento de doentes com Parkinson<br />

e Epilepsia).<br />

Quanto à gestão da doença crónicas pretende-se avançar<br />

com a Telemonitorização de doentes com Doença Pulmonar<br />

Obstrutiva Crónica (DPOC) acompanhados no Hospital da<br />

Horta e no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira. Igualmente,<br />

pretende-se avançar com a Telediálise, nos três Hospitais<br />

dos Açores, que irá permitir que os insuficientes renais<br />

possam realizar o processo de filtragem do sangue, no conforto<br />

do seu domicílio na melhor altura do seu dia ou noite,<br />

sendo os resultados transmitidos para o hospital, onde são<br />

acompanhados por uma equipa de médicos e enfermeiros.<br />

6. Conclusão<br />

RAA possui condições geográficas que justificam<br />

A a escolha da Telesaúde enquanto instrumento<br />

promotor da interação entre utentes e prestadores, isolados<br />

pela geografia e muitas vezes condicionados pelas<br />

condições climáticas.<br />

A introdução e desenvolvimento da Telesaúde na RAA<br />

resultou de uma decisão estratégica tomada pela Secretaria<br />

Regional da Saúde e operacionalizada pela Saudaçor,<br />

S.A. (metodologia top down). Neste contexto, o envolvimento<br />

dos responsáveis máximos do setor e das instituições<br />

de saúde é crucial para o desenvolvimento e consolidação<br />

do processo.<br />

Os projetos desenvolvidos até ao momento permitiram<br />

observar que:<br />

i) o acesso a consultas de especialidade se encontra facilitado,<br />

através da minimização do tempo do processo de<br />

referenciação e da eliminação da distância na prestação<br />

de cuidados;<br />

3 A este respeito regista-se que não existe coerência no conceito de Teleconsulta<br />

definido pelas principais instituições nacionais a saber: Direção Geral da Saúde<br />

(vide norma técnica n.<strong>º</strong> 010/2015), Administração Central do Sistema de Saúde<br />

(vide Portaria n.<strong>º</strong> 207/2017, de 11 de julho) e Instituto Nacional de Estatística<br />

(http://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes?id=4226&lang=PT).<br />

4 Igual limitação conceptual foi apontada por Matos, R. et al. (2014: 14 -17; 98-99),<br />

em Telemedicina em Portugal: onde estamos?<br />

ii) a qualidade no processo de comunicação entre profissionais<br />

contribuiu decisivamente para a melhoria da<br />

integração entre prestadores de saúde;<br />

iii) a Telesaúde revelou-se adequada às necessidades<br />

de acompanhamento de doentes crónicos clinicamente<br />

estáveis, aumentando a comodidade dos cuidados oferecidos<br />

aos doentes, pela possibilidade de usufruírem de<br />

uma resposta especializada na sua ilha de residência;<br />

iv) a reorganização de trabalho permitida pelas novas<br />

tecnologias contribuiu positivamente quer para a integração<br />

de cuidados, quer para a formação contínua dos profissionais,<br />

permitindo em ambos os casos uma redução<br />

dos custos inerentes à prestação de cuidados; e<br />

v) a diminuição dos recursos financeiros despendidos<br />

na prestação de cuidados, em especial as despesas com<br />

transporte de doentes e/ou profissionais e na mitigação<br />

das situações de duplicação de meios complementares de<br />

diagnóstico.<br />

Neste seguimento, e como principais dificuldades,<br />

cumpre assinalar o elevado custo de aquisição das soluções<br />

informáticas de suporte disponíveis no mercado<br />

para a implementação da Telesaúde bem como a falta de<br />

interoperabilidade com os sistemas de informação em<br />

utilização nas instituições de saúde. Por fim, e não menos<br />

relevante, cumpre notar que não existe uma base legal<br />

que enquadre devidamente a teleconsulta enquanto ato<br />

médico especificando as suas características (i.e. natureza,<br />

objeto, finalidades e termos de prestação) e que simultaneamente<br />

defina um regime jurídico.<br />

Em termos globais, o saldo não deixa de ser positivo.<br />

Com efeito, a utilização de ferramentas de Telesaúde<br />

constitui um instrumento capaz de revolucionar a organização<br />

da prestação de cuidados de saúde, com ganhos<br />

explícitos de acessibilidade, de integração de cuidados e<br />

de redução de recursos financeiros. No fundo, trata-se de<br />

fazer o mesmo mas de forma diferente tirando partido<br />

das novas tecnologias e centrando os cuidados prestados<br />

no utente. Desta forma, será possível lograr mais economia<br />

nos custos, maior eficiência na prestação de cuidados<br />

e melhor produção e efetividade nos resultados.<br />

Bibliografia<br />

CENTER OF CONNECTED HEALTH POLICY. What is telehealth? Disponível através da consulta<br />

de: http://www.cchpca.org/what-is-telehealth consultado em abril <strong>2018</strong><br />

DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL 28/99/A. D.R. Iª Série. 177 (1999-07-31) 4942 – 4952<br />

− Estabelece a organização e o funcionamento dos serviços de saúde da Região Autónoma<br />

dos Açores<br />

DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL 2/2007/A. D.R. Iª Série 17. (2007-01-24) 642 – 665 –<br />

Altera o Estatuto do Serviço Regional de Saúde (SRS) que permite a transformação dos<br />

hospitais regionais em entidades públicas empresariais, aprovando o respetivo regime<br />

jurídico e estatutos<br />

DIREÇÃO GERAL DA SAÚDE − Norma Técnica n.<strong>º</strong> 010/2015<br />

INSTITUTO NACIONAL DE ESTATISTICA − Conceitos. Disponível através da consulta de:<br />

http://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes?id=4226&lang=PT consultado em Abril <strong>2018</strong><br />

MATOS, R.; SATANA, R.; MENDES, R.M.; MARQUES, A.P.; MESTRE, R. − Telemedicina em<br />

Portugal: onde estamos? Fundação Calouste Gulbenkian. Fevereiro 2014<br />

PORTARIA 207/2017. D.R. Iª Série. 132 (2017-07-11) 3550-3708 − Aprova as tabelas de<br />

preços a praticar pelo Serviço Nacional de Saúde, bem como o respetivo Regulamento<br />

RAPOSO, V.L − Do ato médico ao problema jurídico. Almedina. Outubro 2016<br />

REGULAMENTO 707/2016. D.R. IIª Série. 139 (2016-07-21) 22575-22588 − Regulamento<br />

de Deontologia Médica<br />

17


Xavier Corbella exerce atualmente o cargo de Secretário-Geral<br />

da EFIM, tendo outas atividades em paralelo, nomeadamente<br />

a Direção do Departamento de Medicina Interna do Hospital<br />

da Universidade Bellvitge e o cargo de Professor Adjunto de<br />

Medicina, sendo também Vice-Diretor da Faculdade de Medicina<br />

da Universitat Internacional de Catalunya e Diretor da Cadeira<br />

de Saúde Integrada e Assistência Social da Hestia.<br />

© FEDRA SANTOS<br />

18


NICK XAVIER GOODWIN CORBELLA, Nasceu nascido em em ... 1964, em Barcelona, é o atual<br />

Secretário-Geral da Federação Europeia de Medicina Interna<br />

(EFIM).<br />

Especialista em Medicina Interna, formou-se na Universidade<br />

de Barcelona e, desde sempre, apostou no seu desenvolvimento<br />

profissional, tornando-se também Doutorado em<br />

Medicina (Honras) e Mestre em Administração de Empresas<br />

(MBA) pela ESADE Business School.<br />

Da sua experiência profissional, ficam vários cargos exercidos<br />

na área da saúde: CEO do Bellvitge University Hospital e do<br />

Hospital de Sant Pau, Diretor do Southern Metropolitan Health<br />

Area of Barcelona e Diretor Médico da Althaia-Hospitals de<br />

Manresa.<br />

Atualmente exerce o cargo de Secretário-Geral da EFIM, tendo<br />

outras atividades em paralelo, nomeadamente a Direção<br />

do Departamento de Medicina Interna do Hospital da Universidade<br />

Bellvitge e o cargo de Professor Adjunto de Medicina,<br />

sendo também Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da<br />

Universitat Internacional de Catalunya e Diretor da Cadeira de<br />

Saúde Integrada e Assistência Social da Hestia.<br />

Orientador de teses de doutoramento, Xavier Corbella é,<br />

igualmente, autor de dezenas de publicações e apresentações<br />

orais.<br />

O Secretário-Geral da EFIM esteve em Portugal e deixou-nos a<br />

sua visão da importância atual da medicina interna enquanto<br />

especialidade generalista.<br />

© FEDRA SANTOS<br />

ENTREVISTA<br />

A XAVIER<br />

CORBELLA<br />

19


GH: Como sabemos, é o atual Secretário-Geral da<br />

Federação Europeia de Medicina Interna (EFIM).<br />

Qual é o objetivo principal desta Federação?<br />

XC: A EFIM reúne 33 países e 35 sociedades científicas<br />

de medicina interna na Europa, países membros e países<br />

não-membros e temos, também, países associados (que<br />

não da Europa), e tem como objetivo agregar as diferentes<br />

sociedades nacionais debaixo do mesmo “guarda-chuva”,<br />

porque a realidade da medicina interna é muito distinta na<br />

Europa.<br />

Na verdade, estamos preocupados em encontrar fontes<br />

comuns de problemas e soluções... Portanto, o objetivo é<br />

ter uma Instituição que agrupe os 35 países e as Sociedades<br />

Nacionais para procurar práticas comuns. É importante<br />

dizer que a EFIM é uma Federação e não uma Sociedade<br />

Científica, como por exemplo, a Sociedade Europeia<br />

de Cardiologia que é uma Associação Científica, mas nós<br />

não. Nós procuramos, igualmente, promover programas<br />

educativos, mas não fazemos propriamente estudos científicos,<br />

isso fazem as Sociedades Nacionais das diversas<br />

especialidades.<br />

GH: Atualmente, quais são os principais desafios<br />

da medicina interna?<br />

XC: O desafio mais importante é a diversidade da prática<br />

da medicina interna na Europa. Nós sentimo-nos muito<br />

próximos do Sul: de países como Portugal, Espanha, Itália,<br />

Grécia, Turquia… temos uma forma comum de trabalhar,<br />

porque as nossas especialidades de medicina interna são<br />

parecidas. No resto da Europa, norte e centro, é um tronco<br />

comum, mas com subespecialidades, não havendo propriamente<br />

a figura do especialista da medicina interna.<br />

Assim, a nossa preocupação, enquanto Federação Europeia,<br />

é identificar as especificidades que caracterizam a<br />

medicina interna e como fazer coexistir o modelo do Sul<br />

com o modelo do Norte ou Centro da Europa.<br />

GH: Neste contexto, o que é que pensa sobre os<br />

internistas serem os “gestores clínicos” de toda<br />

a intervenção no doente?<br />

XC: Nós acreditamos nesta capacidade do médico internista.<br />

A vocação de ser um generalista hospitalar está ligada<br />

à aptidão de enfrentar muitos problemas de uma só vez,<br />

muitas incógnitas, isto é, a medicina interna aborda doentes<br />

sem diagnóstico, que não se sabe o que têm, doentes<br />

que têm muitas doenças ao mesmo tempo, vendo sempre<br />

o doente como um todo.<br />

Portanto, é um profissional mentalmente preparado e<br />

com capacidade de ser o líder desta abordagem mais integrada<br />

e multidisciplinar. Para mim, o internista é um líder<br />

perfeito.<br />

GH: Neste sentido, a Federação Europeia tem que<br />

dar mais competências, formação aos internistas<br />

ou acha que não necessitam disso?<br />

XC: Este foi um dos desafios que tivemos de definir nos<br />

currículos para se ser internista na Europa, o que outras<br />

Sociedades têm de forma muito clara, porque os seus objetivos<br />

estão muito bem definidos. Ser-se, por exemplo,<br />

cardiologista é muito claro… ser internista não.<br />

Então, fizemos um consenso que será publicado no final<br />

deste mês para definir aquilo que entendemos ser um<br />

internista na Europa, para os profissionais dos países em<br />

que falta parte deste currículo poderem formar-se.<br />

Um dos grandes objetivos desta Federação é formar. Por<br />

exemplo, nos países do Norte alguns hospitais eliminaram<br />

os médicos internistas e tudo são especialidades. Agora,<br />

quando têm problemas como comorbilidades não sabem<br />

o que fazer e reconhecem que necessitam de uma figura<br />

coordenadora. Temos a sensação que não somos valorizados<br />

dentro dos hospitais. Os hospitais têm valorizado pouco<br />

esta capacidade do internista ser um líder.<br />

Parece que só importa para os gestores quem opera, os<br />

resultados, o volume, a produção…<br />

Nós acreditamos nesta capacidade do médico internista.<br />

A vocação de ser um generalista hospitalar está ligada à aptidão<br />

de enfrentar muitos problemas de uma só vez, muitas incógnitas,<br />

isto é, a medicina interna aborda doentes sem diagnóstico,<br />

que não se sabe o que têm, doentes que têm muitas doenças<br />

ao mesmo tempo, vendo sempre o doente como um todo.<br />

20


© FEDRA SANTOS<br />

GH: Na sua opinião, hoje em dia, é necessária a<br />

gestão e integração de doentes crónicos e complexos?<br />

XC: O papel do internista, no meu ponto de vista, tem muitas<br />

facetas. Uma: “inpatient care”. Ele é o generalista hospitalar.<br />

Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a figura<br />

do “hospitalist”, que é uma espécie de médico que apoia os<br />

restantes especialistas, mas de alguma forma esta figura<br />

é um pouco pobre… Eles são conhecidos, e com todo o<br />

respeito que tenho por eles, como “médicos-enfermeiros”,<br />

trabalham por turnos e têm um papel, na prática, de resolverem<br />

apenas problemas básicos.<br />

O generalista hospitalar é aquele que tem de ser responsável<br />

pelas doenças crónicas e complexas. No meu Hospital,<br />

por exemplo, temos assumido os doentes com fratura<br />

do colo do fémur, isto é, os doentes entram pela medicina<br />

interna, não vão à traumatologia.<br />

A ortopedia só opera e depois é connosco, nós somos os<br />

responsáveis por estes doentes.<br />

A minha tarefa foi convencer os meus médicos que este<br />

era o futuro, porque eles não querem ser os ajudantes do<br />

Temos a sensação que<br />

não somos valorizados<br />

dentro dos hospitais.<br />

Os hospitais têm valorizado<br />

pouco esta capacidade<br />

do internista ser um líder.<br />

Parece que só importa<br />

para os gestores quem opera,<br />

os resultados, o volume,<br />

a produção…<br />

21


© FEDRA SANTOS<br />

ortopedista. E a verdade é que a fratura do colo do fémur<br />

tem uma componente muito mais médica do que cirúrgica.<br />

Portanto, aos doentes complexos, com doenças raras, aos<br />

doentes que saem dos cuidados intensivos com múltiplos<br />

problemas nós “oferecemos” o serviço de medicina interna<br />

como destino.<br />

Claro que ficamos com doentes com maior gravidade,<br />

complexidade, maior duração, mas somos muito mais<br />

úteis assim.<br />

No entanto, o administrador critica-nos, porque o doente<br />

ainda não saiu da unidade médica. É natural, pois nós<br />

acabamos por ficar com os doentes que tiveram alta das<br />

suas especialidades, ou seja, nós ficamos com um maior<br />

número de doentes.<br />

Eu também já fui administrador de um hospital (mas os<br />

meus subordinados é que mandavam) e eu dizia aos colegas<br />

que trabalhavam comigo: “Mudem-me os indicadores.<br />

Não me digam que a demora média é de 7 dias porque eu<br />

não vou querer os vossos doentes. Mas diz-me que a demora<br />

é de 14|15 dias e vou querer todos os teus doentes.”<br />

Isto é “inpatient care”, agudização de crónicos.<br />

O primeiro papel do internista é participar nas consultas<br />

primárias e no “long term care”, reforçar os cuidados prolongados.<br />

O segundo, e que também é muito importante, é<br />

o de criar alternativas à hospitalização, “ambulatory care”.<br />

GH: Também referiu a má gestão em equipa, o que<br />

é muito importante. Gostaríamos de saber, de<br />

facto, o que é isto, mas também, como se processa<br />

esta mudança.<br />

XC: Isto foi uma grande mudança. Nós, enquanto equipa diretiva,<br />

éramos clínicos e vimos que o poder que cada cama<br />

do hospital tinha limitava a gestão das camas e, portanto,<br />

discordávamos em completo da ideia de termos doentes<br />

pendentes de entrar num serviço com camas livres.<br />

Para contornar a má gestão, definimos que as camas do<br />

hospital são do hospital e não de um serviço.<br />

Decidir isto foi uma revolução, mas nós é que decidimos<br />

para onde vai o doente.<br />

A unidade de admissões, a prioridade, a proporção de programados,<br />

é tudo decidido centralmente. “Centralized bed<br />

22


Nós, enquanto equipa diretiva, éramos clínicos e vimos<br />

que o poder que cada cama do hospital tinha limitava a gestão<br />

das camas e, portanto, discordávamos em completo da ideia de<br />

termos doentes pendentes de entrar num serviço com camas livres.<br />

Para contornar à má gestão, definimos que as camas do hospital<br />

são do hospital e não de um serviço.<br />

Decidir isto foi uma revolução, mas nós é que decidimos<br />

para onde vai o doente.<br />

A unidade de admissões, a prioridade, a proporção de programados,<br />

é tudo decidido centralmente. “Centralized bed management”<br />

para mim é a chave de todo este problema.<br />

management” para mim é a chave de todo este problema.<br />

Outra coisa é que quando se gerem mal as camas e se<br />

enviam doentes para fora dos seus serviços é um caos.<br />

Então, nós em cada serviço assumimos um número de<br />

camas em função do ideal, isto é, se o serviço funcionar<br />

bem com a sua duração média correta, com as suas complicações<br />

e readmissões esperadas, quantificamos pela<br />

proporção de doentes que opera quantas camas necessita.<br />

Quantas têm agora?<br />

Imaginando, por exemplo, que funcionando muito bem o<br />

Serviço de Urologia ultrapassa as 30 camas e deveria ter<br />

20. Bem, não lhe vou colocar 20 camas mas sim 25, porque<br />

eu sei que tenho margem de melhorar. E vou penalizar<br />

os serviços por este mau uso das camas, penalizar no<br />

sentido de ir fazendo acordos.<br />

A responsabilidade da gestão das camas ser nossa é para<br />

mim fundamental. Significa que é o “core” do hospital, o<br />

“core” dos processos operativos do hospital.<br />

GH: Toda a equipa médica tem de circular no hospital<br />

para ver os doentes?<br />

XC: Passámos uma primeira fase muito má, em que se<br />

tínhamos doentes pendentes para entrar na urgência,<br />

tratava-se de doentes que eram internados nas primeiras<br />

camas livres que tínhamos no hospital. E somente<br />

nas camas livres porque as restantes destinávamos para<br />

doentes programados. Bem, e é o contrário que se faz, se<br />

existem camas livres colocam-se os doentes com cirurgias<br />

programadas e deixam, para último, os urgentes.<br />

Fazermos esta mudança levou ao protesto dos chefes de<br />

serviço, mas também os levou a reagir dando altas. Portanto,<br />

os “ectópicos fora do serviço”, era assim que os chamávamos,<br />

foram-se reduzindo progressivamente, mas<br />

tivemos de mudar muitas dotações de camas.<br />

Por exemplo, o Serviço de Cirurgia Geral tinha <strong>12</strong>0 camas<br />

e com uma melhor gestão perdeu camas.<br />

Os Serviços têm associado o número de camas por poder,<br />

justificam o seu staff com as camas. Portanto, nós mudámos<br />

isto.<br />

O “poder” tem de estar ligado à atividade, ao número de<br />

doentes que visitam a consulta, em internamentos. Passamos<br />

a valorizar os serviços pela atividade e pelo que<br />

produzem e não pela estrutura que têm.<br />

GH: E houve alguma mudança, algum rácio entre<br />

médicos e enfermeiros?<br />

XC: Bem, o problema é que os doentes que não necessitem<br />

de entrar sejam atendidos fora. Concentra-se toda a complexidade<br />

que tem o hospital.<br />

Por exemplo, numa unidade onde havia entradas de doentes<br />

graves e doentes leves ao mesmo tempo, os enfermeiros<br />

compensavam, distribuíam-se os doentes e estes<br />

profissionais não tinham sensação de muito peso, muito<br />

trabalho. Mas claro, quando todos são graves então mu-<br />

23


Creio que o conceito de “clinical management” tem<br />

que aproximar os gestores e os clínicos. Creio que o internista<br />

tem de entender que é um grande aliado dos administradores,<br />

porque também é um grande “sofredor”.<br />

© FEDRA SANTOS<br />

24


damos o rácio de profissionais. Fazemos mudanças, movemos<br />

os enfermeiros por forma a estarem nos serviços<br />

quando efetivamente são precisos. Este foi outro conflito...<br />

Mas fazíamos, também, estudos de carga horária e víamos<br />

os locais onde havia profissionais em excesso. Os<br />

rácios só são fixos para uma unidade de cuidados intensivos,<br />

semicritícos, para unidades de alta complexidade...<br />

GH: É um defensor do conceito da medicina ambulatória.<br />

Acha que este conceito traz maior desenvolvimento<br />

para o sistema e para o doente?<br />

XC: Esta é uma boa pergunta porque, aparentemente,<br />

sim... Evita muitas complicações do doente, infeções, quedas,<br />

mas forçar a aplicação deste conceito a todo o mundo,<br />

por igual, não é correto...<br />

O doente idoso, o doente que vive longe, o doente que não<br />

tem cuidador não pode... Portanto, há que selecionar os<br />

doentes que podem tirar proveito da medicina ambulatória.<br />

Por exemplo, um hospital que opera a cirurgia major de<br />

ambulatório à tarde está errado, deve operar de manhã.<br />

Mas, mudar esta forma de gerir foi complicado. Explicar<br />

isto aos cidadãos é simples, mas aos profissionais é complicado<br />

porque eles têm os seus interesses, a medicina<br />

privada, etc.<br />

Bem, é um processo de se romper com as tradições, mas<br />

com muita lógica.<br />

Apesar das grandes mudanças internas que este conceito<br />

traz, sou um grande defensor deste modelo, mas sei que<br />

tem as suas limitações.<br />

GH: Quais são as mudanças que gostaria de ver<br />

nas práticas de gestão, na saúde, para o desenvolvimento<br />

da medicina interna?<br />

XC: Creio que o conceito de “clinical management” tem que<br />

aproximar os gestores e os clínicos. Creio que o internista<br />

tem de entender que é um grande aliado dos administradores,<br />

porque também é um grande “sofredor”.<br />

Se as pessoas soubessem o que os administradores sofrem<br />

para gerir um hospital com tantos egos, certamente<br />

que os compreendiam melhor...<br />

Eu acho que aos gestores falta apoio de conhecimentos de<br />

“base clínica” para gerir bem os seus recursos.<br />

Se se tem um budget global e fixo, o gestor tem de entender<br />

que evitar internamentos desnecessários, evitar complicações,<br />

vai melhorar este budget porque vai conseguir fazer<br />

mais coisas. Se não houver complicações com o doente, não<br />

vai gastar em antibióticos, não ocupa camas... etc.<br />

Bem, acho que se o internista e o gestor se aproximarem<br />

podem ter um trabalho profícuo, o internista pode garantir<br />

a qualidade dos resultados que a administração reconhece<br />

e possibilita.<br />

Na minha opinião, o internista deveria ser um grande<br />

aliado da Direção, porque assume grandes problemas do<br />

hospital, pelo que penso que é uma ótima aliança. O internista<br />

é o melhor especialista que pode compreender<br />

integralmente todos os problemas do doente, do hospital<br />

e do sistema.<br />

É importante que continuemos a trabalhar para que os<br />

especialistas generalistas passem a ter um papel mais<br />

importante.<br />

No Sul já têm, mas na Europa ainda não existe esta figura<br />

nos hospitais e é da nossa responsabilidade (ex: Portugal,<br />

Espanha, Itália) demonstrar que este modelo é muito eficaz<br />

e eficiente e, portanto, este é o momento, com esta<br />

problemática tão complexa, para trabalharmos em colaboração.<br />

Se as pessoas soubessem o que os administradores<br />

sofrem para gerir um hospital com tantos egos,<br />

certamente que os compreendiam melhor...<br />

Eu acho que aos gestores falta apoio de conhecimentos<br />

de “base clínica” para gerir bem os seus recursos.<br />

25


REMEDI<br />

REQUISIÇÕES MÉDICAS<br />

BRUNO SILVA<br />

Diretor do serviço de sistemas<br />

e tecnologias de informação<br />

PEDRO RODOLFO<br />

Diretor do serviço<br />

de gestão da produção<br />

REMEDI é um sistema de informação desenvolvido<br />

pela ULSNA, EPE que visa apoiar o trabalho<br />

O<br />

elaborado pela central de marcações e pelas Unidades de<br />

Cuidados de Saúde Primários no que diz respeito a todo<br />

o workflow relacionado com o agendamento de meios<br />

complementares de diagnóstico, implementando simultaneamente<br />

o processo de desmaterialização da requisição<br />

desses meios complementares de diagnóstico e eliminando<br />

o trabalho administrativo, nesta área, dos cuidados<br />

de saúde primários. Além de uma melhor organização de<br />

todo o processo administrativo, este sistema permite uma<br />

circulação mais rápida e segura da informação, garantindo<br />

celeridade e igualdade no tratamento de cada pedido.<br />

O cenário anterior apresentava inúmeras debilidades,<br />

tais como:<br />

> Dependente de intervenção humana em todos os<br />

passos;<br />

> Demasiada carga administrativa (dependente de listagens<br />

em ficheiros estruturados enviados por correio<br />

eletrónico);<br />

> Possibilidade do utente ir a uma entidade convencionada<br />

sem prévia avaliação da capacidade de resposta<br />

interna;<br />

> Possibilidade de enviar para o exterior MCD quando<br />

temos capacidade interna para os realizar dentro de<br />

TMRG;<br />

> Erros de transcrição;<br />

> Impossibilidade de avaliar procura/oferta em tempo<br />

real;<br />

> Agendas de MCD mal definidas e desadequadas à<br />

procura;<br />

> Dificuldade em dar resposta a alguns indicadores<br />

(tempo entre requisição e realização do MCD);<br />

> Requisição não disponível na data do exame;<br />

Com a implementação deste sistema de informação<br />

propusemo-nos a alcançar os seguintes objetivos:<br />

Reduzir<br />

Maximizar<br />

Tempos de resposta<br />

Capacidade instalada<br />

(≤ TMRG)<br />

dos hospitais:<br />

> Rentabilização do RH<br />

> Rentabilização dos<br />

equipamentos<br />

Custos com MCD<br />

Automatização de tarefas<br />

realizados no exterior<br />

Erros em processos<br />

Satisfação do utente<br />

administrativos<br />

Erros de intervenção<br />

Fiabilidade dos indicadores<br />

humana (p. e. transcrição) de gestão<br />

Contactos administrativos Capacidade de resposta ao<br />

desnecessários<br />

utente ou outras entidades<br />

competentes<br />

Número de reclamações<br />

Existindo já as centrais de marcações, o modelo de<br />

implementação utilizado baseou-se na realização de três<br />

pilotos em unidades dos cuidados de saúde primários de<br />

forma a permitir corrigir todas as situações identificadas<br />

como disfuncionais e introduzir melhorias identificadas<br />

pelos profissionais envolvidos. Deste o arranque do primeiro<br />

piloto até à implementação total do projeto decorreram<br />

7 meses entre maio e dezembro de 2016.<br />

Na conceção deste sistema de informação a equipa de<br />

projeto teve sempre como principal foco a melhoria do<br />

atendimento ao utente na sua vertente administrativa.<br />

26


Desta forma foram desenvolvidas uma série de funcionalidades<br />

que auxiliam e melhoram significativamente todo<br />

o processo, tais como:<br />

> Encaminhamento automático das requisições dos<br />

cuidados de saúde primários para as unidades hospitalares<br />

todos os dias durante a noite;<br />

> Saber o estado da requisição a cada momento (devolvidas<br />

ao requisitante, para triagem, para marcação,<br />

para termo de responsabilidade);<br />

> Diversas possibilidades de notificação (carta ou sms);<br />

> Acesso a timeline do utente;<br />

> Notificações de futuros contactos do utente nos hospitais;<br />

> Sistemas de apoio para que o utente com diversos<br />

exames se tenha que deslocar o menor número de vezes<br />

possível ao hospital;<br />

> Disponibilização de informação sobre isenções de<br />

programas de saúde (diabetes, planeamento familiar);<br />

> Informação clínica a tempo e horas nos serviços executantes;<br />

Tendo a consciência de que um sistema de informação<br />

para ter sucesso tem que corresponder às expectativas<br />

dos profissionais que o vão utilizar, o REMEDI foi desenvolvido<br />

com a participação de uma equipa onde se incluíram<br />

médicos, enfermeiros, TDT e assistentes técnicos.<br />

Desta participação resultaram uma série de funcionalidades<br />

de que salientamos:<br />

Para o apoio ao triador<br />

(médico, enfermeiro ou TDT):<br />

> Apresentação de diversos dados clínicos (SOAP + informação<br />

clínica da requisição do exame);<br />

> Configuração de respostas pré-definidas;<br />

> Chamada de outras aplicações de MCD;<br />

> Apoio ao cálculo das datas das ecografias obstétricas;<br />

> Possibilidade de consultar agendas sem sair da aplicação;<br />

Para a organização do trabalho<br />

da central de marcações:<br />

> Exames ordenados por prioridades e antiguidades;<br />

> Possibilidade de organizar por exame ou por utente;<br />

> Diversos filtros à escolha do utilizador com a possibilidade<br />

de gravação para futura utilização;<br />

> Apoio na pesquisa de vagas;<br />

> Anexação automática de preparações dos exames;<br />

> Controlo de notificações ao utente;<br />

> Separar exames de “espera prolongada”;<br />

> Agendamentos para fim-de-semana (lacuna do SO-<br />

NHO);<br />

Para o apoio no cumprimento de prazos:<br />

> Definição de prazos máximos de resposta por área;<br />

> Prazos máximos para triagem com encaminhamento<br />

automático;<br />

> Sinalética relacionada com prazos;<br />

Para auxiliar na rentabilização<br />

dos recursos disponíveis da instituição:<br />

> Possibilidade de encaminhamento entre centrais;<br />

> Notificação de exames iguais já agendados;<br />

> Encaminhamento para circuito de termos de responsabilidade<br />

(lei dos compromissos);<br />

Para apoio à gestão:<br />

> Dashboards com informação de gestão e produção<br />

em tempo real;<br />

> Registos totalmente auditáveis;<br />

Salientamos como principais<br />

indicadores disponibilizados:<br />

> Tempos médios;<br />

> Taxa de ocupação da capacidade instalada;<br />

> Pedidos devolvidos por falta de informação clínica;<br />

> Pedidos que transitaram para marcação sem triagem<br />

realizada;<br />

> Volume diário de requisições;<br />

> Taxa de utilização do meio de notificação;<br />

> Volume de remarcações;<br />

Indicadores relevantes do 1.<strong>º</strong> ano de atividade:<br />

2016 2017<br />

N.<strong>º</strong> exames agendados 8.245 30.404<br />

Requisição – realização (dias) 22,49 19,34<br />

Marcação - realização (dias) 13,15 15,91<br />

Requisição – marcação (dias) 9,27 3,56<br />

Requisição – triagem (dias) 3,55 2,47<br />

Embora os resultados alcançados sejam bastante satisfatórios,<br />

o novo paradigma que o REMEDI trouxe à ULSNA<br />

veio acrescentar novas necessidades, principalmente<br />

no que confere ao apoio da racionalização da capacidade<br />

instalada e na melhoria da satisfação do utente pelos serviços<br />

prestados. Assim, em <strong>2018</strong>, além de alargarmos a<br />

utilização desta plataforma para a área hospitalar, serão<br />

desenvolvidas uma série de novas funcionalidades, principalmente<br />

na área do apoio à decisão no momento do<br />

agendamento.<br />

27


AS CAUSAS DAS RECLAMAÇÕES<br />

DAVID COSTA<br />

CARLA OLIVEIRA<br />

PALMIRA VALE<br />

FILIPE ALMEIDA<br />

Responsável do Gabinete<br />

do Cidadão, Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> de São João, EPE<br />

Responsável Adjunta<br />

do Gabinete do Cidadão,<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

de São João, EPE<br />

Assistente Técnica<br />

Gabinete do Cidadão<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

de São João, EPE<br />

Diretor do Serviço de<br />

Humanização, Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> de S. João, EPE<br />

Introdução<br />

As reclamações dos utentes do Serviço Nacional de<br />

Saúde (SNS) resultam de uma tomada de decisão<br />

associada a uma manifestação de discordância ou insatisfação<br />

em relação aos serviços em contexto das relações<br />

interpessoais e institucionais. A resolução deste quadro<br />

de discordância ou insatisfação poderá estar na estrutura<br />

organizacional e funcional do estabelecimento prestador<br />

ou afastada no labirinto das normas e orientações políticas<br />

de saúde.<br />

A satisfação é a face oposta da discordância quando se<br />

analisa a relação entre cidadãos e prestadores de cuidados.<br />

Para os autores que analisam a satisfação numa lógica<br />

de mercado, equiparando os doentes a clientes, a satisfação<br />

é um fator crucial para influenciar a lealdade à marca<br />

e a repetição de compras e, por isso, a satisfação do consumidor<br />

é uma entidade dinâmica que exige constante<br />

atualização. Para estes, a satisfação é uma função associada<br />

às expetativas e a insatisfação está relacionada com<br />

a desconfirmação dessas expetativas que resultam da relação<br />

entre estas duas variáveis com raízes na Psicologia<br />

Social. Nesta perspetiva, os consumidores formulam uma<br />

expetativa sobre as características dos produtos antes da<br />

compra (Farias, Santos, 2000). No caso da saúde, os doentes<br />

constroem uma perceção sobre a competência técnica<br />

dos profissionais, sobre a prioridade dada ao seu problema<br />

de saúde, sobre o acesso às consultas, aos exames complementares<br />

de diagnóstico e aos tratamentos.<br />

As teorias sobre a satisfação do consumidor apresentam<br />

outras explicações, umas sustentadas na dissonância<br />

cognitiva, outras na equidade, outras ainda na atribuição<br />

e no desempenho (Farias, Santos, 2000). Cada uma<br />

delas oferece um modelo explicativo sobre os potenciais<br />

fatores envolvidos no comportamento das pessoas quando<br />

reclamam. Mas, o comportamento das pessoas quando<br />

reclamam não acontece fora de um contexto organizacional<br />

ou social e não está dissociado das falhas dos sistemas<br />

de controlo de qualidade do serviço ou produto.<br />

Por isso, para além das explicações sobre a satisfação<br />

dos utentes, há a perspetiva centrada na organização, ou<br />

seja, na disposição das relações entre indivíduos que produzem<br />

esta unidade complexa ou sistema. Neste domínio,<br />

os fatores que conduzem às manifestações de insatisfação<br />

sobre as expetativas do desempenho das organizações<br />

de saúde devem ser encontrados nos comportamentos<br />

entre atores em torno de uma prestação de um serviço<br />

de saúde.<br />

As reclamações contêm um manancial de perceções e<br />

perspetivas sobre diferentes circunstâncias do dia-a-dia<br />

dos utentes e organização. A sua classificação é um contributo<br />

importante para se identificar não-conformidades<br />

nos processos de trabalho e, dessa forma, introduzir melhorias<br />

na gestão e funcionamento dos estabelecimentos<br />

de prestação de cuidados do SNS.<br />

Os trabalhos publicados sobre as reclamações dos<br />

utentes do SNS são escassos − Direção-Geral de Saúde,<br />

20<strong>12</strong>; Cabete, Lencastre, 20<strong>12</strong> e Entidade Reguladora da<br />

Saúde, 2015 −, considerando-se que a possibilidade formal<br />

de apresentação de reclamações remonta ao ano de<br />

1986 (Governo de Portugal, 1986).<br />

O relatório do 1.<strong>º</strong> semestre de 2016 da Entidade Reguladora<br />

da Saúde sobre o sistema de gestão de reclamações<br />

indica que, das 29.014 reclamações recebidas, o tema<br />

mais frequentemente mencionado pelos utentes é o dos<br />

procedimentos administrativos (19,8%) seguido dos tempos<br />

de espera (19,6%), do acesso aos cuidados de saúde<br />

(15,9%), da focalização no utente (15,5%), dos cuidados<br />

de saúde e segurança do doente (14,8%), das questões financeiras<br />

(5,9%), das instalações e serviços complemen-<br />

28


tares (4,2%) e de outros temas (4,4%) (Entidade Reguladora<br />

da Saúde, 2015).<br />

Este relatório permite estabelecer um traço característico<br />

sobre as reclamações. São feitas predominantemente<br />

por utentes do género feminino e as causas estão relacionadas<br />

com a prestação de cuidados onde se inclui o tempo<br />

de espera nos serviços de urgência, o tempo de espera<br />

para atendimento e o comportamento atribuído à falta de<br />

cortesia.<br />

Um trabalho de revisão revela que o domínio da gestão,<br />

onde se inclui o tempo de espera para aceder aos<br />

cuidados, foi alvo de 35,1% das reclamações, o domínio<br />

clínico a que pertence a qualidade dos cuidados recebeu<br />

33,7% das reclamações e o domínio do relacionamento<br />

interpessoal recebeu 29,1% (Diaz-Guzman, Bermejo-Pareja,<br />

2006).<br />

Outros estudos mostram que os assuntos sobre comunicação<br />

são 49% das reclamações e os assuntos sobre tratamento<br />

são 47% (Anderson, Allan, 2000).<br />

Outro trabalho, realizado no Serviço de Neurologia de<br />

um hospital de Madrid-Espanha revela que as razões assistenciais<br />

originaram 91,8% das reclamações.<br />

É difícil comparar os resultados destes trabalhos porque<br />

o funcionamento dos sistemas de saúde e a metodologia<br />

de classificação das reclamações têm particularidades<br />

derivadas da estrutura das relações sociais que estão<br />

na origem dos dispositivos organizativos dos Serviços de<br />

Saúde.<br />

Todavia, este facto não é um obstáculo à tentativa de<br />

se descortinar elementos comuns nos resultados dessas<br />

classificações que ajudem à descrição das suas características<br />

e à comparação com as de outros estudos.<br />

Material e métodos<br />

Em junho de 2017 foram analisadas as exposições<br />

recebidas no período de 1 de janeiro de 2015 a 31<br />

de dezembro de 2016.<br />

Foram classificadas de acordo com o modelo previsto<br />

no Sistema Sim-Cidadão.<br />

A curva de Kaplan-Meier foi usada para descrever o<br />

tempo mediano de resposta.<br />

As reclamações contêm um manancial de perceções e perspetivas<br />

sobre diferentes circunstâncias do dia-a-dia dos utentes e organização.<br />

A sua classificação é um contributo importante para se identificar<br />

não-conformidades nos processos de trabalho e, dessa forma,<br />

introduzir melhorias na gestão e funcionamento<br />

dos estabelecimentos de prestação de cuidados do SNS.<br />

RESULTADOS<br />

São as pessoas do género feminino que apresentam mais exposições (Tabela 1).<br />

Ano<br />

2015 2016<br />

Total<br />

n % n % n %<br />

Exponente:<br />

Doente 805 44,4 1014 43,2 1819 43,7<br />

Representante 1009 55,6 1334 56,8 2343 56,3<br />

Género do exponente:<br />

Feminino 1167 64,3 1467 62,5 2634 63,3<br />

Masculino 647 35,7 881 37,5 1528 36,7<br />

Tabela 1 Características dos exponentes.<br />

29


As reclamações são 92,4% das exposições em 2015 e 93,4% em 2016. São maioritariamente apresentadas no Livro de<br />

Reclamações. A modalidade de assistência mais visada é a de urgência (Tabela 2).<br />

Ano<br />

Total<br />

2015 2016<br />

n % n % n %<br />

Tipo de exposição:<br />

Reclamação 1676 92,4 2213 94,3 3889 93,4<br />

Sugestão 11 0,6 15 0,6 26 0,6<br />

Elogio <strong>12</strong>7 7,0 <strong>12</strong>0 5,1 247 5,9<br />

Total 1814 100,0 2348 100,0 4162 100,0<br />

Forma apresentação:<br />

Caixa sugestões-reclamações 26 1,4 20 0,9 46 1,1<br />

Carta 163 9,0 143 6,1 306 7,4<br />

Correio eletrónico 287 15,8 381 16,2 668 16,0<br />

Imprensa 1 0,1 1 0,0 2 0,0<br />

Livro reclamações <strong>12</strong>97 71,5 1767 75,3 3064 73,6<br />

Website 5 0,3 19 0,8 24 0,6<br />

Presencial-Carta 35 1,9 17 0,7 52 1,2<br />

Modalidade de assistência visada:<br />

Consulta 469 25,9 727 31,0 1196 28,7<br />

Hospital Dia 2 0,1 <strong>12</strong> 0,5 14 0,3<br />

Internamento 197 10,9 201 8,6 398 9,6<br />

Indeterminada 263 14,5 247 10,5 510 <strong>12</strong>,3<br />

Unidade Cirurgia Ambulatório 7 0,4 1 0,0 8 0,2<br />

Urgência 876 48,3 1160 49,4 2036 48,9<br />

Tabela 2 Tipos e características das exposições.<br />

O tempo de espera para cuidados representa 43,0% de todos os problemas identificados em 2015 e 48,4% em 2016<br />

(Tabela 3).<br />

Ano<br />

Total<br />

2015 2016<br />

n % n % n %<br />

Atos administrativos e de gestão − Leis/Regras/Normas 379 22,5 398 17,9 777 19,8<br />

Atos administrativos e de gestão − Procedimentos 46 2,7 95 4,3 141 3,6<br />

Atos administrativos e de gestão − Sistemas informação 63 3,7 99 4,4 162 4,1<br />

Subtotal 488 28,9 592 26,6 1080 27,6<br />

Infraestruturas e amenidades − Cuidados hoteleiros <strong>12</strong> 0,7 11 0,5 23 0,6<br />

Infraestrutura e amenidade − Instalações equipamentos 45 2,7 76 3,4 <strong>12</strong>1 3,1<br />

Subtotal 57 3,4 87 3,9 144 3,7<br />

Prestação de cuidados saúde − Cuidados desadequados 105 6,2 102 4,6 207 5,3<br />

Prestação de cuidados saúde − Doente sem cuidados <strong>12</strong>7 7,5 142 6,4 269 6,9<br />

Prestação de cuidados saúde − Tempo espera para cuidados 725 43,0 1078 48,4 1803 46,1<br />

Subtotal 957 56,7 1322 59,3 2279 58,2<br />

Relacionais comportamentais − Atendimento 185 11,0 227 10,2 4<strong>12</strong> 10,5<br />

Total 1687 100,0 2228 100,0 3915 100,0<br />

Tabela 3 Reclamações − Tipo de problemas.<br />

30


Os médicos são os profissionais mais visados (Tabela 4).<br />

2015 2016<br />

Tipo de exposição<br />

Tipo de exposição<br />

Total<br />

Elogio Reclamação Sugestão Elogio Reclamação Sugestão<br />

n % n % n % n % n % n % n %<br />

Assistente<br />

Operacional<br />

Assistente<br />

Técnico<br />

25 19,7 13 0,8 0 0,0 13 10,8 17 0,8 1 6,7 69 1,7<br />

7 5,5 49 2,9 0 0,0 5 4,2 78 3,5 1 6,7 140 3,4<br />

Dirigente 4 3,1 280 16,7 9 81,8 1 0,8 330 14,9 9 60,0 633 15,2<br />

Enfermeiro 37 29,1 98 5,8 1 9,1 53 44,2 <strong>12</strong>9 5,8 0 0,0 318 7,6<br />

Médico 52 40,9 1144 68,3 1 9,1 45 37,5 1526 69,0 3 20,0 2771 66,6<br />

Técnico<br />

Diagnóstico e<br />

Terapêutica<br />

Técnico<br />

Superior<br />

Técnico<br />

Superior de<br />

Saúde<br />

Pessoal<br />

Concessionado<br />

0 0,0 9 0,5 0 0,0 0 0,0 17 0,8 0 0,0 26 0,6<br />

0 0,0 2 0,1 0 0,0 0 0,0 8 0,4 0 0,0 10 0,2<br />

0 0,0 2 0,1 0 0,0 0 0,0 3 0,1 0 0,0 5 0,1<br />

2 1,6 78 4,7 0 0,0 3 2,5 104 4,7 1 6,7 188 4,5<br />

Voluntário 0 0,0 1 0,1 0 0,0 0 0,0 1 0,0 0 0,0 2 0,0<br />

Total <strong>12</strong>7 100,0 1676 100,0 11 100,0 <strong>12</strong>0 100,0 2213 100,0 15 100,0 4162 100,0<br />

Tabela 4 Profissional visado.<br />

O setor funcional mais reclamado é a urgência polivalente (Tabela 5).<br />

Ano<br />

2015 2016<br />

Total<br />

n % n % n %<br />

Aprovisionamento e outros suportes 30 1,8 50 2,2 80 2,0<br />

Cirurgia 270 16,0 355 15,9 625 16,0<br />

Clínica da mulher 38 2,3 36 1,6 74 1,9<br />

Imagiologia e Medicina laboratorial 67 4,0 71 3,2 138 3,5<br />

Medicina 203 <strong>12</strong>,0 274 <strong>12</strong>,3 477 <strong>12</strong>,2<br />

Operações hoteleiras 98 5,8 109 4,9 207 5,3<br />

Pediatria 28 1,7 21 0,9 49 1,3<br />

Psiquiatria 34 2,0 45 2,0 79 2,0<br />

Receção e atendimento geral 78 4,6 <strong>12</strong>3 5,5 201 5,1<br />

Serviços Financeiros 80 4,7 <strong>12</strong>3 5,5 203 5,2<br />

Urgência de Obstetrícia e Ginecologia 15 0,9 14 0,6 29 0,7<br />

Urgência Pediátrica <strong>12</strong>3 7,3 130 5,8 253 6,5<br />

Urgência Polivalente 623 36,9 877 39,4 1500 38,3<br />

Total 1687 100,0 2228 100,0 3915 100,0<br />

Tabela 5 Setores funcionais visados (reclamações e sugestões).<br />

31


Se olharmos para a relação entre a produção e o número de reclamações verifica-se que em 2015 há 1,3 reclamações<br />

por cada mil atos assistenciais e no ano de 2016 há 1,7 reclamações (Tabela 6).<br />

Produção/Reclamações 2015 2016<br />

N.<strong>º</strong> total doentes saídos 45.347 45.170<br />

N.<strong>º</strong> total doentes observados Serviço Urgência 249.925 262.421<br />

N.<strong>º</strong> total de consultas externas 781.927 792.384<br />

N.<strong>º</strong> total de intervenções cirúrgicas em ambulatório 21.191 21.019<br />

N.<strong>º</strong> total sessões hospital/dia <strong>12</strong>7.615 <strong>12</strong>5.236<br />

Total produção 1.226.005 1.246.230<br />

N.<strong>º</strong> de reclamações 1676 2213<br />

Reclamações/Atividade assistencial (‰) 1,3 1,7<br />

Tabela 6 Relação entre produção e reclamações.<br />

No fim do mês de junho de 2017 estavam respondidas 1811 exposições do ano de 2015 e 1730 do ano 2016 de um total<br />

de 1814 e 2348 exposições, respetivamente. Não tinham sido respondidas 3 exposições do ano de 2015 e 618 do ano de<br />

2016 (Tabela 7).<br />

Eventos<br />

Tempos de resposta (mediana)<br />

Ano<br />

n<br />

Eventos<br />

(Reclamações<br />

respondidas)<br />

censurados<br />

(Reclamações<br />

não<br />

respondidas)<br />

Estimate<br />

Std.<br />

Error<br />

95% Confidence<br />

Interval<br />

Lower Upper<br />

Bound Bound<br />

Log Rank (Mantel-Cox)*<br />

Chi-Square df p<br />

2015 1814 1811 3 29,000 1,033 26,975 31,025<br />

2016 2348 1730 618 49,000 2,067 44,949 53,051<br />

Total 4162 3541 621 38,000 1,344 35,366 40,634 160,274 1 0,000<br />

*Test of equality of survival distributions for the different levels of Ano.<br />

Tabela 7 Tempos de resposta às exposições (Reclamações, sugestões, elogios).<br />

Nessa data verificamos que o tempo mediano de resposta às exposições foi de 29 e 49 dias em 2015 e 2016 respetivamente<br />

(Gráfico 1).<br />

1,0<br />

0,8<br />

Ano<br />

2015<br />

2016<br />

2015-censored<br />

2016-censored<br />

Cum Survival<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800<br />

GRÁFICO 1 Survival Functions.<br />

Tempo resposta<br />

32


Nos dois anos em análise, 80,0% das dez causas mais frequentes são formadas pelo conjunto constituído pelo tempo<br />

de espera no serviço de urgência, pelas taxas moderadoras, pela falta de cortesia e pelo tempo de espera para tratamento<br />

médico (Gráfico 2).<br />

Tempo de espera no serviço de urgência<br />

1100 1042<br />

1000<br />

900<br />

800<br />

700<br />

600<br />

500<br />

480<br />

383<br />

400<br />

300<br />

264<br />

220<br />

200<br />

140<br />

100<br />

0<br />

Taxas moderadoras<br />

Falta de cortesia<br />

Tempo de espera para tratamento médico<br />

Livre escolha (Direito de opção)<br />

Tempo de espera para consultas de especialidade<br />

Dec. Lei 33/2009 (Direito acompanhante SU)<br />

n % Ac.<br />

103 100 90 82<br />

Tempo de espera para cirurgia<br />

Tempo espera para atendimento<br />

Tempo de espera para MCDT<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

30<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Gráfico 2 Causas das reclamações 2015-2016.<br />

33


Discussão<br />

Os problemas apresentados são maioritariamente<br />

sobre o tempo de espera para cuidados. O relatório<br />

do 1.<strong>º</strong> semestre de 2016 da Entidade Reguladora da Saúde<br />

indica que o tema mais frequente é o dos procedimentos<br />

administrativos (19,8%), seguido dos tempos de espera<br />

(19,6%) e do acesso aos cuidados de saúde (15,9%) (Entidade<br />

Reguladora da Saúde, 2015). Estes dados, devido à<br />

sua classificação, apresentam dificuldades de comparação<br />

com os deste trabalho. Contudo, os tempos de espera são<br />

o segundo tema mais relevante, o primeiro neste trabalho.<br />

O tema das instalações (4,2%) é semelhante ao revelado<br />

por este estudo (3,7%). Os restantes temas não são passiveis<br />

de comparação.<br />

Um trabalho de revisão (Reader, Gillesppie, 2014) revela<br />

que o tempo de espera para aceder aos cuidados foi alvo<br />

de 35,1% das reclamações. Esta percentagem aproxima-<br />

-se do resultado encontrado neste trabalho (tempo de espera<br />

para cuidados-46,1%).<br />

À semelhança do revelado por outros estudos, os médicos<br />

e os dirigentes são os mais visados nas reclamações<br />

(Cabete, Lencastre, 20<strong>12</strong>; Direção-Geral de Saúde, 20<strong>12</strong>;<br />

Reader, Gillesppie, 2014).<br />

A literatura não mostra qualquer tipo de análise sobre<br />

a relação entre a produção assistencial e o número de reclamações,<br />

assim como sobre o tempo de resposta às exposições.<br />

A análise revelou que o tempo mediano de resposta às<br />

exposições (2015: 29 dias; 2016: 49 dias) excedeu o tempo<br />

prescrito (5 dias úteis). O tempo necessário para analisar<br />

os problemas e realizar as audições numa organização<br />

complexa como é um hospital, não se compadece com as<br />

prescrições legislativas que abrangem toda a estrutura<br />

dos serviços públicos como se fossem todos, estruturalmente,<br />

iguais.<br />

O relatório do sistema Sim-Cidadão (Direção-Geral de<br />

Saúde, 20<strong>12</strong>) mostra que o tempo de espera nos Serviços<br />

de Urgência do SNS é a primeira causa (<strong>12</strong>,73%) das reclamações,<br />

seguida do tempo de espera para atendimento<br />

(7,76%) e da falta de cortesia (5,9%). Os resultados<br />

apresentados neste relatório são semelhantes aos encontrados<br />

por este trabalho. O gráfico de Pareto mostra que<br />

80,0% das dez causas mais frequentes das reclamações<br />

são o tempo de espera no Serviço de Urgência, as taxas<br />

moderadoras, a falta de cortesia e o tempo de espera para<br />

tratamento médico.<br />

Conclusão<br />

falta de cortesia atribuída aos profissionais é a<br />

A causa que pode ser resolvida com a melhoria dos<br />

processos de atendimento, reforçando-se os mecanismos<br />

de apoio ao controlo da tensão relacional entre os atores.<br />

Ocupa lugar de relevo (o 3.<strong>º</strong>) na análise das causas e deverá,<br />

pela sua natureza e dimensão, despertar ação pedagógica<br />

intrainstitucional na linha da humanização do agir<br />

que há de marcar o quotidiano hospitalar.<br />

A importância das reclamações enquanto mecanismo<br />

de participação dos utentes é ainda uma prática residual<br />

porque não se evidenciam mudanças significativas nos<br />

processos de produção hospitalar que devolvam ao utente,<br />

de forma evidente, a reparação da sua insatisfação,<br />

mesmo quando reconhecida. Mas cada uma das reclamações<br />

deverá merecer uma oportunidade, inadiável, de repensar<br />

procedimentos e diretrizes institucionais.<br />

Bibliografia<br />

Farias SA, Santos RC. “Modelagem de equações estruturais e satisfação do consumidor: uma investigação teórica e prática”. Revista de Administração<br />

Contemporânea. 2000;4(3).<br />

Direção-Geral de Saúde. Relatório Sistema Sim-Cidadão 2011. Lisboa: Ministério da Saúde; 20<strong>12</strong>.<br />

Cabete J, Lencastre A, Apetato M, Paiva Lopes MJ. “[Why are our patients claiming? Statistics from a dermatology clinic]”. Acta medica portuguesa.<br />

20<strong>12</strong>;25(5):265-70.<br />

Entidade Reguladora da Saúde. Sistema de <strong>Gestão</strong> de Reclamações - Síntese descritia do 1.<strong>º</strong> semestre de 2016. Lisboa: Entidade Reguladora da Saúde<br />

− Ministéro da Saúde; 2015.<br />

Despacho n.<strong>º</strong> 26/86, Diário da República, 2.ª série, 24 de Julho (1986).<br />

Diaz-Guzman J, Bermejo-Pareja F, Ruiz-Lopez PM. “[An analysis of complaints received in a Neurology Service]”. Revista de neurologia.<br />

2006;42(<strong>12</strong>):707-<strong>12</strong>.<br />

Anderson K, Allan D, Finucane P. “Complaints concerning the hospital care of elderly patients: a <strong>12</strong>-month study of one hospital’s experience”. Age<br />

and ageing. 2000;29(5):409-<strong>12</strong>.<br />

Reader T, Gillesppie A, Roberts J. “Patient complaints in healthcare systems: a systematic review and coding taxonomy”. BMJ quality & safety.<br />

2014(0):1-<strong>12</strong>.<br />

34


CAMINHO DOS HOSPITAIS<br />

11.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais chega ao Norte<br />

alentejano<br />

«10 Anos a Integrar Cuidados − Boas<br />

Práticas”<br />

Conhecer e discutir exemplos de boas práticas na<br />

área da integração de cuidados desenvolvidos no<br />

Norte Alentejano foi o objetivo de mais uma edição de Caminho<br />

dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH). O evento<br />

decorreu dia 19 de janeiro p.p., no Auditório do Hospital Dr.<br />

José Maria Grande (Portalegre), que integra a Unidade Local<br />

de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA).<br />

“10 Anos a integrar cuidados − Boas práticas”<br />

foi o tema desta 11.ª edição de Caminho dos Hospitais e tal<br />

deve-se ao facto da ULSNA, atualmente presidida por João<br />

Moura dos Reis, ter sido criada em março de 2007.<br />

A conferência sobre integração de cuidados, na qual foram<br />

apresentados projetos que potenciam as boas práticas<br />

entre os cuidados de saúde primários (CSP) e os cuidados<br />

hospitalares, contou com o seguinte painel de oradores: (i)<br />

Dr. João Moura Reis, Presidente da ULSNA, o qual enquadrou<br />

o tema geral e expôs a evolução da ULSNA na última<br />

década; (ii) Dr.ª Fátima Figueiredo, responsável pelo Programa<br />

de Telemedicina da ULSNA, abordou a experiência<br />

da telemedicina na ULSNA; (iii) Dr. Pedro Rodolfo, Diretor<br />

do Serviço de Produção da ULSNA, explanou o projeto<br />

REMEDI – Rentabilização da capacidade instalada da UL-<br />

SNA; (iv) Eng.<strong>º</strong> Bruno Silva, Diretor do Serviço de Sistemas<br />

e Tecnologias de Informação da ULSNA, versou sobre o<br />

projeto VIA VERDE MCDT, que contribuirá para melhorar<br />

a celeridade na resposta a meios complementares de<br />

diagnóstico e terapêutica (MCDT) no âmbito da consulta<br />

de recurso dos CSP, e sobre o projeto Follow-up + Saúde;<br />

(v) Dr.ª Vera Escoto, Diretora Clínica da ULSNA e (vi) Dr.<br />

Carlos Penalva Santos, Diretor do Serviço de Cirurgia do<br />

Hospital Santa Luzia de Elvas (HSLE) da ULSNA, os quais<br />

abordaram a hospitalização domiciliária, uma realidade<br />

que será implementada em breve na ULSNA.<br />

Como principais conclusões retiveram-se ” as seguintes<br />

mensagens:<br />

i) A telemedicina, nas suas variantes de teleconsulta,<br />

telemonitorização, telerrastreio e teleformação, é de facto<br />

um importante recurso que, ao nível da prática clínica,<br />

apresenta vantagens sobejamente reconhecidas. Note-se<br />

que no tocante à consulta de telemedicina, é indubitável<br />

o apoio direto dado pelo médico especialista hospitalar ao<br />

médico de Medicina Geral e Familiar, contribuindo para<br />

melhorar a comunicação entre os centros de saúde e os<br />

hospitais. Desta forma, a telemedicina consubstancia-se<br />

num exemplo de sucesso da promoção da integração de<br />

cuidados, a qual: (i) promove o acesso rápido a consultas<br />

de especialidade; (ii) reduz as desigualdades no acesso aos<br />

cuidados de saúde; (iii) permite um maior conforto e bem-<br />

-estar dos doentes, evitando que estes tenham de circular<br />

pelo País, repercutindo-se no aumento da sua satisfação;<br />

e (iv) permite a utilização mais eficiente dos recursos.<br />

ii) A par da telemedicina, outros projetos podem contribuir<br />

para promover uma melhor articulação e rentabilização<br />

dos recursos dos CSP e dos cuidados hospitalares.<br />

No caso da ULSNA, o REMEDI, projeto implementado em<br />

maio de 2016, é uma clara aposta para a melhoria da eficiência<br />

na gestão dos recursos disponíveis, pretendendo<br />

maximizar a capacidade instalada das instituições hospitalares<br />

(ao nível de recursos humanos e de equipamentos),<br />

automatizar tarefas e aumentar a qualidade da estrutura<br />

e dos processos (e.g. diminuir erros em processos<br />

administrativos). Trata-se, assim, de um projeto centrado<br />

no doente, que apoia o triador da instituição, organiza as<br />

tarefas na central de marcações, contribui para o cumprimento<br />

dos prazos, auxilia a rentabilização dos recursos da<br />

instituição, sendo um elemento facilitador para o clínico<br />

requisitante, bem como uma importante ferramenta de<br />

apoio à gestão.<br />

© JUST NEWS<br />

© JUST NEWS<br />

35


iii) Em termos de recursos humanos, a figura do enfermeiro<br />

de família potencia a implementação de projetos<br />

como o Follow-up + Saúde na ULSNA, o qual promove a<br />

proximidade com o doente através de um acompanhamento<br />

constante e personalizado, após a alta hospitalar,<br />

garantindo uma maior e mais adequada acessibilidade<br />

aos cuidados de saúde, evitando afluências de recurso<br />

desnecessárias. Assim, com projetos desta natureza, pretende-se<br />

reduzir a taxa de reinternamentos em 30 dias<br />

(na mesma categoria de diagnóstico), reduzir a taxa de<br />

readmissões nos serviços de urgência no prazo de 72 horas,<br />

reduzir o número de episódios de urgência com cor de<br />

triagem de Manchester branco, azul ou verde e reduzir a<br />

percentagem de utilizadores considerados híper-frequentadores<br />

dos serviços de urgência.<br />

© JUST NEWS<br />

iv) A acrescer aos projetos mencionados, refira-se a<br />

VIA VERDE MCDT (brevemente com experiências piloto<br />

na ULSNA), que pretende garantir uma maior equidade<br />

no acesso, “real time”, à informação clínica complementar<br />

no âmbito das consultas de recurso dos CSP, vertendo-se<br />

na maior aproximação aos CSP e na redução do número de<br />

episódios de urgência “não urgentes”.<br />

v) Por último, a hospitalização domiciliária é um dos<br />

exemplos de maior sucesso no âmbito da integração de<br />

cuidados, uma vez que possibilita prestar cuidados de<br />

saúde, de âmbito eminentemente hospitalar, a doentes de<br />

baixa complexidade que poderão receber o tratamento no<br />

domicílio. Com efeito, a hospitalização domiciliária conduz<br />

a benefícios inequívocos para os doentes, bem como para<br />

as instituições de saúde, resultando na melhoria da eficiência<br />

e reduzindo os efeitos adversos do internamento<br />

hospitalar, em concreto as infeções nosocomiais e alterações<br />

do estado de consciência. A ULSNA prevê iniciar o<br />

projeto em breve, aplicando-o aos doentes internados no<br />

Serviço de Medicina e à Unidade Funcional de Cirurgia do<br />

Ambulatório do HSLE.<br />

REPORTAGEM FOTOGRÁFICA:<br />

https://www.justnews.pt/galeria/album/11-caminho-dos-hospitais-10-anos-a-integrar-cuidados-boas-prticas<br />

Caminho dos Hospitais chegou a Vila<br />

Nova de Gaia<br />

As alternativas para lidar com o subfinanciamento<br />

foi um dos temas centrais da <strong>12</strong>.ª edição do Caminho<br />

dos Hospitais, que teve lugar no 2 de março no Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> Vila Nova de Gaia – Espinho, E.P.E. (CHVNGE),<br />

tendo-se abordado a questão da “Inovação e Sustentabilidade<br />

Clínica e Económica”. A conferência apresentou<br />

a estratégia do CHVNGE no Serviço Nacional de<br />

Saúde (SNS), bem como a sua gestão dos recursos humanos<br />

e aflorou as alternativas ao subfinanciamento do<br />

centro hospitalar, terminando com a apresentação de dois<br />

projetos inovadores para a sustentabilidade clínica e económica<br />

(experiência inovadora no serviço de urgência e<br />

hospitalização domiciliária).<br />

Foram vários os profissionais do centro hospitalar que<br />

quiseram participar nesta iniciativa, onde todos os elementos<br />

do Conselho de Administração, presidido por António<br />

Dias Alves, marcaram presença e se dispuseram a esclarecer<br />

dúvidas, trocar impressões e a ouvir as diferentes perspetivas<br />

sobre os temas em debate.<br />

© JUST NEWS © JUST NEWS<br />

36


© JUST NEWS<br />

© JUST NEWS<br />

Dinamizado pela Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH), o Caminho dos Hospitais é<br />

uma “iniciativa mensal de proximidade”. Tem vindo a ser<br />

implementada em vários pontos do país, procurando contribuir<br />

para “a partilha de casos práticos e soluções que promovam<br />

a integração de cuidados a nível hospitalar e com os<br />

centros de saúde e comunidade”.<br />

E porque no Caminho dos Hospitais se pretendem divulgar<br />

projetos que possam, porventura, ser replicados noutras<br />

instituições hospitalares, merece particular destaque<br />

o projeto renovador para o serviço de urgência polivalente/<br />

centro de trauma do CHVNGE. A aposta da instituição num<br />

projeto renovador da urgência consubstancia-se na perceção<br />

geral de que os profissionais exercem a sua atividade<br />

em condições que não potenciam as suas capacidades, o<br />

que implica, naturalmente, melhorar processos, para obter<br />

mais eficiência, melhor qualidade assistencial e tempo de<br />

resposta mais adequado.<br />

Poder-se-ia aludir a um clássico da Qualidade, Donabedian,<br />

dado que o projeto irá atuar na estrutura (e.g. mudança<br />

para novas instalações, envolvimento dos profissionais)<br />

e nos processos (e.g. melhorar a definição dos circuitos de<br />

fluxos de doentes, acompanhantes e profissionais), resultando<br />

na gestão mais eficiente dos recursos e na melhoria<br />

da qualidade dos cuidados.<br />

A implementação do projeto implica envolver e articular<br />

com os stakeholders, sobretudo a Administração Regional<br />

de Saúde do Norte, I.P. e o Agrupamento de Centros de Saúde<br />

(ACES) Gaia e Gaia/Espinho, sendo que do resultado da<br />

articulação com os CSP e das ações e sensibilização interna<br />

se pretendem reduzir os episódios indevidos. O projeto<br />

cruza-se, também, com a hospitalização domiciliária, com<br />

a orientação do doente crónico complexo, com a contribuição<br />

para a oferta de camas na rede nacional de cuidados<br />

continuados integrados, com a ambulatorização dos cuidados<br />

(e.g. “clínica do antibiótico”, unidade de tratamento de<br />

ambulatório médico, cuidados paliativos domiciliários) e<br />

com a maior oferta nas ações do hospital de dia. No entanto,<br />

é imprescindível que se capacitem os profissionais e a<br />

estrutura, fomentando uma cultura de melhoria contínua<br />

e qualidade (recorrendo à metodologia LEAN), para que se<br />

melhorem os circuitos e fluxos no serviço de urgência.<br />

Em resumo, a renovação do serviço de urgência irá contribuir<br />

para a literacia em saúde da população-alvo, melhorar<br />

a eficiência na utilização dos recursos, melhorar a qualidade<br />

nos indicadores de atividade assistencial, melhorar<br />

as condições de trabalho e satisfação dos profissionais e<br />

utentes.<br />

REPORTAGEM FOTOGRÁFICA: Centro <strong>Hospitalar</strong> Vila Nova de Gaia/Espinho<br />

https://www.justnews.pt/galeria/album/caminho-dos-hospitais-em-vilanova-de-gaia<br />

© JUST NEWS<br />

© JUST NEWS<br />

37


Portugal recebe o maior<br />

congresso europeu de<br />

gestores hospitalares<br />

EAHM <strong>2018</strong><br />

Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) e a European<br />

A<br />

Association of Hospital Managers (EAHM) estão<br />

há 2 anos a organizar a 27ª edição do Congresso da<br />

EAHM (EAHM<strong>2018</strong>) que decorrerá no Centro de Congressos<br />

do Estoril, nos próximos dias 26 a 28 de setembro.<br />

Esta iniciativa vai trazer a Portugal um dos fóruns<br />

internacionais que mais especialistas em gestão de<br />

serviços de saúde reúne, sendo esperados cerca de 500<br />

profissionais da gestão em saúde, dos quais decisores políticos,<br />

investigadores, líderes e gestores de instituições<br />

de saúde, oriundos de mais de 30 países, com particular<br />

relevo para a presença europeia, mas também do continente<br />

americano, Ásia e África.<br />

Durante a última década estivemos mais concentrados<br />

em responder às expetativas das pessoas, adotando<br />

novas tecnologias, obtendo eficiências organizacionais<br />

internas e assegurando a sustentabilidade financeira.<br />

Em algum momento a melhoria da saúde da população<br />

que servimos foi colocada em segundo plano. Além disso,<br />

apesar do alto nível de sofisticação que alcançamos,<br />

os nossos processos estão organizados como eram há 50<br />

anos e o modelo de negócios é cada vez mais visto como<br />

não confiável, inseguro e propenso a erros.<br />

Devemos ter em mente que os desafios que enfrentamos<br />

como indústria (por exemplo, a mudança demográfica,<br />

o ritmo da inovação tecnológica, as mudanças nas expetativas<br />

dos cidadãos e a crescente pressão financeira)<br />

não podem ser respondidos somente por nós e que, para<br />

superá-los, precisamos envolver outros parceiros da rede<br />

de assistência social e de saúde. Mais do que nunca, os<br />

Sistemas de Saúde precisam de hospitais adaptados às<br />

exigências do futuro, sendo a liderança dos seus gestores<br />

mais crucial que nunca.<br />

Sob o lema “Redefining the Role of Hospitals - Innovating<br />

in Population Health”, o congresso será um momento<br />

privilegiado de debate e partilhas de experiências sobre o<br />

papel das instituições hospitalares enquanto agentes ativos<br />

na construção de soluções conjuntas com o ecossistema<br />

social, educação e dinâmica económica, por forma a<br />

assegurar a efetiva gestão das necessidades em saúde da<br />

população.<br />

No decurso do EAHM<strong>2018</strong> será dado especial destaque:<br />

> Ao desenvolvimento de um sistema centrado nas<br />

necessidades e satisfação do cidadão;<br />

> À identificação e implementação de modelos, soluções,<br />

metodologias e processos de integração vertical e<br />

horizontal de cuidados de saúde;<br />

> À implementação de modelos e soluções inovadoras<br />

de prestação de cuidados de saúde com recursos às novas<br />

tecnologias nas áreas do diagnóstico, terapêutica, digital,<br />

comunicação, big data, inteligência artificial, etc.;<br />

> À procura de soluções que assegurem a sustentabilidade<br />

do(s) Sistema(s) de Saúde;<br />

> À necessidade de liderança e gestão da mudança que<br />

permitam a obtenção de resultados de saúde adaptados<br />

às necessidades e dinâmicas populacionais e de gestão da<br />

doença.<br />

O programa do EAHM<strong>2018</strong> inclui uma oferta diversificada<br />

de atividades que contemplam:<br />

> 5 sessões plenárias com os keynote speakers: i) Jan-<br />

-Philipp Beck (EIT Health), ii) Mark Pearson (OCDE), iii) Nirav<br />

Shah (Stanford University), iv) Rafael Bengoa 1 (Institute for<br />

Health & Strategy) e v) Carl Savage (Karolinska Institutet);<br />

> 18 mesas redondas, coorganizadas com 16 entidades<br />

de referência internacional (vide tabela);<br />

> 3 Workshops desenvolvidos com o apoio da Comissão<br />

Europeia sobre: i) fundo europeu para investimentos estratégicos,<br />

ii) contratos pré-comerciais (PCP) e contratação<br />

pública de soluções inovadoras (PPI) e iii) horizonte 2020;<br />

> 5 Cursos pré (n=3) e pós-congresso (n=2) em parceria<br />

com a IESE Business School e EIT Health dedicados aos temas:<br />

i) desenvolver líderes transformacionais, ii) projetar<br />

estruturas organizacionais centradas no cidadão, iii) inovação<br />

centrada no cidadão, iv) pensamento integrativo do<br />

ecossistema da saúde e v) liderança empática e positiva;<br />

>Apresentação de comunicações orais e posters submetidos<br />

ao EAHM<strong>2018</strong>, com atribuição de prémio de me-<br />

1 Aguarda confirmação.<br />

38


lhor apresentação oral e melhor poster, incluíndo a publicação<br />

dos abstracts em suplemento especial da Portuguese<br />

Journal of Public Health (PJPH).<br />

Durante o EAHM<strong>2018</strong>, diversas visitas técnicas serão<br />

realizadas no dia 26 de setembro, designadamente: i) Hospital<br />

Dr. José de Almeida em Cascais, ii) Centro de Atendimento<br />

do SNS, iii) visita fábrica Tecnimede, entre outras a<br />

divulgar oportunamente.<br />

Em paralelo com a organização do EAHM<strong>2018</strong>, a APAH<br />

irá promover a 26 de setembro o 1.<strong>º</strong> workshop de gestão<br />

em saúde na Comunidade de Países de Língua Portuguesa<br />

(CPLP), iniciativa que conta com o apoio do Instituto de<br />

Higiene e Medicina Tropical (IHMT) e AICEP (Agência para<br />

o Investimento e Comércio Externo de Portugal).<br />

A organização do EAHM<strong>2018</strong> convidou, também, a<br />

indústria e empresas do setor a compartilharem os seus<br />

conhecimentos, experiências e soluções, possibilitando<br />

a realização de simpósios. Em simultâneo, a Agência Nacional<br />

de Inovação (ANI), membro da Enterprise Europe<br />

Network (EEP) da Comissão Europeia, juntou esforços<br />

com a APAH na organização de um evento de corretagem<br />

(Brokerage Event) no âmbito do EAHM<strong>2018</strong>. Esta<br />

será uma oportunidade para reunir as principais partes<br />

interessadas do setor de saúde, empreendedores, investidores,<br />

instituições e gestores através da dinamização<br />

de reuniões bilaterais com especial foco em: i) soluções<br />

digitais em saúde, ii) medicina personalizada, iii) sistemas<br />

integrados de gestão de cuidados, iv) soluções de autonomia<br />

e cuidados domiciliários, v) monitorização remota de<br />

doentes, vi) robótica e inteligência artificial, vii) dispositivos<br />

médicos e viii) big data e modelos de decisão preditiva.<br />

Ainda na componente de dinamização económica, o<br />

EAHM<strong>2018</strong> promove, com a Steinbeis Europa e o apoio<br />

da Comissão Europeia, um eHealth Hub Roadshow. Esta<br />

iniciativa contempla a submissão de candidaturas de PME<br />

europeias à apresentação de soluções, recolha de contributos<br />

e investimentos perante um Comité de Peritos que<br />

integram um painel diversificado de CEO de entidades de<br />

saúde europeias.<br />

Para os gestores de serviços de saúde, o EAHM<strong>2018</strong><br />

apresenta-se como um momento único para debater<br />

questões com impacto relevante no setor hospitalar e da<br />

saúde, para partilhar boas práticas e, sobretudo, receber<br />

informação e conhecimento que contribuam para elevar o<br />

desempenho das suas organizações.<br />

Mesa-Redonda<br />

Melhoria contínua da qualidade<br />

Papel dos hospitais na integração de cuidados para pessoas idosas<br />

Uma melhor combinação de “skills mix” para um atendimento mais centrado<br />

no cidadão<br />

Implementação de promoção de saúde centrada no cidadão<br />

A adoção de tecnologias para integrar cuidados<br />

Transformações nos hospitais para assegurar serviços de saúde integrados e<br />

centrados nas pessoas<br />

Novos hospitais através de cuidados de saúde baseados em valor<br />

Liderança em saúde mental: 4 prioridades para inovação centrada no cidadão<br />

Como transformar o Big data em melhor saúde<br />

Medicina de precisão para melhores resultados para os doentes<br />

Medicina ambulatória major<br />

Eficiência <strong>Hospitalar</strong>: abordando questões de qualidade e adequação<br />

Envelhecimento e mudança de saúde bem-sucedida<br />

Adaptar os métodos de pagamento à evolução das necessidades de saúde e<br />

à arquitetura do(s) sistema(s): desafios e oportunidades<br />

Parcerias de partilha de risco<br />

A gestão em saúde baseada em competências profissionais: como assegurar<br />

esta abordagem?<br />

Que estratégias para a redução do desperdício?<br />

As competências de gestão e liderança são importantes para uma mudança<br />

na gestão e inovação nos cuidados de saúde<br />

Entidade Co-organizadora<br />

Institute for Healthcare Improvement (IHI)<br />

International Foundation for Integrated Care (IFIC)<br />

European Association of Senior Hospital Physicians (AEMH)<br />

The International Network of Health Promoting Hospitals and Health<br />

Services (HPN)<br />

Healthcare Information and Management Society (HIMSS)<br />

World Health Organization (WHO)<br />

International Consortium for Health Outcomes Measurement (ICHOM)<br />

EAHM Sub-Committee for Mental Health<br />

European Institute of Innovation & Technology (EIT Health)<br />

European Hospital and Healthcare Federation (HOPE)<br />

European Federation of Internal Medicine (IFIM)<br />

European Health Economics Association (EuHEA)<br />

European Health Management Association (EHMA)<br />

World Health Organization (WHO)<br />

European Federation of Pharmaceutical Industries and Associations (EFPIA)<br />

International Hospital Federation (IHF)<br />

Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD)<br />

IESE Business School<br />

39


CONFERÊNCIAS DE VALOR APAH<br />

CONFERÊNCIAS VALOR APAH <strong>2018</strong><br />

4.ª CONFERÊNCIA discutiu o acesso<br />

à urgência e continuidade hospitalar<br />

E o setor social<br />

Ciclo de Conferências de Valor APAH nasce da<br />

O aposta na organização de iniciativas que promovam<br />

a criação de valor através da análise de tópicos atuais<br />

e determinantes para o futuro dos hospitais e dos sistemas<br />

de saúde. Direcionada a todos os profissionais ligados<br />

à gestão em saúde, a iniciativa fomenta a partilha de boas<br />

práticas e a procura de novas abordagens e respostas para<br />

os desafios do setor.<br />

À semelhança das edições de 2017, o Ciclo de Conferências<br />

<strong>2018</strong> dará continuidade ao círculo virtuoso de conhecimento<br />

e partilha,sendo composto por duas conferências:<br />

> Modelos de <strong>Gestão</strong> de Acesso à Urgência e Continuidade<br />

<strong>Hospitalar</strong> - Viseu, 16 e 17 de março;<br />

> Modelos de Liderança e <strong>Gestão</strong> da Mudança em Saúde<br />

− Tomar, 8 e 9 de junho.<br />

Os desafios e oportunidades associados aos “Modelos<br />

de gestão do acesso à urgência e continuidade de<br />

cuidados” foram o tema central da 4ª Conferência de<br />

VALOR APAH, que decorreu em Viseu a 16 e 17 de março<br />

de <strong>2018</strong>. O evento promovido pela APAH reuniu os responsáveis<br />

de inúmeras entidades e instituições nacionais,<br />

assim como um vasto painel de oradores nacionais e internacionais<br />

e parceiros do setor.<br />

A 4.ª Conferência de VALOR APAH foi presidida por<br />

Pedro Lopes, administrador hospitalar do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

e Universitário de Coimbra, E.P.E., anterior Presidente<br />

da APAH e atual Presidente da Mesa da Assembleia-Geral.<br />

Na sua intervenção de abertura da Conferência, Pedro Lopes<br />

referiu que “o Serviço de Urgência é hoje o reflexo da<br />

sociedade de contradições em que vivemos, um serviço de<br />

acesso universal por excelência onde, sem agendamento,<br />

todos procuram respostas para as nossas vulnerabilidades<br />

físicas e mentais. Não importa a espera pois sabemos que<br />

ali nos aguarda a sofisticação médica e tecnológica que<br />

nos irá diminuir a angústia da qual padecemos.”. Contextualizando<br />

o problema, o Presidente da Conferência salientou<br />

que “Hoje mais de 40% dos episódios de urgência<br />

correspondem a prioridades verde/azul/branca, as quais<br />

poderiam ser atendidas ao nível dos cuidados primários.<br />

Contudo não existe, ainda, uma cobertura de médicos de<br />

família em algumas regiões do país e os horários de atendimento<br />

dos Centros de Saúde estão desarticulados das<br />

necessidades de uma sociedade ativa além de não terem<br />

ainda estabelecido uma relação de confiança e resolutividade<br />

com a população.” Em paralelo, “em 2016, 8,2% de<br />

todos os atendimentos nas urgências resultaram em internamento.<br />

Este fenómeno de maior necessidade de internamento<br />

cria maior pressão sobre os internamentos médicos,<br />

resultando em tempos de permanência no Serviço de<br />

Urgência em muitas situações exagerados e em condições<br />

inadequadas a par com um envelhecimento populacional e<br />

40


uma crescente prevalência de doenças crónicas.”. Lançando<br />

o desafio aos participantes da Conferência, Pedro Lopes<br />

reforçou a necessidade de serem encontradas respostas<br />

inovadoras em articulação com o setor social no desenvolvimento<br />

de soluções conjuntas integradas.<br />

O programa da 4.ª Conferência de VALOR APAH teve<br />

início com a APAH TALKS dedicada aos “Modelos de<br />

gestão de Serviços de Urgência”. As palestras estiveram<br />

a cargo de Modoaldo Garrido Martin, Vice-Presidente<br />

da Sociedad Española de Directivos de la Salud (SEDISA)<br />

e Diretor Gerente do Hospital Universitário da Fundación<br />

Alcorcón (Espanha) e de William McKee, Fundador e<br />

antigo Presidente do Belfast Health and Social Care Trust<br />

(Irlanda do Norte).<br />

Na sua intervenção, Modoaldo efetuou uma extensa<br />

descrição dos principais recursos em saúde disponíveis na<br />

PEDRO LOPES<br />

Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />

GH: Qual é a sua opinião sobre estas conferências?<br />

O objetivo central é falarmos de urgência.<br />

Acha que é um tema atual e pertinente?<br />

PL: Em primeiro lugar, quero dizer que estas conferências<br />

são excecionais. Foi uma novidade que o<br />

meu Presidente introduziu, com a minha experiência<br />

e com as experiências dos Presidentes anteriores,<br />

achamos que realmente estas conferências são<br />

muito boas. As conferências também têm abordado<br />

matérias extremamente importantes, fraturantes e<br />

difíceis como é o caso da urgência na conferência de<br />

hoje.<br />

GH: Acha que deveria haver uma comunicação<br />

maior entre os administradores de diferentes<br />

hospitais, contribuindo para um trabalho<br />

conjunto? Ou acha que já acontece?<br />

PL: O papel da nossa Associação é esse mesmo, é<br />

trazer aqui todos os administradores, penso que<br />

os administradores se encantonam muito nos seus<br />

hospitais discutem as matérias nos seus hospitais,<br />

e às vezes nem sempre as discutem. Era bom que<br />

o fizessem nos seus hospitais, nos vários hospitais,<br />

mas não podendo ser assim, então, que o façam<br />

neste fórum onde são colocadas e onde se procura<br />

dar soluções para os problemas. É aqui que os administradores<br />

devem ouvir,<br />

dar ideias, dar<br />

sugestões para<br />

levarmos daqui<br />

algumas soluções.<br />

Comunidade de Madrid, bem como do seu funcionamento,<br />

salientando o enfoque necessário na coordenação desta<br />

grande estrutura de serviços ao nível da resposta de<br />

emergência em articulação com os cuidados primários e<br />

hospitalares. Para o gestor é inegável que o principal motor<br />

de mudança é, sobretudo, a aposta na resolução dos<br />

problemas a montante dos serviços de urgência.<br />

Já William McKee partilhou com os presentes uma<br />

comparação entre o Reino Unido e Portugal ao nível de<br />

diferentes indicadores demográficos e organizacionais e<br />

salientou o desempenho menos positivo que o NHS britânico<br />

tem apresentado, face ao desinvestimento levado a<br />

cabo nos últimos anos. Na sua palestra, William apresentou<br />

alguns exemplos sobre o modo como o NHS da Irlanda<br />

do Norte tem feito reformas para alcançar melhorias na<br />

integração de cuidados de saúde e respostas sociais, nomeadamente<br />

ao nível das suas estruturas de prestação<br />

de cuidados e na utilização de unidades de avaliação clínica<br />

para trauma e na implementação de salas de controlo<br />

central para avaliar a ocupação de camas em tempo real,<br />

permitindo, deste modo, a gestão integrada entre as três<br />

principais regiões da Cidade de Belfast. Finalmente, William<br />

ressalvou que para assegurar a reforma do sistema é necessário<br />

que se estabeleça uma “Liderança integrativa”<br />

envolvendo os líderes da comunidade.<br />

No decurso do jantar de trabalho da Conferência, a<br />

APAH homenageou três administradores hospitalares:<br />

Júlio Reis (Sócio fundador n.<strong>º</strong> 11), Maria Helena Reis<br />

Marques (Sócio n.<strong>º</strong> 74), e, a título póstumo, Antonio<br />

Domingues Ferreira Guine (Sócio n.<strong>º</strong> <strong>12</strong>8), pelos distintos<br />

serviços prestados à profissão e ao Serviço Nacional<br />

de Saúde (SNS). Na ocasião, também a Secretária de<br />

Estado da Saúde, Rosa Matos, defendeu que cabe a todos,<br />

tendo como exemplo os homenageados, trabalhar na procura<br />

contínua de soluções que respondam aos desafios<br />

atuais e futuros do património que é o SNS.<br />

No sábado, Alexandre Lourenço abriu o segundo dia da<br />

Conferência com a apresentação dos resultados finais<br />

do 2.<strong>º</strong> Barómetro de Internamentos Sociais (BIS).<br />

Esta iniciativa da APAH, desenvolvida com o suporte técnico<br />

da EY e tecnológico da Microsoft, conta desde a sua<br />

1.ª edição com o apoio institucional do Ministério da Saúde<br />

e tem por objetivo monitorizar periodicamente o fenómeno<br />

dos internamentos inapropriados, permitindo a sua<br />

quantificação e o desenvolvimento de ações conjuntas<br />

para minimização do seu impacto.<br />

À data da recolha dos dados do 2.<strong>º</strong> BIS, a 19 de fevereiro<br />

de <strong>2018</strong>, 960 camas, o equivalente a 6% do total<br />

das camas disponíveis, em 74% dos hospitais SNS, eram<br />

ocupadas com internamentos inapropriados, predominantemente<br />

justificados pela falta de resposta na rede de<br />

cuidados continuados. Para a generalidade dos hospitais<br />

auscultados, a média de internamento inapropriado está<br />

41


LUÍS CAMPOS<br />

Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa<br />

de Medicina Interna<br />

GH: Qual a sua opinião relativamente à realização<br />

destas jornadas, qual é a importância que<br />

vê nesta comunicação entre os diferentes administradores,<br />

médicos, enfermeiros? Considera<br />

importante haver este diálogo conjunto?<br />

LC: Sem dúvida, eu acho que a Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es está de<br />

parabéns porque tem conseguido, ao longo destas<br />

jornadas, trazer a debate temas que são importantíssimos<br />

para o futuro dos cuidados de saúde em<br />

Portugal e que têm estado escondidos, como sejam<br />

os casos sociais e as alternativas à urgência.<br />

Os casos sociais, como se tem visto, são altamente<br />

prevalentes como consequência de uma população<br />

idosa e da falta de uma capacidade de soluções fora<br />

dos serviços de saúde, e têm-se acumulado e vão<br />

crescendo dentro dos hospitais. Isso implica a cada<br />

vez maior prestação de cuidados de longa duração,<br />

e nós somos dos países europeus que tem menos<br />

camas de cuidados de longa duração, mas acima de<br />

tudo cada vez é mais difícil separar os problemas<br />

de saúde dos problemas sociais e temos que ter um<br />

pensamento conjunto e uma integração entre o setor<br />

social e o setor dos problemas de saúde.<br />

Em relação às urgências e alternativas à urgência a<br />

sociedade portuguesa de medicina interna está perfeitamente<br />

alinhada com este esforço. Nós temos as<br />

urgências como o espelho das disfunções do sistema,<br />

a montante, a jusante no serviço de urgência no próprio<br />

sistema, é um problema complexo, não tem uma<br />

solução simples e, portanto, temos que ter um conjunto<br />

de ações que pretendem melhorar esta situação.<br />

A nível do afluxo de doentes à urgência somos o<br />

país europeu onde se recorre mais às urgências, sete<br />

em cada dez cidadãos recorrem às urgências por ano,<br />

é o valor mais elevado na Europa, temos que diminuir<br />

este número... Não sabemos porque motivo isto<br />

acontece, poderá ser por razões de conveniência, por<br />

estar perto, por ter especialistas, porque tem exames,<br />

porque está aberto 24 horas por dia.<br />

nos 67 dias, o que corresponde a uma despesa estimada<br />

de 26,3 milhões de euros. A extrapolação deste valor para<br />

um ano dos internamentos inapropriados estima um impacto<br />

de 100 milhões de euros para o Estado.<br />

O 2.<strong>º</strong> BIS revelou ainda que os episódios de internamentos<br />

sociais são, maioritariamente, de origem médica<br />

(72%) e que o género feminino está em maioria com uma<br />

percentagem de 56%. Quando às idades, 22% correspondem<br />

a pessoas entre os 18 e os 65 anos, 36% referem-se<br />

ao intervalo entre os 65 e os 80 anos e 41% dizem respeito<br />

a internamentos de utentes com mais de 80 anos, sendo<br />

que apenas 1% respeita a pessoas com idade inferior a 18<br />

anos. Os resultados finais do 2.<strong>º</strong> BIS estão disponíveis para<br />

consulta no website da APAH em https://apah.pt/iniciativas-projetos/barometro-de-internamentos-sociais/<br />

No comentário aos resultados finais do 2.<strong>º</strong> BIS, Luís<br />

Campos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina<br />

Interna (SPMI), destacou a preocupação crescente que<br />

se vive hoje nos hospitais com este tipo de doentes e de<br />

como a evolução da população portuguesa poderá levar a<br />

uma crescente agudização deste problema. Já Armandina<br />

Carmo Antunes, Enfermeira Diretora do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

de Lisboa Central, E.P.E. (CHLC), deu especial enfoque aos<br />

riscos associados aos internamentos prolongados, quer<br />

do ponto de vista clínico quer social, e à capacidade/incapacidade<br />

para reabilitar os doentes.<br />

De seguida, iniciou-se a Sessão I, com o tema “Dinâmicas<br />

de eficiência na gestão da urgência”, que<br />

contou com uma palestra a cargo de Xavier Corbella,<br />

Secretário-Geral da European Federation of Internal Medicine<br />

(EFIM). Na sua intervenção, Xavier Corbella trouxe-<br />

-nos uma visão de como evoluiu o seu Serviço de Urgência<br />

no Hospital de Bellvitge em Barcelona, e do esforço desenvolvido<br />

para repensar a sua forma de funcionar, com especial<br />

foco nos fatores internos. Na sua opinião, dos fatores<br />

essenciais para o sucesso na resolução dos problemas que<br />

tradicionalmente assolam os serviços de urgência, destaca<br />

os seguintes: i) necessidade permamente de colaboração<br />

entre profissionais de saúde, gestores e políticos; ii) centralização<br />

da gestão de camas; iii) integração entre cuidados<br />

de saúde e cuidados sociais; iv) importância da aposta na<br />

hospitalização domiciliária, e v) necessidade de redesenhar<br />

os processos e cuidados apostando no desenvolvimento de<br />

um modelo de ambulatorização dos cuidados de medicina.<br />

A moderação desta Sessão esteve a cargo de Delfim<br />

Rodrigues, Presidente do Conselho de Administração do<br />

Hospital Senhora da Oliveira Guimarães, E.P.E. e contou,<br />

também, com a participação de um painel de distintos<br />

comentadores entre os quais se incluiram António Dias<br />

Alves (Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> de Vila Nova de<br />

Gaia/Espinho, E.P.E.), Armandina do Carmo Antunes (Enfermeira<br />

Diretora do CHLC), Célia Cravo (Vogal Executiva<br />

do Centro <strong>Hospitalar</strong> do Baixo Vouga, E.P.E.), Luís Amaro<br />

42


(Diretor Executivo do Agrupamento Centros de Saúde<br />

Almada-Seixal) e Luís Campos (Presidente da SPMI), de<br />

onde se destacam as seguintes ideias: i) deve existir um<br />

trabalho dedicado aos utilizadores frequentes dos Serviços<br />

de Urgência, que incluam o desenvolvimento de programas<br />

locais que trabalhem de forma pró-ativa por forma<br />

a evitar as vindas sucessivas à urgência; ii) deve ser<br />

dada particular atenção aos doentes crónicos e à forma<br />

como devem ser abordados, nomeadamente ao nível de<br />

projetos de hospitalização domiciliária e iii) deve ser reforçada<br />

a importância da liderança na definição de estratégias<br />

para as áreas de urgência.<br />

A Sessão II foi dedicada às “Equipas dedicadas no<br />

serviço de urgência” e teve como moderador Cílio Correia,<br />

Presidente do Conselho de Administração do Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> Tondela-Viseu, E.P.E.. Esta Sessão contou com<br />

a palestra de José Artur Paiva, Diretor Clínico do Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> de São João, E.P.E. (CHSJ) que, na ocasião, partilhou<br />

com os presentes que o seu hospital tem um Serviço<br />

de Urgência com um modelo dedicado desde 2005 que<br />

permitiu reduzir custos, aumentar produtividade, melhorar<br />

indicadores assistenciais, implementar intervenções<br />

de melhoria de qualidade e libertar recursos humanos<br />

para outras atividades hospitalares relevantes. Artur<br />

Paiva demostrou que o modelo dedicado de recursos humanos<br />

tem o suporte dos peritos, tem sustentabilidade<br />

legislativa e as suas vantagens estão documentadas e<br />

suportadas em evidência. Embora o modelo dedicado devesse<br />

ser disseminado progressiva e gradativamente, ele<br />

está implementado em relativamente poucos Serviços de<br />

Urgência. O grande bloqueio a esta disseminação decorre<br />

da ausência de uma sólida metodologia de recrutamento,<br />

regulada centralmente e executada localmente.<br />

Do painel de comentadores desta sessão participaram:<br />

Fernando Regateiro, Coordenador Nacional para a Reforma<br />

dos Cuidados de Saúde <strong>Hospitalar</strong>es; Ana Paula Gonçalves,<br />

Presidente do Conselho de Administração do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

e Universitário do Algarve, E.P.E.; Margarida Ornelas,<br />

Vogal Executiva do Centro <strong>Hospitalar</strong> Entre-Douro e Vouga,<br />

E.P.E. e Maria José Costeira, Diretora Clínica do Hospital<br />

Senhora da Oliveira Guimarães, E.P.E.. Refira-se que todos<br />

foram unânimes em ressalvar a atual falta de autonomia<br />

de gestão por parte dos hospitais e a necessidade de regulação<br />

de estatuto, formação e carreira pela Ordem dos Médicos,<br />

bem como a necessidade de criação de metodologias<br />

de remuneração acrescida de médico “emergencista”.<br />

Por fim, a última Sessão moderada por Rita Perez,<br />

Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> de Lisboa Ocidental, E.P.E.<br />

teve como foco a gestão de um serviço de urgência<br />

de elevado desempenho e contou com, como convida-<br />

43


da principal e proveniente de Inglaterra, Marion Collict, Diretora<br />

de Operações, Risco e Governace do Luton & Dunstable<br />

Hospital NHS Foundation Trust, instituição que<br />

atinge desde 20<strong>12</strong> o objetivo de atendimento e alta em 4<br />

horas de todos os doentes no Serviço de Urgência. Para a<br />

gestora, os principais desafios para a reforma do serviço<br />

de urgência são a necessidade de assegurar modelos de<br />

liderança assentes numa cultura de segurança global ao<br />

nível de todo o hospital e uma atitude de autoeficácia por<br />

parte de todos os colaboradores. Em paralelo, deve ser assegurado<br />

um forte investimento em infraestrutura, pessoas<br />

e sistemas de informação adequados, de preferência<br />

aqueles que permitam monitorização em tempo-real. A<br />

sessão contou também com o comentário de António<br />

Marques, Diretor de Departamento do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

do Porto, E.P.E.; Daniel Ferro, Presidente do Hospital Garcia<br />

de Orta, E.P.E.; Francisco Velez Roxo, Presidente do Hospital<br />

Prof. Doutor Fernando Fonseca, E.P.E.; João Ferreira,<br />

Presidente do Hospital de Braga, P.P.P..<br />

Nesta edição das Conferências VALOR demos início a<br />

uma sessão dedicada à Inovação na Prestação de Cuidados<br />

de Saúde (APAH Sharks), cujo objetivo visa a<br />

divulgação de soluções tecnológicas que possam suportar<br />

a melhoria na prestação de cuidados de saúde. Tivemos<br />

oportunidade de assistir a 4 apresentações de soluções<br />

inovadoras em campos como a analítica de dados (Meliora<br />

Urgências – Prologica), a geo-referenciação (Sistema<br />

de localização e navegação de interiores para Hospitais e<br />

grandes estruturas – Buzzstreets), a prevenção de quedas<br />

(Prevenção de quedas em contexto de ligação às Urgências<br />

– Fraunhofer Portugal AICOS) e a monitorização de<br />

sinais vitais (HELP- Health Emergency Localisation – Sensing<br />

Future). A 1.ª APAH Sharks foi moderada por Cílio Cor-<br />

DELFIM RODRIGUES<br />

PCA Hospital da Senhora da Oliveira, Guimarães E.P.E.<br />

GH: Como vê estas conferências e a pertinência<br />

do tema que foi abordado?<br />

DR: Estas conferências têm um sentido e uma missão<br />

que são muitos pertinentes nos dias que correm em<br />

ambiente de saúde. Estamos habituados a ver sessões<br />

de saúde muito centradas numa só profissão:<br />

nos médicos, nos enfermeiros, etc... E, esse salto qualitativo<br />

que a Direção da APAH, com a liderança do Alexandre,<br />

providenciou é que pela primeira vez temos<br />

de facto conferências em que discutimos temas que<br />

são do interesse global que não dizem respeito só aos<br />

médicos, dizem respeito a todos os profissionais e,<br />

acima de tudo, dizem respeito aos cidadãos e estamos<br />

a fazê-lo em conjunto. É como dizia William McKee:<br />

"isto é que é o verdadeiro<br />

serviço de<br />

liderança, que é<br />

trabalhar em conjunto,<br />

numa direção,<br />

e encontrar<br />

resultados."<br />

reia, Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> Tondela-Viseu, E.P.E.<br />

e teve como comentadores um painel de distintos jovens<br />

administradores hospitalares (Catarina Arizmendi, Joana<br />

Cunha, Júlio Pedro, Sandra Gil e Xavier Barreto).<br />

Como conclusões da 4.ª Conferência de VALOR foi con-<br />

44


ROSA VALENTE MATOS<br />

Secretária de Estado da Saúde<br />

Nós todos somos profissionais do Serviço Nacional de Saúde... As nossas Instituições<br />

são Instituições de uma grande empresa que é o Serviço Nacional de Saúde<br />

e temos de ter essa capacidade de ver o todo. Trabalhamos todos em prol daquilo<br />

que é, e deve ser e nos deve honrar, que é o Serviço Nacional de Saúde...<br />

Portanto, também temos que fazer o nosso trabalho de casa e deixar de pensar em<br />

pequenino e começar a pensar em grande...<br />

O tema desta conferência é muito atual e é um facto: nós temos um problema de<br />

acesso. É o nosso grande problema atualmente. Temos, muitas vezes, o que é programado<br />

junto com aquilo que não é programado, ou seja, nós temos as nossas<br />

consultas, as nossas cirurgias e depois ao lado temos o nosso Serviço de Urgência...<br />

Temos que o trabalhar.<br />

sensual que temos de evoluir no sentido de garantir uma<br />

efetiva integração de cuidados, a montante e a jusante<br />

dos serviços de urgência, e em paralelo devem ser estabelecidas<br />

pontes com o setor social por forma a assegurar<br />

as respostas adequadas. Ao nível organizacional ficaram<br />

demonstradas as vantagens dos modelos de equipas<br />

dedicadas ao serviço de urgência a par com o desenvolvimento<br />

de um modelo de ambulatorização dos cuidados<br />

de medicina. Para que esta mudança ocorra deverá haver<br />

uma aposta da tutela para que sejam dados os passos necessários<br />

à sua implementação generalizada. Finalmente,<br />

para que toda esta mudança possa acontecer, exige-se<br />

liderança a todos os níveis, garantindo a necessária autonomia<br />

da gestão.<br />

À semelhança das edições passadas, fruto das conclu-<br />

sões destas conferências, a APAH tem vindo a apresentar<br />

diagnósticos de situação e medidas concretas para a melhoria<br />

da organização e gestão dos cuidados de saúde em<br />

Portugal e que integram a agenda do Ministério da Saúde<br />

e de outros parceiros do sistema, motivo pelo qual a APAH<br />

mantém a aposta nas Conferências de VALOR, na certeza<br />

de que são um valioso contributo para ajudar a que a<br />

mudança possa avançar e definir os seus moldes. O ciclo<br />

de Conferências VALOR APAH <strong>2018</strong> tem como parceiros a<br />

Roche, Janssen e Novartis.<br />

REPORTAGEM FOTOS PARA A Reportagem da 4.ª conferência de<br />

VALOR APAH em: https://www.justnews.pt/galeria/album/4-<br />

-conferencia-de-valor-da-apah<br />

45


Diagnóstico sobre a<br />

utilização da Contabilidade<br />

Analítica nos Hospitais<br />

Públicos Portugueses<br />

HELENA RODRIGUES<br />

Auditora para o investimento<br />

do CHTMAD, E.P.E.<br />

RUI SANTANA<br />

Sub-Diretor da Escola<br />

Nacional de Saúde<br />

Pública (ENSP-NOVA)<br />

contabilidade analítica tem como objetivo fornecer<br />

A informação de natureza económica para permitir<br />

um processo de tomada de decisões com o menor grau<br />

de risco associado. De entre as diferentes utilidades que<br />

apresenta a informação sobre os custos ocorridos numa<br />

perspetiva interna hospitalar, destacam-se o planeamento,<br />

o controlo de gestão, a fixação de preços, avaliação de<br />

desempenho bem como a criação de valor em saúde1-5.<br />

Trata-se de uma ferramenta muito relevante para a gestão<br />

de organizações de saúde, seja no plano operacional<br />

ou estratégico6-9.<br />

Em Portugal, a primeira tentativa de normalização da<br />

contabilidade analítica nos hospitais pertencentes ao Serviço<br />

Nacional de Saúde (SNS) ocorreu com a instituição do<br />

Plano de Contabilidade Analítica dos Hospitais (PCAH), o<br />

qual se baseia essencialmente, tal como a atual Norma<br />

Internacional de Contabilidade (NCP) 27 – Contabilidade<br />

de <strong>Gestão</strong> do Sistema de Normalização Contabilística na<br />

Administração Pública (SNC – AP), na aplicação de métodos<br />

de custeio mais tradicionais. Ao longo dos anos, outras<br />

metodologias foram introduzidas nalguns hospitais<br />

do SNS, tais como o custeio variável ou o Activity Based<br />

Costing (ABC)10,11. Contudo, não existe informação sobre<br />

o grau de desenvolvimento, cobertura e utilização das<br />

metodologias de custeio nos hospitais do SNS.<br />

Por outro lado, as atividades de recolha, análise e divulgação<br />

de informação, a nível nacional e público, sobre<br />

a contabilidade analítica hospitalar foram descontinuadas<br />

por parte da Administração Central do Sistema de Saúde<br />

(ACSS), sendo o último ano disponível, o exercício de 2009.<br />

Assim sendo, justifica-se a realização de um diagnóstico<br />

sobre a utilização da contabilidade analítica nos hospitais<br />

portugueses do SNS. Será que os hospitais utilizam a<br />

contabilidade analítica? Quais os métodos de custeio a que<br />

recorrem? A informação de custos é útil e de qualidade?<br />

Qual a frequência e por quem é utilizada essa informação?<br />

Na tentativa de responder a estas questões, com o<br />

objetivo de descrever o estado atual da utilização da contabilidade<br />

analítica nos hospitais públicos portugueses<br />

pertencentes ao SNS, foi realizado um trabalho de campo<br />

enquadrado no XLV Curso de Especialização em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> ministrado pela Escola Nacional de Saúde<br />

Pública (ENSP).<br />

A metodologia utilizada baseou-se no desenvolvimento<br />

e aplicação de um inquérito, através de um questionário<br />

estruturado, aplicado on-line a 50 hospitais do SNS português.<br />

Este trabalho permitiu aferir aspetos específicos relacionados<br />

com os métodos de custeio em uso, principais<br />

recursos utilizados no processo de apuramento de custos,<br />

características e utilidade da informação de custos.<br />

Os resultados evidenciaram que em 39 dos 41 hospitais<br />

respondentes, a contabilidade analítica encontra-se parcialmente<br />

ou totalmente implementada (59% e 37%, respetivamente)<br />

e, destes, 59% utilizam o método das secções<br />

(ou por absorção) na totalidade do hospital. Para além deste<br />

método de custeio, também foram identificados outros mé-<br />

46


todos em uso, tais como métodos de custeio variável (18%<br />

dos casos), ABC (26%) e custeio por doente (38%).<br />

Apesar da sua implementação ter sido efetuada por<br />

uma equipa técnica interna, em 74% dos casos, verifica-<br />

-se que em apenas 28% dos hospitais existe atualmente<br />

uma equipa fixa dedicada à gestão de custos.<br />

No que respeita aos objetos de custeio mais utilizados<br />

pelos hospitais, e conforme se pode observar no Gráfico 1,<br />

verifica-se que o foco se situa na unidade orgânica (85%<br />

dos casos), nas linhas de produção (72%), seguindo-se a<br />

diária de internamento (49%).<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Unidade orgânica<br />

Linha de produção<br />

Produto<br />

Procedimento clínico<br />

Atividade<br />

Diária de internamento<br />

Programa de saúde<br />

Utente, doente<br />

Pagador específico<br />

Nenhum<br />

Gráfico 1 N.<strong>º</strong> de respostas por objeto de custeio utilizado.<br />

Para além da realização e do reporte da contabilidade analítica ocorrerem em momentos diferentes, verifica-se que os<br />

custos diretos são os que apresentam a maior regularidade de apuramento (mensalmente, em 90% dos casos).<br />

Por outro lado, apesar da perceção dos respondentes ser de que a informação de custos satisfaz as características de<br />

qualidade, sobretudo ao nível da sua compreensão (64%) e comparabilidade (59%), de acordo com o Gráfico 2, verifica-<br />

-se que esta informação, maioritariamente nunca, raramente, ou às vezes é utilizada em situações de previsão, controlo<br />

(62%) e tomada de decisão (65%).<br />

Reporting de informação ao exterior<br />

Financiamento e negociação de preços<br />

Contratualização interna<br />

Comparação de custos reais com custo previsionais,<br />

ao longo do tempo e entre diferentes entidades<br />

Consciencialização de serviços clínicos acerca<br />

dos custos que decorrem das suas atividades<br />

Fundamentação económica de decisões<br />

de externalização de serviços<br />

Mensuração e avaliação de desempenho<br />

(economia, eficiência, eficácia e qualidade)<br />

Planeamento, controlo e justificação<br />

de um plano de redução de custos<br />

Elaboração de orçamentos<br />

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%<br />

nunca raramente às vezes frequentemente sempre<br />

Gráfico 2 Grau de frequência de utilização da informação de custos.<br />

47


De acordo com as respostas obtidas, os utilizadores internos mais comuns da informação produzida pela contabilidade<br />

analítica são o Conselho de Administração (mencionado por 87% dos casos), seguindo-se os Departamentos e serviços<br />

(79%) e a <strong>Gestão</strong> Intermédia (74%).<br />

De facto, é notória a assimetria da aplicação e utilização da contabilidade analítica entre os hospitais integrados na rede<br />

SNS, o que impossibilita a uniformização dos próprios sistemas de informação<strong>12</strong>, tal como é referido por Tompkins, Altman<br />

e Eliat (2006) e confirmado pelo presente estudo, que constata a inexistência de um sistema de informação centralizado<br />

e comum entre os hospitais.<br />

No entanto, perante a possibilidade de otimização do atual sistema de contabilidade analítica dos hospitais, 77% dos<br />

respondentes indicam que adotariam o método direto (apuramento de custos por doente), ou melhorariam a sua utilização,<br />

sendo a maior percentagem de adoção declarada por hospitais onde o sistema está parcialmente implementado.<br />

Método Direto (apuramento de custos por doente)<br />

Job Order Costing<br />

Time-Driven Activity-Based Costing (TDABC)<br />

Activity-Based Costing (ABC)<br />

Método de Custeio Variável<br />

Método por Absorção ou por Secções<br />

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%<br />

90% 100%<br />

discordo totalmente discordo nem concordo nem discordo concordo concordo totalmente<br />

Gráfico 3 Grau de concordância quanto à melhoria ou adoção de um novo método de custeio.<br />

O método direto, embora mais complexo, é o mais preciso<br />

em organizações hospitalares, daí a sua importância<br />

ser frequentemente salientada por muitos autores: Kaplan<br />

e Porter (2011) defendem que a medição precisa de custos<br />

e resultados é a alavanca mais poderosa que existe para<br />

transformar a economia dos cuidados de saúde. Também<br />

Popesko (2013) afirma que um dos fatores-chave na gestão<br />

de uma organização é a sua capacidade em obter uma<br />

estimativa precisa do custo dos produtos13.<br />

Neste sentido, o apuramento preciso dos custos ao<br />

doente é fundamental para melhorar a eficiência e a<br />

transparência das organizações hospitalares14, sobretudo<br />

quando as pressões que mais se fazem sentir são de redução<br />

de custos e de eliminação de desperdícios15.<br />

A falta de precisão e fiabilidade resultante da utilização<br />

generalizada de métodos de custeio tradicionais, aliada à<br />

dificuldade de utilização regular e em exclusivo da informação<br />

gerada no apoio à tomada de decisão, contribui<br />

ainda mais para a secundarização da contabilidade analítica<br />

no seio das organizações hospitalares, pois esta ainda<br />

apresenta poucas condições de fornecer informação de<br />

custos útil à gestão hospitalar16.<br />

Por outro lado, e tendo em consideração os resultados<br />

do presente inquérito, as atividades de benchmarking que<br />

se pretendam efetuar deverão ser prudentes, uma vez que<br />

a recolha de informação de custos terá como base critérios,<br />

unidades de medida, objetos de custeio e periodicidades de<br />

cálculo díspares entre organizações hospitalares.<br />

A evidência recolhida permite concluir que, em Portugal,<br />

apesar da tentativa de uniformização preconizada<br />

com a implementação pelo PCAH, os hospitais públicos<br />

divergem quanto à utilização da contabilidade analítica e<br />

sobretudo não apresentam uma produção de informação<br />

de custos analíticos que suporte as decisões tomadas.<br />

As implicações dos resultados obtidos podem sentir-<br />

-se a um nível local e a um nível central. Recomenda-se<br />

a sensibilização da gestão de topo, o reforço, ou criação<br />

de um núcleo exclusivamente afeto à gestão de custos e<br />

a formação técnica dos utilizadores internos.<br />

A um nível central, a recomendação de métodos e de<br />

critérios validados de imputação de custos é fundamental.<br />

Isto porque a contabilidade analítica apenas será plenamente<br />

utilizada se houver uma estratégia concertada<br />

quanto ao respetivo processo de execução, que implique<br />

48


a definição de conceitos, critérios e objetivos de mensuração<br />

comuns entre hospitais, focada no conceito de valor<br />

para o doente, preconizada pela tendência mais moderna,<br />

ou atual da contabilidade analítica.<br />

Porter e Lee (2013) defendem uma mudança de estratégia<br />

a este respeito. O objetivo da utilização de métodos<br />

de custeio analíticos não pode ter como objetivo uma abordagem<br />

exclusiva dirigida a reduzir custos, mas sobretudo<br />

servir como instrumento para uma condição de maximização<br />

do valor criado para o utente: ou seja, alcançar os<br />

melhores resultados ao menor custo. O foco não é a oferta,<br />

o volume e a rentabilidade dos serviços prestados (internamentos,<br />

consultas, procedimentos, exames), o sistema<br />

de saúde deve estar organizado e centrado em torno do<br />

doente, nos resultados alcançados pelo utente17.<br />

No âmbito da investigação descritiva em saúde, o trabalho<br />

realizado pretendeu contribuir com informações<br />

que auxiliem na reflexão, organização e sistematização<br />

de futuros trabalhos, os quais fomentem uma utilização<br />

efetiva da contabilidade analítica na gestão e tomada de<br />

decisão dos hospitais públicos portugueses. Tal como Kaplan<br />

e Porter (2011) concluem, uma das causas para a “crise<br />

dos sistemas de saúde” pode mesmo residir na forma<br />

como os custos hospitalares estão a ser medidos18.<br />

Recomenda-se a sensibilização da gestão de topo, o reforço, ou criação<br />

de um núcleo exclusivamente afeto à gestão de custos e a formação técnica<br />

dos utilizadores internos. A um nível central, a recomendação de métodos<br />

e de critérios validados de imputação de custos é fundamental. Isto porque<br />

a contabilidade analítica apenas será plenamente utilizada se houver uma<br />

estratégia concertada quanto ao respetivo processo de execução, que<br />

implique a definição de conceitos, critérios e objetivos de mensuração comuns<br />

entre hospitais, focada no conceito de valor para o doente, preconizado pela<br />

tendência mais moderna, ou atual da contabilidade analítica.<br />

Referências Bibliográficas<br />

1. Carvalho J, Costa TC, Macedo N. A contabilidade analítica ou de custos no sector público administrativo. Revista TOC. 2008 Mar;(96):30–41.<br />

2. Chapman C, Kern A, Laguecir A, Angelé-Halgand N, Angert A, Campenale C, et al. International approaches to clinical costing. Clarifier Design: WEF<br />

Manual of Practice No. FD-8. Bristol: Healthcare Financial Management Association; 2013.<br />

3. Carvalho JB da C, Simões V. Contabilidade de <strong>Gestão</strong> NCP 27. In: Sistema de normalização contabilística na Administração Pública (SNC-AP). Lisboa:<br />

Ordem dos Contabilistas Certificados; 2016. p. 171–90.<br />

4. Kludacz M. The Role of Cost Accounting in Setting Prices in Polish and English Hospitals. In Prague: The 10th International Days of Statistics and<br />

Economics, Prague, September 8-10; 2016. p. 841–51.<br />

5. Jordan H, Neves JC, Rodrigues JA. O Controlo de <strong>Gestão</strong> ao Serviço da Estratégia e dos Gestores. 6.a. Lisboa: Áreas Editora; 2005. 452 p.<br />

6. Costa C, Santana R, Lopes S. Passado, Presente e futuro - Custos e preços na saúde. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos; 2013.<br />

7. Costa C, Santana R, Lopes S, Barriga N. A importância do apuramento de custos por doente: metodologias de estimaçao aplicadas ao internamento<br />

hospitalar português. Revista Portuguesa de Saúde Pública. 2008;(7):131–46.<br />

8. Draži Lutilsky I, Žmuk B, Dragija M. Cost Accounting as a Possible Solution for Financial Sustainability of Croatian Public Hospitals. Croat Econ Surv<br />

[Internet]. 2016;18(2):5–38. Available from: http://hrcak.srce.hr/index.php?show=clanak&id_clanak_jezik=252680<br />

9. Pereira CC, Franco VS. Contabilidade Analítica. 6.a. Lisboa: Editora Rei dos Livros; 1994.<br />

10. Lauschner MA, Beuren IM. <strong>Gestão</strong> estratégica de custos. Contabilidade Vista & Rev Belo horizonte. 2004 Aug;15(2):53–84.<br />

11. Borges C, Ramalho R, Bajanca M, Oliveira T, Major MJ, Diz P, et al. Implementação de um sistema de custeio por actividades nos hospitais do SNS.<br />

Revista Portuguesa de Saúde Pública. 2010;(9):141–60.<br />

<strong>12</strong>. Tompkins CP, Altman SH, Eilat E. The precarious pricing system for hospital services. Health Affairs. 2006;25(1):45–56.<br />

13. Popesko B. Specifics of the Activity-Based Costing applications in Hospital Management. Int J Collab Res Intern Med Public Heal. 2013;5(3):179–86.<br />

14. Mercier G, Naro G. Costing hospital surgery services: The method matters. PLoS ONE. 2014;9(5).<br />

15. Tribunal de Contas. Auditoria ao sistema de pagamentos e de formação dos preços pagos às unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde<br />

[Internet]. Vol. I. Lisboa: Tribunal de Contas; 2011. Available from: http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2011/2s/audit-dgtc-rel030-2011-<br />

-2s.pdf<br />

16. Miranda GJ, Carvalho CE De, Martins VF, Faria AF De. Custeio ABC no ambiente hospitalar: um estudo nos hospitais universitários e de ensino<br />

brasileiros. Rev Contab Finanças. 2007;18(44):33–43.<br />

17. Porter ME, Lee TL. The Strategy That Will Fix Health Care - Harvard Business Review. Harv Bus Rev [Internet]. 2013;(0):1–37. Available from:<br />

http://hbr.org/2013/10/the-strategy-that-will-fix-health-care/ar/1<br />

18. Kaplan RS, Porter ME. How to Solve the Cost Crisis in Health Care. Harv Bus Rev. 2011;(November):47–64.<br />

49


ICHOM<br />

PaULA GODINHO<br />

Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />

HUGO MOREIRAS<br />

Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />

Caros Colegas,<br />

É com enorme satisfação que nos dirigimos aos leitores<br />

da revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Hoje, trocamos o nosso papel de ávidos leitores destes<br />

assuntos e vimos dar conta da nossa participação na<br />

ICHOM 1 Conference 2017, que se realizou em Washington,<br />

D.C., nos passados 25 e 26 de outubro, ao abrigo da<br />

bolsa concedida pela Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es.<br />

Presentemente, nos países mais desenvolvidos, assistimos<br />

a uma verdadeira renovação do que são os cuidados<br />

de saúde, pela forma como pensamos, desenvolvemos e<br />

medimos os resultados obtidos. Michael Porter 2 chamou-<br />

-lhe, nesta sessão, visão holística da medição de resultados<br />

alcançados (outcomes measure).<br />

A conferência reuniu cerca de 600 líderes de saúde de<br />

33 países, tornando-a, até à data, no maior evento sobre o<br />

tema realizado nos Estados Unidos da América. Presentemente,<br />

assiste-se a um aumento de interesse nos assuntos<br />

relacionados com a prestação de cuidados de saúde<br />

baseados em valor (VBHC − Value Based Health Care).<br />

De um modo geral, cerca de 90 palestrantes de todo o<br />

mundo protagonizaram discussões, em sessões plenárias<br />

e em reuniões específicas, sobre as implicações práticas<br />

da implementação do VBHC. Neste âmbito, os participantes<br />

partilharam conhecimentos sobre a promoção da mudança<br />

cultural, implementação de medidas de prestação<br />

de cuidados e expetativas decorrentes da reforma dos<br />

modelos de pagamento e financiamento.<br />

A importância desta conferência destacou-se porque<br />

o tema, Global Progress on the Value Agenda, visou protagonizar<br />

uma mudança do foco na teoria do Value Based<br />

Health Care para a sua prática e aplicação, inclusive<br />

com apresentação de novos modelos concetuais. Por tal,<br />

as sessões específicas dividiram-se em cinco áreas: impacto<br />

na comunidade; prestação de cuidados; política de<br />

pagamentos; investigação e indústria; questões técnicas<br />

e operacionais. Nestas sessões, os painéis eram compostos<br />

por 3 a 5 oradores especializados nas áreas referidas<br />

e oriundos de todo o mundo. Assim, foram amplamente<br />

debatidos os temas fulcrais da saúde no tocante à Política,<br />

Investigação e Regulação, todos sob a égide da prestação<br />

de cuidados de saúde baseados em valor.<br />

Uma nova tendência emergiu na última década – da<br />

atenção nos custos em saúde transita-se para a atenção<br />

sobre os resultados, o que obriga os sistemas de saúde a<br />

um novo trilho ideológico-concetual. Segundo M. Porter 3 ,<br />

tentar fazer melhor num ato infinito tem-se traduzido<br />

numa incapacidade de mudar. É imperativo parar e pensar<br />

num modelo objetivo de resultados, numa nova forma<br />

de encarar o sistema de saúde, deixando de parte lugares<br />

comuns como “equidade” e “eficiência”, e focar todo o sistema<br />

de saúde no doente, nos resultados, numa prestação<br />

integrada, na noção de valor gerado.<br />

A abordagem da ICHOM à prestação de cuidados de saúde,<br />

VBHC, foi solidamente desenvolvida na Harvard Business<br />

School por Michael E. Porter e Elizabeth O. Teisberg.<br />

Desde então, a ICHOM desenvolveu 23 standard sets<br />

(conjuntos de indicadores padronizados) que cobrem a<br />

avaliação dos resultados em 54% do total de doenças.<br />

A medição dos standard sets significa monitorizar os resultados<br />

do tratamento prestado ao doente, orientando<br />

a equipa médica para o resultado dos cuidados que prestam,<br />

em detrimento de indicadores como mortalidade e<br />

taxas de infeção, nos rankings de avaliação dos hospitais.<br />

Porém, o VBHC não se restringe apenas à medição dos<br />

resultados, embora seja um dos pontos centrais do processo.<br />

Olhar a agenda do VBHC na sua globalidade implica<br />

1 International Consortium for Health Outcomes Measurement<br />

2 Recordamos que Michael Porter abriu a sessão plenária.<br />

3 Vide nota anterior.<br />

50


Neste trilho a prestação de cuidados de saúde baseados<br />

em valor exige uma mudança na organização e funcionamento<br />

dos prestadores e na abordagem dos doentes. Este modelo enfatiza<br />

a orientação para o doente e uma partilha de informação para<br />

cuidados coordenados e resultados mensuráveis.<br />

a organização de cuidados de uma forma integrada, o paralelismo<br />

existente entre a medição de custos e resultados<br />

em saúde, a adequação do modelo de financiamento<br />

e a transição da investigação e do desenvolvimento para<br />

novos patamares.<br />

Desta forma, caminhamos para uma integração dos<br />

cuidados centrados no doente, as chamadas patient-centered<br />

medical homes (PCMH). Tal, não deve ser visto como<br />

um espaço físico, mas como uma abordagem coordenada,<br />

sendo crucial a existência de registos clínicos eletrónicos<br />

que garantam acessibilidade, com salvaguarda das questões<br />

da confidencialidade, e contribuam para a redução<br />

dos cuidados redundantes, no diagnóstico, e com particular<br />

interesse nos casos de múltiplas terapêuticas.<br />

Neste domínio, é chamado à colação o prestador de cuidados<br />

de saúde responsável. E por estes tempos, a responsabilidade<br />

traduz-se na prestação de cuidados de saúde de<br />

qualidade com o menor custo possível. Assim, a prestação<br />

de cuidados de saúde baseados em valor concorre para a<br />

redução dos respetivos custos, para a melhoria da qualidade<br />

dos cuidados, para a definição de políticas de incentivos<br />

de melhoria do acesso e dos resultados em saúde.<br />

Os cuidados de saúde baseados em valor constituem um<br />

modelo no qual os prestadores são remunerados com base<br />

nos resultados em saúde. O pagamento considera a evolução<br />

do estado de saúde/doença, a redução dos efeitos da<br />

doença e a diminuição da incidência de doenças crónicas,<br />

com modelos de intervenção baseados em evidências. Assim,<br />

os cuidados de saúde baseados em valor distinguem-se<br />

dos modelos de pagamento por atividade ou por capitação.<br />

Neste particular, definimos o valor através de uma<br />

equação simples em que o numerador são os resultados<br />

em saúde relevantes para o doente (com uma tendência<br />

ascendente) e o denominador são os custos para obter<br />

esse resultado (com uma tendência decrescente).<br />

As principais vantagens apontadas ao modelo são a redução<br />

dos montantes despendidos para obtenção de melhores<br />

cuidados de saúde, aumento da eficiência na prestação<br />

de cuidados de saúde e melhoria do nível de satisfação<br />

dos doentes, um melhor controlo dos custos e redução dos<br />

riscos, alinhamento dos custos com os resultados em saúde<br />

e um maior contributo para o estado de saúde da população.<br />

Neste trilho a prestação de cuidados de saúde baseados<br />

em valor exige uma mudança na organização e fun-<br />

51


O doente é uma Pessoa e o resultado<br />

em saúde o princípio orientador.<br />

cionamento dos prestadores e na abordagem dos doentes.<br />

Este modelo enfatiza a orientação para o doente e uma<br />

partilha de informação para cuidados coordenados e resultados<br />

mensuráveis.<br />

Deste modo, o modelo assume uma importância<br />

crucial no nosso sistema de saúde. Senão vejamos.<br />

A gestão é uma área que é condicionante e faz a diferença<br />

num país. Um dos problemas que o nosso Serviço<br />

Nacional de Saúde (SNS) tem é um problema de gestão 4 .<br />

Por vezes, parece-nos que a seleção para os lugares de<br />

topo na gestão das instituições de saúde não releva as aptidões,<br />

a experiência, o percurso profissional e os estudos<br />

académicos dos escolhidos. Por tal, o desempenho dessas<br />

funções também não é objeto de avaliação consequente.<br />

Para anos recentes, o observatório português dos sistemas<br />

de saúde indicou que as “barreiras no acesso aos<br />

cuidados de saúde permanecem relevantes em Portugal” 5 ,<br />

sendo muito marcadas por fatores socioeconómicos .<br />

O nosso SNS vive uma “situação de subfinanciamento<br />

crónico que foi agravada pelo impacto das medidas impostas<br />

pela troika, que levaram a que no ranking da OCDE Portugal<br />

baixasse pontos no valor das despesas públicas em<br />

Saúde e aumentasse a parte paga pelos utentes, que é das<br />

mais altas da Europa” 6 . Assim, o direito constitucional consagrado<br />

de defesa da saúde das pessoas tem perdido força.<br />

Segundo auditoria do tribunal de contas, orientada à<br />

consolidação de contas e análise à situação económico-financeira<br />

do SNS em 2011, “as contas consolidadas do Serviço<br />

Nacional de Saúde apresentadas pela Administração<br />

Central do Sistema de Saúde, IP, continuam a não expressar<br />

uma imagem fiável do património, da situação financeira,<br />

bem como dos resultados das entidades que integram o<br />

Serviço Nacional de Saúde”.<br />

Temos, ainda, que o “Estado, enquanto comprador de<br />

serviços em sede de contratualização com as EPE, reconhece<br />

a insuficiência de proveitos, ou por outras palavras,<br />

o excesso de custos dado o financiamento disponível em<br />

cada ano, para o nível de cuidados de saúde que entende<br />

4 Segundo Luís Filipe Pereira em https://www.dinheirovivo.pt/economia/um-dos-problemas-do-servico-nacional-de-saude-e-de-gestao/<br />

5 http://observador.pt/2017/06/28/sns-esta-sem-capacidade-de-<br />

-resposta-para-a-populacao-portuguesa/<br />

6 https://www.publico.pt/2017/11/23/sociedade/opiniao/revitalizar-<br />

-o-servico-nacional-de-saude-1792640<br />

necessário adquirir, e admite à partida a existência de um<br />

défice anual no setor” 7 .<br />

Nestes últimos anos, as políticas de saúde distanciaram-se<br />

consideravelmente dos princípios fundamentais<br />

de organização e funcionamento de qualquer sistema de<br />

saúde de matriz Beveridgiana.<br />

Presentemente, tal como na década de 70, necessitamos<br />

de um SNS organizado, que abarque as diversas<br />

áreas da prestação de cuidados de saúde para responder<br />

cabalmente ao seu propósito constitucional 8 . Deste modo,<br />

necessitamos de uma rede de cuidados de saúde primários<br />

racional, eficiente e articulada. Devemos privilegiar<br />

organismos de prestação de cuidados de saúde autónomos.<br />

Assim, urge concluir o leque de unidades locais de<br />

saúde e racionalizar a rede de hospitais.<br />

A questão crucial para os agrupamentos de centros de<br />

saúde e hospitais é a prestação de cuidados de saúde.<br />

Todos os serviços de apoio deverão competir às Administrações<br />

Regionais de Saúde. Estas instituições podem ser<br />

descentralizadas e funcionar a nível local 9 .<br />

Segundo Ramos e outros, é necessário dotar o SNS de<br />

personalidade institucional, jurídica e organizacional singular,<br />

com uma governação unificada e integradora, reforçar<br />

o papel e o poder do cidadão, com um financiamento e<br />

uma gestão de recursos que atenda às necessidades das<br />

pessoas e, por fim, desenvolver uma cultura de literacia<br />

e de capacitação para proteção e promoção da saúde, com<br />

respostas adequadas às necessidades de cada pessoa em<br />

cada situação e momento.<br />

Atualmente, todos conhecemos, e debatemos até à<br />

exaustão, os argumentos muito bem fundamentados que<br />

expõem as fragilidades do nosso sistema de saúde, inclusive<br />

com cardápios para alvitrar a necessidade de mudança,<br />

até pelos leigos sobre o tema. É nossa firme convicção<br />

que atenta a natureza do SNS, a mudança apenas se<br />

operará caso seja realizada a partir do seu interior.<br />

Para tal, o VBHC constitui um princípio teórico fun-<br />

7 Ver relatório sobre a Sustentabilidade económico-financeira do Serviço<br />

Nacional de Saúde: evolução recente e perspetivas; Ferreira, Ana<br />

Sofia, março de 2013, pp.13.<br />

8 Todos têm direito à proteção da saúde e o direito à proteção da saúde é<br />

realizado: a) através de um serviço nacional de saúde universal e geral e,<br />

tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente<br />

gratuito, na Constituição da República Portuguesa.<br />

9 Para determinadas atividades, e para melhor monitorizar, as ARS deveriam<br />

destacar funcionários para trabalharem nos hospitais e ACES.<br />

52


damental, com consagração prática, para um novo paradigma<br />

do sistema de saúde português. Desde logo, abrange<br />

todos os intervenientes quer sejam prestadores públicos,<br />

privados ou sociais. Com o Value Based Health Care o doente<br />

não é confundido com a patologia/serviço, a região do<br />

país não se confunde com o hospital ou a unidade local de<br />

saúde que presta cuidados de saúde, nem se vulgariza o<br />

meio complementar de diagnóstico e terapêutica.<br />

O doente é uma Pessoa e o resultado em saúde o<br />

princípio orientador.<br />

De muitas experiências internacionais relatadas nesta<br />

conferência, também entre nós, na conferência ICHOM<br />

realizada em Lisboa em fevereiro de 2017 foram já apresentadas<br />

experiências portuguesas de organização de<br />

cuidados em consonância com a corrente VBHC. Foi apresentada<br />

pelo Dr. Laranja Pontes, Presidente do Conselho<br />

de Administração do IPO Porto, EPE, a organização de<br />

prestação de cuidados na doença oncológica por patologia,<br />

com equipas multidisciplinares evidenciando o doente,<br />

maximizando o tratamento prestado e minimizando<br />

o seu desconforto. Esta organização contrastante com a<br />

conservadora organização das instituições hospitalares<br />

por serviços | especialidades.<br />

Também neste palco foi apresentada pela CEO da Luz<br />

Saúde, Dra. Isabel Vaz, a estratégia do Centro de Oncologia<br />

do Hospital da Luz, centralizada nos doentes, numa<br />

avaliação muito atenta à experiência do cliente, com abordagem<br />

multidisciplinar que faz com que o Hospital da Luz<br />

tenha uma estratégia da saúde baseada em resultados,<br />

em implementação no terreno, já com o alinhamento dos<br />

stakeholders nesse sentido.<br />

Temos dois exemplos demonstrativos de que a solução<br />

para o financiamento sustentável não passa pela<br />

discussão entre prestadores públicos ou privados. É nosso<br />

entendimento que a natureza do prestador é irrelevante.<br />

Pelo contrário, a condição sine qua non é a prestação!<br />

Assim, uma estratégia centralizada nos doentes e uma<br />

avaliação centrada na sua experiência fazem com que se<br />

possa ter uma estratégia da saúde baseada em resultados.<br />

Se o paradigma da prestação de cuidados já começa a<br />

sentir os efeitos desta corrente, a avaliação dos resultados<br />

sofrerá o devido arrastamento. Caminhando neste trilho,<br />

o modelo de financiamento não poderá ficar desfasado.<br />

Um agradecimento especial ao Alexandre Lourenço e<br />

ao Miguel Lopes pelo apoio e incentivo nesta cruzada.<br />

Bem hajam.<br />

53


Homenagem a Augusto<br />

Mantas, João Urbano<br />

e Margarida Bentes<br />

Numa cerimónia integrada nas comemorações dos<br />

50 anos da Carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong>,<br />

criada por proposta de Coriolano Ferreira, através do Decreto-lei<br />

n.<strong>º</strong> 48 357/68, de 27 de abril, a Escola Nacional<br />

de Saúde Pública (ENSP), a Sociedade Portuguesa da História<br />

dos Hospitais (SPHH) e a Associação Portuguesa de<br />

Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) realizaram, no dia<br />

17 de janeiro de <strong>2018</strong>, em Lisboa, uma sessão de homenagem<br />

a Augusto Mantas, João Urbano e Margarida Bentes.<br />

Esta sessão pretendeu evocar a obra do Professor Augusto<br />

Mantas e dos projetos de inovação da gestão hospitalar,<br />

desenvolvidos nos anos 80, com apoio dos Estados Unidos<br />

da América (EUA), sob a liderança dos Dr. João Urbano<br />

e Dr.ª Margarida Bentes.<br />

Na sessão de abertura, o Diretor da ENSP, João Pereira,<br />

recordou “com grande carinho” estas três figuras que “foram<br />

marcantes no desenvolvimento da gestão em saúde<br />

em Portugal”. Também na ocasião, Jorge Varanda, Presidente<br />

da SPHH, sublinhou “do ponto de vista da história<br />

dos hospitais” a pertinência desta cerimónia, referindo-se<br />

ao respeito “quase filial” por Augusto Mantas, à “inovação”,<br />

“energia”, “determinação”, “conhecimento” e “insatisfação”<br />

de João Urbano, e ao “travo imenso de saudade”<br />

deixado por Margarida Bentes. De acordo com Alexandre<br />

Lourenço, Presidente da APAH, tratam-se de “três personalidades<br />

diferentes com características e percursos<br />

distintos. Três personalidades unidas pela capacidade de<br />

liderança e inovação e que nos ajudaram a construir o Serviço<br />

Nacional de Saúde (SNS).”<br />

Dezenas de participantes associaram-se a um evento<br />

que se prolongou por todo o dia e que contou com a presença<br />

de um convidado especial – o Professor Don Holloway,<br />

consultor norte-americano que, nos anos 80, ajudou<br />

a melhorar a gestão dos hospitais portugueses.<br />

Reportagem Fotográfica<br />

https://www.justnews.pt/galeria/album/administrao-em-sade-homenagem-a-augusto-mantas-joo-urbano-emargarida-bentes<br />

54


AUGUSTO MANTAS (1926-1997)<br />

Professor Augusto Mantas, licenciado em Ciências<br />

O Económicas e Financeiras pelo então Instituto Superior<br />

de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), da<br />

Universidade Técnica de Lisboa, em 1951, iniciou a sua<br />

atividade profissional pública no Instituto de Assistência<br />

Nacional aos Tuberculosos (IANT), tendo chefiado e modernizado<br />

os seus serviços financeiros. Em 1961, iniciou<br />

funções como Inspetor Superior de <strong>Gestão</strong> na Direção-<br />

-Geral dos Hospitais a convite de Coriolano Ferreira. Entre<br />

1973 e 1975 foi adjunto do diretor-geral, e diretor-geral<br />

entre 1975 e 1979. Presidiu à Comissão Coordenadora do<br />

Financiamento da Saúde entre 1977 e 1980, reunindo e<br />

coordenando a gestão financeira das direções-gerais dos<br />

Hospitais e da Saúde e os Serviços Médico-Sociais da Previdência<br />

Social. Entre 1980 e 1983 foi diretor-geral do Departamento<br />

de <strong>Gestão</strong> Financeira dos Serviços de Saúde,<br />

sendo responsável pelo orçamento e contas do SNS no<br />

período entre 1980 e 1986. Entre 1983 e 1987 presidiu à<br />

Comissão Instaladora dos Serviços Informáticos da Saúde.<br />

Colaborou desde o início no Curso de Especialização em<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong> da ENSP, onde regeu as disciplinas<br />

de contabilidade hospitalar e gestão financeira dos<br />

hospitais, como professor convidado. Nos últimos anos da<br />

sua vida foi docente a tempo inteiro da ENSP e membro da<br />

sua direção. Em 2016 recebeu, a título póstumo, a medalha<br />

de ouro de serviços distintos do Ministério da Saúde.<br />

tema de recolha e distribuição de roupa e do sistema de<br />

distribuição de material de consumo. Assim, dignificou<br />

e promoveu a administração hospitalar e a carreira que<br />

abraçou e ajudou a construir. Sem a sua dedicação, consciência<br />

profissional e energia, esta obra não se teria concretizado.<br />

O seu horizonte era a modernidade e a excelência.<br />

Apesar de retirado há já alguns anos, na gestão diária<br />

do nosso SNS facilmente nos apercebemos que muita da<br />

nossa excelência é parte do legado de João Urbano.<br />

.<br />

MARGARIDA BENTES (1956-2009)<br />

Margarida Bentes, licenciada em Economia e pós-<br />

-graduada em Administração <strong>Hospitalar</strong>, esteve<br />

ligada ao Sistema de Informação para a <strong>Gestão</strong> dos Serviços<br />

de Saúde, bem como ao Instituto de <strong>Gestão</strong> Informática<br />

e Financeira do Ministério da Saúde, tendo sido Presidente<br />

do Conselho de Administração deste organismo.<br />

Foi, também, Presidente da Administração Regional de<br />

Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e Diretora-geral da IASIST<br />

Portugal. Grande conhecedora do Sistema de Pagamento<br />

Prospetivo (SPP), através dos GDH, foi, juntamente com a<br />

equipa coordenada por João Urbano, dinamizadora da implementação<br />

do projeto dos GDH em Portugal.<br />

SÓCIOS DE MÉRITO DA APAH<br />

JOÃO URBANO (1940-2016)<br />

João Urbano liderou, durante a década de 80 e uma<br />

parte da década de 90, o programa mais inovador e<br />

completo de gestão hospitalar que existiu em Portugal.<br />

O seu entusiasmo, profissionalismo e eficácia contaminaram<br />

uma vasta geração de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

na modernização do recém-criado SNS. Pela sua<br />

mão, Portugal foi o primeiro país europeu a aplicar um<br />

conjunto de conhecimentos e processos de gestão hospitalar<br />

inovadores através da cooperação norte-americana.<br />

O mais conhecido dos projetos inovadores foi o Grupo de<br />

Diagnósticos Homogéneos (GDH) que começou a ser implantado<br />

entre nós pouco depois de ter tido o seu arranque<br />

nos EUA como processo de pagamento prospetivo dos<br />

episódios de internamento. Todavia, muitos outros foram<br />

postos em prática: relatórios de produtividade por centros<br />

de custo, tabelas de ponderação de atos médicos, teste e<br />

aplicação do Protocolo de Revisão de Utilização (medição<br />

da apropriação de internamentos e dias de internamento),<br />

planeamento de altas, classificação de doentes por graus<br />

de dependência de enfermagem, racionalização do sis-<br />

Não tendo sido administrador hospitalar, Augusto<br />

Mantas viu-lhe ser atribuído o título de sócio honorário<br />

da APAH logo na década de 80, “pelo seu contributo<br />

para o desenvolvimento da Administração <strong>Hospitalar</strong>”.<br />

Quanto a João Urbano e Margarida Bentes, o presidente<br />

da APAH anunciou que vai ser apresentada em Assembleia-Geral<br />

a proposta para que sejam considerados sócios<br />

de mérito, um galardão atribuído a administradores hospitalares.<br />

A APAH aproveitou igualmente a ocasião para homenagear<br />

o Professor Don Holloway pelo relevante contributo<br />

dado ao desenvolvimento e melhoria da gestão dos hospitais<br />

portugueses, tendo o presidente da APAH comunicado<br />

que será apresentada pela direção proposta para que lhe<br />

seja atribuído o título de sócio honorário da APAH.<br />

A sessão evocativa foi emitida em livestreaming e o<br />

vídeo integral encontra-se disponível para visualização<br />

no página do Facebook da APAH e todas as informações<br />

sobre esta iniciativa podem ser consultadas<br />

no website da APAH em https://apah.pt/pec-events/<br />

homenagem-augusto-mantas-joao-urbano-margarida-<br />

-bentes/1516181400<br />

55


ESPAÇO ENSP [ENSINO E INVESTIGAÇÃO]<br />

PRÉMIO CORIOLANO FERREIRA<br />

− RAZÃO DE SER<br />

RUI SANTANA<br />

Sub-Diretor da Escola<br />

Nacional de Saúde<br />

Pública (ENSP-NOVA)<br />

SÍLVIA LOPES<br />

Professora e Coordenadora<br />

do Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

(CEAH) da Escola Nacional<br />

de Saúde Pública (ENSP-NOVA)<br />

No passado dia 27 de abril, em que se assinalaram<br />

os 50 anos da criação da carreira de administração<br />

hospitalar, decorreu na ENSP-NOVA a sessão pública de<br />

apresentação do Prémio Coriolano Ferreira, pelo que partilhamos<br />

aqui as razões de ser que orientaram o regresso<br />

deste Prémio e do seu formato.<br />

A primeira razão de ser prende-se com o facto de a<br />

frequência do Curso de Especialização em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> (CEAH) ser uma etapa determinante para o desenvolvimento<br />

da atividade profissional de administrador<br />

hospitalar, uma vez que a formação específica na área é<br />

indispensável a um conhecimento aprofundado e específico<br />

dos hospitais, organizações de saúde e do sistema de<br />

saúde em que se inserem.<br />

Em segundo lugar, ao longo do CEAH, os alunos têm<br />

diversos formatos de acompanhamento da sua evolução,<br />

seja nas aulas, apresentações, avaliações ou outros momentos.<br />

No entanto, este Prémio vai mais além e reconhece<br />

a consistência do percurso académico a nível global,<br />

enquanto resumo dos vários momentos de avaliação ao<br />

longo do curso.<br />

Terceiro, o exercício de uma administração hospitalar<br />

sólida e baseada em evidência atual necessita de uma atividade<br />

científica que o suporte. A capacidade de realizar uma<br />

investigação científica é incentivada durante o CEAH e existem<br />

diversos exemplos de trabalhos realizados no âmbito<br />

do CEAH publicados em revistas científicas e apresentados<br />

em congressos. Contudo, queremos consolidar e expandir o<br />

trabalho que tem sido realizado e criar condições para que<br />

haja ainda mais e melhor investigação na área.<br />

Além disso, na ENSP-NOVA procuramos que os alunos<br />

tenham uma perspetiva internacional e não fechada sobre<br />

a nossa realidade, seja através dos conteúdos das aulas,<br />

no estudo dos temas que investigam, ou nas ligações<br />

internacionais que temos vindo a desenvolver. Recordamos<br />

que a visita dos alunos do CEAH à École des Hautes<br />

Études en Santé Publique (EHESP − Rennes) foi o objeto<br />

do nosso texto na edição anterior.<br />

© JUST NEWS<br />

© JUST NEWS<br />

56


A quinta e última razão<br />

de ser que orientou<br />

o regresso deste Prémio<br />

e do seu formato prende-<br />

-se com o imperativo de<br />

as instituições de ensino<br />

estarem abertas à sociedade,<br />

desenvolvendo<br />

iniciativas conjuntas<br />

com outras organizações<br />

como forma de enriquecer<br />

a formação dos seus<br />

alunos e de os preparar<br />

melhor para o futuro.<br />

Pretendemos também<br />

que o que é feito na<br />

ENSP-NOVA seja conhecido<br />

e reconhecido, mas<br />

queremos ainda aprender<br />

com o que é feito em outras<br />

instituições.<br />

Sendo assim, e tendo<br />

presentes aquelas razões,<br />

nas suas próximas<br />

edições, o Prémio Coriolano<br />

Ferreira premiará o<br />

melhor aluno do CEAH, destinando-se a ser usado para<br />

a apresentação de um trabalho realizado no âmbito do<br />

CEAH numa conferência internacional, sendo atribuído<br />

em parceria entre a ENSP-NOVA e a APAH. O Regulamento<br />

pode ser consultado em https://www.ensp.unl.pt/cursos/especializacoes/administracao-hospitalar/<br />

O Prémio tem como objetivos dinamizar a investigação<br />

em administração hospitalar e homenagear o Prof. Coriolano<br />

Ferreira. E esta homenagem a alguém que é uma<br />

referência da administração hospitalar, lançada num dia<br />

especial e para o qual o Prof. Coriolano Ferreira muito contribuiu,<br />

tem uma ligação natural ao formato do Prémio.<br />

Basta recordar apenas alguns<br />

aspetos do seu percurso<br />

extremamente rico.<br />

Desde logo, a sua aposta<br />

nas novas gerações e a<br />

sua capacidade de dar espaço<br />

a que os talentos se<br />

desenvolvessem. O seu<br />

trabalho ímpar para o reconhecimento<br />

da necessidade<br />

de formação específica<br />

para o exercício da<br />

administração hospitalar.<br />

A sua vontade de promover<br />

o que hoje se designa<br />

da "disseminação do<br />

conhecimento", através<br />

da criação da revista Hospitais<br />

Portugueses (cujo<br />

lançamento ocorreu há<br />

70 anos) e da Revista Portuguesa<br />

de Saúde Pública,<br />

que fundou em 1983. E,<br />

por último, a sua visão de<br />

um mundo globalizado,<br />

pleno de oportunidades<br />

de aprendizagem, que já tinha sido reconhecida nas edições<br />

anteriores do Prémio, os quais se traduziram numa<br />

viagem de estudo ao estrangeiro.<br />

Assim, esperamos que este Prémio contribua para inspirar<br />

todos os atuais e futuros alunos do CEAH a superarem-se<br />

e, aos que virem o seu mérito reconhecido, serem<br />

capazes de inspirarem os que os rodeiam com as "sementes"<br />

que esta aprendizagem lhes irá proporcionar. Não podemos<br />

terminar sem referir e saudar todos os colegas que<br />

ao longo dos anos tiveram a honra de receber este Prémio<br />

em edições anteriores.<br />

© JUST NEWS<br />

© JUST NEWS<br />

57


APAH MARCA A AGENDA<br />

A APAH MARCOU PRESENÇA EM EVENTOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS:<br />

3F: Financiamento, Fórmula para o Futuro –<br />

“Saúde, uma prioridade”<br />

[10 janeiro e 7 fevereiro, Lisboa]<br />

O Projeto “3F – Financiamento, Fórmula para o Futuro” é uma iniciativa<br />

da APAH, com o apoio da Roche e da IQVIA e conta com a<br />

participação de especialistas de diferentes áreas, que se vão juntar<br />

em quatro momentos distintos, para analisar o modelo atual<br />

de financiamento dos hospitais portugueses, promover a discussão<br />

de potenciais soluções de financiamento com vista à criação<br />

de valor para os doentes, assim como desenvolver projetos-piloto<br />

com hospitais, de forma a testar a exequibilidade das soluções encontradas.<br />

As conclusões do trabalho desenvolvido, assim como a<br />

definição dos projetos-piloto, serão apresentadas antes do verão.<br />

Mais informações em:<br />

https://www.saudeumaprioridade.pt/equipa3f/<br />

Centros de Responsabilidade Integrados (CRIs) |<br />

Sessões de Esclarecimento<br />

[16 janeiro, Porto | 22 janeiro, Coimbra | 29 janeiro, Lisboa]<br />

A APAH, em parceria com a ACSS, promoveu três sessões de esclarecimento<br />

sobre a Portaria n.<strong>º</strong> 330/2017 que define o modelo<br />

de Regulamento interno dos Centros de Responsabilidade Integrados<br />

(CRI) a aplicar nas Entidades Públicas Empresariais do<br />

SNS, com o objetivo de melhorar o conhecimento e sensibilizar<br />

os profissionais de saúde para o desenvolvimento deste modelo<br />

organizacional.<br />

Homenagem a Augusto Mantas, João Urbano e<br />

Margarida Bentes<br />

[17 janeiro, Lisboa]<br />

A APAH, Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e a Sociedade<br />

Portuguesa da História dos Hospitais realizaram na ENSP uma<br />

sessão de homenagem com objetivo de evocar a obra do Professor<br />

Augusto Mantas e dos projetos de inovação da gestão hospitalar<br />

desenvolvidos nos anos 80, com apoio dos Estados Unidos<br />

da América, sob a liderança dos Drs. João Urbano e Margarida Bentes.<br />

Ver reportagem na presente edição.<br />

11.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais<br />

[19 janeiro, Portalegre]<br />

A APAH coorganizou com a Unidade Local do Norte Alentejano<br />

mais uma Conferência/debate inserida na iniciativa “Caminho dos<br />

Hospitais”, desta feita dedicada ao tema “10 Anos a Integrar Cuidados<br />

– Boas Práticas”. Ver reportagem na presente edição.<br />

Código dos Contratos Públicos Revisto | Seminários<br />

APAH/SPMS<br />

30 janeiro, Lisboa | 28 fevereiro, Porto]<br />

A APAH e SPMS realizaram dois seminários dedicados ao novo<br />

Código de Contratos Públicos, que entrou em vigor a 1 de janeiro<br />

deste ano, destinados a todos os profissionais do sector tendo a<br />

iniciativa contado com uma elevada adesão e participação.<br />

À Terça-feira com… | Webinars APAH | Pedro Pita<br />

Barros<br />

[6 fevereiro, Webconferência]<br />

“À Terça-feira com…” é uma iniciativa da APAH com o intuito de<br />

possibilitar a discussão e difusão de conhecimento sobre temas<br />

da atualidade na área de gestão em saúde. Todas as primeiras<br />

terças-feiras de cada mês, pelas 10h da manhã, a APAH convida<br />

um conhecedor da matéria para apresentar um tema da atualidade.<br />

Para esta iniciativa, a APAH aproveita as novas tecnologias<br />

permitindo que os participantes possam usufruir da conferência<br />

sem sair do seu local de trabalho e utilizando o seu computador<br />

pessoal, o seu telefone ou o seu tablet. O 1.<strong>º</strong> Webinar “À Terça-<br />

-feira com…” contou com Pedro Pita Barros, um dos maiores especialistas<br />

mundiais de economia da saúde, que analisou a flutuação<br />

da dívida dos hospitais do SNS com base nos dados de execução<br />

orçamental dos últimos anos.<br />

Barómetro dos Internamentos Sociais | 2.ª Interação<br />

[19 de fevereiro]<br />

O Barómetro de Internamentos Sociais (BIS) é uma iniciativa da<br />

APAH com o apoio institucional do Ministério da Saúde, suporte<br />

técnico da EY e tecnológico da Microsoft. O objetivo do BIS é estudar<br />

e dar relevo à problemática dos internamentos inapropriados<br />

e fomentar ações conjuntas que minimizem este impacto constituindo-se<br />

como um instrumento para a medição periódica deste<br />

fenómeno. Esta foi a 2.ª edição desta iniciativa que contou mais<br />

uma vez com a elevada colaboração e participação dos Hospitais<br />

do SNS. Ver reportagem na presente edição.<br />

Jornadas <strong>Hospitalar</strong>es do SNS <strong>2018</strong><br />

[27-28 fevereiro, Lisboa]<br />

A APAH associou-se à ACSS na organização das Jornadas <strong>Hospitalar</strong>es<br />

do SNS <strong>2018</strong> tendo como objetivo disseminar boas práticas<br />

e promover o desenvolvimento hospitalar. A edição deste ano<br />

esteve dedicada à Qualidade, Eficiência e redução do desperdício,<br />

<strong>Gestão</strong> do acesso, Inovação e Sustentabilidade.<br />

<strong>12</strong>.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais<br />

[2 março, Vila Nova de Gaia]<br />

A APAH coorganizou com o Centro <strong>Hospitalar</strong> Vila Nova de Gaia a<br />

<strong>12</strong>.ª Conferência/debate da iniciativa “Caminho dos Hospitais”, dedicada<br />

à “Inovação e Sustentabilidade Clínica e Económica “.<br />

Ver reportagem na presente edição.<br />

À Terça-feira com… | Webinars APAH | Marta Temido<br />

[6 março, Webconferência]<br />

O 2.<strong>º</strong> Webinar “À Terça-feira com…” contou com Marta Temido,<br />

uma das maiores especialistas nacionais em gestão de recursos<br />

humanos que analisou a “Combinação eficiente de recursos humanos<br />

da saúde” e qual o ponto de situação atual em Portugal.<br />

The Economist | Lisbon Summit <strong>2018</strong><br />

13 e 14 de março, Cascais, Portugal<br />

A APAH participou no Lisbon Summit <strong>2018</strong> do The Economist tendo<br />

sido representada pelo seu Presidente na sessão dedicada à<br />

saúde “Health: moving towards value-based financing and performance<br />

assessment”.<br />

4ª. Conferência de VALOR APAH<br />

[16 a 17 março]<br />

A APAH realizou a sua 4.ª Conferência de VALOR APAH em Viseu,<br />

dedicada ao tema “Modelos de <strong>Gestão</strong> de Acesso à Urgência e<br />

Continuidade <strong>Hospitalar</strong>”. Ver reportagem na presente edição.<br />

Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong> | Ciclo Conferências <strong>2018</strong><br />

[19 março, Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz<br />

em Lisboa]<br />

A APAH coorganizou com o Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Norte a 1.ª<br />

Conferência inserida no Ciclo de Conferências “Rumo ao Norte<br />

<strong>Hospitalar</strong>” dedicada ao tema “Desafios da Inovação e Segurança<br />

da Informação”.<br />

58


EVENTOS +<br />

…DEIXAMOS AQUI ALGUMAS SUGESTÕES DE EVENTOS FUTUROS:<br />

ORGANIZAÇÃO APAH<br />

5.ª Conferência de VALOR APAH<br />

Modelos de Liderança e <strong>Gestão</strong> da Mudança em Saúde<br />

Data: 8 a 9 de junho <strong>2018</strong><br />

Local: Tomar, Hotel Templários<br />

Mais informações em:<br />

https://apah.pt/iniciativas-projetos/conferencias-de-valor-apah/<br />

À Terça-feira com… | Webinars APAH<br />

Data: 1.ª Terça-feira de cada mês<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em:<br />

https://apah.pt/iniciativas-projetos/a-terca-feira-com/<br />

27 th Congress of the European Association of Hospital Managers<br />

(EAHM)<br />

Redefining the Role of Hospitals - Innovating in Population<br />

Health<br />

Data: 26 e 28 setembro de <strong>2018</strong><br />

Local: Cascais – Centro Congressos do Estoril, Portugal<br />

Mais informações em: http://www.eahm-cascais<strong>2018</strong>.com<br />

5.<strong>º</strong> Prémio Healthcare Excellence<br />

Cerimónia de eleição e entrega do Prémio<br />

Data: 19 de outubro, Porto<br />

Local: Porto - Sessão Regional Norte da Ordem dos Médicos<br />

Mais informações em:<br />

https://apah.pt/iniciativas-projetos/premio-healthcare-excellence/<br />

X Fórum do Medicamento <strong>2018</strong><br />

Da investigação à optimização do tratamento<br />

Data: 16 de novembro, Lisboa<br />

Local: Lisboa - Centro Cultural de Belém, Sala Fernando Pessoa<br />

Mais informações em:<br />

https://apah.pt/iniciativas-projetos/forum-do-medicamento/<br />

CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Caminho dos Hospitais − Conferências debate<br />

Parceria APAH e Hospitais do Serviços Nacional de Saúde<br />

Periodicidade: mensal<br />

Mais informações em:<br />

https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-dos-hospitais/<br />

Medicina e Administração de Sistemas de Saúde – Ciclo Conferências<br />

<strong>2018</strong><br />

Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos<br />

(SRNOM)<br />

1.ª Conferência: Organização interna nos hospitais<br />

Data: 26 de abril <strong>2018</strong>, 19h00<br />

Local: SRNOM, Porto<br />

2.ª Conferência: Cooperação inter-hospitalar<br />

Data: 28 de junho <strong>2018</strong>, 19h00<br />

Local: SRNOM, Porto<br />

3.ª Conferência: Como integrar inovação em saúde<br />

Data: 21 de setembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />

Local: SRNOM, Porto<br />

4.ª Conferência: O Hospital e as pessoas<br />

Data: 29 de novembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />

Local: SRNOM, Porto<br />

5.ª Conferência: Informática e o hospital<br />

Data: 14 de dezembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />

Local: SRNOM, Porto<br />

Mais informações em:<br />

https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-administracaode-servicos-de-saude/<br />

Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong> – Ciclo de Conferências<br />

Parceria APAH e Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Norte (CHLN)<br />

1.ª Conferência: Desafios da Inovação e Segurança da Informação<br />

Data: 19 de março <strong>2018</strong>, 14h30<br />

Local: Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz, Lisboa<br />

2.ª Conferência: Green Hospital − O futuro é hoje<br />

Data: 18 de junho <strong>2018</strong>, 14h30<br />

Local: Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz, Lisboa<br />

3.ª Conferência: Segurança em Meio <strong>Hospitalar</strong><br />

Data: 22 de outubro <strong>2018</strong>, 14h30<br />

Local: Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz, Lisboa<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/cicloconferencias-rumo-ao-norte-hospitalar<br />

APAH RECOMENDA<br />

ICIC18 − 18 th International Conference on Integrated Care<br />

Organização: International Fundation Integrated Care (IFIC)<br />

Data: 23 a 25 de maio de <strong>2018</strong><br />

Local: NBC Congrescentrum, 3438 LC Nieuwegein, Utrecht<br />

Mais informações em:<br />

https://integratedcarefoundation.org/events/icic18-18th-international-conference-on-integrated-care-utrecht<br />

EHMA <strong>2018</strong> Annual Conference − Making It Happen<br />

Organização: European Healthcare Management Association<br />

(EHMA)<br />

Data: 20 a 22 de junho de <strong>2018</strong><br />

Local: Budapeste, Hungria<br />

Mais informações em:<br />

http://ehma.org/event/ehma-<strong>2018</strong>-annual-conference-makinghappen/<br />

42 nd World Hospital Congress − Patient-friendly & Smarter<br />

Healthcare<br />

Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />

Data: 10 a <strong>12</strong> de outubro de <strong>2018</strong><br />

Local: Brisbane, Australia<br />

Mais informações em: www.hospitalcongress<strong>2018</strong>.com<br />

7.<strong>º</strong> Congresso Internacional dos Hospitais − Envolvimento e<br />

Responsabilidade do cidadão no SNS<br />

Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />

<strong>Hospitalar</strong> (APDH)<br />

Data: 21 a 23 de novembro de <strong>2018</strong><br />

Local: Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Portugal<br />

Mais informações em: http://apdh.pt<br />

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PARCEIROS PLATINA<br />

PARCEIROS OURO<br />

PARCEIROS PRATA<br />

PARCEIROS BRONZE<br />

www.apah.pt

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