Gestão Hospitalar N.º 12 2018
Entrevista a Xavier Corbella, Secretário Geral da International Fedaration Internal Medicine
Entrevista a Xavier Corbella, Secretário Geral da International Fedaration Internal Medicine
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JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO <strong>2018</strong><br />
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE<br />
ADMINISTRADORES HOSPITALARES [APAH]<br />
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ISSN: 0871-0767<br />
Entrevista<br />
a Xavier<br />
Corbella<br />
SAÚDE E ASSISTÊNCIA<br />
SOCIAL: A NECESSIDADE<br />
DE UMA ABORDAGEM<br />
INTEGRADA<br />
Luís Campos<br />
TELESAÚDE<br />
– EXPERIÊNCIA<br />
DOS AÇORES<br />
Ana Raquel Santos<br />
Luísa Sousa Melo Alves<br />
REMEDI<br />
REQUISIÇÕES MÉDICAS<br />
Bruno Silva<br />
Pedro Rodolfo<br />
PRÉMIO CORIOLANO<br />
FERREIRA − RAZÃO DE SER<br />
Rui Santana, Sílvia Lopes<br />
E AINDA...<br />
– Caminho dos Hospitais<br />
– Academia APAH<br />
– Conferências de Valor<br />
– Homenagem a Augusto Mantas,<br />
João Urbano e Margarida Bentes
APOIO INSTITUCIONAL<br />
PARCEIROS INSTITUCIONAIS<br />
Ordens Profissionais<br />
Outros Parceiros Estratégicos<br />
PARCEIROS FORMAÇÃO<br />
ENTIDADES PATROCINADORAS<br />
Patrocinadores<br />
de Mérito<br />
Patrocinadores<br />
de Valor<br />
GESTÃO OPERACIONAL<br />
www.apah.pt/academia-apah
SUMÁRIO<br />
03<br />
EDITORIAL<br />
04<br />
SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL: A NECESSIDADE DE UMA<br />
ABORDAGEM INTEGRADA<br />
08<br />
Implementação do programa ERAS® − Enhanced<br />
Recovery After Surgery na cirurgia de cólon e<br />
reto no Hospital Beatriz Ângelo<br />
<strong>12</strong><br />
Telesaúde − Experiência dos Açores<br />
18<br />
ENTREVISTA A XAVIER CORBELLA<br />
26<br />
REMEDI − REQUISIÇÕES MÉDICAS<br />
28<br />
AS CAUSAS DAS RECLAMAÇÕES<br />
35<br />
CAMINHO DOS HOSPITAIS<br />
38<br />
Portugal recebe o maior congresso europeu de<br />
gestores hospitalares − EAHM <strong>2018</strong><br />
40<br />
CONFERÊNCIAS DE VALOR APAH<br />
DIREÇÃO<br />
Alexandre Lourenço | Bárbara Carvalho<br />
Emanuel Magalhães de Barros | Margarida França<br />
REDAÇÃO<br />
Catherine Alves Pereira<br />
DESIGN GRÁFICO<br />
Fedra Santos<br />
REVISÃO<br />
Ângela Barroqueiro<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
Gratuita<br />
PROPRIEDADE<br />
APAH − Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Apartado 13040<br />
Estação CTT Casal Ribeiro<br />
1000-994 Lisboa<br />
secretariado@apah.pt<br />
www.apah.pt<br />
46 Diagnóstico sobre a utilização da Contabilidade<br />
Analítica nos Hospitais Públicos Portugueses<br />
50 ICHOM<br />
54 Homenagem a Augusto Mantas, João Urbano<br />
e Margarida Bentes<br />
56 ESPAÇO ENSP [SAÚDE E INVESTIGAÇÃO]:<br />
PRÉMIO CORIOLANO FERREIRA − RAZÃO DE SER<br />
58 APAH MARCA A AGENDA<br />
60 Academia Apah<br />
PERIODICIDADE<br />
Trimestral<br />
DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />
16288/97<br />
ISSN N.<strong>º</strong><br />
0871–0767<br />
TIRAGEM<br />
2.000 exemplares<br />
IMPRESSÃO<br />
Rainho & Neves, Lda. – Santa Maria da Feira<br />
FOTO CAPA © Fedra Santos<br />
Esta revista foi escrita segundo as<br />
novas regras do Acordo Ortográfico
© MARGARIDA FRANÇA<br />
EDITORIAL<br />
O Administrador <strong>Hospitalar</strong> João Santos Cardoso foi um insigne devoto da causa<br />
pública e, particularmente, do Serviço Nacional de Saúde.<br />
Juntamente com Eduardo Sá Ferreira, Raúl Moreno, João Urbano, Júlio Reis, José<br />
Carlos Lopes Martins e Jorge Varanda, integrou em 1981 a primeira Direção da<br />
Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH). Entre 1984<br />
e 1987 assume a presidência da APAH. Em 1983 fundou a Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
que dirigiu até 1986.<br />
Após 35 anos continuamos a promover este seu legado, marca no tempo, do<br />
trabalho continuado de diferentes gerações de Administradores e Dirigentes<br />
<strong>Hospitalar</strong>es que se empenharam em inovar e demonstrar capacidades e competências,<br />
bem como profunda vontade de adicionar valor às políticas públicas,<br />
ao ensino e formação, à investigação e à gestão das unidades de saúde.<br />
Reconhecendo a sua relevância, recentemente, digitalizámos todos os números<br />
destes anos de revista, sendo agora disponibilizados universal e gratuitamente<br />
no nosso site. Para celebrar os 35 anos estamos a preparar uma edição<br />
comemorativa da <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>. Desde a primeira hora, o João Santos Cardoso<br />
disponibilizou-se generosamente para escrever o seu editorial.<br />
Para que entendesse este homem, e o seu papel na história da administração<br />
hospitalar, a colega Fernanda Taborda partilhou-me: “Numa conversa de café,<br />
o Santos Cardoso confidenciou ao Cassiano Póvoas que o Prof. Coriolano Ferreira<br />
(Diretor Geral dos Hospitais) não pedia a ficha da PIDE/DGS nos processos<br />
de recrutamento. Foi desta conversa que muitos de nós viemos para a Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>”.<br />
Um dia antes da sua partida, foi possível atribuir-lhe o título de sócio de mérito.<br />
Ia completar 85 anos no próximo dia 4 de setembro.<br />
Em 1984, Santos Cardoso fez o discurso inaugural do 5.<strong>º</strong> Congresso da Associação<br />
Europeia de Diretores de Hospitais, o primeiro organizado pela APAH<br />
(no próximo mês de setembro decorrerá o 27.<strong>º</strong> Congresso no Estoril, o terceiro<br />
organizado pela APAH), termina a sua intervenção bastante crítica da gestão<br />
hospitalar em Portugal com:<br />
“o conhecimento e as ideias são armas poderosas em Democracia.”<br />
Nada mais justo do que dedicar a próxima edição especial da <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
à memória deste Homem de Liberdade.<br />
ALEXANDRE LOURENÇO<br />
Presidente da APAH
SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL:<br />
A NECESSIDADE DE UMA<br />
ABORDAGEM INTEGRADA<br />
LUÍS CAMPOS MD MSc FACP (Hon)<br />
Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna<br />
Presidente da Comissão de Qualidade e Assuntos Profissionais da EFIM<br />
Diretor do Serviço de Medicina do HSFX/CHLO<br />
Professor Auxiliar convidado da Faculdade de Ciências Médicas/UNL<br />
recente inquérito promovido pela Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, com a<br />
O<br />
colaboração da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna,<br />
que mostra que permanecem nos hospitais do SNS,<br />
depois de terem alta clínica, mais de mil doentes internados<br />
por motivos sociais ou a aguardar vaga na Rede<br />
Nacional de Cuidados Continuados, destapa um problema<br />
com que nos defrontamos há muito: os hospitais, e particularmente<br />
os serviços de Medicina, onde estão mais de<br />
50% destes doentes, estão transformados em centros de<br />
resolução dos problemas sociais dos doentes. Esta realidade<br />
vai-se agravar de dia para dia, tornando impossível<br />
cada vez mais separar os problemas de saúde dos problemas<br />
sociais.<br />
O que se esconde por detrás destes números? Vamos<br />
relatar dois casos reais com nomes fictícios, para que se<br />
entenda do que estamos a falar.<br />
Dois casos clínicos<br />
Senhor António, doente de 50 anos, toxicodependente,<br />
HIV positivo e com patologia psiquiátrica. Tem<br />
uma reforma por invalidez de 200 euros. Foi referenciado e<br />
aceite em Unidade da RNCCI de longa duração há três anos,<br />
mas a mãe foi buscá-lo e, passado 1 mês, trouxe-o de novo<br />
para o hospital porque não consegue tomar conta dele em<br />
casa. A mãe acha que ele está bem é no hospital. Foi referenciado<br />
novamente para RNCCI, mas foi chumbado por<br />
falta de critérios. Ao mesmo tempo iniciou-se o processo de<br />
interdição do doente junto do Ministério Público para nomeação<br />
de tutor (porque a mãe se recusava a colaborar), no<br />
entanto o ministério nomeou a mãe como tutora. Recusado<br />
duas vezes na casa de Saúde do Telhal por falta de critérios,<br />
nomeadamente porque não era autónomo. Foi referenciado<br />
à Segurança Social, dois anos depois, para integração<br />
O recente inquérito promovido pela Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, com a colaboração da Sociedade Portuguesa<br />
de Medicina Interna, que mostra que permanecem nos hospitais<br />
do SNS, depois de terem alta clínica, mais de mil doentes internados<br />
por motivos sociais ou a aguardar vaga na Rede Nacional de Cuidados<br />
Continuados, destapa um problema com que nos defrontamos há muito:<br />
os hospitais, e particularmente os serviços de Medicina,<br />
onde estão mais de 50% destes doentes, estão transformados<br />
em centros de resolução dos problemas sociais dos doentes.<br />
4
Angustiamo-nos diariamente com realidades sociológicas<br />
cada vez mais dramáticas, como idosos que ficam dependentes<br />
e não têm família, idosos maltratados em casa ou em lares, pais abandonados<br />
pelos filhos, pensões miseráveis que sustentam famílias, casas para<br />
onde não temos coragem de reenviar os nossos doentes, famílias<br />
que acham que o Estado tem a obrigação de resolver todos os problemas.<br />
numa residência assistida. Ao mesmo tempo foi feito um<br />
pedido a título excepcional à Misericórdia de Lisboa, que o<br />
recusou por ser doente fora da área. Até ao momento sem<br />
resposta. Foi referenciado a um Centro de Apoio Social mas<br />
foi recusado. Está internado há mais de um ano no serviço<br />
de Medicina de um hospital central.<br />
Dona Lurdes, de 81 anos, autónoma, orientada, com<br />
dois filhos, vivendo com um deles. Os filhos e a doente recusaram<br />
simplesmente sair do hospital depois da alta ou<br />
referenciação a rede. Os filhos continuavam a receber a<br />
reforma dela de 400 euros. Ambos profissionalmente ativos.<br />
Ficou 1 ano no hospital até que acabou por sair para<br />
casa ficando com o apoio de um centro de dia.<br />
Estes são exemplos dos problemas com que nos defrontamos<br />
no nosso quotidiano, nos serviços de Medicina, nós<br />
e as assistentes sociais que integram as nossas equipas.<br />
Uma realidade sociológica<br />
em rápida mudança<br />
Pertenço a uma geração que assistiu e protagonizou<br />
as mais vertiginosas e extraordinárias mudanças<br />
de toda a história da humanidade, das quais fomos,<br />
ao mesmo tempo, agentes e vítimas no plano político e<br />
tecnológico, basta lembrar que o primeiro computador<br />
pessoal foi introduzido pela IBM em 1981, e o telemóvel<br />
em 1992. Ao mesmo tempo temos a triste consciência de<br />
deixar o mundo pior do que o recebemos dos nossos pais:<br />
mais inseguro, mais degradado, mais insustentável.<br />
Também ao nível sociológico as mudanças são impressivas.<br />
Eu vivo nos hospitais há quase 40 anos. Nestes 40<br />
anos assistimos à evolução de uma família trigeracional<br />
para uma família bigeracional e agora, quando as pessoas<br />
divorciadas superam as casadas, para uma família diluída,<br />
múltipla e diversa. Nestes 40 anos assistimos à completa<br />
emancipação da mulher e a uma mudança radical na relação<br />
homem-mulher, assim como a uma mudança na relação<br />
pais-filhos. A esperança de vida passou de 70,5 anos<br />
para 81,2 anos e o envelhecimento inverteu a pirâmide<br />
etária 1 . Há 40 anos tínhamos cerca de um milhão de idosos,<br />
atualmente temos já mais de dois milhões mas as projeções<br />
demográficas apontam para que Portugal tenha,<br />
em 2050, uma percentagem de idosos superior a 35%,<br />
tornando-se o terceiro país da OCDE com mais idosos, depois<br />
do Japão e Espanha 2 . Há 17 anos tínhamos 100 idosos<br />
para 100 jovens, atualmente temos cerca de 150 e dentro<br />
de 30 anos teremos 300 idosos para cada 100 jovens 3 . Em<br />
2011 tínhamos 400 mil idosos a viver sozinhos e 800 mil<br />
a viver na companhia de outros idosos, em 2016 calcula-<br />
-se que esse número terá triplicado. O número de anos de<br />
vida saudável depois dos 65 é de 6,2 anos, inferior à média<br />
da OCDE que é de 9,4 anos e muito inferior à Suécia, onde<br />
os idosos podem contar ainda com 16,3 anos de vida saudável.<br />
A percentagem da população idosa com algum tipo<br />
de incapacidade é de 45,5%, muito superior aos 32,7% de<br />
média nos países da OCDE.<br />
O medo da morte e a mitificação da Medicina, entre outros<br />
fatores, induziu a hospitalização da morte. Há 40 anos<br />
morriam 3 pessoas em cada 10 no hospital, atualmente<br />
esse número duplicou e morrem 6 em cada 10 4 .<br />
A situação atual<br />
Os nossos hospitais foram invadidos por uma população<br />
predominantemente idosa, muitos com<br />
algum grau de incapacidade, e com multimorbilidades. O<br />
impacto desta mudança já foi apelidado de silver tsunami.<br />
A idade média dos doentes internados nos serviços<br />
5
Este é um dos piores exemplos de desperdício no sistema de saúde,<br />
porque nos ocupa o tempo em que devíamos estar a tratar dos nossos<br />
doentes, porque nos obriga a utilizar camas fora dos nossos serviços,<br />
suspendendo a atividade programada desses serviços, porque estamos<br />
a utilizar inadequadamente camas em hospitais de agudos que custam<br />
o preço de uma suite dum hotel de cinco estrelas com doentes que estariam<br />
melhor noutras instalações a custar cinco vezes menos, porque expõe<br />
o défice de planeamento no SNS, a incongruência de alguma legislação<br />
e a incapacidade dos hospitais de tomarem decisões básicas em termos<br />
de gestão, como implementarem soluções fora do hospitais.<br />
de Medicina é de 76 anos. No meu serviço saem com uma<br />
média de doze diagnósticos.<br />
A resolução dos problemas sociais dos doentes consome<br />
muita da nossa energia, já de si exaurida por uma<br />
carga assistencial elevadíssima, nas urgências, nas enfermarias,<br />
nas unidades, nas camas espalhadas por todo o<br />
hospital, nos hospitais de dia, em consultas, em ensino, na<br />
investigação e em múltiplas comissões.<br />
Angustiamo-nos diariamente com realidades sociológicas<br />
cada vez mais dramáticas, como idosos que ficam dependentes<br />
e não têm família, idosos maltratados em casa<br />
ou em lares, pais abandonados pelos filhos, pensões miseráveis<br />
que sustentam famílias, casas para onde não temos<br />
coragem de reenviar os nossos doentes, famílias que<br />
acham que o Estado tem a obrigação de resolver todos os<br />
problemas. Esbarramos diariamente na incapacidade das<br />
famílias, no cansaço dos cuidadores, na falta de resposta<br />
dos Cuidados Continuados, dos Cuidados Paliativos, da<br />
Segurança Social, da Misericórdia, do Ministério Público.<br />
Deparamo-nos diariamente com as incongruências da lei,<br />
como as famílias continuarem a receber as pensões dos<br />
doentes com internamentos inapropriados, os doentes e<br />
as famílias decidirem simplesmente que preferem ficar no<br />
hospital sem que possamos fazer nada em contrário, os<br />
doentes terem que ficar internados até terem vagas em<br />
cuidados continuados ou paliativos.<br />
Este é um dos piores exemplos de desperdício no sistema<br />
de saúde, porque nos ocupa o tempo em que devíamos<br />
estar a tratar dos nossos doentes, porque nos obriga a utilizar<br />
camas fora dos nossos serviços, suspendendo a atividade<br />
programada desses serviços, porque estamos a utilizar<br />
inadequadamente camas em hospitais de agudos que<br />
custam o preço de uma suite dum hotel de cinco estrelas<br />
com doentes que estariam melhor noutras instalações a<br />
custar cinco vezes menos, porque expõe o défice de planeamento<br />
no SNS, a incongruência de alguma legislação e<br />
a incapacidade dos hospitais de tomarem decisões básicas<br />
em termos de gestão, como implementarem soluções fora<br />
do hospitais.<br />
Na realidade a profissão de médico, particularmente de<br />
médico no hospital, situa-nos num privilegiado observatório<br />
da natureza humana e da evolução sociológica, mas<br />
também nos traz a angústia do confronto quotidiano com<br />
a pobreza, o abandono dos idosos, com a dissolução dos<br />
laços familiares, com a emergência de estratégias feias de<br />
sobrevivência e com exasperação de nos vermos de mãos<br />
atadas e de vermos a lentidão com que o sistema reage à<br />
evolução da realidade sociológica.<br />
As mudanças necessárias<br />
Sociedade Portuguesa de Medicina Interna tem<br />
A falado com frequência deste problema, no entanto<br />
estamos conscientes da sua elevada complexidade e como<br />
tal as respostas também são complexas e diversas. Entre<br />
outras destaco três áreas que temos que mudar: investir<br />
mais em cuidados de longa duração, integrar a saúde com<br />
a assistência social e mudar a legislação.<br />
Em Portugal a percentagem da população idosa que recebe<br />
cuidados de longo termo é de 2,1/1000, um sexto da<br />
média dos países da OCDE (OECD 13/1000). Somos o país<br />
da OCDE com menos camas de longo termo. Somos o segundo<br />
país em que é atribuída menos verba aos cuidados<br />
de longa duração (3%), sendo a média da OCDE de 14% 2 .<br />
Estima-se que haja em Portugal 71.500 a 85.000 doentes<br />
com necessidade de cuidados paliativos e que necessi-<br />
6
temos de cerca de 500 camas, no entanto temos apenas<br />
cerca de 360 5 .<br />
Mas para além disso existe falta de equidade entre<br />
regiões, em termos de capacidade instalada, como por<br />
exemplo no número de camas de cuidados continuados.<br />
O número de camas por 100 mil idosos variava em 2015<br />
entre as 262 na região de Lisboa e Vale do Tejo e as 596<br />
no Alentejo. Um dos resultados que me surpreendeu no<br />
inquérito da APAH foi que o Norte é a região onde existe<br />
a maior percentagem de doentes com internamento<br />
inapropriado por incapacidade de resposta de familiar ou<br />
cuidador, quando o norte é a região que preservava mais<br />
os laços de solidariedade familiar, e o Centro e Alentejo são<br />
as regiões com maior percentagem de doentes a aguardar<br />
resposta na RNCCI, quando são das regiões que têm mais<br />
camas por cem mil idosos.<br />
Por outro lado é cada vez mais difícil separar os<br />
problemas de saúde dos problemas sociais, temos que<br />
pensar os dois sectores em conjunto, como já aconteceu<br />
no nosso país e como está acontecer em alguns países,<br />
com a Escócia ou a Irlanda.<br />
É ainda necessário mudar legislação, retirando aos<br />
doentes e familiares a possibilidade de recusarem a<br />
referenciação para outro nível de cuidados. Isto implica<br />
também a gratuitidade deste nível de cuidados, que teria<br />
de ser gerido pelo SNS. Há que acabar com o incentivo<br />
perverso de as famílias continuarem a receber as pensões<br />
dos doentes internados, após a alta hospitalar. Existe<br />
também a necessidade de criar uma via rápida para a<br />
decisão sobre tutores pelo Ministério público.<br />
É preciso devolver aos médicos o poder de decidir<br />
colocar os doentes nos sítios mais adequados para a sua<br />
condição, criar redes locais e regionais que integrem os<br />
vários níveis de cuidados e mobilizem os recursos das<br />
comunidades, permitir que os hospitais tenham unidades<br />
de retaguarda onde possam colocar estes doentes, e<br />
muitas outras medidas possíveis.<br />
Há muito para fazer, mas não há soluções milagrosas.<br />
Perante esta realidade só não temos uma opção que é não<br />
fazermos nada.<br />
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna está profundamente<br />
preocupada com este problema e por isso<br />
promoveu um debate público em maio sobre ele, em parceria<br />
com a APAH. Mas este não é um problema da Medicina<br />
Interna, é um problema de toda a sociedade, um<br />
problema que cresce dia a dia ante os nossos olhos, que<br />
submerge diariamente os serviços de Medicina Interna, e<br />
que ameaça colapsar a rede hospitalar do SNS e depois a<br />
sustentabilidade da própria sociedade, tal como a conhecemos.<br />
Há muito para fazer, mas não há soluções milagrosas.<br />
Perante esta realidade só não temos uma opção<br />
que é não fazermos nada.<br />
Bibliografia<br />
1. Eurostat. Healthy life years statistics.Disponível em: http://ec.europa.eu/eurostat/statisticsexplained/index.php/Healthy_life_years_statistics.<br />
Acedido a 24 de Julho de 2017.<br />
2. OECD. Health at a Glance 2017: OECD Indicators. Paris: OECD Publishing; 2017.. Disponível em: http://www.oecd-ilibrary.org/social-issues-migration-health/health-at-a-glance-2017_health_glance-2017-en<br />
. Acedido em 28 de Dezembro de 2017.<br />
3. INE. Projecções da população residente 2015-2080. 2017. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_<br />
destaques&DESTAQUESdest_boui=277695619&DESTAQUESmodo=2&xlang=pt Acedido em 21 de Abril de <strong>2018</strong>.<br />
4. Sarmento VP, Higginson IJ, Ferreira PL, Gomes B. Past trends and projections of hospital deaths to inform the integration of palliative care in one<br />
of the most ageing countries in the world. Palliative Medicine 2015: 1-11.<br />
5. Comissão Nacional de Cuidados Paliativos. Plano Estratégico para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos. 2017. Disponível em https://www.<br />
sns.gov.pt/wp-content/uploads/2016/11/Plano-Estratégico-para-o-Desenvolvimento-CP-2017-<strong>2018</strong>-2.pdf. Acedido em 25 de Abril de <strong>2018</strong><br />
7
Implementação do programa<br />
ERAS® − Enhanced Recovery<br />
After Surgery na cirurgia<br />
de cólon e reto no Hospital<br />
Beatriz Ângelo<br />
LUÍS PALMA FÉRIA<br />
MARIA MANSO<br />
SUSANA BARREIRA<br />
HELENA PESTANA<br />
Assistente <strong>Hospitalar</strong><br />
graduado de Cirurgia<br />
Geral do Hospital Beatriz<br />
Ângelo<br />
Assistente <strong>Hospitalar</strong><br />
de Anestesiologia do<br />
Hospital Beatriz Ângelo<br />
Enfermeira do Hospital<br />
Beatriz Ângelo<br />
Departamento de<br />
Acreditação e Certificação<br />
de Qualidade da Luz Saúde<br />
JOANA OLIVEIRA<br />
Assistente <strong>Hospitalar</strong> de<br />
Anestesiologia do Hospital<br />
Beatriz Ângelo<br />
FRANCISCO MOTA<br />
Diretor de Operações do<br />
Hospital Beatriz Ângelo<br />
RUI MAIO<br />
Diretor Clínico do Hospital<br />
Beatriz Ângelo<br />
ARTUR VAZ<br />
Presidente da Direção<br />
Executiva do Hospital<br />
Beatriz Ângelo e membro do<br />
Conselho de Administração<br />
CARLOS PEREIRA<br />
Assistente <strong>Hospitalar</strong><br />
de Medicina Interna do<br />
Hospital Beatriz Ângelo<br />
E RAS® − Enhanced Recovery After Surgery é um<br />
programa multidisciplinar, baseado na evidência<br />
e centrado no doente, com o objetivo final de diminuir as<br />
complicações e melhorar a recuperação cirúrgica.<br />
Este programa teve início há mais de 10 anos no norte<br />
da Europa, tendo sido já adotado em múltiplos hospitais<br />
por todo o Mundo. Atualmente é considerado como parte<br />
essencial das boas práticas peri-operatórias.<br />
O Hospital Beatriz Ângelo, hospital do Sistema Nacional<br />
de Saúde, localizado no Concelho de Loures, serve<br />
uma população de cerca de 300 mil habitantes. Trata-se<br />
de um Hospital de nível II, com 418 camas. Realiza mais de<br />
14 mil cirurgias por ano, das quais cerca de 150 são cirurgia<br />
eletiva de cólon e reto.<br />
Analisando os resultados deste tipo de cirurgias, foi<br />
possível ter a perceção de que a taxa de complicações e o<br />
tempo médio de internamento poderiam ser melhorados,<br />
surgindo deste modo a necessidade de mudar práticas. O<br />
programa ERAS ® parecia responder de forma global a um<br />
objetivo de melhoria da qualidade e segurança do doente.<br />
Os resultados das suas recomendações, baseadas na<br />
evidência, estavam já comprovados em inúmeras publicações<br />
1,2,3,4,5 , pelo que se decidiu adotar este projeto.<br />
A sua implementação obriga a um trabalho multidisciplinar<br />
no sentido de garantir os melhores resultados e<br />
inclui uma ferramenta de auditoria (EIAS ® – ERAS ® Interactive<br />
Audit System), já validada em múltiplos países,<br />
que por um lado obriga a uma recolha e monitorização de<br />
variados indicadores e por outro garante a fiabilidade dos<br />
resultados alcançados.<br />
Atualmente, o Hospital Beatriz Ângelo é o único centro<br />
em Portugal que completou o Programa de Implementação,<br />
estando acreditado como Centro de Excelência, o que<br />
lhe confere capacidade formativa para os restantes hospitais<br />
portugueses.<br />
8
Objetivos<br />
objetivo principal da introdução do Programa<br />
O ERAS ® é a melhoria do outcome dos doentes cirúrgicos,<br />
colocando o doente no centro de todas as decisões.<br />
Pretende-se diminuir a taxa de complicações, em especial<br />
as que têm maior impacto na qualidade de vida dos<br />
doentes, diminuir o tempo de internamento e promover<br />
uma recuperação mais rápida com retorno à vida quotidiana<br />
habitual. Nos doentes com patologia oncológica<br />
que necessitem de terapêutica adjuvante (Quimioterapia<br />
ou Radioterapia) pretende-se o início mais precoce desta<br />
última.<br />
A implementação deste programa implica uma abordagem<br />
transversal do percurso do doente cirúrgico, desde<br />
que é decidida a cirurgia até à alta. Consequentemente,<br />
deve ser garantida a multidisciplinaridade, a comunicação<br />
entre equipas e a uniformização das formas de atuar dos<br />
diferentes intervenientes (cirurgia, anestesiologia, enfermagem,<br />
fisiatria, nutrição, serviço social, entre outros<br />
participantes no modelo de cuidados).<br />
A introdução destas alterações na prática clínica deve<br />
realizar-se de forma rápida e sustentada e deve conduzir<br />
à formação de equipas abertas à mudança.<br />
Em última análise este processo conduz a um aumento<br />
da eficiência dos cuidados de saúde nos doentes submetidos<br />
a cirurgia, representando uma nova forma de gestão<br />
da doença e dos doentes.<br />
Metodologia de Implementação<br />
projeto inicia-se com a definição da área cirúrgica<br />
O e da equipa que vai liderar a implementação do<br />
programa no hospital. Deve incluir pelo menos um cirurgião<br />
e um anestesiologista, assumindo um destes o papel<br />
de Team Leader, um enfermeiro (ERAS ® Coordinator), um<br />
elemento da administração e outros elementos considerados<br />
importantes na prática dos cuidados perioperatórios<br />
de cada hospital (como, por exemplo, nutricionista, fisiatra,<br />
fisioterapeuta ou intensivista).<br />
O Programa de Implementação é uma adaptação da<br />
Breakthrough Series Methodology, desenvolvida e usada<br />
extensamente pelo Institute for Healthcare Improvement,<br />
como método de apoio às organizações na introdução da<br />
mudança e melhoria da qualidade dos serviços. Tem uma<br />
duração de oito a doze meses e está organizado em três<br />
seminários presenciais, um seminário online e três períodos<br />
de ação (que decorrem entre os seminários).<br />
Devem realizar-se reuniões semanais da equipa para<br />
adaptação dos protocolos internacionais à realidade portuguesa<br />
e à instituição. Após a implementação do programa<br />
estas reuniões são essenciais para a monitorização do<br />
programa e dos seus resultados de modo a adotar medidas<br />
corretivas dos desvios detetados, assim como garantir<br />
a manutenção das práticas.<br />
Deve fazer-se avaliações frequentes (mensais, trimestrais,<br />
semestrais e anuais) dos resultados com divulgação<br />
a todos os elementos envolvidos, incluindo os Cuidados de<br />
Saúde Primários.<br />
Resultados<br />
Foi feita uma análise retrospetiva dos doentes sujeitos<br />
a cirurgia colorretal no Hospital Beatriz Ângelo.<br />
Compararam-se 2 grupos de doentes, um antes da<br />
aplicação do protocolo (Pré-ERAS ® ) e outro após a sua implementação<br />
(ERAS ® ). Os dados foram obtidos através da<br />
base de dados do sistema de auditoria do programa ERAS ®<br />
(EIAS – ERAS ® Interactive Audit System) e a análise estatística<br />
elaborada com recurso ao programa SPSS Statistics<br />
23.0. Os principais outcomes estudados foram o tempo de<br />
internamento, o tempo até retorno do trânsito intestinal e<br />
até tolerância de alimentos sólidos, a incidência de complicações<br />
e a mortalidade.<br />
Foram avaliados 67 doentes consecutivos antes da<br />
implementação do programa ERAS ® e 72 após a sua introdução<br />
(num período de 6 meses), num total de 139<br />
doentes. Observou-se uma diminuição estatisticamente<br />
significativa no tempo até emissão de gases (2.11±1.247<br />
vs 1.49±0.653, p-value = 0.007) e no tempo até emissão<br />
de fezes (3.22±1.964 vs 2.25±1.21, p-value = 0.001).<br />
A diminuição no tempo até tolerar alimentação sólida<br />
não foi estatisticamente significativa (5.92±11.847 vs<br />
2.69±2.447, p-value = 0.035). Registou-se um aumento<br />
estatisticamente significativo na incidência de náuseas e<br />
vómitos (4.5% vs 19.4%, p-value = 0.007). Constatou-se<br />
uma redução estatisticamente significativa na incidência<br />
de complicações respiratórias (10.4% vs 0%, p-value<br />
= 0.005), no tempo de internamento (14.03±21.797 vs<br />
6.24±4.016, p-value = 0.003) e uma tendência para redução<br />
na mortalidade (7.5% vs 0%, p-value 0.018). Estes<br />
resultados foram obtidos sem um aumento na incidência<br />
de complicações no geral (52.2% vs 48.6%, p-value =<br />
0.669), complicações cirúrgicas (22.4% vs 13.9%, p-value<br />
= 0.192), readmissões (7.5% vs 6.9%, p-value = 0.906) ou<br />
reoperações (19.4% vs 15.3%, p-value = 0.52).<br />
Discussão<br />
A aplicação do conceito ERAS® assenta na adoção de<br />
condutas cientificamente comprovadas em 23 elementos<br />
clínicos no pré, intra e pós-operatório. Existe uma<br />
relação direta entre a taxa de adesão a estes elementos<br />
9
e a melhoria de outcome e do tempo de internamento 1,2 .<br />
A adoção destas condutas implica uma alteração de<br />
paradigmas, o desafiar de práticas clínicas profundamente<br />
enraizadas na abordagem tradicional do doente cirúrgico,<br />
mas que se encontram associadas a efeitos deletérios<br />
à recuperação pós-operatória. Foca-se na educação do<br />
doente, na otimização da capacidade funcional antes da<br />
cirurgia, na diminuição do tempo de jejum, na escolha de<br />
técnicas cirúrgicas com menor agressão possível, na restrição<br />
de fluidos, no controlo eficaz da dor com efeitos secundários<br />
mínimos e na reintrodução precoce da alimentação<br />
oral e da atividade física após a cirurgia.<br />
Um dos grandes desafios deste projeto consiste em<br />
criar uma equipa multidisciplinar, centrada no doente, capaz<br />
de mudar mentalidades e atitudes numa instituição<br />
de saúde. O verdadeiro trabalho em equipa, multiprofissional,<br />
em oposição à tradicional organização de serviços<br />
estanques, permite alterações eficazes e sustentadas à<br />
prática clínica e cria um ambiente geral de abertura à inovação.<br />
A uniformização das atitudes de toda a equipa que<br />
presta cuidados ao doente cirúrgico cria confiança e facilita<br />
o ensino e o envolvimento dos doentes e das suas<br />
famílias numa recuperação ativa e participada.<br />
Muitos estudos têm sido feitos no sentido de avaliar os<br />
resultados da implementação deste programa, focando-<br />
-se a maioria deles na evolução da taxa de complicações<br />
pós-operatórias e no tempo de duração do internamento.<br />
Observam-se reduções de quase 50% na morbilidade<br />
pós-operatória, especialmente no que se refere às complicações<br />
não cirúrgicas, e uma diminuição de cerca de<br />
2 dias na estadia hospitalar, isto sem alterar as taxas de<br />
readmissão 1,2,3,4 .<br />
No que respeita ao Hospital Beatriz Ângelo, nos primeiros<br />
6 meses de programa, verificou-se uma diminuição<br />
das complicações médicas e cirúrgicas graves de 20.9%<br />
para <strong>12</strong>.9%, da mortalidade de 7% para 0% e do número<br />
de re-intervenções de 19% para 14%. As três complicações<br />
mais frequentes na fase pré- ERAS ® foram a infeção<br />
da ferida operatória (16%), a deiscência da anastomose<br />
(15%) e a pneumonia (7%). Após a implementação do programa,<br />
as complicações mais frequentes passaram a ser<br />
náuseas e vómitos (20%) - cujo aumento poderá dever-se<br />
à sua avaliação e registo sistemático –, a infeção da ferida<br />
operatória (14%) - que se mantém estável – e a deiscência<br />
da anastomose (4%). Constata-se também que o tempo<br />
médio de internamento diminuiu de 14.7 para 6.5 dias<br />
(mediana de internamento passou de 7 para 5 dias), sem<br />
aumento da taxa de readmissões (que diminuiu de 0.6%<br />
para 0.3%). Estes resultados são provavelmente decorrentes<br />
do aumento da compliance geral com o programa<br />
que passou de 37% na fase Pré-ERAS ® para 89% com a<br />
sua implementação.<br />
Os fundamentos do conceito ERAS ® aliados aos bons<br />
resultados obtidos levaram a equipa de implementação<br />
do programa a planear a sua introdução em outras áreas<br />
cirúrgicas, eletivas e urgentes e a estudar a sua aplicação<br />
a outras áreas não cirúrgicas.<br />
Conclusões<br />
Os resultados alcançados reproduzem os dados da<br />
literatura internacional 5,6,7 , reforçando o conceito<br />
ERAS ® como uma ferramenta de melhoria de Cuidados de<br />
Saúde, tanto no âmbito da qualidade como da segurança.<br />
De realçar que o investimento efetuado na aquisição<br />
do Programa de Implementação (24.000€ + IVA à taxa<br />
em vigor), na formação das equipas e no tempo dedicado<br />
pelos profissionais demonstrou ter um retorno rápido<br />
e significativo, não só pela diminuição da demora média<br />
de internamento (21.600€, contabilizando apenas a redução<br />
em 2 dias de hotelaria por doente, em 6 meses),<br />
como pela melhoria dos resultados alcançados ao nível<br />
da qualidade do serviço prestado, traduzida pela redução<br />
das complicações major (com impacto financeiro também<br />
considerável).<br />
Bibliografia<br />
1. Greco, M; Capretti, G; Beretta, L; Gemma, M; Pecorelli, N; Braga, M.<br />
Enhanced recovery program in colorectal surgery: a meta-analysis of<br />
randomized controlled trials. World J Surg. 2014 Jun; 38(6):1531-41.<br />
2. ERAS Compliance Group. The impact of enhanced recovery protocol<br />
compliance on elective colorectal cancer resection. Ann Surg.2015;<br />
261:1153-1159.<br />
3. Adamina, M; Kehlet, H; Tomlinson, GA; Senagore, AJ; Delaney, CP.<br />
Enhanced recovery pathways optimize health outcomes and resource<br />
utilization: a meta-analysis of randomized controlled trials in colorectal<br />
surgery. Surgery 2011; 149: 830–40.<br />
4. Visioni, A; Shah, R; Gabriel, E; Attwood, K; Kukar, M; Nurkin, S.<br />
Enhanced Recovery After Surgery for Noncolorectal Surgery?: A Systematic<br />
Review and Meta-analysis of Major Abdominal Surgery. Ann<br />
Surg.2017 Apr 21.<br />
5. Nelson, G; Kiyang, LN; Crumley, ET et al. Implementation of Enhanced<br />
Recovery After Surgery (ERAS) Across a Provincial Healthcare<br />
System: The ERAS Alberta Colorectal Surgery Experience. World J Surg<br />
2016;40(5):1092–103.<br />
6. Nguyen, T; Anderson, C; Tracy, W; Jeannette, L; Faris, P;<br />
Thanh, NX; Chuck, AW; Wasylak, T et al. An economic evaluation of<br />
the Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) multisite implementation<br />
program for colorectal surgery in Alberta. Canadian Journal of<br />
Surgery. 2016;59(6):415-421. doi:10.1503/cjs.006716.<br />
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in the United States: A financial model and sensitivity analysis<br />
based on experiences at a quaternary academic medical center. J Am<br />
Coll Surg 2016; 222 (3): 219-225.<br />
10
11
Telesaúde<br />
– Experiência dos Açores<br />
ANA RAQUEL SANTOS<br />
Coordenadora do Gabinete<br />
de <strong>Gestão</strong> de Prestações<br />
em Saúde e Contratualização<br />
da Saudaçor, S.A.<br />
LUÍSA SOUSA MELO ALVES<br />
Presidente do Conselho<br />
de Administração<br />
da Saudaçor, S.A.<br />
Agradecimentos<br />
A realização dos projetos apresentados não teria sido possível sem a inestimável<br />
colaboração do Dr. Rui Suzano, Diretor Clínico do Hospital da Horta, da Dra. Lurdes<br />
Dias, Diretora do Serviço de Nefrologia do Hospital de Santo Espírito da ilha Terceira<br />
e do Enfermeiro Pedro Rosa, Especialista em Enfermagem de Reabilitação do<br />
Hospital Divino Espírito Santo e do Dr. Miguel Correia, Médico Dermatologista.<br />
1. Breve Caracterização do Serviço<br />
Regional de Saúde dos Açores<br />
Região Autónoma dos Açores (RAA) é um arquipélago<br />
transcontinental e um território autónomo da<br />
A<br />
República Portuguesa, constituído por nove ilhas dispersas<br />
na zona leste do Atlântico Norte, distando aproximadamente<br />
1 500 km da costa ocidental da Europa e 3 900<br />
km da América do Norte.<br />
Atendendo às caraterísticas deste arquipélago, marcado<br />
pela dispersão e fragmentação territorial, as estruturas<br />
prestadoras de Cuidados de Saúde encontram-se,<br />
necessariamente, distribuídas pelas 9 ilhas de forma a garantir<br />
que a prestação global de cuidados de saúde abranja<br />
a universalidade da população.<br />
A nível da oferta de Cuidados de Saúde Primários,<br />
cumpre assinalar que a RAA possui um total de 9 Unidades<br />
de Saúde de Ilha, uma por cada ilha, com um total de<br />
17 Centros de Saúde (vide imagem n.<strong>º</strong> 1). Neste contexto,<br />
os Cuidados de Saúde Primários desempenham um papel<br />
fundamental no acesso a cuidados de saúde, especialmente<br />
nas ilhas sem hospital, quer pela sua proximidade<br />
junto das populações locais, quer pela gama de cuidados<br />
que asseguram, designadamente meios complementares<br />
de diagnóstico e tratamento, serviço de internamento,<br />
serviço de atendimento permanente e consultas de especialidade.<br />
Acresce registar que todas as Unidades de Saúde<br />
de Ilha dispõem de nutricionista, psicólogo, dentista, e<br />
fisioterapeuta, reforçando a capacidade de resposta para<br />
as necessidades locais.<br />
1 Centro de Saúde:<br />
Vila do Corvo<br />
1 Centro de Saúde:<br />
Santa Cruz da Graciosa<br />
1 Centro de Saúde:<br />
Santa Cruz das Flores<br />
Corvo<br />
Flores<br />
Graciosa<br />
2 Centros de Saúde:<br />
Calheta<br />
Velas<br />
Terceira<br />
2 Centros de Saúde:<br />
Angra do Heroísmo<br />
Praia da Vitoria<br />
Faial<br />
São Jorge<br />
1 Centro de Saúde:<br />
Horta<br />
Pico<br />
3 Centros de Saúde:<br />
Madalena<br />
Lajes do Pico<br />
São Roque do Pico<br />
São Miguel<br />
5 Centros de Saúde:<br />
Nordeste<br />
Ponta Delgada<br />
Povoação<br />
Ribeira Grande<br />
Vila Franca do Campo<br />
1 Centro de Saúde:<br />
Vila do Porto<br />
Imagem n.<strong>º</strong> 1 Unidades de Saúde de Ilha do Serviço Regional de Saúde dos Açores.<br />
Santa Maria<br />
<strong>12</strong>
Em relação aos Cuidados <strong>Hospitalar</strong>es, a RAA é apoiada<br />
por três hospitais que estão localizados em três ilhas,<br />
a saber:<br />
> Hospital do Divino Espírito Santo, E.P.E., na ilha de<br />
São Miguel;<br />
> Hospital do Santo Espírito da Ilha Terceira, E.P.E., na<br />
ilha Terceira;<br />
> Hospital da Horta, E.P.E., na ilha do Faial.<br />
De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional<br />
de Estatística, respeitantes à população residente<br />
nos Açores, os referidos serviços de saúde abarcam um<br />
total de 246 772 habitantes. Contudo importa notar que<br />
existe uma distribuição muito diferenciada, em termos<br />
geográficos, pelas 9 ilhas, justificada pelas especificidades<br />
territorial, histórica e socioeconómica (vide quadro n.<strong>º</strong> 1).<br />
Concretamente, a ilha de São Miguel assume o papel preponderante<br />
com 55,86% da população Açoriana, seguida<br />
pela ilha Terceira com 22,87%, ao passo que a ilha do Faial<br />
ronda os 6,08%. Por sua vez as restantes ilhas (6) representam<br />
cerca de 15% da demografia Açoriana, todas elas<br />
com cifras de expressão mais reduzida: Pico – 5,73%; São<br />
Jorge – 3,72%; Santa Maria – 2,25%; Graciosa – 1,78%;Flores<br />
– 1,54% e Corvo – 0,17%.<br />
Local de<br />
População %<br />
residência<br />
residente<br />
Região Autónoma dos Açores 246 772 100%<br />
Santa Maria 5 552 2,25%<br />
São Miguel 137 856 55,86%<br />
Terceira 56 437 22,87%<br />
Graciosa 4 391 1,78%<br />
São Jorge 9 171 3,72%<br />
Pico 14 148 5,73%<br />
Faial 14 994 6,08%<br />
Flores 3 793 1,54%<br />
Corvo 430 0,17%<br />
Fonte: INE, <strong>2018</strong><br />
Quadro n.<strong>º</strong> 1 População Residente nos Açores<br />
No que concerne aos recursos humanos ao nível da<br />
saúde os Açores apresentam o mais baixo rácio de médicos<br />
por 1000 habitantes (3,1), inferior ao registado na<br />
Região Autónoma da Madeira (3,8) e no Continente (4,9).<br />
Por fim, e certamente não menos relevante, cumpre<br />
assinalar a mudança dos tempos e o seu impacto para a<br />
saúde em geral. Na verdade, o nosso tempo atual carateriza-se<br />
por uma vertiginosa evolução digital que modificou<br />
por completo a orgânica e funcionamento das relações<br />
humanas, onde os sistemas de informação e os meios tecnológicos<br />
são perspetivados como instrumentos auxiliares,<br />
cada vez mais importantes na conceção e prestação<br />
de serviços. Em passos largos e alucinantes adensa-se<br />
o eWorld: o planeta está eletrónica e informaticamente<br />
conectado. A mobilidade pessoal é cada vez mais sintetizada<br />
e simplificada através de uma mobilidade digital<br />
com as vantagens que a reprodução de som e imagem<br />
permitem em tempo real sem perdas de eficiência ou de<br />
tempo. Como deixamos subentendido, o setor da saúde<br />
não pode fugir a esta realidade, mais ainda porque esta<br />
aceitação e crescente expansão do e-world estão evidenciadas<br />
nas expetativas e exigências dos utilizadores (e<br />
financiadores), que partem do pressuposto que sistemas<br />
e tecnologias de informação são encarados pelo Estado, e<br />
pelos serviços públicos em particular, como ferramentas<br />
auxiliares da prestação de cuidados.<br />
2. Porquê a Telesaúde 1 na RAA.<br />
Tendo em consideração as razões e os fatores acabados<br />
de mencionar, podemos pois inferir com<br />
alguma propriedade que a Telesaúde é uma necessidade<br />
e simultaneamente uma evidência que a RAA não pode<br />
precludir. Com efeito, a ultraperiferia geográfica, a disparidade<br />
territorial e demográfica, os elevados custos de<br />
mobilidade para o erário público e os ocasionais constrangimentos<br />
climatéricos constituem fatores que mais do<br />
que justificam a pertinência e oportunidade da Telesaúde<br />
enquanto instrumento promotor da interação entre utentes<br />
e prestadores. Neste enquadramento, a Telesaúde<br />
pode e deve ser assumida como um caminho essencial<br />
na procura de novas soluções organizacionais que promovam<br />
acessibilidade, integração, efetividade e eficiência da<br />
prestação de cuidados de saúde.<br />
2.1. Objetivos<br />
A aposta na disponibilização de ferramentas de Telesaúde<br />
visa as seguintes finalidades:<br />
> Promover a equidade pela melhoria dos tempos de<br />
resposta e redução das listas de espera;<br />
> Contribuir para a eficiência e sustentabilidade do<br />
Serviço Regional de Saúde na afetação de recursos económico-financeiros<br />
(e.g. a redução de deslocações, a eliminação<br />
de atos duplicados, o diagnóstico precoce);<br />
> Exponenciar a acessibilidade a consultas de especialidade<br />
hospitalar;<br />
1 No presente artigo segue-se a noção de Telesaúde defendida pelo Center of<br />
Connected Health Policy (CCHP), que passamos a citar “uma ampla variedade de<br />
tecnologias para fornecer serviços médicos, de saúde e de educação digitais. Telesaúde<br />
não é um serviço específico, mas uma coleção de meios para melhorar a<br />
prestação de cuidados e a educação”. Acrescenta ainda o CCHP que a Telemedicina<br />
“é frequentemente usada quando se pretende referir ao diagnóstico clínico tradicional<br />
e monitorização fornecido pela tecnologia. No entanto, o termo “Telesaúde”<br />
é agora mais comumente usado, pois descreve uma ampla gama de cuidados, de<br />
educação prestados por médicos e outros profissionais.” (http://www.cchpca.org/<br />
what-is-telehealth).<br />
13
Minimizar os problemas de mobilidade da população,<br />
evitando o isolamento;<br />
> Melhorar a integração de cuidados entre USI e Hospitais;<br />
> Aumentar a satisfação do utente através da diminuição<br />
das deslocações e tempos de espera, bem como do<br />
aumento do conforto dos cuidados prestados;<br />
> Reduzir o impacto negativo da distribuição geográfica<br />
dos recursos no plano das finanças públicas em nome<br />
da solidariedade e coesão regional e nacional.<br />
3. Metodologia de Implementação<br />
introdução da Telesaúde na RAA resultou de uma<br />
A decisão estratégica tomada pela Secretaria Regional<br />
da Saúde e a sua operacionalização encontra-se a cargo<br />
da Saudaçor, S.A..<br />
Foram assumidos dois pressupostos metodológicos de<br />
base para a introdução da Telesaúde na RAA. Em primeiro<br />
lugar, a seleção das especialidades que apresentassem<br />
caraterísticas e potencial de aproveitamento. Em segundo<br />
lugar, a definição do âmbito da Telesaúde dependia, necessariamente,<br />
de um substrato de profissionais recetivos<br />
para o efeito, tanto no serviço regional de saúde como no<br />
setor convencionado/privado.<br />
Neste seguimento, após a identificação das especialidades<br />
objeto de Telesaúde foram elaborados projetos especificamente<br />
direcionados a cada especialidade, em conjunto<br />
com os profissionais envolvidos, abrangendo quer os hospitais<br />
quer os cuidados de saúde primários quando aplicável.<br />
Em concreto, cada projeto densifica os processos, as<br />
responsabilidades e os intervenientes, de acordo com a<br />
especialidade em causa, de modo a permitir uma visão<br />
compreensiva, global e holística do projeto e do seu alcance,<br />
sem prejuízo da existência de mecanismos de flexibilização<br />
e de adaptação em função das particularidades de<br />
cada especialidade.<br />
Em consequência deste trabalho de equipa resultou<br />
um documento orientador para cada projeto com a seguinte<br />
estrutura organizacional:<br />
> Âmbito do Projeto;<br />
> Requisitos de Instalações e Equipamentos;<br />
> Fluxograma do Processo;<br />
> Detalhe do Processo.<br />
Para a concretização deste(s) projeto(s) assumiu especial<br />
relevo a disponibilização de uma plataforma informática<br />
que permitiu a realização de consultadoria médica e<br />
de enfermagem em modo síncrono e assíncrono, garantindo<br />
deste modo uma adequada proteção na transferência<br />
de ficheiros e, porventura mais relevante ainda, a confidencialidade<br />
da informação clínica. Foram promovidas<br />
sessões de formação para a utilização da plataforma aos<br />
utilizadores médicos e de enfermagem.<br />
A este respeito, importa ainda assinalar que quando a<br />
operacionalização dos projetos dependia da disponibilização<br />
de instalações e equipamentos específicos, as USI e/<br />
ou a Saudaçor, S.A. desencadearam os procedimentos administrativos<br />
e contratuais, nos termos legais, tendentes<br />
à aquisição dos referidos equipamentos.<br />
4. Resultados<br />
Até ao momento encontram-se em curso vários<br />
projetos de Telesaúde, entre os Hospitais e Unidades<br />
de Saúde de Ilha e entre Hospitais do Serviço Regional<br />
de Saúde e Hospitais do Serviço Nacional de Saúde.<br />
O primeiro projeto desenvolvido abrangeu um médico<br />
dermatologista do setor convencionado e médicos dos<br />
Cuidados de Saúde Primários de ilhas sem hospital. A<br />
primeira experiência decorreu no ano de 2015 com a ilha<br />
das Flores, sendo ao longo do ano expandida para Santa<br />
Maria, São Jorge e Graciosa. No ano 2017, com a disponibilização<br />
da especialidade de dermatologia no Hospital<br />
da Horta, a ilha de São Jorge passou a relacionar-se com<br />
o Hospital da Horta. Já em <strong>2018</strong> será abrangida a ilha do<br />
Pico que enviará os seus pedidos para o Hospital da Horta.<br />
A especialidade de Nefrologia do Hospital de Santo<br />
Espírito da ilha Terceira acompanha doentes crónicos, e<br />
clinicamente estáveis, que tenham a sua residência nas<br />
ilhas Graciosa e São Jorge, desde o final do ano 2017. Os<br />
doentes portadores de doença renal crónica necessitam<br />
de uma avaliação de rotina cuja regularidade varia de<br />
acordo com a gravidade. Assim, após observação de análises<br />
clínicas realizadas na ilha de residência, o nefrologista<br />
indica ao médico de medicina geral e familiar a abordagem<br />
terapêutica mais correta para cada caso, em casos programados<br />
ou urgentes. Trata-se de consultadoria em tempo<br />
real entre o médico de medicina geral e familiar e o médico<br />
nefrologista com a presença do doente.<br />
Ainda a especialidade de nefrologia do Hospital de<br />
Santo Espírito da ilha Terceira acompanha doentes transplantados<br />
seguidos neste serviço e no Hospital de Santa<br />
Cruz, em Lisboa, com início no último trimestre de 2017.<br />
Trata-se de uma consultadoria com a presença do doente,<br />
e de dois médicos nefrologistas, um no Hospital de Santo<br />
Espírito da ilha Terceira outro no Hospital de Santa Cruz.<br />
Relativamente aos meios complementares de diagnóstico<br />
realizados pelos utentes, são enviados previamente pelos<br />
clínicos do Hospital de Santo Espírito da ilha Terceira e<br />
analisados em conjunto.<br />
O projeto de Anestesiologia consiste na avaliação de<br />
casos clínicos pré-cirúrgicos por médico anestesiologista<br />
do Hospital da Horta e por médico de medicina geral<br />
e familiar da USI das Flores, cujo início de execução data<br />
de finais de 2017. Aquando da consulta da especialidade<br />
14
cirúrgica, que efetuou a proposta, o utente preenche um<br />
questionário-tipo, que permite ao médico juntamente com<br />
a consulta do processo clínico do utente, constante no sistema<br />
de informação hospitalar, avaliar se a consulta pré-<br />
-anestésica se realizará com a presença do doente no hospital<br />
ou se pode ser efetuada, com recurso a tecnologias<br />
de informação e comunicação, sem deslocação do doente.<br />
Caso possa ser efetuada com recurso a tecnologias de informação<br />
contará com a presença do utente e do médico<br />
de medicina geral e familiar, ambos na ilha de residência<br />
do utente, e do médico anestesiologista no hospital.<br />
No que respeita à área de enfermagem foi desenvolvido,<br />
em 2015, o projeto para apoio no tratamento da pessoa<br />
com ferida. Trata-se de um projeto pioneiro, quer a nível<br />
Regional, quer a nível Nacional, e que tem como finalidade<br />
uniformizar as práticas de prevenção e tratamento da<br />
pessoa com ferida (v.g. úlcera de perna, úlcera do pé nos<br />
casos de pessoas com diabetes, úlcera por pressão), promovendo<br />
destarte a articulação e a partilha de conhecimentos.<br />
Importa ainda referir que a referenciação da pessoa<br />
ferida é efetuada através do preenchimento de ficha<br />
de admissão pré-definida. A realização da consultadoria,<br />
entre o Hospital Divino Espírito Santo e a USI que a solicitou,<br />
é efetuada sempre com a presença do doente.<br />
No que respeita ao número de teleconsultadorias realizadas,<br />
tiveram uma maior expressão a partir do ano 2016.<br />
Neste contexto, a especialidade médica com maior volume<br />
de produção é a dermatologia que, nos três anos em<br />
análise, atingiu as 722 consultadorias. Em seguida, podemos<br />
encontrar as consultadorias de enfermagem para<br />
tratamento de feridas, tendo apresentado um número<br />
total de 615 até dezembro 2017.<br />
No que concerne à especialidade de nefrologia, relembramos<br />
que o projeto com as USI apenas teve início no último<br />
trimestre de 2017 pelo que é compreensível que ainda<br />
não tenham ocorrido teleconsultadorias. Não obstante,<br />
importa adiantar que já existem agendamentos para o<br />
ano <strong>2018</strong>, o que configura um sinal positivo e encorajador.<br />
Quanto ao projeto com o Hospital de Santa Cruz teve um<br />
total de 6 consultadorias em 2017.<br />
2015 2016 2017<br />
Unidade de Saúde de Ilha Santa Maria<br />
Convencionado Dermatologia n.a. 65 49<br />
Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 45 65 16<br />
Unidade de Saúde de Ilha Graciosa<br />
Convencionado Dermatologia n.a. 0 170<br />
Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 0 2 0<br />
Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira Nefrologia n.a. n.a. n.a.<br />
Unidade de Saúde de Ilha Pico<br />
Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 44 11 1<br />
Unidade de Saúde de Ilha Flores<br />
Convencionado Dermatologia n.a. 82 28<br />
Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 0 1 0<br />
Hospital da Horta Anestesiologia n.a. n.a. 6<br />
Unidade de Saúde de Ilha São Jorge<br />
Hospital da Horta Dermatologia 8 253 67<br />
Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 25 7 2<br />
Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira Nefrologia n.a. n.a. n.a.<br />
Unidade de Saúde de Ilha São Miguel<br />
Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 114 116 65<br />
Unidade de Saúde de Ilha Terceira<br />
Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 34 40 27<br />
Unidade de Saúde de Ilha Totais<br />
Convencionado + Hospital da Horta Dermatologia 8 400 314<br />
Hospital Divino Espírito Santo Enfermagem 262 242 111<br />
Hospital da Horta Anestesiologia n.a. n.a. 6<br />
Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira Nefrologia n.a. n.a. n.a.<br />
Quadro n.<strong>º</strong>2 Resultados entre Hospitais e USI nos anos 2015 a 2017<br />
15
5. Discussão<br />
Em primeiro lugar, e desde logo, apraz assinalar que<br />
os projetos desenvolvidos até ao momento permitiram<br />
observar que o acesso a consultas de especialidade<br />
se encontra facilitado, através da minimização do tempo<br />
do processo de referenciação e da eliminação da distância<br />
na prestação de cuidados. Esta inferência é especialmente<br />
visível na capacidade de resposta efetuada pelo especialista<br />
hospitalar de dermatologia cuja orientação clínica é<br />
efetuada no máximo em 3 dias.<br />
Em segundo lugar, cumpre registar que a qualidade<br />
no processo de comunicação entre profissionais contribuiu<br />
decisivamente para a melhoria da articulação entre<br />
prestadores de saúde. Com efeito, a introdução do questionário<br />
orientador do pedido de referenciação ou ficha de<br />
admissão, mediante o envio de imagem, melhorou substancialmente<br />
o processo de referenciação, conferindo robustez<br />
à informação clínica enviada.<br />
Em terceiro lugar, importa assinalar que a Telesaúde se<br />
revelou adequada às necessidades de acompanhamento<br />
de doentes crónicos clinicamente estáveis, aumentando<br />
a comodidade dos cuidados oferecidos aos doentes, pela<br />
possibilidade de usufruírem de uma resposta especializada<br />
na sua ilha de residência.<br />
Por sua vez, a reorganização de trabalho permitida pelas<br />
novas tecnologias contribuiu positivamente quer para a<br />
integração de cuidados, quer para a formação contínua dos<br />
profissionais, permitindo em ambos os casos uma redução<br />
dos custos inerentes à prestação de cuidados. Concretamente,<br />
a possibilidade de realização de consultadoria entre<br />
níveis de cuidados diferentes proporcionou a criação de<br />
pontes de proximidade para a transmissão de conhecimento,<br />
essenciais a uma abordagem holística do doente. A isto<br />
acresce a diminuição dos recursos financeiros despendidos<br />
na prestação de cuidados, em especial as despesas com<br />
transporte de doentes e/ou profissionais e na mitigação das<br />
situações de duplicação de meios complementares de diagnóstico.<br />
Em suma, foi possível tirar partido das novas tecnologias<br />
de informação e alcançar maiores níveis de eficiência<br />
garantindo um melhor acesso e integração na prestação de<br />
cuidados de saúde a menores custos, sem perder de vista<br />
que o eixo gravitacional continua centrado no utente.<br />
Não obstante, importa alertar que a ausência de contato<br />
visual pode impossibilitar o estabelecimento de<br />
diagnóstico final, pelo que a consultadoria realizada não<br />
elimina totalmente a necessidade de eventual contacto<br />
presencial, em especial nos projetos em que a consultadoria<br />
é realizada em modo assíncrono.<br />
Desafios<br />
Muito embora a facilidade no acesso a novas tecnologias<br />
e as dificuldades de transporte e de mobilidade pudessem<br />
sugerir que a utilização da Telesaúde nos Açores<br />
fosse uma realidade necessária e adquirida, de facto apenas<br />
no ano de 2015 foi possível concretizar de forma consolidada<br />
projetos neste âmbito. Com efeito, o processo de<br />
introdução e desenvolvimento da Telesaúde na RAA foi<br />
afetado por dificuldades e limitações que acabaram por<br />
atrasar a realização dos projetos-piloto previstos para a<br />
sua implementação.<br />
A primeira grande dificuldade encontrada foi de ordem<br />
tecnológica, consistiu no elevado custo de aquisição das<br />
soluções informáticas de suporte disponíveis no mercado<br />
para a implementação da Telesaúde. Infelizmente, os sistemas<br />
informáticos em utilização nos Cuidados de Saúde<br />
Primários e nos Hospitais não dispõem de módulos para<br />
a realização de Telesaúde, o que força as instituições a<br />
optarem por sistemas não integrados, obrigando os profissionais<br />
a duplicarem registos administrativos e clínicos,<br />
pois que não existe interoperabilidade entre sistemas.<br />
Em segundo lugar, foi possível constatar que os profissionais<br />
de saúde, em especial os médicos com idade<br />
avançada, denotaram dificuldades e alguma resistência<br />
na adaptação à utilização de novos sistemas de informação.<br />
De facto, nalguns casos, a plataforma de Telesaúde<br />
foi percecionada, numa primeira fase, como mais uma<br />
obrigação de registo, que retira tempo para realização de<br />
consultas, o que exigiu um esforço adicional de formação<br />
e de sensibilização junto desses profissionais.<br />
Em terceiro lugar, cumpre notar que não existe uma base<br />
legal, nem tão-pouco regulamentar, que enquadre devidamente<br />
a teleconsulta enquanto ato médico 2 especificando<br />
as suas características (i.e. natureza, objeto, finalidades e<br />
termos de prestação) e que simultaneamente defina um regime<br />
jurídico que desenvolva em maior detalhe os artigos<br />
46.<strong>º</strong> a 49.<strong>º</strong> do Código Deontológico dos Médicos, com especial<br />
ênfase para a responsabilidade civil médica. A título<br />
ilustrativo, recordamos que foi apresentado um projeto no<br />
Hospital do Santo Espírito da Ilha Terceira, nomeadamente<br />
no apoio a consultas a menores realizadas no âmbito do serviço<br />
de atendimento permanente das USI sem hospital, que<br />
não chegou a avançar justamente por recusa dos profissionais<br />
hospitalares com fundamento no facto de não existir<br />
um regime jurídico suficientemente esclarecedor quanto ao<br />
âmbito, requisitos e alcance da responsabilidade médica.<br />
Importa ainda esclarecer que o referido quadro de indefinição<br />
jurídico-legal a nível da Telesaúde tem contribuído<br />
negativamente para uma falta de consenso entre especia-<br />
2 Sobre o conceito de ato médico cf. com interesse, Raposo, V.L. (2016: 13) «até ao<br />
momento o conceito do que seja o ato médico tem sido controvertido, tanto mais<br />
que o diploma que entre nós pretendia dar uma definição do mesmo, a Lei do Ato<br />
Médico, acabou por ser vetado em 1999 (…). O art.1<strong>º</strong> da referida lei determinava<br />
que “constitui acto médico a actividade de avaliação diagnóstica, prognóstica e<br />
de prescrição e execução de medidas terapêuticas relativas à saúde das pessoas,<br />
grupos, ou comunidades”».<br />
16
listas e profissionais de saúde sobre os conceitos básicos 3<br />
necessários à afirmação da Telesaúde no nosso ordenamento<br />
jurídico 4 , servindo de barreira à sua implementação.<br />
Próximos Desenvolvimentos<br />
No que respeita a projetos futuros pretende-se no âmbito<br />
da consultadoria médica introduzir mais especialidades<br />
do Hospital da Horta, a saber:<br />
> Psiquiatria (acompanhamento de doentes clinicamente<br />
estáveis de patologias minor),<br />
> Obstetrícia (acompanhamento de grávidas entre as<br />
32 e as 36 semanas, com transmissão de informação de<br />
Cardiotocografia) e,<br />
> Neurologia (acompanhamento de doentes com Parkinson<br />
e Epilepsia).<br />
Quanto à gestão da doença crónicas pretende-se avançar<br />
com a Telemonitorização de doentes com Doença Pulmonar<br />
Obstrutiva Crónica (DPOC) acompanhados no Hospital da<br />
Horta e no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira. Igualmente,<br />
pretende-se avançar com a Telediálise, nos três Hospitais<br />
dos Açores, que irá permitir que os insuficientes renais<br />
possam realizar o processo de filtragem do sangue, no conforto<br />
do seu domicílio na melhor altura do seu dia ou noite,<br />
sendo os resultados transmitidos para o hospital, onde são<br />
acompanhados por uma equipa de médicos e enfermeiros.<br />
6. Conclusão<br />
RAA possui condições geográficas que justificam<br />
A a escolha da Telesaúde enquanto instrumento<br />
promotor da interação entre utentes e prestadores, isolados<br />
pela geografia e muitas vezes condicionados pelas<br />
condições climáticas.<br />
A introdução e desenvolvimento da Telesaúde na RAA<br />
resultou de uma decisão estratégica tomada pela Secretaria<br />
Regional da Saúde e operacionalizada pela Saudaçor,<br />
S.A. (metodologia top down). Neste contexto, o envolvimento<br />
dos responsáveis máximos do setor e das instituições<br />
de saúde é crucial para o desenvolvimento e consolidação<br />
do processo.<br />
Os projetos desenvolvidos até ao momento permitiram<br />
observar que:<br />
i) o acesso a consultas de especialidade se encontra facilitado,<br />
através da minimização do tempo do processo de<br />
referenciação e da eliminação da distância na prestação<br />
de cuidados;<br />
3 A este respeito regista-se que não existe coerência no conceito de Teleconsulta<br />
definido pelas principais instituições nacionais a saber: Direção Geral da Saúde<br />
(vide norma técnica n.<strong>º</strong> 010/2015), Administração Central do Sistema de Saúde<br />
(vide Portaria n.<strong>º</strong> 207/2017, de 11 de julho) e Instituto Nacional de Estatística<br />
(http://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes?id=4226&lang=PT).<br />
4 Igual limitação conceptual foi apontada por Matos, R. et al. (2014: 14 -17; 98-99),<br />
em Telemedicina em Portugal: onde estamos?<br />
ii) a qualidade no processo de comunicação entre profissionais<br />
contribuiu decisivamente para a melhoria da<br />
integração entre prestadores de saúde;<br />
iii) a Telesaúde revelou-se adequada às necessidades<br />
de acompanhamento de doentes crónicos clinicamente<br />
estáveis, aumentando a comodidade dos cuidados oferecidos<br />
aos doentes, pela possibilidade de usufruírem de<br />
uma resposta especializada na sua ilha de residência;<br />
iv) a reorganização de trabalho permitida pelas novas<br />
tecnologias contribuiu positivamente quer para a integração<br />
de cuidados, quer para a formação contínua dos profissionais,<br />
permitindo em ambos os casos uma redução<br />
dos custos inerentes à prestação de cuidados; e<br />
v) a diminuição dos recursos financeiros despendidos<br />
na prestação de cuidados, em especial as despesas com<br />
transporte de doentes e/ou profissionais e na mitigação<br />
das situações de duplicação de meios complementares de<br />
diagnóstico.<br />
Neste seguimento, e como principais dificuldades,<br />
cumpre assinalar o elevado custo de aquisição das soluções<br />
informáticas de suporte disponíveis no mercado<br />
para a implementação da Telesaúde bem como a falta de<br />
interoperabilidade com os sistemas de informação em<br />
utilização nas instituições de saúde. Por fim, e não menos<br />
relevante, cumpre notar que não existe uma base legal<br />
que enquadre devidamente a teleconsulta enquanto ato<br />
médico especificando as suas características (i.e. natureza,<br />
objeto, finalidades e termos de prestação) e que simultaneamente<br />
defina um regime jurídico.<br />
Em termos globais, o saldo não deixa de ser positivo.<br />
Com efeito, a utilização de ferramentas de Telesaúde<br />
constitui um instrumento capaz de revolucionar a organização<br />
da prestação de cuidados de saúde, com ganhos<br />
explícitos de acessibilidade, de integração de cuidados e<br />
de redução de recursos financeiros. No fundo, trata-se de<br />
fazer o mesmo mas de forma diferente tirando partido<br />
das novas tecnologias e centrando os cuidados prestados<br />
no utente. Desta forma, será possível lograr mais economia<br />
nos custos, maior eficiência na prestação de cuidados<br />
e melhor produção e efetividade nos resultados.<br />
Bibliografia<br />
CENTER OF CONNECTED HEALTH POLICY. What is telehealth? Disponível através da consulta<br />
de: http://www.cchpca.org/what-is-telehealth consultado em abril <strong>2018</strong><br />
DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL 28/99/A. D.R. Iª Série. 177 (1999-07-31) 4942 – 4952<br />
− Estabelece a organização e o funcionamento dos serviços de saúde da Região Autónoma<br />
dos Açores<br />
DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL 2/2007/A. D.R. Iª Série 17. (2007-01-24) 642 – 665 –<br />
Altera o Estatuto do Serviço Regional de Saúde (SRS) que permite a transformação dos<br />
hospitais regionais em entidades públicas empresariais, aprovando o respetivo regime<br />
jurídico e estatutos<br />
DIREÇÃO GERAL DA SAÚDE − Norma Técnica n.<strong>º</strong> 010/2015<br />
INSTITUTO NACIONAL DE ESTATISTICA − Conceitos. Disponível através da consulta de:<br />
http://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes?id=4226&lang=PT consultado em Abril <strong>2018</strong><br />
MATOS, R.; SATANA, R.; MENDES, R.M.; MARQUES, A.P.; MESTRE, R. − Telemedicina em<br />
Portugal: onde estamos? Fundação Calouste Gulbenkian. Fevereiro 2014<br />
PORTARIA 207/2017. D.R. Iª Série. 132 (2017-07-11) 3550-3708 − Aprova as tabelas de<br />
preços a praticar pelo Serviço Nacional de Saúde, bem como o respetivo Regulamento<br />
RAPOSO, V.L − Do ato médico ao problema jurídico. Almedina. Outubro 2016<br />
REGULAMENTO 707/2016. D.R. IIª Série. 139 (2016-07-21) 22575-22588 − Regulamento<br />
de Deontologia Médica<br />
17
Xavier Corbella exerce atualmente o cargo de Secretário-Geral<br />
da EFIM, tendo outas atividades em paralelo, nomeadamente<br />
a Direção do Departamento de Medicina Interna do Hospital<br />
da Universidade Bellvitge e o cargo de Professor Adjunto de<br />
Medicina, sendo também Vice-Diretor da Faculdade de Medicina<br />
da Universitat Internacional de Catalunya e Diretor da Cadeira<br />
de Saúde Integrada e Assistência Social da Hestia.<br />
© FEDRA SANTOS<br />
18
NICK XAVIER GOODWIN CORBELLA, Nasceu nascido em em ... 1964, em Barcelona, é o atual<br />
Secretário-Geral da Federação Europeia de Medicina Interna<br />
(EFIM).<br />
Especialista em Medicina Interna, formou-se na Universidade<br />
de Barcelona e, desde sempre, apostou no seu desenvolvimento<br />
profissional, tornando-se também Doutorado em<br />
Medicina (Honras) e Mestre em Administração de Empresas<br />
(MBA) pela ESADE Business School.<br />
Da sua experiência profissional, ficam vários cargos exercidos<br />
na área da saúde: CEO do Bellvitge University Hospital e do<br />
Hospital de Sant Pau, Diretor do Southern Metropolitan Health<br />
Area of Barcelona e Diretor Médico da Althaia-Hospitals de<br />
Manresa.<br />
Atualmente exerce o cargo de Secretário-Geral da EFIM, tendo<br />
outras atividades em paralelo, nomeadamente a Direção<br />
do Departamento de Medicina Interna do Hospital da Universidade<br />
Bellvitge e o cargo de Professor Adjunto de Medicina,<br />
sendo também Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da<br />
Universitat Internacional de Catalunya e Diretor da Cadeira de<br />
Saúde Integrada e Assistência Social da Hestia.<br />
Orientador de teses de doutoramento, Xavier Corbella é,<br />
igualmente, autor de dezenas de publicações e apresentações<br />
orais.<br />
O Secretário-Geral da EFIM esteve em Portugal e deixou-nos a<br />
sua visão da importância atual da medicina interna enquanto<br />
especialidade generalista.<br />
© FEDRA SANTOS<br />
ENTREVISTA<br />
A XAVIER<br />
CORBELLA<br />
19
GH: Como sabemos, é o atual Secretário-Geral da<br />
Federação Europeia de Medicina Interna (EFIM).<br />
Qual é o objetivo principal desta Federação?<br />
XC: A EFIM reúne 33 países e 35 sociedades científicas<br />
de medicina interna na Europa, países membros e países<br />
não-membros e temos, também, países associados (que<br />
não da Europa), e tem como objetivo agregar as diferentes<br />
sociedades nacionais debaixo do mesmo “guarda-chuva”,<br />
porque a realidade da medicina interna é muito distinta na<br />
Europa.<br />
Na verdade, estamos preocupados em encontrar fontes<br />
comuns de problemas e soluções... Portanto, o objetivo é<br />
ter uma Instituição que agrupe os 35 países e as Sociedades<br />
Nacionais para procurar práticas comuns. É importante<br />
dizer que a EFIM é uma Federação e não uma Sociedade<br />
Científica, como por exemplo, a Sociedade Europeia<br />
de Cardiologia que é uma Associação Científica, mas nós<br />
não. Nós procuramos, igualmente, promover programas<br />
educativos, mas não fazemos propriamente estudos científicos,<br />
isso fazem as Sociedades Nacionais das diversas<br />
especialidades.<br />
GH: Atualmente, quais são os principais desafios<br />
da medicina interna?<br />
XC: O desafio mais importante é a diversidade da prática<br />
da medicina interna na Europa. Nós sentimo-nos muito<br />
próximos do Sul: de países como Portugal, Espanha, Itália,<br />
Grécia, Turquia… temos uma forma comum de trabalhar,<br />
porque as nossas especialidades de medicina interna são<br />
parecidas. No resto da Europa, norte e centro, é um tronco<br />
comum, mas com subespecialidades, não havendo propriamente<br />
a figura do especialista da medicina interna.<br />
Assim, a nossa preocupação, enquanto Federação Europeia,<br />
é identificar as especificidades que caracterizam a<br />
medicina interna e como fazer coexistir o modelo do Sul<br />
com o modelo do Norte ou Centro da Europa.<br />
GH: Neste contexto, o que é que pensa sobre os<br />
internistas serem os “gestores clínicos” de toda<br />
a intervenção no doente?<br />
XC: Nós acreditamos nesta capacidade do médico internista.<br />
A vocação de ser um generalista hospitalar está ligada<br />
à aptidão de enfrentar muitos problemas de uma só vez,<br />
muitas incógnitas, isto é, a medicina interna aborda doentes<br />
sem diagnóstico, que não se sabe o que têm, doentes<br />
que têm muitas doenças ao mesmo tempo, vendo sempre<br />
o doente como um todo.<br />
Portanto, é um profissional mentalmente preparado e<br />
com capacidade de ser o líder desta abordagem mais integrada<br />
e multidisciplinar. Para mim, o internista é um líder<br />
perfeito.<br />
GH: Neste sentido, a Federação Europeia tem que<br />
dar mais competências, formação aos internistas<br />
ou acha que não necessitam disso?<br />
XC: Este foi um dos desafios que tivemos de definir nos<br />
currículos para se ser internista na Europa, o que outras<br />
Sociedades têm de forma muito clara, porque os seus objetivos<br />
estão muito bem definidos. Ser-se, por exemplo,<br />
cardiologista é muito claro… ser internista não.<br />
Então, fizemos um consenso que será publicado no final<br />
deste mês para definir aquilo que entendemos ser um<br />
internista na Europa, para os profissionais dos países em<br />
que falta parte deste currículo poderem formar-se.<br />
Um dos grandes objetivos desta Federação é formar. Por<br />
exemplo, nos países do Norte alguns hospitais eliminaram<br />
os médicos internistas e tudo são especialidades. Agora,<br />
quando têm problemas como comorbilidades não sabem<br />
o que fazer e reconhecem que necessitam de uma figura<br />
coordenadora. Temos a sensação que não somos valorizados<br />
dentro dos hospitais. Os hospitais têm valorizado pouco<br />
esta capacidade do internista ser um líder.<br />
Parece que só importa para os gestores quem opera, os<br />
resultados, o volume, a produção…<br />
Nós acreditamos nesta capacidade do médico internista.<br />
A vocação de ser um generalista hospitalar está ligada à aptidão<br />
de enfrentar muitos problemas de uma só vez, muitas incógnitas,<br />
isto é, a medicina interna aborda doentes sem diagnóstico,<br />
que não se sabe o que têm, doentes que têm muitas doenças<br />
ao mesmo tempo, vendo sempre o doente como um todo.<br />
20
© FEDRA SANTOS<br />
GH: Na sua opinião, hoje em dia, é necessária a<br />
gestão e integração de doentes crónicos e complexos?<br />
XC: O papel do internista, no meu ponto de vista, tem muitas<br />
facetas. Uma: “inpatient care”. Ele é o generalista hospitalar.<br />
Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a figura<br />
do “hospitalist”, que é uma espécie de médico que apoia os<br />
restantes especialistas, mas de alguma forma esta figura<br />
é um pouco pobre… Eles são conhecidos, e com todo o<br />
respeito que tenho por eles, como “médicos-enfermeiros”,<br />
trabalham por turnos e têm um papel, na prática, de resolverem<br />
apenas problemas básicos.<br />
O generalista hospitalar é aquele que tem de ser responsável<br />
pelas doenças crónicas e complexas. No meu Hospital,<br />
por exemplo, temos assumido os doentes com fratura<br />
do colo do fémur, isto é, os doentes entram pela medicina<br />
interna, não vão à traumatologia.<br />
A ortopedia só opera e depois é connosco, nós somos os<br />
responsáveis por estes doentes.<br />
A minha tarefa foi convencer os meus médicos que este<br />
era o futuro, porque eles não querem ser os ajudantes do<br />
Temos a sensação que<br />
não somos valorizados<br />
dentro dos hospitais.<br />
Os hospitais têm valorizado<br />
pouco esta capacidade<br />
do internista ser um líder.<br />
Parece que só importa<br />
para os gestores quem opera,<br />
os resultados, o volume,<br />
a produção…<br />
21
© FEDRA SANTOS<br />
ortopedista. E a verdade é que a fratura do colo do fémur<br />
tem uma componente muito mais médica do que cirúrgica.<br />
Portanto, aos doentes complexos, com doenças raras, aos<br />
doentes que saem dos cuidados intensivos com múltiplos<br />
problemas nós “oferecemos” o serviço de medicina interna<br />
como destino.<br />
Claro que ficamos com doentes com maior gravidade,<br />
complexidade, maior duração, mas somos muito mais<br />
úteis assim.<br />
No entanto, o administrador critica-nos, porque o doente<br />
ainda não saiu da unidade médica. É natural, pois nós<br />
acabamos por ficar com os doentes que tiveram alta das<br />
suas especialidades, ou seja, nós ficamos com um maior<br />
número de doentes.<br />
Eu também já fui administrador de um hospital (mas os<br />
meus subordinados é que mandavam) e eu dizia aos colegas<br />
que trabalhavam comigo: “Mudem-me os indicadores.<br />
Não me digam que a demora média é de 7 dias porque eu<br />
não vou querer os vossos doentes. Mas diz-me que a demora<br />
é de 14|15 dias e vou querer todos os teus doentes.”<br />
Isto é “inpatient care”, agudização de crónicos.<br />
O primeiro papel do internista é participar nas consultas<br />
primárias e no “long term care”, reforçar os cuidados prolongados.<br />
O segundo, e que também é muito importante, é<br />
o de criar alternativas à hospitalização, “ambulatory care”.<br />
GH: Também referiu a má gestão em equipa, o que<br />
é muito importante. Gostaríamos de saber, de<br />
facto, o que é isto, mas também, como se processa<br />
esta mudança.<br />
XC: Isto foi uma grande mudança. Nós, enquanto equipa diretiva,<br />
éramos clínicos e vimos que o poder que cada cama<br />
do hospital tinha limitava a gestão das camas e, portanto,<br />
discordávamos em completo da ideia de termos doentes<br />
pendentes de entrar num serviço com camas livres.<br />
Para contornar a má gestão, definimos que as camas do<br />
hospital são do hospital e não de um serviço.<br />
Decidir isto foi uma revolução, mas nós é que decidimos<br />
para onde vai o doente.<br />
A unidade de admissões, a prioridade, a proporção de programados,<br />
é tudo decidido centralmente. “Centralized bed<br />
22
Nós, enquanto equipa diretiva, éramos clínicos e vimos<br />
que o poder que cada cama do hospital tinha limitava a gestão<br />
das camas e, portanto, discordávamos em completo da ideia de<br />
termos doentes pendentes de entrar num serviço com camas livres.<br />
Para contornar à má gestão, definimos que as camas do hospital<br />
são do hospital e não de um serviço.<br />
Decidir isto foi uma revolução, mas nós é que decidimos<br />
para onde vai o doente.<br />
A unidade de admissões, a prioridade, a proporção de programados,<br />
é tudo decidido centralmente. “Centralized bed management”<br />
para mim é a chave de todo este problema.<br />
management” para mim é a chave de todo este problema.<br />
Outra coisa é que quando se gerem mal as camas e se<br />
enviam doentes para fora dos seus serviços é um caos.<br />
Então, nós em cada serviço assumimos um número de<br />
camas em função do ideal, isto é, se o serviço funcionar<br />
bem com a sua duração média correta, com as suas complicações<br />
e readmissões esperadas, quantificamos pela<br />
proporção de doentes que opera quantas camas necessita.<br />
Quantas têm agora?<br />
Imaginando, por exemplo, que funcionando muito bem o<br />
Serviço de Urologia ultrapassa as 30 camas e deveria ter<br />
20. Bem, não lhe vou colocar 20 camas mas sim 25, porque<br />
eu sei que tenho margem de melhorar. E vou penalizar<br />
os serviços por este mau uso das camas, penalizar no<br />
sentido de ir fazendo acordos.<br />
A responsabilidade da gestão das camas ser nossa é para<br />
mim fundamental. Significa que é o “core” do hospital, o<br />
“core” dos processos operativos do hospital.<br />
GH: Toda a equipa médica tem de circular no hospital<br />
para ver os doentes?<br />
XC: Passámos uma primeira fase muito má, em que se<br />
tínhamos doentes pendentes para entrar na urgência,<br />
tratava-se de doentes que eram internados nas primeiras<br />
camas livres que tínhamos no hospital. E somente<br />
nas camas livres porque as restantes destinávamos para<br />
doentes programados. Bem, e é o contrário que se faz, se<br />
existem camas livres colocam-se os doentes com cirurgias<br />
programadas e deixam, para último, os urgentes.<br />
Fazermos esta mudança levou ao protesto dos chefes de<br />
serviço, mas também os levou a reagir dando altas. Portanto,<br />
os “ectópicos fora do serviço”, era assim que os chamávamos,<br />
foram-se reduzindo progressivamente, mas<br />
tivemos de mudar muitas dotações de camas.<br />
Por exemplo, o Serviço de Cirurgia Geral tinha <strong>12</strong>0 camas<br />
e com uma melhor gestão perdeu camas.<br />
Os Serviços têm associado o número de camas por poder,<br />
justificam o seu staff com as camas. Portanto, nós mudámos<br />
isto.<br />
O “poder” tem de estar ligado à atividade, ao número de<br />
doentes que visitam a consulta, em internamentos. Passamos<br />
a valorizar os serviços pela atividade e pelo que<br />
produzem e não pela estrutura que têm.<br />
GH: E houve alguma mudança, algum rácio entre<br />
médicos e enfermeiros?<br />
XC: Bem, o problema é que os doentes que não necessitem<br />
de entrar sejam atendidos fora. Concentra-se toda a complexidade<br />
que tem o hospital.<br />
Por exemplo, numa unidade onde havia entradas de doentes<br />
graves e doentes leves ao mesmo tempo, os enfermeiros<br />
compensavam, distribuíam-se os doentes e estes<br />
profissionais não tinham sensação de muito peso, muito<br />
trabalho. Mas claro, quando todos são graves então mu-<br />
23
Creio que o conceito de “clinical management” tem<br />
que aproximar os gestores e os clínicos. Creio que o internista<br />
tem de entender que é um grande aliado dos administradores,<br />
porque também é um grande “sofredor”.<br />
© FEDRA SANTOS<br />
24
damos o rácio de profissionais. Fazemos mudanças, movemos<br />
os enfermeiros por forma a estarem nos serviços<br />
quando efetivamente são precisos. Este foi outro conflito...<br />
Mas fazíamos, também, estudos de carga horária e víamos<br />
os locais onde havia profissionais em excesso. Os<br />
rácios só são fixos para uma unidade de cuidados intensivos,<br />
semicritícos, para unidades de alta complexidade...<br />
GH: É um defensor do conceito da medicina ambulatória.<br />
Acha que este conceito traz maior desenvolvimento<br />
para o sistema e para o doente?<br />
XC: Esta é uma boa pergunta porque, aparentemente,<br />
sim... Evita muitas complicações do doente, infeções, quedas,<br />
mas forçar a aplicação deste conceito a todo o mundo,<br />
por igual, não é correto...<br />
O doente idoso, o doente que vive longe, o doente que não<br />
tem cuidador não pode... Portanto, há que selecionar os<br />
doentes que podem tirar proveito da medicina ambulatória.<br />
Por exemplo, um hospital que opera a cirurgia major de<br />
ambulatório à tarde está errado, deve operar de manhã.<br />
Mas, mudar esta forma de gerir foi complicado. Explicar<br />
isto aos cidadãos é simples, mas aos profissionais é complicado<br />
porque eles têm os seus interesses, a medicina<br />
privada, etc.<br />
Bem, é um processo de se romper com as tradições, mas<br />
com muita lógica.<br />
Apesar das grandes mudanças internas que este conceito<br />
traz, sou um grande defensor deste modelo, mas sei que<br />
tem as suas limitações.<br />
GH: Quais são as mudanças que gostaria de ver<br />
nas práticas de gestão, na saúde, para o desenvolvimento<br />
da medicina interna?<br />
XC: Creio que o conceito de “clinical management” tem que<br />
aproximar os gestores e os clínicos. Creio que o internista<br />
tem de entender que é um grande aliado dos administradores,<br />
porque também é um grande “sofredor”.<br />
Se as pessoas soubessem o que os administradores sofrem<br />
para gerir um hospital com tantos egos, certamente<br />
que os compreendiam melhor...<br />
Eu acho que aos gestores falta apoio de conhecimentos de<br />
“base clínica” para gerir bem os seus recursos.<br />
Se se tem um budget global e fixo, o gestor tem de entender<br />
que evitar internamentos desnecessários, evitar complicações,<br />
vai melhorar este budget porque vai conseguir fazer<br />
mais coisas. Se não houver complicações com o doente, não<br />
vai gastar em antibióticos, não ocupa camas... etc.<br />
Bem, acho que se o internista e o gestor se aproximarem<br />
podem ter um trabalho profícuo, o internista pode garantir<br />
a qualidade dos resultados que a administração reconhece<br />
e possibilita.<br />
Na minha opinião, o internista deveria ser um grande<br />
aliado da Direção, porque assume grandes problemas do<br />
hospital, pelo que penso que é uma ótima aliança. O internista<br />
é o melhor especialista que pode compreender<br />
integralmente todos os problemas do doente, do hospital<br />
e do sistema.<br />
É importante que continuemos a trabalhar para que os<br />
especialistas generalistas passem a ter um papel mais<br />
importante.<br />
No Sul já têm, mas na Europa ainda não existe esta figura<br />
nos hospitais e é da nossa responsabilidade (ex: Portugal,<br />
Espanha, Itália) demonstrar que este modelo é muito eficaz<br />
e eficiente e, portanto, este é o momento, com esta<br />
problemática tão complexa, para trabalharmos em colaboração.<br />
Se as pessoas soubessem o que os administradores<br />
sofrem para gerir um hospital com tantos egos,<br />
certamente que os compreendiam melhor...<br />
Eu acho que aos gestores falta apoio de conhecimentos<br />
de “base clínica” para gerir bem os seus recursos.<br />
25
REMEDI<br />
REQUISIÇÕES MÉDICAS<br />
BRUNO SILVA<br />
Diretor do serviço de sistemas<br />
e tecnologias de informação<br />
PEDRO RODOLFO<br />
Diretor do serviço<br />
de gestão da produção<br />
REMEDI é um sistema de informação desenvolvido<br />
pela ULSNA, EPE que visa apoiar o trabalho<br />
O<br />
elaborado pela central de marcações e pelas Unidades de<br />
Cuidados de Saúde Primários no que diz respeito a todo<br />
o workflow relacionado com o agendamento de meios<br />
complementares de diagnóstico, implementando simultaneamente<br />
o processo de desmaterialização da requisição<br />
desses meios complementares de diagnóstico e eliminando<br />
o trabalho administrativo, nesta área, dos cuidados<br />
de saúde primários. Além de uma melhor organização de<br />
todo o processo administrativo, este sistema permite uma<br />
circulação mais rápida e segura da informação, garantindo<br />
celeridade e igualdade no tratamento de cada pedido.<br />
O cenário anterior apresentava inúmeras debilidades,<br />
tais como:<br />
> Dependente de intervenção humana em todos os<br />
passos;<br />
> Demasiada carga administrativa (dependente de listagens<br />
em ficheiros estruturados enviados por correio<br />
eletrónico);<br />
> Possibilidade do utente ir a uma entidade convencionada<br />
sem prévia avaliação da capacidade de resposta<br />
interna;<br />
> Possibilidade de enviar para o exterior MCD quando<br />
temos capacidade interna para os realizar dentro de<br />
TMRG;<br />
> Erros de transcrição;<br />
> Impossibilidade de avaliar procura/oferta em tempo<br />
real;<br />
> Agendas de MCD mal definidas e desadequadas à<br />
procura;<br />
> Dificuldade em dar resposta a alguns indicadores<br />
(tempo entre requisição e realização do MCD);<br />
> Requisição não disponível na data do exame;<br />
Com a implementação deste sistema de informação<br />
propusemo-nos a alcançar os seguintes objetivos:<br />
Reduzir<br />
Maximizar<br />
Tempos de resposta<br />
Capacidade instalada<br />
(≤ TMRG)<br />
dos hospitais:<br />
> Rentabilização do RH<br />
> Rentabilização dos<br />
equipamentos<br />
Custos com MCD<br />
Automatização de tarefas<br />
realizados no exterior<br />
Erros em processos<br />
Satisfação do utente<br />
administrativos<br />
Erros de intervenção<br />
Fiabilidade dos indicadores<br />
humana (p. e. transcrição) de gestão<br />
Contactos administrativos Capacidade de resposta ao<br />
desnecessários<br />
utente ou outras entidades<br />
competentes<br />
Número de reclamações<br />
Existindo já as centrais de marcações, o modelo de<br />
implementação utilizado baseou-se na realização de três<br />
pilotos em unidades dos cuidados de saúde primários de<br />
forma a permitir corrigir todas as situações identificadas<br />
como disfuncionais e introduzir melhorias identificadas<br />
pelos profissionais envolvidos. Deste o arranque do primeiro<br />
piloto até à implementação total do projeto decorreram<br />
7 meses entre maio e dezembro de 2016.<br />
Na conceção deste sistema de informação a equipa de<br />
projeto teve sempre como principal foco a melhoria do<br />
atendimento ao utente na sua vertente administrativa.<br />
26
Desta forma foram desenvolvidas uma série de funcionalidades<br />
que auxiliam e melhoram significativamente todo<br />
o processo, tais como:<br />
> Encaminhamento automático das requisições dos<br />
cuidados de saúde primários para as unidades hospitalares<br />
todos os dias durante a noite;<br />
> Saber o estado da requisição a cada momento (devolvidas<br />
ao requisitante, para triagem, para marcação,<br />
para termo de responsabilidade);<br />
> Diversas possibilidades de notificação (carta ou sms);<br />
> Acesso a timeline do utente;<br />
> Notificações de futuros contactos do utente nos hospitais;<br />
> Sistemas de apoio para que o utente com diversos<br />
exames se tenha que deslocar o menor número de vezes<br />
possível ao hospital;<br />
> Disponibilização de informação sobre isenções de<br />
programas de saúde (diabetes, planeamento familiar);<br />
> Informação clínica a tempo e horas nos serviços executantes;<br />
Tendo a consciência de que um sistema de informação<br />
para ter sucesso tem que corresponder às expectativas<br />
dos profissionais que o vão utilizar, o REMEDI foi desenvolvido<br />
com a participação de uma equipa onde se incluíram<br />
médicos, enfermeiros, TDT e assistentes técnicos.<br />
Desta participação resultaram uma série de funcionalidades<br />
de que salientamos:<br />
Para o apoio ao triador<br />
(médico, enfermeiro ou TDT):<br />
> Apresentação de diversos dados clínicos (SOAP + informação<br />
clínica da requisição do exame);<br />
> Configuração de respostas pré-definidas;<br />
> Chamada de outras aplicações de MCD;<br />
> Apoio ao cálculo das datas das ecografias obstétricas;<br />
> Possibilidade de consultar agendas sem sair da aplicação;<br />
Para a organização do trabalho<br />
da central de marcações:<br />
> Exames ordenados por prioridades e antiguidades;<br />
> Possibilidade de organizar por exame ou por utente;<br />
> Diversos filtros à escolha do utilizador com a possibilidade<br />
de gravação para futura utilização;<br />
> Apoio na pesquisa de vagas;<br />
> Anexação automática de preparações dos exames;<br />
> Controlo de notificações ao utente;<br />
> Separar exames de “espera prolongada”;<br />
> Agendamentos para fim-de-semana (lacuna do SO-<br />
NHO);<br />
Para o apoio no cumprimento de prazos:<br />
> Definição de prazos máximos de resposta por área;<br />
> Prazos máximos para triagem com encaminhamento<br />
automático;<br />
> Sinalética relacionada com prazos;<br />
Para auxiliar na rentabilização<br />
dos recursos disponíveis da instituição:<br />
> Possibilidade de encaminhamento entre centrais;<br />
> Notificação de exames iguais já agendados;<br />
> Encaminhamento para circuito de termos de responsabilidade<br />
(lei dos compromissos);<br />
Para apoio à gestão:<br />
> Dashboards com informação de gestão e produção<br />
em tempo real;<br />
> Registos totalmente auditáveis;<br />
Salientamos como principais<br />
indicadores disponibilizados:<br />
> Tempos médios;<br />
> Taxa de ocupação da capacidade instalada;<br />
> Pedidos devolvidos por falta de informação clínica;<br />
> Pedidos que transitaram para marcação sem triagem<br />
realizada;<br />
> Volume diário de requisições;<br />
> Taxa de utilização do meio de notificação;<br />
> Volume de remarcações;<br />
Indicadores relevantes do 1.<strong>º</strong> ano de atividade:<br />
2016 2017<br />
N.<strong>º</strong> exames agendados 8.245 30.404<br />
Requisição – realização (dias) 22,49 19,34<br />
Marcação - realização (dias) 13,15 15,91<br />
Requisição – marcação (dias) 9,27 3,56<br />
Requisição – triagem (dias) 3,55 2,47<br />
Embora os resultados alcançados sejam bastante satisfatórios,<br />
o novo paradigma que o REMEDI trouxe à ULSNA<br />
veio acrescentar novas necessidades, principalmente<br />
no que confere ao apoio da racionalização da capacidade<br />
instalada e na melhoria da satisfação do utente pelos serviços<br />
prestados. Assim, em <strong>2018</strong>, além de alargarmos a<br />
utilização desta plataforma para a área hospitalar, serão<br />
desenvolvidas uma série de novas funcionalidades, principalmente<br />
na área do apoio à decisão no momento do<br />
agendamento.<br />
27
AS CAUSAS DAS RECLAMAÇÕES<br />
DAVID COSTA<br />
CARLA OLIVEIRA<br />
PALMIRA VALE<br />
FILIPE ALMEIDA<br />
Responsável do Gabinete<br />
do Cidadão, Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> de São João, EPE<br />
Responsável Adjunta<br />
do Gabinete do Cidadão,<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
de São João, EPE<br />
Assistente Técnica<br />
Gabinete do Cidadão<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
de São João, EPE<br />
Diretor do Serviço de<br />
Humanização, Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> de S. João, EPE<br />
Introdução<br />
As reclamações dos utentes do Serviço Nacional de<br />
Saúde (SNS) resultam de uma tomada de decisão<br />
associada a uma manifestação de discordância ou insatisfação<br />
em relação aos serviços em contexto das relações<br />
interpessoais e institucionais. A resolução deste quadro<br />
de discordância ou insatisfação poderá estar na estrutura<br />
organizacional e funcional do estabelecimento prestador<br />
ou afastada no labirinto das normas e orientações políticas<br />
de saúde.<br />
A satisfação é a face oposta da discordância quando se<br />
analisa a relação entre cidadãos e prestadores de cuidados.<br />
Para os autores que analisam a satisfação numa lógica<br />
de mercado, equiparando os doentes a clientes, a satisfação<br />
é um fator crucial para influenciar a lealdade à marca<br />
e a repetição de compras e, por isso, a satisfação do consumidor<br />
é uma entidade dinâmica que exige constante<br />
atualização. Para estes, a satisfação é uma função associada<br />
às expetativas e a insatisfação está relacionada com<br />
a desconfirmação dessas expetativas que resultam da relação<br />
entre estas duas variáveis com raízes na Psicologia<br />
Social. Nesta perspetiva, os consumidores formulam uma<br />
expetativa sobre as características dos produtos antes da<br />
compra (Farias, Santos, 2000). No caso da saúde, os doentes<br />
constroem uma perceção sobre a competência técnica<br />
dos profissionais, sobre a prioridade dada ao seu problema<br />
de saúde, sobre o acesso às consultas, aos exames complementares<br />
de diagnóstico e aos tratamentos.<br />
As teorias sobre a satisfação do consumidor apresentam<br />
outras explicações, umas sustentadas na dissonância<br />
cognitiva, outras na equidade, outras ainda na atribuição<br />
e no desempenho (Farias, Santos, 2000). Cada uma<br />
delas oferece um modelo explicativo sobre os potenciais<br />
fatores envolvidos no comportamento das pessoas quando<br />
reclamam. Mas, o comportamento das pessoas quando<br />
reclamam não acontece fora de um contexto organizacional<br />
ou social e não está dissociado das falhas dos sistemas<br />
de controlo de qualidade do serviço ou produto.<br />
Por isso, para além das explicações sobre a satisfação<br />
dos utentes, há a perspetiva centrada na organização, ou<br />
seja, na disposição das relações entre indivíduos que produzem<br />
esta unidade complexa ou sistema. Neste domínio,<br />
os fatores que conduzem às manifestações de insatisfação<br />
sobre as expetativas do desempenho das organizações<br />
de saúde devem ser encontrados nos comportamentos<br />
entre atores em torno de uma prestação de um serviço<br />
de saúde.<br />
As reclamações contêm um manancial de perceções e<br />
perspetivas sobre diferentes circunstâncias do dia-a-dia<br />
dos utentes e organização. A sua classificação é um contributo<br />
importante para se identificar não-conformidades<br />
nos processos de trabalho e, dessa forma, introduzir melhorias<br />
na gestão e funcionamento dos estabelecimentos<br />
de prestação de cuidados do SNS.<br />
Os trabalhos publicados sobre as reclamações dos<br />
utentes do SNS são escassos − Direção-Geral de Saúde,<br />
20<strong>12</strong>; Cabete, Lencastre, 20<strong>12</strong> e Entidade Reguladora da<br />
Saúde, 2015 −, considerando-se que a possibilidade formal<br />
de apresentação de reclamações remonta ao ano de<br />
1986 (Governo de Portugal, 1986).<br />
O relatório do 1.<strong>º</strong> semestre de 2016 da Entidade Reguladora<br />
da Saúde sobre o sistema de gestão de reclamações<br />
indica que, das 29.014 reclamações recebidas, o tema<br />
mais frequentemente mencionado pelos utentes é o dos<br />
procedimentos administrativos (19,8%) seguido dos tempos<br />
de espera (19,6%), do acesso aos cuidados de saúde<br />
(15,9%), da focalização no utente (15,5%), dos cuidados<br />
de saúde e segurança do doente (14,8%), das questões financeiras<br />
(5,9%), das instalações e serviços complemen-<br />
28
tares (4,2%) e de outros temas (4,4%) (Entidade Reguladora<br />
da Saúde, 2015).<br />
Este relatório permite estabelecer um traço característico<br />
sobre as reclamações. São feitas predominantemente<br />
por utentes do género feminino e as causas estão relacionadas<br />
com a prestação de cuidados onde se inclui o tempo<br />
de espera nos serviços de urgência, o tempo de espera<br />
para atendimento e o comportamento atribuído à falta de<br />
cortesia.<br />
Um trabalho de revisão revela que o domínio da gestão,<br />
onde se inclui o tempo de espera para aceder aos<br />
cuidados, foi alvo de 35,1% das reclamações, o domínio<br />
clínico a que pertence a qualidade dos cuidados recebeu<br />
33,7% das reclamações e o domínio do relacionamento<br />
interpessoal recebeu 29,1% (Diaz-Guzman, Bermejo-Pareja,<br />
2006).<br />
Outros estudos mostram que os assuntos sobre comunicação<br />
são 49% das reclamações e os assuntos sobre tratamento<br />
são 47% (Anderson, Allan, 2000).<br />
Outro trabalho, realizado no Serviço de Neurologia de<br />
um hospital de Madrid-Espanha revela que as razões assistenciais<br />
originaram 91,8% das reclamações.<br />
É difícil comparar os resultados destes trabalhos porque<br />
o funcionamento dos sistemas de saúde e a metodologia<br />
de classificação das reclamações têm particularidades<br />
derivadas da estrutura das relações sociais que estão<br />
na origem dos dispositivos organizativos dos Serviços de<br />
Saúde.<br />
Todavia, este facto não é um obstáculo à tentativa de<br />
se descortinar elementos comuns nos resultados dessas<br />
classificações que ajudem à descrição das suas características<br />
e à comparação com as de outros estudos.<br />
Material e métodos<br />
Em junho de 2017 foram analisadas as exposições<br />
recebidas no período de 1 de janeiro de 2015 a 31<br />
de dezembro de 2016.<br />
Foram classificadas de acordo com o modelo previsto<br />
no Sistema Sim-Cidadão.<br />
A curva de Kaplan-Meier foi usada para descrever o<br />
tempo mediano de resposta.<br />
As reclamações contêm um manancial de perceções e perspetivas<br />
sobre diferentes circunstâncias do dia-a-dia dos utentes e organização.<br />
A sua classificação é um contributo importante para se identificar<br />
não-conformidades nos processos de trabalho e, dessa forma,<br />
introduzir melhorias na gestão e funcionamento<br />
dos estabelecimentos de prestação de cuidados do SNS.<br />
RESULTADOS<br />
São as pessoas do género feminino que apresentam mais exposições (Tabela 1).<br />
Ano<br />
2015 2016<br />
Total<br />
n % n % n %<br />
Exponente:<br />
Doente 805 44,4 1014 43,2 1819 43,7<br />
Representante 1009 55,6 1334 56,8 2343 56,3<br />
Género do exponente:<br />
Feminino 1167 64,3 1467 62,5 2634 63,3<br />
Masculino 647 35,7 881 37,5 1528 36,7<br />
Tabela 1 Características dos exponentes.<br />
29
As reclamações são 92,4% das exposições em 2015 e 93,4% em 2016. São maioritariamente apresentadas no Livro de<br />
Reclamações. A modalidade de assistência mais visada é a de urgência (Tabela 2).<br />
Ano<br />
Total<br />
2015 2016<br />
n % n % n %<br />
Tipo de exposição:<br />
Reclamação 1676 92,4 2213 94,3 3889 93,4<br />
Sugestão 11 0,6 15 0,6 26 0,6<br />
Elogio <strong>12</strong>7 7,0 <strong>12</strong>0 5,1 247 5,9<br />
Total 1814 100,0 2348 100,0 4162 100,0<br />
Forma apresentação:<br />
Caixa sugestões-reclamações 26 1,4 20 0,9 46 1,1<br />
Carta 163 9,0 143 6,1 306 7,4<br />
Correio eletrónico 287 15,8 381 16,2 668 16,0<br />
Imprensa 1 0,1 1 0,0 2 0,0<br />
Livro reclamações <strong>12</strong>97 71,5 1767 75,3 3064 73,6<br />
Website 5 0,3 19 0,8 24 0,6<br />
Presencial-Carta 35 1,9 17 0,7 52 1,2<br />
Modalidade de assistência visada:<br />
Consulta 469 25,9 727 31,0 1196 28,7<br />
Hospital Dia 2 0,1 <strong>12</strong> 0,5 14 0,3<br />
Internamento 197 10,9 201 8,6 398 9,6<br />
Indeterminada 263 14,5 247 10,5 510 <strong>12</strong>,3<br />
Unidade Cirurgia Ambulatório 7 0,4 1 0,0 8 0,2<br />
Urgência 876 48,3 1160 49,4 2036 48,9<br />
Tabela 2 Tipos e características das exposições.<br />
O tempo de espera para cuidados representa 43,0% de todos os problemas identificados em 2015 e 48,4% em 2016<br />
(Tabela 3).<br />
Ano<br />
Total<br />
2015 2016<br />
n % n % n %<br />
Atos administrativos e de gestão − Leis/Regras/Normas 379 22,5 398 17,9 777 19,8<br />
Atos administrativos e de gestão − Procedimentos 46 2,7 95 4,3 141 3,6<br />
Atos administrativos e de gestão − Sistemas informação 63 3,7 99 4,4 162 4,1<br />
Subtotal 488 28,9 592 26,6 1080 27,6<br />
Infraestruturas e amenidades − Cuidados hoteleiros <strong>12</strong> 0,7 11 0,5 23 0,6<br />
Infraestrutura e amenidade − Instalações equipamentos 45 2,7 76 3,4 <strong>12</strong>1 3,1<br />
Subtotal 57 3,4 87 3,9 144 3,7<br />
Prestação de cuidados saúde − Cuidados desadequados 105 6,2 102 4,6 207 5,3<br />
Prestação de cuidados saúde − Doente sem cuidados <strong>12</strong>7 7,5 142 6,4 269 6,9<br />
Prestação de cuidados saúde − Tempo espera para cuidados 725 43,0 1078 48,4 1803 46,1<br />
Subtotal 957 56,7 1322 59,3 2279 58,2<br />
Relacionais comportamentais − Atendimento 185 11,0 227 10,2 4<strong>12</strong> 10,5<br />
Total 1687 100,0 2228 100,0 3915 100,0<br />
Tabela 3 Reclamações − Tipo de problemas.<br />
30
Os médicos são os profissionais mais visados (Tabela 4).<br />
2015 2016<br />
Tipo de exposição<br />
Tipo de exposição<br />
Total<br />
Elogio Reclamação Sugestão Elogio Reclamação Sugestão<br />
n % n % n % n % n % n % n %<br />
Assistente<br />
Operacional<br />
Assistente<br />
Técnico<br />
25 19,7 13 0,8 0 0,0 13 10,8 17 0,8 1 6,7 69 1,7<br />
7 5,5 49 2,9 0 0,0 5 4,2 78 3,5 1 6,7 140 3,4<br />
Dirigente 4 3,1 280 16,7 9 81,8 1 0,8 330 14,9 9 60,0 633 15,2<br />
Enfermeiro 37 29,1 98 5,8 1 9,1 53 44,2 <strong>12</strong>9 5,8 0 0,0 318 7,6<br />
Médico 52 40,9 1144 68,3 1 9,1 45 37,5 1526 69,0 3 20,0 2771 66,6<br />
Técnico<br />
Diagnóstico e<br />
Terapêutica<br />
Técnico<br />
Superior<br />
Técnico<br />
Superior de<br />
Saúde<br />
Pessoal<br />
Concessionado<br />
0 0,0 9 0,5 0 0,0 0 0,0 17 0,8 0 0,0 26 0,6<br />
0 0,0 2 0,1 0 0,0 0 0,0 8 0,4 0 0,0 10 0,2<br />
0 0,0 2 0,1 0 0,0 0 0,0 3 0,1 0 0,0 5 0,1<br />
2 1,6 78 4,7 0 0,0 3 2,5 104 4,7 1 6,7 188 4,5<br />
Voluntário 0 0,0 1 0,1 0 0,0 0 0,0 1 0,0 0 0,0 2 0,0<br />
Total <strong>12</strong>7 100,0 1676 100,0 11 100,0 <strong>12</strong>0 100,0 2213 100,0 15 100,0 4162 100,0<br />
Tabela 4 Profissional visado.<br />
O setor funcional mais reclamado é a urgência polivalente (Tabela 5).<br />
Ano<br />
2015 2016<br />
Total<br />
n % n % n %<br />
Aprovisionamento e outros suportes 30 1,8 50 2,2 80 2,0<br />
Cirurgia 270 16,0 355 15,9 625 16,0<br />
Clínica da mulher 38 2,3 36 1,6 74 1,9<br />
Imagiologia e Medicina laboratorial 67 4,0 71 3,2 138 3,5<br />
Medicina 203 <strong>12</strong>,0 274 <strong>12</strong>,3 477 <strong>12</strong>,2<br />
Operações hoteleiras 98 5,8 109 4,9 207 5,3<br />
Pediatria 28 1,7 21 0,9 49 1,3<br />
Psiquiatria 34 2,0 45 2,0 79 2,0<br />
Receção e atendimento geral 78 4,6 <strong>12</strong>3 5,5 201 5,1<br />
Serviços Financeiros 80 4,7 <strong>12</strong>3 5,5 203 5,2<br />
Urgência de Obstetrícia e Ginecologia 15 0,9 14 0,6 29 0,7<br />
Urgência Pediátrica <strong>12</strong>3 7,3 130 5,8 253 6,5<br />
Urgência Polivalente 623 36,9 877 39,4 1500 38,3<br />
Total 1687 100,0 2228 100,0 3915 100,0<br />
Tabela 5 Setores funcionais visados (reclamações e sugestões).<br />
31
Se olharmos para a relação entre a produção e o número de reclamações verifica-se que em 2015 há 1,3 reclamações<br />
por cada mil atos assistenciais e no ano de 2016 há 1,7 reclamações (Tabela 6).<br />
Produção/Reclamações 2015 2016<br />
N.<strong>º</strong> total doentes saídos 45.347 45.170<br />
N.<strong>º</strong> total doentes observados Serviço Urgência 249.925 262.421<br />
N.<strong>º</strong> total de consultas externas 781.927 792.384<br />
N.<strong>º</strong> total de intervenções cirúrgicas em ambulatório 21.191 21.019<br />
N.<strong>º</strong> total sessões hospital/dia <strong>12</strong>7.615 <strong>12</strong>5.236<br />
Total produção 1.226.005 1.246.230<br />
N.<strong>º</strong> de reclamações 1676 2213<br />
Reclamações/Atividade assistencial (‰) 1,3 1,7<br />
Tabela 6 Relação entre produção e reclamações.<br />
No fim do mês de junho de 2017 estavam respondidas 1811 exposições do ano de 2015 e 1730 do ano 2016 de um total<br />
de 1814 e 2348 exposições, respetivamente. Não tinham sido respondidas 3 exposições do ano de 2015 e 618 do ano de<br />
2016 (Tabela 7).<br />
Eventos<br />
Tempos de resposta (mediana)<br />
Ano<br />
n<br />
Eventos<br />
(Reclamações<br />
respondidas)<br />
censurados<br />
(Reclamações<br />
não<br />
respondidas)<br />
Estimate<br />
Std.<br />
Error<br />
95% Confidence<br />
Interval<br />
Lower Upper<br />
Bound Bound<br />
Log Rank (Mantel-Cox)*<br />
Chi-Square df p<br />
2015 1814 1811 3 29,000 1,033 26,975 31,025<br />
2016 2348 1730 618 49,000 2,067 44,949 53,051<br />
Total 4162 3541 621 38,000 1,344 35,366 40,634 160,274 1 0,000<br />
*Test of equality of survival distributions for the different levels of Ano.<br />
Tabela 7 Tempos de resposta às exposições (Reclamações, sugestões, elogios).<br />
Nessa data verificamos que o tempo mediano de resposta às exposições foi de 29 e 49 dias em 2015 e 2016 respetivamente<br />
(Gráfico 1).<br />
1,0<br />
0,8<br />
Ano<br />
2015<br />
2016<br />
2015-censored<br />
2016-censored<br />
Cum Survival<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800<br />
GRÁFICO 1 Survival Functions.<br />
Tempo resposta<br />
32
Nos dois anos em análise, 80,0% das dez causas mais frequentes são formadas pelo conjunto constituído pelo tempo<br />
de espera no serviço de urgência, pelas taxas moderadoras, pela falta de cortesia e pelo tempo de espera para tratamento<br />
médico (Gráfico 2).<br />
Tempo de espera no serviço de urgência<br />
1100 1042<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
480<br />
383<br />
400<br />
300<br />
264<br />
220<br />
200<br />
140<br />
100<br />
0<br />
Taxas moderadoras<br />
Falta de cortesia<br />
Tempo de espera para tratamento médico<br />
Livre escolha (Direito de opção)<br />
Tempo de espera para consultas de especialidade<br />
Dec. Lei 33/2009 (Direito acompanhante SU)<br />
n % Ac.<br />
103 100 90 82<br />
Tempo de espera para cirurgia<br />
Tempo espera para atendimento<br />
Tempo de espera para MCDT<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
30<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Gráfico 2 Causas das reclamações 2015-2016.<br />
33
Discussão<br />
Os problemas apresentados são maioritariamente<br />
sobre o tempo de espera para cuidados. O relatório<br />
do 1.<strong>º</strong> semestre de 2016 da Entidade Reguladora da Saúde<br />
indica que o tema mais frequente é o dos procedimentos<br />
administrativos (19,8%), seguido dos tempos de espera<br />
(19,6%) e do acesso aos cuidados de saúde (15,9%) (Entidade<br />
Reguladora da Saúde, 2015). Estes dados, devido à<br />
sua classificação, apresentam dificuldades de comparação<br />
com os deste trabalho. Contudo, os tempos de espera são<br />
o segundo tema mais relevante, o primeiro neste trabalho.<br />
O tema das instalações (4,2%) é semelhante ao revelado<br />
por este estudo (3,7%). Os restantes temas não são passiveis<br />
de comparação.<br />
Um trabalho de revisão (Reader, Gillesppie, 2014) revela<br />
que o tempo de espera para aceder aos cuidados foi alvo<br />
de 35,1% das reclamações. Esta percentagem aproxima-<br />
-se do resultado encontrado neste trabalho (tempo de espera<br />
para cuidados-46,1%).<br />
À semelhança do revelado por outros estudos, os médicos<br />
e os dirigentes são os mais visados nas reclamações<br />
(Cabete, Lencastre, 20<strong>12</strong>; Direção-Geral de Saúde, 20<strong>12</strong>;<br />
Reader, Gillesppie, 2014).<br />
A literatura não mostra qualquer tipo de análise sobre<br />
a relação entre a produção assistencial e o número de reclamações,<br />
assim como sobre o tempo de resposta às exposições.<br />
A análise revelou que o tempo mediano de resposta às<br />
exposições (2015: 29 dias; 2016: 49 dias) excedeu o tempo<br />
prescrito (5 dias úteis). O tempo necessário para analisar<br />
os problemas e realizar as audições numa organização<br />
complexa como é um hospital, não se compadece com as<br />
prescrições legislativas que abrangem toda a estrutura<br />
dos serviços públicos como se fossem todos, estruturalmente,<br />
iguais.<br />
O relatório do sistema Sim-Cidadão (Direção-Geral de<br />
Saúde, 20<strong>12</strong>) mostra que o tempo de espera nos Serviços<br />
de Urgência do SNS é a primeira causa (<strong>12</strong>,73%) das reclamações,<br />
seguida do tempo de espera para atendimento<br />
(7,76%) e da falta de cortesia (5,9%). Os resultados<br />
apresentados neste relatório são semelhantes aos encontrados<br />
por este trabalho. O gráfico de Pareto mostra que<br />
80,0% das dez causas mais frequentes das reclamações<br />
são o tempo de espera no Serviço de Urgência, as taxas<br />
moderadoras, a falta de cortesia e o tempo de espera para<br />
tratamento médico.<br />
Conclusão<br />
falta de cortesia atribuída aos profissionais é a<br />
A causa que pode ser resolvida com a melhoria dos<br />
processos de atendimento, reforçando-se os mecanismos<br />
de apoio ao controlo da tensão relacional entre os atores.<br />
Ocupa lugar de relevo (o 3.<strong>º</strong>) na análise das causas e deverá,<br />
pela sua natureza e dimensão, despertar ação pedagógica<br />
intrainstitucional na linha da humanização do agir<br />
que há de marcar o quotidiano hospitalar.<br />
A importância das reclamações enquanto mecanismo<br />
de participação dos utentes é ainda uma prática residual<br />
porque não se evidenciam mudanças significativas nos<br />
processos de produção hospitalar que devolvam ao utente,<br />
de forma evidente, a reparação da sua insatisfação,<br />
mesmo quando reconhecida. Mas cada uma das reclamações<br />
deverá merecer uma oportunidade, inadiável, de repensar<br />
procedimentos e diretrizes institucionais.<br />
Bibliografia<br />
Farias SA, Santos RC. “Modelagem de equações estruturais e satisfação do consumidor: uma investigação teórica e prática”. Revista de Administração<br />
Contemporânea. 2000;4(3).<br />
Direção-Geral de Saúde. Relatório Sistema Sim-Cidadão 2011. Lisboa: Ministério da Saúde; 20<strong>12</strong>.<br />
Cabete J, Lencastre A, Apetato M, Paiva Lopes MJ. “[Why are our patients claiming? Statistics from a dermatology clinic]”. Acta medica portuguesa.<br />
20<strong>12</strong>;25(5):265-70.<br />
Entidade Reguladora da Saúde. Sistema de <strong>Gestão</strong> de Reclamações - Síntese descritia do 1.<strong>º</strong> semestre de 2016. Lisboa: Entidade Reguladora da Saúde<br />
− Ministéro da Saúde; 2015.<br />
Despacho n.<strong>º</strong> 26/86, Diário da República, 2.ª série, 24 de Julho (1986).<br />
Diaz-Guzman J, Bermejo-Pareja F, Ruiz-Lopez PM. “[An analysis of complaints received in a Neurology Service]”. Revista de neurologia.<br />
2006;42(<strong>12</strong>):707-<strong>12</strong>.<br />
Anderson K, Allan D, Finucane P. “Complaints concerning the hospital care of elderly patients: a <strong>12</strong>-month study of one hospital’s experience”. Age<br />
and ageing. 2000;29(5):409-<strong>12</strong>.<br />
Reader T, Gillesppie A, Roberts J. “Patient complaints in healthcare systems: a systematic review and coding taxonomy”. BMJ quality & safety.<br />
2014(0):1-<strong>12</strong>.<br />
34
CAMINHO DOS HOSPITAIS<br />
11.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais chega ao Norte<br />
alentejano<br />
«10 Anos a Integrar Cuidados − Boas<br />
Práticas”<br />
Conhecer e discutir exemplos de boas práticas na<br />
área da integração de cuidados desenvolvidos no<br />
Norte Alentejano foi o objetivo de mais uma edição de Caminho<br />
dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH). O evento<br />
decorreu dia 19 de janeiro p.p., no Auditório do Hospital Dr.<br />
José Maria Grande (Portalegre), que integra a Unidade Local<br />
de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA).<br />
“10 Anos a integrar cuidados − Boas práticas”<br />
foi o tema desta 11.ª edição de Caminho dos Hospitais e tal<br />
deve-se ao facto da ULSNA, atualmente presidida por João<br />
Moura dos Reis, ter sido criada em março de 2007.<br />
A conferência sobre integração de cuidados, na qual foram<br />
apresentados projetos que potenciam as boas práticas<br />
entre os cuidados de saúde primários (CSP) e os cuidados<br />
hospitalares, contou com o seguinte painel de oradores: (i)<br />
Dr. João Moura Reis, Presidente da ULSNA, o qual enquadrou<br />
o tema geral e expôs a evolução da ULSNA na última<br />
década; (ii) Dr.ª Fátima Figueiredo, responsável pelo Programa<br />
de Telemedicina da ULSNA, abordou a experiência<br />
da telemedicina na ULSNA; (iii) Dr. Pedro Rodolfo, Diretor<br />
do Serviço de Produção da ULSNA, explanou o projeto<br />
REMEDI – Rentabilização da capacidade instalada da UL-<br />
SNA; (iv) Eng.<strong>º</strong> Bruno Silva, Diretor do Serviço de Sistemas<br />
e Tecnologias de Informação da ULSNA, versou sobre o<br />
projeto VIA VERDE MCDT, que contribuirá para melhorar<br />
a celeridade na resposta a meios complementares de<br />
diagnóstico e terapêutica (MCDT) no âmbito da consulta<br />
de recurso dos CSP, e sobre o projeto Follow-up + Saúde;<br />
(v) Dr.ª Vera Escoto, Diretora Clínica da ULSNA e (vi) Dr.<br />
Carlos Penalva Santos, Diretor do Serviço de Cirurgia do<br />
Hospital Santa Luzia de Elvas (HSLE) da ULSNA, os quais<br />
abordaram a hospitalização domiciliária, uma realidade<br />
que será implementada em breve na ULSNA.<br />
Como principais conclusões retiveram-se ” as seguintes<br />
mensagens:<br />
i) A telemedicina, nas suas variantes de teleconsulta,<br />
telemonitorização, telerrastreio e teleformação, é de facto<br />
um importante recurso que, ao nível da prática clínica,<br />
apresenta vantagens sobejamente reconhecidas. Note-se<br />
que no tocante à consulta de telemedicina, é indubitável<br />
o apoio direto dado pelo médico especialista hospitalar ao<br />
médico de Medicina Geral e Familiar, contribuindo para<br />
melhorar a comunicação entre os centros de saúde e os<br />
hospitais. Desta forma, a telemedicina consubstancia-se<br />
num exemplo de sucesso da promoção da integração de<br />
cuidados, a qual: (i) promove o acesso rápido a consultas<br />
de especialidade; (ii) reduz as desigualdades no acesso aos<br />
cuidados de saúde; (iii) permite um maior conforto e bem-<br />
-estar dos doentes, evitando que estes tenham de circular<br />
pelo País, repercutindo-se no aumento da sua satisfação;<br />
e (iv) permite a utilização mais eficiente dos recursos.<br />
ii) A par da telemedicina, outros projetos podem contribuir<br />
para promover uma melhor articulação e rentabilização<br />
dos recursos dos CSP e dos cuidados hospitalares.<br />
No caso da ULSNA, o REMEDI, projeto implementado em<br />
maio de 2016, é uma clara aposta para a melhoria da eficiência<br />
na gestão dos recursos disponíveis, pretendendo<br />
maximizar a capacidade instalada das instituições hospitalares<br />
(ao nível de recursos humanos e de equipamentos),<br />
automatizar tarefas e aumentar a qualidade da estrutura<br />
e dos processos (e.g. diminuir erros em processos<br />
administrativos). Trata-se, assim, de um projeto centrado<br />
no doente, que apoia o triador da instituição, organiza as<br />
tarefas na central de marcações, contribui para o cumprimento<br />
dos prazos, auxilia a rentabilização dos recursos da<br />
instituição, sendo um elemento facilitador para o clínico<br />
requisitante, bem como uma importante ferramenta de<br />
apoio à gestão.<br />
© JUST NEWS<br />
© JUST NEWS<br />
35
iii) Em termos de recursos humanos, a figura do enfermeiro<br />
de família potencia a implementação de projetos<br />
como o Follow-up + Saúde na ULSNA, o qual promove a<br />
proximidade com o doente através de um acompanhamento<br />
constante e personalizado, após a alta hospitalar,<br />
garantindo uma maior e mais adequada acessibilidade<br />
aos cuidados de saúde, evitando afluências de recurso<br />
desnecessárias. Assim, com projetos desta natureza, pretende-se<br />
reduzir a taxa de reinternamentos em 30 dias<br />
(na mesma categoria de diagnóstico), reduzir a taxa de<br />
readmissões nos serviços de urgência no prazo de 72 horas,<br />
reduzir o número de episódios de urgência com cor de<br />
triagem de Manchester branco, azul ou verde e reduzir a<br />
percentagem de utilizadores considerados híper-frequentadores<br />
dos serviços de urgência.<br />
© JUST NEWS<br />
iv) A acrescer aos projetos mencionados, refira-se a<br />
VIA VERDE MCDT (brevemente com experiências piloto<br />
na ULSNA), que pretende garantir uma maior equidade<br />
no acesso, “real time”, à informação clínica complementar<br />
no âmbito das consultas de recurso dos CSP, vertendo-se<br />
na maior aproximação aos CSP e na redução do número de<br />
episódios de urgência “não urgentes”.<br />
v) Por último, a hospitalização domiciliária é um dos<br />
exemplos de maior sucesso no âmbito da integração de<br />
cuidados, uma vez que possibilita prestar cuidados de<br />
saúde, de âmbito eminentemente hospitalar, a doentes de<br />
baixa complexidade que poderão receber o tratamento no<br />
domicílio. Com efeito, a hospitalização domiciliária conduz<br />
a benefícios inequívocos para os doentes, bem como para<br />
as instituições de saúde, resultando na melhoria da eficiência<br />
e reduzindo os efeitos adversos do internamento<br />
hospitalar, em concreto as infeções nosocomiais e alterações<br />
do estado de consciência. A ULSNA prevê iniciar o<br />
projeto em breve, aplicando-o aos doentes internados no<br />
Serviço de Medicina e à Unidade Funcional de Cirurgia do<br />
Ambulatório do HSLE.<br />
REPORTAGEM FOTOGRÁFICA:<br />
https://www.justnews.pt/galeria/album/11-caminho-dos-hospitais-10-anos-a-integrar-cuidados-boas-prticas<br />
Caminho dos Hospitais chegou a Vila<br />
Nova de Gaia<br />
As alternativas para lidar com o subfinanciamento<br />
foi um dos temas centrais da <strong>12</strong>.ª edição do Caminho<br />
dos Hospitais, que teve lugar no 2 de março no Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> Vila Nova de Gaia – Espinho, E.P.E. (CHVNGE),<br />
tendo-se abordado a questão da “Inovação e Sustentabilidade<br />
Clínica e Económica”. A conferência apresentou<br />
a estratégia do CHVNGE no Serviço Nacional de<br />
Saúde (SNS), bem como a sua gestão dos recursos humanos<br />
e aflorou as alternativas ao subfinanciamento do<br />
centro hospitalar, terminando com a apresentação de dois<br />
projetos inovadores para a sustentabilidade clínica e económica<br />
(experiência inovadora no serviço de urgência e<br />
hospitalização domiciliária).<br />
Foram vários os profissionais do centro hospitalar que<br />
quiseram participar nesta iniciativa, onde todos os elementos<br />
do Conselho de Administração, presidido por António<br />
Dias Alves, marcaram presença e se dispuseram a esclarecer<br />
dúvidas, trocar impressões e a ouvir as diferentes perspetivas<br />
sobre os temas em debate.<br />
© JUST NEWS © JUST NEWS<br />
36
© JUST NEWS<br />
© JUST NEWS<br />
Dinamizado pela Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (APAH), o Caminho dos Hospitais é<br />
uma “iniciativa mensal de proximidade”. Tem vindo a ser<br />
implementada em vários pontos do país, procurando contribuir<br />
para “a partilha de casos práticos e soluções que promovam<br />
a integração de cuidados a nível hospitalar e com os<br />
centros de saúde e comunidade”.<br />
E porque no Caminho dos Hospitais se pretendem divulgar<br />
projetos que possam, porventura, ser replicados noutras<br />
instituições hospitalares, merece particular destaque<br />
o projeto renovador para o serviço de urgência polivalente/<br />
centro de trauma do CHVNGE. A aposta da instituição num<br />
projeto renovador da urgência consubstancia-se na perceção<br />
geral de que os profissionais exercem a sua atividade<br />
em condições que não potenciam as suas capacidades, o<br />
que implica, naturalmente, melhorar processos, para obter<br />
mais eficiência, melhor qualidade assistencial e tempo de<br />
resposta mais adequado.<br />
Poder-se-ia aludir a um clássico da Qualidade, Donabedian,<br />
dado que o projeto irá atuar na estrutura (e.g. mudança<br />
para novas instalações, envolvimento dos profissionais)<br />
e nos processos (e.g. melhorar a definição dos circuitos de<br />
fluxos de doentes, acompanhantes e profissionais), resultando<br />
na gestão mais eficiente dos recursos e na melhoria<br />
da qualidade dos cuidados.<br />
A implementação do projeto implica envolver e articular<br />
com os stakeholders, sobretudo a Administração Regional<br />
de Saúde do Norte, I.P. e o Agrupamento de Centros de Saúde<br />
(ACES) Gaia e Gaia/Espinho, sendo que do resultado da<br />
articulação com os CSP e das ações e sensibilização interna<br />
se pretendem reduzir os episódios indevidos. O projeto<br />
cruza-se, também, com a hospitalização domiciliária, com<br />
a orientação do doente crónico complexo, com a contribuição<br />
para a oferta de camas na rede nacional de cuidados<br />
continuados integrados, com a ambulatorização dos cuidados<br />
(e.g. “clínica do antibiótico”, unidade de tratamento de<br />
ambulatório médico, cuidados paliativos domiciliários) e<br />
com a maior oferta nas ações do hospital de dia. No entanto,<br />
é imprescindível que se capacitem os profissionais e a<br />
estrutura, fomentando uma cultura de melhoria contínua<br />
e qualidade (recorrendo à metodologia LEAN), para que se<br />
melhorem os circuitos e fluxos no serviço de urgência.<br />
Em resumo, a renovação do serviço de urgência irá contribuir<br />
para a literacia em saúde da população-alvo, melhorar<br />
a eficiência na utilização dos recursos, melhorar a qualidade<br />
nos indicadores de atividade assistencial, melhorar<br />
as condições de trabalho e satisfação dos profissionais e<br />
utentes.<br />
REPORTAGEM FOTOGRÁFICA: Centro <strong>Hospitalar</strong> Vila Nova de Gaia/Espinho<br />
https://www.justnews.pt/galeria/album/caminho-dos-hospitais-em-vilanova-de-gaia<br />
© JUST NEWS<br />
© JUST NEWS<br />
37
Portugal recebe o maior<br />
congresso europeu de<br />
gestores hospitalares<br />
EAHM <strong>2018</strong><br />
Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) e a European<br />
A<br />
Association of Hospital Managers (EAHM) estão<br />
há 2 anos a organizar a 27ª edição do Congresso da<br />
EAHM (EAHM<strong>2018</strong>) que decorrerá no Centro de Congressos<br />
do Estoril, nos próximos dias 26 a 28 de setembro.<br />
Esta iniciativa vai trazer a Portugal um dos fóruns<br />
internacionais que mais especialistas em gestão de<br />
serviços de saúde reúne, sendo esperados cerca de 500<br />
profissionais da gestão em saúde, dos quais decisores políticos,<br />
investigadores, líderes e gestores de instituições<br />
de saúde, oriundos de mais de 30 países, com particular<br />
relevo para a presença europeia, mas também do continente<br />
americano, Ásia e África.<br />
Durante a última década estivemos mais concentrados<br />
em responder às expetativas das pessoas, adotando<br />
novas tecnologias, obtendo eficiências organizacionais<br />
internas e assegurando a sustentabilidade financeira.<br />
Em algum momento a melhoria da saúde da população<br />
que servimos foi colocada em segundo plano. Além disso,<br />
apesar do alto nível de sofisticação que alcançamos,<br />
os nossos processos estão organizados como eram há 50<br />
anos e o modelo de negócios é cada vez mais visto como<br />
não confiável, inseguro e propenso a erros.<br />
Devemos ter em mente que os desafios que enfrentamos<br />
como indústria (por exemplo, a mudança demográfica,<br />
o ritmo da inovação tecnológica, as mudanças nas expetativas<br />
dos cidadãos e a crescente pressão financeira)<br />
não podem ser respondidos somente por nós e que, para<br />
superá-los, precisamos envolver outros parceiros da rede<br />
de assistência social e de saúde. Mais do que nunca, os<br />
Sistemas de Saúde precisam de hospitais adaptados às<br />
exigências do futuro, sendo a liderança dos seus gestores<br />
mais crucial que nunca.<br />
Sob o lema “Redefining the Role of Hospitals - Innovating<br />
in Population Health”, o congresso será um momento<br />
privilegiado de debate e partilhas de experiências sobre o<br />
papel das instituições hospitalares enquanto agentes ativos<br />
na construção de soluções conjuntas com o ecossistema<br />
social, educação e dinâmica económica, por forma a<br />
assegurar a efetiva gestão das necessidades em saúde da<br />
população.<br />
No decurso do EAHM<strong>2018</strong> será dado especial destaque:<br />
> Ao desenvolvimento de um sistema centrado nas<br />
necessidades e satisfação do cidadão;<br />
> À identificação e implementação de modelos, soluções,<br />
metodologias e processos de integração vertical e<br />
horizontal de cuidados de saúde;<br />
> À implementação de modelos e soluções inovadoras<br />
de prestação de cuidados de saúde com recursos às novas<br />
tecnologias nas áreas do diagnóstico, terapêutica, digital,<br />
comunicação, big data, inteligência artificial, etc.;<br />
> À procura de soluções que assegurem a sustentabilidade<br />
do(s) Sistema(s) de Saúde;<br />
> À necessidade de liderança e gestão da mudança que<br />
permitam a obtenção de resultados de saúde adaptados<br />
às necessidades e dinâmicas populacionais e de gestão da<br />
doença.<br />
O programa do EAHM<strong>2018</strong> inclui uma oferta diversificada<br />
de atividades que contemplam:<br />
> 5 sessões plenárias com os keynote speakers: i) Jan-<br />
-Philipp Beck (EIT Health), ii) Mark Pearson (OCDE), iii) Nirav<br />
Shah (Stanford University), iv) Rafael Bengoa 1 (Institute for<br />
Health & Strategy) e v) Carl Savage (Karolinska Institutet);<br />
> 18 mesas redondas, coorganizadas com 16 entidades<br />
de referência internacional (vide tabela);<br />
> 3 Workshops desenvolvidos com o apoio da Comissão<br />
Europeia sobre: i) fundo europeu para investimentos estratégicos,<br />
ii) contratos pré-comerciais (PCP) e contratação<br />
pública de soluções inovadoras (PPI) e iii) horizonte 2020;<br />
> 5 Cursos pré (n=3) e pós-congresso (n=2) em parceria<br />
com a IESE Business School e EIT Health dedicados aos temas:<br />
i) desenvolver líderes transformacionais, ii) projetar<br />
estruturas organizacionais centradas no cidadão, iii) inovação<br />
centrada no cidadão, iv) pensamento integrativo do<br />
ecossistema da saúde e v) liderança empática e positiva;<br />
>Apresentação de comunicações orais e posters submetidos<br />
ao EAHM<strong>2018</strong>, com atribuição de prémio de me-<br />
1 Aguarda confirmação.<br />
38
lhor apresentação oral e melhor poster, incluíndo a publicação<br />
dos abstracts em suplemento especial da Portuguese<br />
Journal of Public Health (PJPH).<br />
Durante o EAHM<strong>2018</strong>, diversas visitas técnicas serão<br />
realizadas no dia 26 de setembro, designadamente: i) Hospital<br />
Dr. José de Almeida em Cascais, ii) Centro de Atendimento<br />
do SNS, iii) visita fábrica Tecnimede, entre outras a<br />
divulgar oportunamente.<br />
Em paralelo com a organização do EAHM<strong>2018</strong>, a APAH<br />
irá promover a 26 de setembro o 1.<strong>º</strong> workshop de gestão<br />
em saúde na Comunidade de Países de Língua Portuguesa<br />
(CPLP), iniciativa que conta com o apoio do Instituto de<br />
Higiene e Medicina Tropical (IHMT) e AICEP (Agência para<br />
o Investimento e Comércio Externo de Portugal).<br />
A organização do EAHM<strong>2018</strong> convidou, também, a<br />
indústria e empresas do setor a compartilharem os seus<br />
conhecimentos, experiências e soluções, possibilitando<br />
a realização de simpósios. Em simultâneo, a Agência Nacional<br />
de Inovação (ANI), membro da Enterprise Europe<br />
Network (EEP) da Comissão Europeia, juntou esforços<br />
com a APAH na organização de um evento de corretagem<br />
(Brokerage Event) no âmbito do EAHM<strong>2018</strong>. Esta<br />
será uma oportunidade para reunir as principais partes<br />
interessadas do setor de saúde, empreendedores, investidores,<br />
instituições e gestores através da dinamização<br />
de reuniões bilaterais com especial foco em: i) soluções<br />
digitais em saúde, ii) medicina personalizada, iii) sistemas<br />
integrados de gestão de cuidados, iv) soluções de autonomia<br />
e cuidados domiciliários, v) monitorização remota de<br />
doentes, vi) robótica e inteligência artificial, vii) dispositivos<br />
médicos e viii) big data e modelos de decisão preditiva.<br />
Ainda na componente de dinamização económica, o<br />
EAHM<strong>2018</strong> promove, com a Steinbeis Europa e o apoio<br />
da Comissão Europeia, um eHealth Hub Roadshow. Esta<br />
iniciativa contempla a submissão de candidaturas de PME<br />
europeias à apresentação de soluções, recolha de contributos<br />
e investimentos perante um Comité de Peritos que<br />
integram um painel diversificado de CEO de entidades de<br />
saúde europeias.<br />
Para os gestores de serviços de saúde, o EAHM<strong>2018</strong><br />
apresenta-se como um momento único para debater<br />
questões com impacto relevante no setor hospitalar e da<br />
saúde, para partilhar boas práticas e, sobretudo, receber<br />
informação e conhecimento que contribuam para elevar o<br />
desempenho das suas organizações.<br />
Mesa-Redonda<br />
Melhoria contínua da qualidade<br />
Papel dos hospitais na integração de cuidados para pessoas idosas<br />
Uma melhor combinação de “skills mix” para um atendimento mais centrado<br />
no cidadão<br />
Implementação de promoção de saúde centrada no cidadão<br />
A adoção de tecnologias para integrar cuidados<br />
Transformações nos hospitais para assegurar serviços de saúde integrados e<br />
centrados nas pessoas<br />
Novos hospitais através de cuidados de saúde baseados em valor<br />
Liderança em saúde mental: 4 prioridades para inovação centrada no cidadão<br />
Como transformar o Big data em melhor saúde<br />
Medicina de precisão para melhores resultados para os doentes<br />
Medicina ambulatória major<br />
Eficiência <strong>Hospitalar</strong>: abordando questões de qualidade e adequação<br />
Envelhecimento e mudança de saúde bem-sucedida<br />
Adaptar os métodos de pagamento à evolução das necessidades de saúde e<br />
à arquitetura do(s) sistema(s): desafios e oportunidades<br />
Parcerias de partilha de risco<br />
A gestão em saúde baseada em competências profissionais: como assegurar<br />
esta abordagem?<br />
Que estratégias para a redução do desperdício?<br />
As competências de gestão e liderança são importantes para uma mudança<br />
na gestão e inovação nos cuidados de saúde<br />
Entidade Co-organizadora<br />
Institute for Healthcare Improvement (IHI)<br />
International Foundation for Integrated Care (IFIC)<br />
European Association of Senior Hospital Physicians (AEMH)<br />
The International Network of Health Promoting Hospitals and Health<br />
Services (HPN)<br />
Healthcare Information and Management Society (HIMSS)<br />
World Health Organization (WHO)<br />
International Consortium for Health Outcomes Measurement (ICHOM)<br />
EAHM Sub-Committee for Mental Health<br />
European Institute of Innovation & Technology (EIT Health)<br />
European Hospital and Healthcare Federation (HOPE)<br />
European Federation of Internal Medicine (IFIM)<br />
European Health Economics Association (EuHEA)<br />
European Health Management Association (EHMA)<br />
World Health Organization (WHO)<br />
European Federation of Pharmaceutical Industries and Associations (EFPIA)<br />
International Hospital Federation (IHF)<br />
Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD)<br />
IESE Business School<br />
39
CONFERÊNCIAS DE VALOR APAH<br />
CONFERÊNCIAS VALOR APAH <strong>2018</strong><br />
4.ª CONFERÊNCIA discutiu o acesso<br />
à urgência e continuidade hospitalar<br />
E o setor social<br />
Ciclo de Conferências de Valor APAH nasce da<br />
O aposta na organização de iniciativas que promovam<br />
a criação de valor através da análise de tópicos atuais<br />
e determinantes para o futuro dos hospitais e dos sistemas<br />
de saúde. Direcionada a todos os profissionais ligados<br />
à gestão em saúde, a iniciativa fomenta a partilha de boas<br />
práticas e a procura de novas abordagens e respostas para<br />
os desafios do setor.<br />
À semelhança das edições de 2017, o Ciclo de Conferências<br />
<strong>2018</strong> dará continuidade ao círculo virtuoso de conhecimento<br />
e partilha,sendo composto por duas conferências:<br />
> Modelos de <strong>Gestão</strong> de Acesso à Urgência e Continuidade<br />
<strong>Hospitalar</strong> - Viseu, 16 e 17 de março;<br />
> Modelos de Liderança e <strong>Gestão</strong> da Mudança em Saúde<br />
− Tomar, 8 e 9 de junho.<br />
Os desafios e oportunidades associados aos “Modelos<br />
de gestão do acesso à urgência e continuidade de<br />
cuidados” foram o tema central da 4ª Conferência de<br />
VALOR APAH, que decorreu em Viseu a 16 e 17 de março<br />
de <strong>2018</strong>. O evento promovido pela APAH reuniu os responsáveis<br />
de inúmeras entidades e instituições nacionais,<br />
assim como um vasto painel de oradores nacionais e internacionais<br />
e parceiros do setor.<br />
A 4.ª Conferência de VALOR APAH foi presidida por<br />
Pedro Lopes, administrador hospitalar do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
e Universitário de Coimbra, E.P.E., anterior Presidente<br />
da APAH e atual Presidente da Mesa da Assembleia-Geral.<br />
Na sua intervenção de abertura da Conferência, Pedro Lopes<br />
referiu que “o Serviço de Urgência é hoje o reflexo da<br />
sociedade de contradições em que vivemos, um serviço de<br />
acesso universal por excelência onde, sem agendamento,<br />
todos procuram respostas para as nossas vulnerabilidades<br />
físicas e mentais. Não importa a espera pois sabemos que<br />
ali nos aguarda a sofisticação médica e tecnológica que<br />
nos irá diminuir a angústia da qual padecemos.”. Contextualizando<br />
o problema, o Presidente da Conferência salientou<br />
que “Hoje mais de 40% dos episódios de urgência<br />
correspondem a prioridades verde/azul/branca, as quais<br />
poderiam ser atendidas ao nível dos cuidados primários.<br />
Contudo não existe, ainda, uma cobertura de médicos de<br />
família em algumas regiões do país e os horários de atendimento<br />
dos Centros de Saúde estão desarticulados das<br />
necessidades de uma sociedade ativa além de não terem<br />
ainda estabelecido uma relação de confiança e resolutividade<br />
com a população.” Em paralelo, “em 2016, 8,2% de<br />
todos os atendimentos nas urgências resultaram em internamento.<br />
Este fenómeno de maior necessidade de internamento<br />
cria maior pressão sobre os internamentos médicos,<br />
resultando em tempos de permanência no Serviço de<br />
Urgência em muitas situações exagerados e em condições<br />
inadequadas a par com um envelhecimento populacional e<br />
40
uma crescente prevalência de doenças crónicas.”. Lançando<br />
o desafio aos participantes da Conferência, Pedro Lopes<br />
reforçou a necessidade de serem encontradas respostas<br />
inovadoras em articulação com o setor social no desenvolvimento<br />
de soluções conjuntas integradas.<br />
O programa da 4.ª Conferência de VALOR APAH teve<br />
início com a APAH TALKS dedicada aos “Modelos de<br />
gestão de Serviços de Urgência”. As palestras estiveram<br />
a cargo de Modoaldo Garrido Martin, Vice-Presidente<br />
da Sociedad Española de Directivos de la Salud (SEDISA)<br />
e Diretor Gerente do Hospital Universitário da Fundación<br />
Alcorcón (Espanha) e de William McKee, Fundador e<br />
antigo Presidente do Belfast Health and Social Care Trust<br />
(Irlanda do Norte).<br />
Na sua intervenção, Modoaldo efetuou uma extensa<br />
descrição dos principais recursos em saúde disponíveis na<br />
PEDRO LOPES<br />
Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />
GH: Qual é a sua opinião sobre estas conferências?<br />
O objetivo central é falarmos de urgência.<br />
Acha que é um tema atual e pertinente?<br />
PL: Em primeiro lugar, quero dizer que estas conferências<br />
são excecionais. Foi uma novidade que o<br />
meu Presidente introduziu, com a minha experiência<br />
e com as experiências dos Presidentes anteriores,<br />
achamos que realmente estas conferências são<br />
muito boas. As conferências também têm abordado<br />
matérias extremamente importantes, fraturantes e<br />
difíceis como é o caso da urgência na conferência de<br />
hoje.<br />
GH: Acha que deveria haver uma comunicação<br />
maior entre os administradores de diferentes<br />
hospitais, contribuindo para um trabalho<br />
conjunto? Ou acha que já acontece?<br />
PL: O papel da nossa Associação é esse mesmo, é<br />
trazer aqui todos os administradores, penso que<br />
os administradores se encantonam muito nos seus<br />
hospitais discutem as matérias nos seus hospitais,<br />
e às vezes nem sempre as discutem. Era bom que<br />
o fizessem nos seus hospitais, nos vários hospitais,<br />
mas não podendo ser assim, então, que o façam<br />
neste fórum onde são colocadas e onde se procura<br />
dar soluções para os problemas. É aqui que os administradores<br />
devem ouvir,<br />
dar ideias, dar<br />
sugestões para<br />
levarmos daqui<br />
algumas soluções.<br />
Comunidade de Madrid, bem como do seu funcionamento,<br />
salientando o enfoque necessário na coordenação desta<br />
grande estrutura de serviços ao nível da resposta de<br />
emergência em articulação com os cuidados primários e<br />
hospitalares. Para o gestor é inegável que o principal motor<br />
de mudança é, sobretudo, a aposta na resolução dos<br />
problemas a montante dos serviços de urgência.<br />
Já William McKee partilhou com os presentes uma<br />
comparação entre o Reino Unido e Portugal ao nível de<br />
diferentes indicadores demográficos e organizacionais e<br />
salientou o desempenho menos positivo que o NHS britânico<br />
tem apresentado, face ao desinvestimento levado a<br />
cabo nos últimos anos. Na sua palestra, William apresentou<br />
alguns exemplos sobre o modo como o NHS da Irlanda<br />
do Norte tem feito reformas para alcançar melhorias na<br />
integração de cuidados de saúde e respostas sociais, nomeadamente<br />
ao nível das suas estruturas de prestação<br />
de cuidados e na utilização de unidades de avaliação clínica<br />
para trauma e na implementação de salas de controlo<br />
central para avaliar a ocupação de camas em tempo real,<br />
permitindo, deste modo, a gestão integrada entre as três<br />
principais regiões da Cidade de Belfast. Finalmente, William<br />
ressalvou que para assegurar a reforma do sistema é necessário<br />
que se estabeleça uma “Liderança integrativa”<br />
envolvendo os líderes da comunidade.<br />
No decurso do jantar de trabalho da Conferência, a<br />
APAH homenageou três administradores hospitalares:<br />
Júlio Reis (Sócio fundador n.<strong>º</strong> 11), Maria Helena Reis<br />
Marques (Sócio n.<strong>º</strong> 74), e, a título póstumo, Antonio<br />
Domingues Ferreira Guine (Sócio n.<strong>º</strong> <strong>12</strong>8), pelos distintos<br />
serviços prestados à profissão e ao Serviço Nacional<br />
de Saúde (SNS). Na ocasião, também a Secretária de<br />
Estado da Saúde, Rosa Matos, defendeu que cabe a todos,<br />
tendo como exemplo os homenageados, trabalhar na procura<br />
contínua de soluções que respondam aos desafios<br />
atuais e futuros do património que é o SNS.<br />
No sábado, Alexandre Lourenço abriu o segundo dia da<br />
Conferência com a apresentação dos resultados finais<br />
do 2.<strong>º</strong> Barómetro de Internamentos Sociais (BIS).<br />
Esta iniciativa da APAH, desenvolvida com o suporte técnico<br />
da EY e tecnológico da Microsoft, conta desde a sua<br />
1.ª edição com o apoio institucional do Ministério da Saúde<br />
e tem por objetivo monitorizar periodicamente o fenómeno<br />
dos internamentos inapropriados, permitindo a sua<br />
quantificação e o desenvolvimento de ações conjuntas<br />
para minimização do seu impacto.<br />
À data da recolha dos dados do 2.<strong>º</strong> BIS, a 19 de fevereiro<br />
de <strong>2018</strong>, 960 camas, o equivalente a 6% do total<br />
das camas disponíveis, em 74% dos hospitais SNS, eram<br />
ocupadas com internamentos inapropriados, predominantemente<br />
justificados pela falta de resposta na rede de<br />
cuidados continuados. Para a generalidade dos hospitais<br />
auscultados, a média de internamento inapropriado está<br />
41
LUÍS CAMPOS<br />
Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa<br />
de Medicina Interna<br />
GH: Qual a sua opinião relativamente à realização<br />
destas jornadas, qual é a importância que<br />
vê nesta comunicação entre os diferentes administradores,<br />
médicos, enfermeiros? Considera<br />
importante haver este diálogo conjunto?<br />
LC: Sem dúvida, eu acho que a Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es está de<br />
parabéns porque tem conseguido, ao longo destas<br />
jornadas, trazer a debate temas que são importantíssimos<br />
para o futuro dos cuidados de saúde em<br />
Portugal e que têm estado escondidos, como sejam<br />
os casos sociais e as alternativas à urgência.<br />
Os casos sociais, como se tem visto, são altamente<br />
prevalentes como consequência de uma população<br />
idosa e da falta de uma capacidade de soluções fora<br />
dos serviços de saúde, e têm-se acumulado e vão<br />
crescendo dentro dos hospitais. Isso implica a cada<br />
vez maior prestação de cuidados de longa duração,<br />
e nós somos dos países europeus que tem menos<br />
camas de cuidados de longa duração, mas acima de<br />
tudo cada vez é mais difícil separar os problemas<br />
de saúde dos problemas sociais e temos que ter um<br />
pensamento conjunto e uma integração entre o setor<br />
social e o setor dos problemas de saúde.<br />
Em relação às urgências e alternativas à urgência a<br />
sociedade portuguesa de medicina interna está perfeitamente<br />
alinhada com este esforço. Nós temos as<br />
urgências como o espelho das disfunções do sistema,<br />
a montante, a jusante no serviço de urgência no próprio<br />
sistema, é um problema complexo, não tem uma<br />
solução simples e, portanto, temos que ter um conjunto<br />
de ações que pretendem melhorar esta situação.<br />
A nível do afluxo de doentes à urgência somos o<br />
país europeu onde se recorre mais às urgências, sete<br />
em cada dez cidadãos recorrem às urgências por ano,<br />
é o valor mais elevado na Europa, temos que diminuir<br />
este número... Não sabemos porque motivo isto<br />
acontece, poderá ser por razões de conveniência, por<br />
estar perto, por ter especialistas, porque tem exames,<br />
porque está aberto 24 horas por dia.<br />
nos 67 dias, o que corresponde a uma despesa estimada<br />
de 26,3 milhões de euros. A extrapolação deste valor para<br />
um ano dos internamentos inapropriados estima um impacto<br />
de 100 milhões de euros para o Estado.<br />
O 2.<strong>º</strong> BIS revelou ainda que os episódios de internamentos<br />
sociais são, maioritariamente, de origem médica<br />
(72%) e que o género feminino está em maioria com uma<br />
percentagem de 56%. Quando às idades, 22% correspondem<br />
a pessoas entre os 18 e os 65 anos, 36% referem-se<br />
ao intervalo entre os 65 e os 80 anos e 41% dizem respeito<br />
a internamentos de utentes com mais de 80 anos, sendo<br />
que apenas 1% respeita a pessoas com idade inferior a 18<br />
anos. Os resultados finais do 2.<strong>º</strong> BIS estão disponíveis para<br />
consulta no website da APAH em https://apah.pt/iniciativas-projetos/barometro-de-internamentos-sociais/<br />
No comentário aos resultados finais do 2.<strong>º</strong> BIS, Luís<br />
Campos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina<br />
Interna (SPMI), destacou a preocupação crescente que<br />
se vive hoje nos hospitais com este tipo de doentes e de<br />
como a evolução da população portuguesa poderá levar a<br />
uma crescente agudização deste problema. Já Armandina<br />
Carmo Antunes, Enfermeira Diretora do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
de Lisboa Central, E.P.E. (CHLC), deu especial enfoque aos<br />
riscos associados aos internamentos prolongados, quer<br />
do ponto de vista clínico quer social, e à capacidade/incapacidade<br />
para reabilitar os doentes.<br />
De seguida, iniciou-se a Sessão I, com o tema “Dinâmicas<br />
de eficiência na gestão da urgência”, que<br />
contou com uma palestra a cargo de Xavier Corbella,<br />
Secretário-Geral da European Federation of Internal Medicine<br />
(EFIM). Na sua intervenção, Xavier Corbella trouxe-<br />
-nos uma visão de como evoluiu o seu Serviço de Urgência<br />
no Hospital de Bellvitge em Barcelona, e do esforço desenvolvido<br />
para repensar a sua forma de funcionar, com especial<br />
foco nos fatores internos. Na sua opinião, dos fatores<br />
essenciais para o sucesso na resolução dos problemas que<br />
tradicionalmente assolam os serviços de urgência, destaca<br />
os seguintes: i) necessidade permamente de colaboração<br />
entre profissionais de saúde, gestores e políticos; ii) centralização<br />
da gestão de camas; iii) integração entre cuidados<br />
de saúde e cuidados sociais; iv) importância da aposta na<br />
hospitalização domiciliária, e v) necessidade de redesenhar<br />
os processos e cuidados apostando no desenvolvimento de<br />
um modelo de ambulatorização dos cuidados de medicina.<br />
A moderação desta Sessão esteve a cargo de Delfim<br />
Rodrigues, Presidente do Conselho de Administração do<br />
Hospital Senhora da Oliveira Guimarães, E.P.E. e contou,<br />
também, com a participação de um painel de distintos<br />
comentadores entre os quais se incluiram António Dias<br />
Alves (Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> de Vila Nova de<br />
Gaia/Espinho, E.P.E.), Armandina do Carmo Antunes (Enfermeira<br />
Diretora do CHLC), Célia Cravo (Vogal Executiva<br />
do Centro <strong>Hospitalar</strong> do Baixo Vouga, E.P.E.), Luís Amaro<br />
42
(Diretor Executivo do Agrupamento Centros de Saúde<br />
Almada-Seixal) e Luís Campos (Presidente da SPMI), de<br />
onde se destacam as seguintes ideias: i) deve existir um<br />
trabalho dedicado aos utilizadores frequentes dos Serviços<br />
de Urgência, que incluam o desenvolvimento de programas<br />
locais que trabalhem de forma pró-ativa por forma<br />
a evitar as vindas sucessivas à urgência; ii) deve ser<br />
dada particular atenção aos doentes crónicos e à forma<br />
como devem ser abordados, nomeadamente ao nível de<br />
projetos de hospitalização domiciliária e iii) deve ser reforçada<br />
a importância da liderança na definição de estratégias<br />
para as áreas de urgência.<br />
A Sessão II foi dedicada às “Equipas dedicadas no<br />
serviço de urgência” e teve como moderador Cílio Correia,<br />
Presidente do Conselho de Administração do Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> Tondela-Viseu, E.P.E.. Esta Sessão contou com<br />
a palestra de José Artur Paiva, Diretor Clínico do Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> de São João, E.P.E. (CHSJ) que, na ocasião, partilhou<br />
com os presentes que o seu hospital tem um Serviço<br />
de Urgência com um modelo dedicado desde 2005 que<br />
permitiu reduzir custos, aumentar produtividade, melhorar<br />
indicadores assistenciais, implementar intervenções<br />
de melhoria de qualidade e libertar recursos humanos<br />
para outras atividades hospitalares relevantes. Artur<br />
Paiva demostrou que o modelo dedicado de recursos humanos<br />
tem o suporte dos peritos, tem sustentabilidade<br />
legislativa e as suas vantagens estão documentadas e<br />
suportadas em evidência. Embora o modelo dedicado devesse<br />
ser disseminado progressiva e gradativamente, ele<br />
está implementado em relativamente poucos Serviços de<br />
Urgência. O grande bloqueio a esta disseminação decorre<br />
da ausência de uma sólida metodologia de recrutamento,<br />
regulada centralmente e executada localmente.<br />
Do painel de comentadores desta sessão participaram:<br />
Fernando Regateiro, Coordenador Nacional para a Reforma<br />
dos Cuidados de Saúde <strong>Hospitalar</strong>es; Ana Paula Gonçalves,<br />
Presidente do Conselho de Administração do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
e Universitário do Algarve, E.P.E.; Margarida Ornelas,<br />
Vogal Executiva do Centro <strong>Hospitalar</strong> Entre-Douro e Vouga,<br />
E.P.E. e Maria José Costeira, Diretora Clínica do Hospital<br />
Senhora da Oliveira Guimarães, E.P.E.. Refira-se que todos<br />
foram unânimes em ressalvar a atual falta de autonomia<br />
de gestão por parte dos hospitais e a necessidade de regulação<br />
de estatuto, formação e carreira pela Ordem dos Médicos,<br />
bem como a necessidade de criação de metodologias<br />
de remuneração acrescida de médico “emergencista”.<br />
Por fim, a última Sessão moderada por Rita Perez,<br />
Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> de Lisboa Ocidental, E.P.E.<br />
teve como foco a gestão de um serviço de urgência<br />
de elevado desempenho e contou com, como convida-<br />
43
da principal e proveniente de Inglaterra, Marion Collict, Diretora<br />
de Operações, Risco e Governace do Luton & Dunstable<br />
Hospital NHS Foundation Trust, instituição que<br />
atinge desde 20<strong>12</strong> o objetivo de atendimento e alta em 4<br />
horas de todos os doentes no Serviço de Urgência. Para a<br />
gestora, os principais desafios para a reforma do serviço<br />
de urgência são a necessidade de assegurar modelos de<br />
liderança assentes numa cultura de segurança global ao<br />
nível de todo o hospital e uma atitude de autoeficácia por<br />
parte de todos os colaboradores. Em paralelo, deve ser assegurado<br />
um forte investimento em infraestrutura, pessoas<br />
e sistemas de informação adequados, de preferência<br />
aqueles que permitam monitorização em tempo-real. A<br />
sessão contou também com o comentário de António<br />
Marques, Diretor de Departamento do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
do Porto, E.P.E.; Daniel Ferro, Presidente do Hospital Garcia<br />
de Orta, E.P.E.; Francisco Velez Roxo, Presidente do Hospital<br />
Prof. Doutor Fernando Fonseca, E.P.E.; João Ferreira,<br />
Presidente do Hospital de Braga, P.P.P..<br />
Nesta edição das Conferências VALOR demos início a<br />
uma sessão dedicada à Inovação na Prestação de Cuidados<br />
de Saúde (APAH Sharks), cujo objetivo visa a<br />
divulgação de soluções tecnológicas que possam suportar<br />
a melhoria na prestação de cuidados de saúde. Tivemos<br />
oportunidade de assistir a 4 apresentações de soluções<br />
inovadoras em campos como a analítica de dados (Meliora<br />
Urgências – Prologica), a geo-referenciação (Sistema<br />
de localização e navegação de interiores para Hospitais e<br />
grandes estruturas – Buzzstreets), a prevenção de quedas<br />
(Prevenção de quedas em contexto de ligação às Urgências<br />
– Fraunhofer Portugal AICOS) e a monitorização de<br />
sinais vitais (HELP- Health Emergency Localisation – Sensing<br />
Future). A 1.ª APAH Sharks foi moderada por Cílio Cor-<br />
DELFIM RODRIGUES<br />
PCA Hospital da Senhora da Oliveira, Guimarães E.P.E.<br />
GH: Como vê estas conferências e a pertinência<br />
do tema que foi abordado?<br />
DR: Estas conferências têm um sentido e uma missão<br />
que são muitos pertinentes nos dias que correm em<br />
ambiente de saúde. Estamos habituados a ver sessões<br />
de saúde muito centradas numa só profissão:<br />
nos médicos, nos enfermeiros, etc... E, esse salto qualitativo<br />
que a Direção da APAH, com a liderança do Alexandre,<br />
providenciou é que pela primeira vez temos<br />
de facto conferências em que discutimos temas que<br />
são do interesse global que não dizem respeito só aos<br />
médicos, dizem respeito a todos os profissionais e,<br />
acima de tudo, dizem respeito aos cidadãos e estamos<br />
a fazê-lo em conjunto. É como dizia William McKee:<br />
"isto é que é o verdadeiro<br />
serviço de<br />
liderança, que é<br />
trabalhar em conjunto,<br />
numa direção,<br />
e encontrar<br />
resultados."<br />
reia, Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> Tondela-Viseu, E.P.E.<br />
e teve como comentadores um painel de distintos jovens<br />
administradores hospitalares (Catarina Arizmendi, Joana<br />
Cunha, Júlio Pedro, Sandra Gil e Xavier Barreto).<br />
Como conclusões da 4.ª Conferência de VALOR foi con-<br />
44
ROSA VALENTE MATOS<br />
Secretária de Estado da Saúde<br />
Nós todos somos profissionais do Serviço Nacional de Saúde... As nossas Instituições<br />
são Instituições de uma grande empresa que é o Serviço Nacional de Saúde<br />
e temos de ter essa capacidade de ver o todo. Trabalhamos todos em prol daquilo<br />
que é, e deve ser e nos deve honrar, que é o Serviço Nacional de Saúde...<br />
Portanto, também temos que fazer o nosso trabalho de casa e deixar de pensar em<br />
pequenino e começar a pensar em grande...<br />
O tema desta conferência é muito atual e é um facto: nós temos um problema de<br />
acesso. É o nosso grande problema atualmente. Temos, muitas vezes, o que é programado<br />
junto com aquilo que não é programado, ou seja, nós temos as nossas<br />
consultas, as nossas cirurgias e depois ao lado temos o nosso Serviço de Urgência...<br />
Temos que o trabalhar.<br />
sensual que temos de evoluir no sentido de garantir uma<br />
efetiva integração de cuidados, a montante e a jusante<br />
dos serviços de urgência, e em paralelo devem ser estabelecidas<br />
pontes com o setor social por forma a assegurar<br />
as respostas adequadas. Ao nível organizacional ficaram<br />
demonstradas as vantagens dos modelos de equipas<br />
dedicadas ao serviço de urgência a par com o desenvolvimento<br />
de um modelo de ambulatorização dos cuidados<br />
de medicina. Para que esta mudança ocorra deverá haver<br />
uma aposta da tutela para que sejam dados os passos necessários<br />
à sua implementação generalizada. Finalmente,<br />
para que toda esta mudança possa acontecer, exige-se<br />
liderança a todos os níveis, garantindo a necessária autonomia<br />
da gestão.<br />
À semelhança das edições passadas, fruto das conclu-<br />
sões destas conferências, a APAH tem vindo a apresentar<br />
diagnósticos de situação e medidas concretas para a melhoria<br />
da organização e gestão dos cuidados de saúde em<br />
Portugal e que integram a agenda do Ministério da Saúde<br />
e de outros parceiros do sistema, motivo pelo qual a APAH<br />
mantém a aposta nas Conferências de VALOR, na certeza<br />
de que são um valioso contributo para ajudar a que a<br />
mudança possa avançar e definir os seus moldes. O ciclo<br />
de Conferências VALOR APAH <strong>2018</strong> tem como parceiros a<br />
Roche, Janssen e Novartis.<br />
REPORTAGEM FOTOS PARA A Reportagem da 4.ª conferência de<br />
VALOR APAH em: https://www.justnews.pt/galeria/album/4-<br />
-conferencia-de-valor-da-apah<br />
45
Diagnóstico sobre a<br />
utilização da Contabilidade<br />
Analítica nos Hospitais<br />
Públicos Portugueses<br />
HELENA RODRIGUES<br />
Auditora para o investimento<br />
do CHTMAD, E.P.E.<br />
RUI SANTANA<br />
Sub-Diretor da Escola<br />
Nacional de Saúde<br />
Pública (ENSP-NOVA)<br />
contabilidade analítica tem como objetivo fornecer<br />
A informação de natureza económica para permitir<br />
um processo de tomada de decisões com o menor grau<br />
de risco associado. De entre as diferentes utilidades que<br />
apresenta a informação sobre os custos ocorridos numa<br />
perspetiva interna hospitalar, destacam-se o planeamento,<br />
o controlo de gestão, a fixação de preços, avaliação de<br />
desempenho bem como a criação de valor em saúde1-5.<br />
Trata-se de uma ferramenta muito relevante para a gestão<br />
de organizações de saúde, seja no plano operacional<br />
ou estratégico6-9.<br />
Em Portugal, a primeira tentativa de normalização da<br />
contabilidade analítica nos hospitais pertencentes ao Serviço<br />
Nacional de Saúde (SNS) ocorreu com a instituição do<br />
Plano de Contabilidade Analítica dos Hospitais (PCAH), o<br />
qual se baseia essencialmente, tal como a atual Norma<br />
Internacional de Contabilidade (NCP) 27 – Contabilidade<br />
de <strong>Gestão</strong> do Sistema de Normalização Contabilística na<br />
Administração Pública (SNC – AP), na aplicação de métodos<br />
de custeio mais tradicionais. Ao longo dos anos, outras<br />
metodologias foram introduzidas nalguns hospitais<br />
do SNS, tais como o custeio variável ou o Activity Based<br />
Costing (ABC)10,11. Contudo, não existe informação sobre<br />
o grau de desenvolvimento, cobertura e utilização das<br />
metodologias de custeio nos hospitais do SNS.<br />
Por outro lado, as atividades de recolha, análise e divulgação<br />
de informação, a nível nacional e público, sobre<br />
a contabilidade analítica hospitalar foram descontinuadas<br />
por parte da Administração Central do Sistema de Saúde<br />
(ACSS), sendo o último ano disponível, o exercício de 2009.<br />
Assim sendo, justifica-se a realização de um diagnóstico<br />
sobre a utilização da contabilidade analítica nos hospitais<br />
portugueses do SNS. Será que os hospitais utilizam a<br />
contabilidade analítica? Quais os métodos de custeio a que<br />
recorrem? A informação de custos é útil e de qualidade?<br />
Qual a frequência e por quem é utilizada essa informação?<br />
Na tentativa de responder a estas questões, com o<br />
objetivo de descrever o estado atual da utilização da contabilidade<br />
analítica nos hospitais públicos portugueses<br />
pertencentes ao SNS, foi realizado um trabalho de campo<br />
enquadrado no XLV Curso de Especialização em Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> ministrado pela Escola Nacional de Saúde<br />
Pública (ENSP).<br />
A metodologia utilizada baseou-se no desenvolvimento<br />
e aplicação de um inquérito, através de um questionário<br />
estruturado, aplicado on-line a 50 hospitais do SNS português.<br />
Este trabalho permitiu aferir aspetos específicos relacionados<br />
com os métodos de custeio em uso, principais<br />
recursos utilizados no processo de apuramento de custos,<br />
características e utilidade da informação de custos.<br />
Os resultados evidenciaram que em 39 dos 41 hospitais<br />
respondentes, a contabilidade analítica encontra-se parcialmente<br />
ou totalmente implementada (59% e 37%, respetivamente)<br />
e, destes, 59% utilizam o método das secções<br />
(ou por absorção) na totalidade do hospital. Para além deste<br />
método de custeio, também foram identificados outros mé-<br />
46
todos em uso, tais como métodos de custeio variável (18%<br />
dos casos), ABC (26%) e custeio por doente (38%).<br />
Apesar da sua implementação ter sido efetuada por<br />
uma equipa técnica interna, em 74% dos casos, verifica-<br />
-se que em apenas 28% dos hospitais existe atualmente<br />
uma equipa fixa dedicada à gestão de custos.<br />
No que respeita aos objetos de custeio mais utilizados<br />
pelos hospitais, e conforme se pode observar no Gráfico 1,<br />
verifica-se que o foco se situa na unidade orgânica (85%<br />
dos casos), nas linhas de produção (72%), seguindo-se a<br />
diária de internamento (49%).<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
Unidade orgânica<br />
Linha de produção<br />
Produto<br />
Procedimento clínico<br />
Atividade<br />
Diária de internamento<br />
Programa de saúde<br />
Utente, doente<br />
Pagador específico<br />
Nenhum<br />
Gráfico 1 N.<strong>º</strong> de respostas por objeto de custeio utilizado.<br />
Para além da realização e do reporte da contabilidade analítica ocorrerem em momentos diferentes, verifica-se que os<br />
custos diretos são os que apresentam a maior regularidade de apuramento (mensalmente, em 90% dos casos).<br />
Por outro lado, apesar da perceção dos respondentes ser de que a informação de custos satisfaz as características de<br />
qualidade, sobretudo ao nível da sua compreensão (64%) e comparabilidade (59%), de acordo com o Gráfico 2, verifica-<br />
-se que esta informação, maioritariamente nunca, raramente, ou às vezes é utilizada em situações de previsão, controlo<br />
(62%) e tomada de decisão (65%).<br />
Reporting de informação ao exterior<br />
Financiamento e negociação de preços<br />
Contratualização interna<br />
Comparação de custos reais com custo previsionais,<br />
ao longo do tempo e entre diferentes entidades<br />
Consciencialização de serviços clínicos acerca<br />
dos custos que decorrem das suas atividades<br />
Fundamentação económica de decisões<br />
de externalização de serviços<br />
Mensuração e avaliação de desempenho<br />
(economia, eficiência, eficácia e qualidade)<br />
Planeamento, controlo e justificação<br />
de um plano de redução de custos<br />
Elaboração de orçamentos<br />
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%<br />
nunca raramente às vezes frequentemente sempre<br />
Gráfico 2 Grau de frequência de utilização da informação de custos.<br />
47
De acordo com as respostas obtidas, os utilizadores internos mais comuns da informação produzida pela contabilidade<br />
analítica são o Conselho de Administração (mencionado por 87% dos casos), seguindo-se os Departamentos e serviços<br />
(79%) e a <strong>Gestão</strong> Intermédia (74%).<br />
De facto, é notória a assimetria da aplicação e utilização da contabilidade analítica entre os hospitais integrados na rede<br />
SNS, o que impossibilita a uniformização dos próprios sistemas de informação<strong>12</strong>, tal como é referido por Tompkins, Altman<br />
e Eliat (2006) e confirmado pelo presente estudo, que constata a inexistência de um sistema de informação centralizado<br />
e comum entre os hospitais.<br />
No entanto, perante a possibilidade de otimização do atual sistema de contabilidade analítica dos hospitais, 77% dos<br />
respondentes indicam que adotariam o método direto (apuramento de custos por doente), ou melhorariam a sua utilização,<br />
sendo a maior percentagem de adoção declarada por hospitais onde o sistema está parcialmente implementado.<br />
Método Direto (apuramento de custos por doente)<br />
Job Order Costing<br />
Time-Driven Activity-Based Costing (TDABC)<br />
Activity-Based Costing (ABC)<br />
Método de Custeio Variável<br />
Método por Absorção ou por Secções<br />
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%<br />
90% 100%<br />
discordo totalmente discordo nem concordo nem discordo concordo concordo totalmente<br />
Gráfico 3 Grau de concordância quanto à melhoria ou adoção de um novo método de custeio.<br />
O método direto, embora mais complexo, é o mais preciso<br />
em organizações hospitalares, daí a sua importância<br />
ser frequentemente salientada por muitos autores: Kaplan<br />
e Porter (2011) defendem que a medição precisa de custos<br />
e resultados é a alavanca mais poderosa que existe para<br />
transformar a economia dos cuidados de saúde. Também<br />
Popesko (2013) afirma que um dos fatores-chave na gestão<br />
de uma organização é a sua capacidade em obter uma<br />
estimativa precisa do custo dos produtos13.<br />
Neste sentido, o apuramento preciso dos custos ao<br />
doente é fundamental para melhorar a eficiência e a<br />
transparência das organizações hospitalares14, sobretudo<br />
quando as pressões que mais se fazem sentir são de redução<br />
de custos e de eliminação de desperdícios15.<br />
A falta de precisão e fiabilidade resultante da utilização<br />
generalizada de métodos de custeio tradicionais, aliada à<br />
dificuldade de utilização regular e em exclusivo da informação<br />
gerada no apoio à tomada de decisão, contribui<br />
ainda mais para a secundarização da contabilidade analítica<br />
no seio das organizações hospitalares, pois esta ainda<br />
apresenta poucas condições de fornecer informação de<br />
custos útil à gestão hospitalar16.<br />
Por outro lado, e tendo em consideração os resultados<br />
do presente inquérito, as atividades de benchmarking que<br />
se pretendam efetuar deverão ser prudentes, uma vez que<br />
a recolha de informação de custos terá como base critérios,<br />
unidades de medida, objetos de custeio e periodicidades de<br />
cálculo díspares entre organizações hospitalares.<br />
A evidência recolhida permite concluir que, em Portugal,<br />
apesar da tentativa de uniformização preconizada<br />
com a implementação pelo PCAH, os hospitais públicos<br />
divergem quanto à utilização da contabilidade analítica e<br />
sobretudo não apresentam uma produção de informação<br />
de custos analíticos que suporte as decisões tomadas.<br />
As implicações dos resultados obtidos podem sentir-<br />
-se a um nível local e a um nível central. Recomenda-se<br />
a sensibilização da gestão de topo, o reforço, ou criação<br />
de um núcleo exclusivamente afeto à gestão de custos e<br />
a formação técnica dos utilizadores internos.<br />
A um nível central, a recomendação de métodos e de<br />
critérios validados de imputação de custos é fundamental.<br />
Isto porque a contabilidade analítica apenas será plenamente<br />
utilizada se houver uma estratégia concertada<br />
quanto ao respetivo processo de execução, que implique<br />
48
a definição de conceitos, critérios e objetivos de mensuração<br />
comuns entre hospitais, focada no conceito de valor<br />
para o doente, preconizada pela tendência mais moderna,<br />
ou atual da contabilidade analítica.<br />
Porter e Lee (2013) defendem uma mudança de estratégia<br />
a este respeito. O objetivo da utilização de métodos<br />
de custeio analíticos não pode ter como objetivo uma abordagem<br />
exclusiva dirigida a reduzir custos, mas sobretudo<br />
servir como instrumento para uma condição de maximização<br />
do valor criado para o utente: ou seja, alcançar os<br />
melhores resultados ao menor custo. O foco não é a oferta,<br />
o volume e a rentabilidade dos serviços prestados (internamentos,<br />
consultas, procedimentos, exames), o sistema<br />
de saúde deve estar organizado e centrado em torno do<br />
doente, nos resultados alcançados pelo utente17.<br />
No âmbito da investigação descritiva em saúde, o trabalho<br />
realizado pretendeu contribuir com informações<br />
que auxiliem na reflexão, organização e sistematização<br />
de futuros trabalhos, os quais fomentem uma utilização<br />
efetiva da contabilidade analítica na gestão e tomada de<br />
decisão dos hospitais públicos portugueses. Tal como Kaplan<br />
e Porter (2011) concluem, uma das causas para a “crise<br />
dos sistemas de saúde” pode mesmo residir na forma<br />
como os custos hospitalares estão a ser medidos18.<br />
Recomenda-se a sensibilização da gestão de topo, o reforço, ou criação<br />
de um núcleo exclusivamente afeto à gestão de custos e a formação técnica<br />
dos utilizadores internos. A um nível central, a recomendação de métodos<br />
e de critérios validados de imputação de custos é fundamental. Isto porque<br />
a contabilidade analítica apenas será plenamente utilizada se houver uma<br />
estratégia concertada quanto ao respetivo processo de execução, que<br />
implique a definição de conceitos, critérios e objetivos de mensuração comuns<br />
entre hospitais, focada no conceito de valor para o doente, preconizado pela<br />
tendência mais moderna, ou atual da contabilidade analítica.<br />
Referências Bibliográficas<br />
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hospitalar português. Revista Portuguesa de Saúde Pública. 2008;(7):131–46.<br />
8. Draži Lutilsky I, Žmuk B, Dragija M. Cost Accounting as a Possible Solution for Financial Sustainability of Croatian Public Hospitals. Croat Econ Surv<br />
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[Internet]. Vol. I. Lisboa: Tribunal de Contas; 2011. Available from: http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2011/2s/audit-dgtc-rel030-2011-<br />
-2s.pdf<br />
16. Miranda GJ, Carvalho CE De, Martins VF, Faria AF De. Custeio ABC no ambiente hospitalar: um estudo nos hospitais universitários e de ensino<br />
brasileiros. Rev Contab Finanças. 2007;18(44):33–43.<br />
17. Porter ME, Lee TL. The Strategy That Will Fix Health Care - Harvard Business Review. Harv Bus Rev [Internet]. 2013;(0):1–37. Available from:<br />
http://hbr.org/2013/10/the-strategy-that-will-fix-health-care/ar/1<br />
18. Kaplan RS, Porter ME. How to Solve the Cost Crisis in Health Care. Harv Bus Rev. 2011;(November):47–64.<br />
49
ICHOM<br />
PaULA GODINHO<br />
Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />
HUGO MOREIRAS<br />
Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />
Caros Colegas,<br />
É com enorme satisfação que nos dirigimos aos leitores<br />
da revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />
Hoje, trocamos o nosso papel de ávidos leitores destes<br />
assuntos e vimos dar conta da nossa participação na<br />
ICHOM 1 Conference 2017, que se realizou em Washington,<br />
D.C., nos passados 25 e 26 de outubro, ao abrigo da<br />
bolsa concedida pela Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es.<br />
Presentemente, nos países mais desenvolvidos, assistimos<br />
a uma verdadeira renovação do que são os cuidados<br />
de saúde, pela forma como pensamos, desenvolvemos e<br />
medimos os resultados obtidos. Michael Porter 2 chamou-<br />
-lhe, nesta sessão, visão holística da medição de resultados<br />
alcançados (outcomes measure).<br />
A conferência reuniu cerca de 600 líderes de saúde de<br />
33 países, tornando-a, até à data, no maior evento sobre o<br />
tema realizado nos Estados Unidos da América. Presentemente,<br />
assiste-se a um aumento de interesse nos assuntos<br />
relacionados com a prestação de cuidados de saúde<br />
baseados em valor (VBHC − Value Based Health Care).<br />
De um modo geral, cerca de 90 palestrantes de todo o<br />
mundo protagonizaram discussões, em sessões plenárias<br />
e em reuniões específicas, sobre as implicações práticas<br />
da implementação do VBHC. Neste âmbito, os participantes<br />
partilharam conhecimentos sobre a promoção da mudança<br />
cultural, implementação de medidas de prestação<br />
de cuidados e expetativas decorrentes da reforma dos<br />
modelos de pagamento e financiamento.<br />
A importância desta conferência destacou-se porque<br />
o tema, Global Progress on the Value Agenda, visou protagonizar<br />
uma mudança do foco na teoria do Value Based<br />
Health Care para a sua prática e aplicação, inclusive<br />
com apresentação de novos modelos concetuais. Por tal,<br />
as sessões específicas dividiram-se em cinco áreas: impacto<br />
na comunidade; prestação de cuidados; política de<br />
pagamentos; investigação e indústria; questões técnicas<br />
e operacionais. Nestas sessões, os painéis eram compostos<br />
por 3 a 5 oradores especializados nas áreas referidas<br />
e oriundos de todo o mundo. Assim, foram amplamente<br />
debatidos os temas fulcrais da saúde no tocante à Política,<br />
Investigação e Regulação, todos sob a égide da prestação<br />
de cuidados de saúde baseados em valor.<br />
Uma nova tendência emergiu na última década – da<br />
atenção nos custos em saúde transita-se para a atenção<br />
sobre os resultados, o que obriga os sistemas de saúde a<br />
um novo trilho ideológico-concetual. Segundo M. Porter 3 ,<br />
tentar fazer melhor num ato infinito tem-se traduzido<br />
numa incapacidade de mudar. É imperativo parar e pensar<br />
num modelo objetivo de resultados, numa nova forma<br />
de encarar o sistema de saúde, deixando de parte lugares<br />
comuns como “equidade” e “eficiência”, e focar todo o sistema<br />
de saúde no doente, nos resultados, numa prestação<br />
integrada, na noção de valor gerado.<br />
A abordagem da ICHOM à prestação de cuidados de saúde,<br />
VBHC, foi solidamente desenvolvida na Harvard Business<br />
School por Michael E. Porter e Elizabeth O. Teisberg.<br />
Desde então, a ICHOM desenvolveu 23 standard sets<br />
(conjuntos de indicadores padronizados) que cobrem a<br />
avaliação dos resultados em 54% do total de doenças.<br />
A medição dos standard sets significa monitorizar os resultados<br />
do tratamento prestado ao doente, orientando<br />
a equipa médica para o resultado dos cuidados que prestam,<br />
em detrimento de indicadores como mortalidade e<br />
taxas de infeção, nos rankings de avaliação dos hospitais.<br />
Porém, o VBHC não se restringe apenas à medição dos<br />
resultados, embora seja um dos pontos centrais do processo.<br />
Olhar a agenda do VBHC na sua globalidade implica<br />
1 International Consortium for Health Outcomes Measurement<br />
2 Recordamos que Michael Porter abriu a sessão plenária.<br />
3 Vide nota anterior.<br />
50
Neste trilho a prestação de cuidados de saúde baseados<br />
em valor exige uma mudança na organização e funcionamento<br />
dos prestadores e na abordagem dos doentes. Este modelo enfatiza<br />
a orientação para o doente e uma partilha de informação para<br />
cuidados coordenados e resultados mensuráveis.<br />
a organização de cuidados de uma forma integrada, o paralelismo<br />
existente entre a medição de custos e resultados<br />
em saúde, a adequação do modelo de financiamento<br />
e a transição da investigação e do desenvolvimento para<br />
novos patamares.<br />
Desta forma, caminhamos para uma integração dos<br />
cuidados centrados no doente, as chamadas patient-centered<br />
medical homes (PCMH). Tal, não deve ser visto como<br />
um espaço físico, mas como uma abordagem coordenada,<br />
sendo crucial a existência de registos clínicos eletrónicos<br />
que garantam acessibilidade, com salvaguarda das questões<br />
da confidencialidade, e contribuam para a redução<br />
dos cuidados redundantes, no diagnóstico, e com particular<br />
interesse nos casos de múltiplas terapêuticas.<br />
Neste domínio, é chamado à colação o prestador de cuidados<br />
de saúde responsável. E por estes tempos, a responsabilidade<br />
traduz-se na prestação de cuidados de saúde de<br />
qualidade com o menor custo possível. Assim, a prestação<br />
de cuidados de saúde baseados em valor concorre para a<br />
redução dos respetivos custos, para a melhoria da qualidade<br />
dos cuidados, para a definição de políticas de incentivos<br />
de melhoria do acesso e dos resultados em saúde.<br />
Os cuidados de saúde baseados em valor constituem um<br />
modelo no qual os prestadores são remunerados com base<br />
nos resultados em saúde. O pagamento considera a evolução<br />
do estado de saúde/doença, a redução dos efeitos da<br />
doença e a diminuição da incidência de doenças crónicas,<br />
com modelos de intervenção baseados em evidências. Assim,<br />
os cuidados de saúde baseados em valor distinguem-se<br />
dos modelos de pagamento por atividade ou por capitação.<br />
Neste particular, definimos o valor através de uma<br />
equação simples em que o numerador são os resultados<br />
em saúde relevantes para o doente (com uma tendência<br />
ascendente) e o denominador são os custos para obter<br />
esse resultado (com uma tendência decrescente).<br />
As principais vantagens apontadas ao modelo são a redução<br />
dos montantes despendidos para obtenção de melhores<br />
cuidados de saúde, aumento da eficiência na prestação<br />
de cuidados de saúde e melhoria do nível de satisfação<br />
dos doentes, um melhor controlo dos custos e redução dos<br />
riscos, alinhamento dos custos com os resultados em saúde<br />
e um maior contributo para o estado de saúde da população.<br />
Neste trilho a prestação de cuidados de saúde baseados<br />
em valor exige uma mudança na organização e fun-<br />
51
O doente é uma Pessoa e o resultado<br />
em saúde o princípio orientador.<br />
cionamento dos prestadores e na abordagem dos doentes.<br />
Este modelo enfatiza a orientação para o doente e uma<br />
partilha de informação para cuidados coordenados e resultados<br />
mensuráveis.<br />
Deste modo, o modelo assume uma importância<br />
crucial no nosso sistema de saúde. Senão vejamos.<br />
A gestão é uma área que é condicionante e faz a diferença<br />
num país. Um dos problemas que o nosso Serviço<br />
Nacional de Saúde (SNS) tem é um problema de gestão 4 .<br />
Por vezes, parece-nos que a seleção para os lugares de<br />
topo na gestão das instituições de saúde não releva as aptidões,<br />
a experiência, o percurso profissional e os estudos<br />
académicos dos escolhidos. Por tal, o desempenho dessas<br />
funções também não é objeto de avaliação consequente.<br />
Para anos recentes, o observatório português dos sistemas<br />
de saúde indicou que as “barreiras no acesso aos<br />
cuidados de saúde permanecem relevantes em Portugal” 5 ,<br />
sendo muito marcadas por fatores socioeconómicos .<br />
O nosso SNS vive uma “situação de subfinanciamento<br />
crónico que foi agravada pelo impacto das medidas impostas<br />
pela troika, que levaram a que no ranking da OCDE Portugal<br />
baixasse pontos no valor das despesas públicas em<br />
Saúde e aumentasse a parte paga pelos utentes, que é das<br />
mais altas da Europa” 6 . Assim, o direito constitucional consagrado<br />
de defesa da saúde das pessoas tem perdido força.<br />
Segundo auditoria do tribunal de contas, orientada à<br />
consolidação de contas e análise à situação económico-financeira<br />
do SNS em 2011, “as contas consolidadas do Serviço<br />
Nacional de Saúde apresentadas pela Administração<br />
Central do Sistema de Saúde, IP, continuam a não expressar<br />
uma imagem fiável do património, da situação financeira,<br />
bem como dos resultados das entidades que integram o<br />
Serviço Nacional de Saúde”.<br />
Temos, ainda, que o “Estado, enquanto comprador de<br />
serviços em sede de contratualização com as EPE, reconhece<br />
a insuficiência de proveitos, ou por outras palavras,<br />
o excesso de custos dado o financiamento disponível em<br />
cada ano, para o nível de cuidados de saúde que entende<br />
4 Segundo Luís Filipe Pereira em https://www.dinheirovivo.pt/economia/um-dos-problemas-do-servico-nacional-de-saude-e-de-gestao/<br />
5 http://observador.pt/2017/06/28/sns-esta-sem-capacidade-de-<br />
-resposta-para-a-populacao-portuguesa/<br />
6 https://www.publico.pt/2017/11/23/sociedade/opiniao/revitalizar-<br />
-o-servico-nacional-de-saude-1792640<br />
necessário adquirir, e admite à partida a existência de um<br />
défice anual no setor” 7 .<br />
Nestes últimos anos, as políticas de saúde distanciaram-se<br />
consideravelmente dos princípios fundamentais<br />
de organização e funcionamento de qualquer sistema de<br />
saúde de matriz Beveridgiana.<br />
Presentemente, tal como na década de 70, necessitamos<br />
de um SNS organizado, que abarque as diversas<br />
áreas da prestação de cuidados de saúde para responder<br />
cabalmente ao seu propósito constitucional 8 . Deste modo,<br />
necessitamos de uma rede de cuidados de saúde primários<br />
racional, eficiente e articulada. Devemos privilegiar<br />
organismos de prestação de cuidados de saúde autónomos.<br />
Assim, urge concluir o leque de unidades locais de<br />
saúde e racionalizar a rede de hospitais.<br />
A questão crucial para os agrupamentos de centros de<br />
saúde e hospitais é a prestação de cuidados de saúde.<br />
Todos os serviços de apoio deverão competir às Administrações<br />
Regionais de Saúde. Estas instituições podem ser<br />
descentralizadas e funcionar a nível local 9 .<br />
Segundo Ramos e outros, é necessário dotar o SNS de<br />
personalidade institucional, jurídica e organizacional singular,<br />
com uma governação unificada e integradora, reforçar<br />
o papel e o poder do cidadão, com um financiamento e<br />
uma gestão de recursos que atenda às necessidades das<br />
pessoas e, por fim, desenvolver uma cultura de literacia<br />
e de capacitação para proteção e promoção da saúde, com<br />
respostas adequadas às necessidades de cada pessoa em<br />
cada situação e momento.<br />
Atualmente, todos conhecemos, e debatemos até à<br />
exaustão, os argumentos muito bem fundamentados que<br />
expõem as fragilidades do nosso sistema de saúde, inclusive<br />
com cardápios para alvitrar a necessidade de mudança,<br />
até pelos leigos sobre o tema. É nossa firme convicção<br />
que atenta a natureza do SNS, a mudança apenas se<br />
operará caso seja realizada a partir do seu interior.<br />
Para tal, o VBHC constitui um princípio teórico fun-<br />
7 Ver relatório sobre a Sustentabilidade económico-financeira do Serviço<br />
Nacional de Saúde: evolução recente e perspetivas; Ferreira, Ana<br />
Sofia, março de 2013, pp.13.<br />
8 Todos têm direito à proteção da saúde e o direito à proteção da saúde é<br />
realizado: a) através de um serviço nacional de saúde universal e geral e,<br />
tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente<br />
gratuito, na Constituição da República Portuguesa.<br />
9 Para determinadas atividades, e para melhor monitorizar, as ARS deveriam<br />
destacar funcionários para trabalharem nos hospitais e ACES.<br />
52
damental, com consagração prática, para um novo paradigma<br />
do sistema de saúde português. Desde logo, abrange<br />
todos os intervenientes quer sejam prestadores públicos,<br />
privados ou sociais. Com o Value Based Health Care o doente<br />
não é confundido com a patologia/serviço, a região do<br />
país não se confunde com o hospital ou a unidade local de<br />
saúde que presta cuidados de saúde, nem se vulgariza o<br />
meio complementar de diagnóstico e terapêutica.<br />
O doente é uma Pessoa e o resultado em saúde o<br />
princípio orientador.<br />
De muitas experiências internacionais relatadas nesta<br />
conferência, também entre nós, na conferência ICHOM<br />
realizada em Lisboa em fevereiro de 2017 foram já apresentadas<br />
experiências portuguesas de organização de<br />
cuidados em consonância com a corrente VBHC. Foi apresentada<br />
pelo Dr. Laranja Pontes, Presidente do Conselho<br />
de Administração do IPO Porto, EPE, a organização de<br />
prestação de cuidados na doença oncológica por patologia,<br />
com equipas multidisciplinares evidenciando o doente,<br />
maximizando o tratamento prestado e minimizando<br />
o seu desconforto. Esta organização contrastante com a<br />
conservadora organização das instituições hospitalares<br />
por serviços | especialidades.<br />
Também neste palco foi apresentada pela CEO da Luz<br />
Saúde, Dra. Isabel Vaz, a estratégia do Centro de Oncologia<br />
do Hospital da Luz, centralizada nos doentes, numa<br />
avaliação muito atenta à experiência do cliente, com abordagem<br />
multidisciplinar que faz com que o Hospital da Luz<br />
tenha uma estratégia da saúde baseada em resultados,<br />
em implementação no terreno, já com o alinhamento dos<br />
stakeholders nesse sentido.<br />
Temos dois exemplos demonstrativos de que a solução<br />
para o financiamento sustentável não passa pela<br />
discussão entre prestadores públicos ou privados. É nosso<br />
entendimento que a natureza do prestador é irrelevante.<br />
Pelo contrário, a condição sine qua non é a prestação!<br />
Assim, uma estratégia centralizada nos doentes e uma<br />
avaliação centrada na sua experiência fazem com que se<br />
possa ter uma estratégia da saúde baseada em resultados.<br />
Se o paradigma da prestação de cuidados já começa a<br />
sentir os efeitos desta corrente, a avaliação dos resultados<br />
sofrerá o devido arrastamento. Caminhando neste trilho,<br />
o modelo de financiamento não poderá ficar desfasado.<br />
Um agradecimento especial ao Alexandre Lourenço e<br />
ao Miguel Lopes pelo apoio e incentivo nesta cruzada.<br />
Bem hajam.<br />
53
Homenagem a Augusto<br />
Mantas, João Urbano<br />
e Margarida Bentes<br />
Numa cerimónia integrada nas comemorações dos<br />
50 anos da Carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong>,<br />
criada por proposta de Coriolano Ferreira, através do Decreto-lei<br />
n.<strong>º</strong> 48 357/68, de 27 de abril, a Escola Nacional<br />
de Saúde Pública (ENSP), a Sociedade Portuguesa da História<br />
dos Hospitais (SPHH) e a Associação Portuguesa de<br />
Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) realizaram, no dia<br />
17 de janeiro de <strong>2018</strong>, em Lisboa, uma sessão de homenagem<br />
a Augusto Mantas, João Urbano e Margarida Bentes.<br />
Esta sessão pretendeu evocar a obra do Professor Augusto<br />
Mantas e dos projetos de inovação da gestão hospitalar,<br />
desenvolvidos nos anos 80, com apoio dos Estados Unidos<br />
da América (EUA), sob a liderança dos Dr. João Urbano<br />
e Dr.ª Margarida Bentes.<br />
Na sessão de abertura, o Diretor da ENSP, João Pereira,<br />
recordou “com grande carinho” estas três figuras que “foram<br />
marcantes no desenvolvimento da gestão em saúde<br />
em Portugal”. Também na ocasião, Jorge Varanda, Presidente<br />
da SPHH, sublinhou “do ponto de vista da história<br />
dos hospitais” a pertinência desta cerimónia, referindo-se<br />
ao respeito “quase filial” por Augusto Mantas, à “inovação”,<br />
“energia”, “determinação”, “conhecimento” e “insatisfação”<br />
de João Urbano, e ao “travo imenso de saudade”<br />
deixado por Margarida Bentes. De acordo com Alexandre<br />
Lourenço, Presidente da APAH, tratam-se de “três personalidades<br />
diferentes com características e percursos<br />
distintos. Três personalidades unidas pela capacidade de<br />
liderança e inovação e que nos ajudaram a construir o Serviço<br />
Nacional de Saúde (SNS).”<br />
Dezenas de participantes associaram-se a um evento<br />
que se prolongou por todo o dia e que contou com a presença<br />
de um convidado especial – o Professor Don Holloway,<br />
consultor norte-americano que, nos anos 80, ajudou<br />
a melhorar a gestão dos hospitais portugueses.<br />
Reportagem Fotográfica<br />
https://www.justnews.pt/galeria/album/administrao-em-sade-homenagem-a-augusto-mantas-joo-urbano-emargarida-bentes<br />
54
AUGUSTO MANTAS (1926-1997)<br />
Professor Augusto Mantas, licenciado em Ciências<br />
O Económicas e Financeiras pelo então Instituto Superior<br />
de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), da<br />
Universidade Técnica de Lisboa, em 1951, iniciou a sua<br />
atividade profissional pública no Instituto de Assistência<br />
Nacional aos Tuberculosos (IANT), tendo chefiado e modernizado<br />
os seus serviços financeiros. Em 1961, iniciou<br />
funções como Inspetor Superior de <strong>Gestão</strong> na Direção-<br />
-Geral dos Hospitais a convite de Coriolano Ferreira. Entre<br />
1973 e 1975 foi adjunto do diretor-geral, e diretor-geral<br />
entre 1975 e 1979. Presidiu à Comissão Coordenadora do<br />
Financiamento da Saúde entre 1977 e 1980, reunindo e<br />
coordenando a gestão financeira das direções-gerais dos<br />
Hospitais e da Saúde e os Serviços Médico-Sociais da Previdência<br />
Social. Entre 1980 e 1983 foi diretor-geral do Departamento<br />
de <strong>Gestão</strong> Financeira dos Serviços de Saúde,<br />
sendo responsável pelo orçamento e contas do SNS no<br />
período entre 1980 e 1986. Entre 1983 e 1987 presidiu à<br />
Comissão Instaladora dos Serviços Informáticos da Saúde.<br />
Colaborou desde o início no Curso de Especialização em<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong> da ENSP, onde regeu as disciplinas<br />
de contabilidade hospitalar e gestão financeira dos<br />
hospitais, como professor convidado. Nos últimos anos da<br />
sua vida foi docente a tempo inteiro da ENSP e membro da<br />
sua direção. Em 2016 recebeu, a título póstumo, a medalha<br />
de ouro de serviços distintos do Ministério da Saúde.<br />
tema de recolha e distribuição de roupa e do sistema de<br />
distribuição de material de consumo. Assim, dignificou<br />
e promoveu a administração hospitalar e a carreira que<br />
abraçou e ajudou a construir. Sem a sua dedicação, consciência<br />
profissional e energia, esta obra não se teria concretizado.<br />
O seu horizonte era a modernidade e a excelência.<br />
Apesar de retirado há já alguns anos, na gestão diária<br />
do nosso SNS facilmente nos apercebemos que muita da<br />
nossa excelência é parte do legado de João Urbano.<br />
.<br />
MARGARIDA BENTES (1956-2009)<br />
Margarida Bentes, licenciada em Economia e pós-<br />
-graduada em Administração <strong>Hospitalar</strong>, esteve<br />
ligada ao Sistema de Informação para a <strong>Gestão</strong> dos Serviços<br />
de Saúde, bem como ao Instituto de <strong>Gestão</strong> Informática<br />
e Financeira do Ministério da Saúde, tendo sido Presidente<br />
do Conselho de Administração deste organismo.<br />
Foi, também, Presidente da Administração Regional de<br />
Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e Diretora-geral da IASIST<br />
Portugal. Grande conhecedora do Sistema de Pagamento<br />
Prospetivo (SPP), através dos GDH, foi, juntamente com a<br />
equipa coordenada por João Urbano, dinamizadora da implementação<br />
do projeto dos GDH em Portugal.<br />
SÓCIOS DE MÉRITO DA APAH<br />
JOÃO URBANO (1940-2016)<br />
João Urbano liderou, durante a década de 80 e uma<br />
parte da década de 90, o programa mais inovador e<br />
completo de gestão hospitalar que existiu em Portugal.<br />
O seu entusiasmo, profissionalismo e eficácia contaminaram<br />
uma vasta geração de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
na modernização do recém-criado SNS. Pela sua<br />
mão, Portugal foi o primeiro país europeu a aplicar um<br />
conjunto de conhecimentos e processos de gestão hospitalar<br />
inovadores através da cooperação norte-americana.<br />
O mais conhecido dos projetos inovadores foi o Grupo de<br />
Diagnósticos Homogéneos (GDH) que começou a ser implantado<br />
entre nós pouco depois de ter tido o seu arranque<br />
nos EUA como processo de pagamento prospetivo dos<br />
episódios de internamento. Todavia, muitos outros foram<br />
postos em prática: relatórios de produtividade por centros<br />
de custo, tabelas de ponderação de atos médicos, teste e<br />
aplicação do Protocolo de Revisão de Utilização (medição<br />
da apropriação de internamentos e dias de internamento),<br />
planeamento de altas, classificação de doentes por graus<br />
de dependência de enfermagem, racionalização do sis-<br />
Não tendo sido administrador hospitalar, Augusto<br />
Mantas viu-lhe ser atribuído o título de sócio honorário<br />
da APAH logo na década de 80, “pelo seu contributo<br />
para o desenvolvimento da Administração <strong>Hospitalar</strong>”.<br />
Quanto a João Urbano e Margarida Bentes, o presidente<br />
da APAH anunciou que vai ser apresentada em Assembleia-Geral<br />
a proposta para que sejam considerados sócios<br />
de mérito, um galardão atribuído a administradores hospitalares.<br />
A APAH aproveitou igualmente a ocasião para homenagear<br />
o Professor Don Holloway pelo relevante contributo<br />
dado ao desenvolvimento e melhoria da gestão dos hospitais<br />
portugueses, tendo o presidente da APAH comunicado<br />
que será apresentada pela direção proposta para que lhe<br />
seja atribuído o título de sócio honorário da APAH.<br />
A sessão evocativa foi emitida em livestreaming e o<br />
vídeo integral encontra-se disponível para visualização<br />
no página do Facebook da APAH e todas as informações<br />
sobre esta iniciativa podem ser consultadas<br />
no website da APAH em https://apah.pt/pec-events/<br />
homenagem-augusto-mantas-joao-urbano-margarida-<br />
-bentes/1516181400<br />
55
ESPAÇO ENSP [ENSINO E INVESTIGAÇÃO]<br />
PRÉMIO CORIOLANO FERREIRA<br />
− RAZÃO DE SER<br />
RUI SANTANA<br />
Sub-Diretor da Escola<br />
Nacional de Saúde<br />
Pública (ENSP-NOVA)<br />
SÍLVIA LOPES<br />
Professora e Coordenadora<br />
do Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
(CEAH) da Escola Nacional<br />
de Saúde Pública (ENSP-NOVA)<br />
No passado dia 27 de abril, em que se assinalaram<br />
os 50 anos da criação da carreira de administração<br />
hospitalar, decorreu na ENSP-NOVA a sessão pública de<br />
apresentação do Prémio Coriolano Ferreira, pelo que partilhamos<br />
aqui as razões de ser que orientaram o regresso<br />
deste Prémio e do seu formato.<br />
A primeira razão de ser prende-se com o facto de a<br />
frequência do Curso de Especialização em Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> (CEAH) ser uma etapa determinante para o desenvolvimento<br />
da atividade profissional de administrador<br />
hospitalar, uma vez que a formação específica na área é<br />
indispensável a um conhecimento aprofundado e específico<br />
dos hospitais, organizações de saúde e do sistema de<br />
saúde em que se inserem.<br />
Em segundo lugar, ao longo do CEAH, os alunos têm<br />
diversos formatos de acompanhamento da sua evolução,<br />
seja nas aulas, apresentações, avaliações ou outros momentos.<br />
No entanto, este Prémio vai mais além e reconhece<br />
a consistência do percurso académico a nível global,<br />
enquanto resumo dos vários momentos de avaliação ao<br />
longo do curso.<br />
Terceiro, o exercício de uma administração hospitalar<br />
sólida e baseada em evidência atual necessita de uma atividade<br />
científica que o suporte. A capacidade de realizar uma<br />
investigação científica é incentivada durante o CEAH e existem<br />
diversos exemplos de trabalhos realizados no âmbito<br />
do CEAH publicados em revistas científicas e apresentados<br />
em congressos. Contudo, queremos consolidar e expandir o<br />
trabalho que tem sido realizado e criar condições para que<br />
haja ainda mais e melhor investigação na área.<br />
Além disso, na ENSP-NOVA procuramos que os alunos<br />
tenham uma perspetiva internacional e não fechada sobre<br />
a nossa realidade, seja através dos conteúdos das aulas,<br />
no estudo dos temas que investigam, ou nas ligações<br />
internacionais que temos vindo a desenvolver. Recordamos<br />
que a visita dos alunos do CEAH à École des Hautes<br />
Études en Santé Publique (EHESP − Rennes) foi o objeto<br />
do nosso texto na edição anterior.<br />
© JUST NEWS<br />
© JUST NEWS<br />
56
A quinta e última razão<br />
de ser que orientou<br />
o regresso deste Prémio<br />
e do seu formato prende-<br />
-se com o imperativo de<br />
as instituições de ensino<br />
estarem abertas à sociedade,<br />
desenvolvendo<br />
iniciativas conjuntas<br />
com outras organizações<br />
como forma de enriquecer<br />
a formação dos seus<br />
alunos e de os preparar<br />
melhor para o futuro.<br />
Pretendemos também<br />
que o que é feito na<br />
ENSP-NOVA seja conhecido<br />
e reconhecido, mas<br />
queremos ainda aprender<br />
com o que é feito em outras<br />
instituições.<br />
Sendo assim, e tendo<br />
presentes aquelas razões,<br />
nas suas próximas<br />
edições, o Prémio Coriolano<br />
Ferreira premiará o<br />
melhor aluno do CEAH, destinando-se a ser usado para<br />
a apresentação de um trabalho realizado no âmbito do<br />
CEAH numa conferência internacional, sendo atribuído<br />
em parceria entre a ENSP-NOVA e a APAH. O Regulamento<br />
pode ser consultado em https://www.ensp.unl.pt/cursos/especializacoes/administracao-hospitalar/<br />
O Prémio tem como objetivos dinamizar a investigação<br />
em administração hospitalar e homenagear o Prof. Coriolano<br />
Ferreira. E esta homenagem a alguém que é uma<br />
referência da administração hospitalar, lançada num dia<br />
especial e para o qual o Prof. Coriolano Ferreira muito contribuiu,<br />
tem uma ligação natural ao formato do Prémio.<br />
Basta recordar apenas alguns<br />
aspetos do seu percurso<br />
extremamente rico.<br />
Desde logo, a sua aposta<br />
nas novas gerações e a<br />
sua capacidade de dar espaço<br />
a que os talentos se<br />
desenvolvessem. O seu<br />
trabalho ímpar para o reconhecimento<br />
da necessidade<br />
de formação específica<br />
para o exercício da<br />
administração hospitalar.<br />
A sua vontade de promover<br />
o que hoje se designa<br />
da "disseminação do<br />
conhecimento", através<br />
da criação da revista Hospitais<br />
Portugueses (cujo<br />
lançamento ocorreu há<br />
70 anos) e da Revista Portuguesa<br />
de Saúde Pública,<br />
que fundou em 1983. E,<br />
por último, a sua visão de<br />
um mundo globalizado,<br />
pleno de oportunidades<br />
de aprendizagem, que já tinha sido reconhecida nas edições<br />
anteriores do Prémio, os quais se traduziram numa<br />
viagem de estudo ao estrangeiro.<br />
Assim, esperamos que este Prémio contribua para inspirar<br />
todos os atuais e futuros alunos do CEAH a superarem-se<br />
e, aos que virem o seu mérito reconhecido, serem<br />
capazes de inspirarem os que os rodeiam com as "sementes"<br />
que esta aprendizagem lhes irá proporcionar. Não podemos<br />
terminar sem referir e saudar todos os colegas que<br />
ao longo dos anos tiveram a honra de receber este Prémio<br />
em edições anteriores.<br />
© JUST NEWS<br />
© JUST NEWS<br />
57
APAH MARCA A AGENDA<br />
A APAH MARCOU PRESENÇA EM EVENTOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS:<br />
3F: Financiamento, Fórmula para o Futuro –<br />
“Saúde, uma prioridade”<br />
[10 janeiro e 7 fevereiro, Lisboa]<br />
O Projeto “3F – Financiamento, Fórmula para o Futuro” é uma iniciativa<br />
da APAH, com o apoio da Roche e da IQVIA e conta com a<br />
participação de especialistas de diferentes áreas, que se vão juntar<br />
em quatro momentos distintos, para analisar o modelo atual<br />
de financiamento dos hospitais portugueses, promover a discussão<br />
de potenciais soluções de financiamento com vista à criação<br />
de valor para os doentes, assim como desenvolver projetos-piloto<br />
com hospitais, de forma a testar a exequibilidade das soluções encontradas.<br />
As conclusões do trabalho desenvolvido, assim como a<br />
definição dos projetos-piloto, serão apresentadas antes do verão.<br />
Mais informações em:<br />
https://www.saudeumaprioridade.pt/equipa3f/<br />
Centros de Responsabilidade Integrados (CRIs) |<br />
Sessões de Esclarecimento<br />
[16 janeiro, Porto | 22 janeiro, Coimbra | 29 janeiro, Lisboa]<br />
A APAH, em parceria com a ACSS, promoveu três sessões de esclarecimento<br />
sobre a Portaria n.<strong>º</strong> 330/2017 que define o modelo<br />
de Regulamento interno dos Centros de Responsabilidade Integrados<br />
(CRI) a aplicar nas Entidades Públicas Empresariais do<br />
SNS, com o objetivo de melhorar o conhecimento e sensibilizar<br />
os profissionais de saúde para o desenvolvimento deste modelo<br />
organizacional.<br />
Homenagem a Augusto Mantas, João Urbano e<br />
Margarida Bentes<br />
[17 janeiro, Lisboa]<br />
A APAH, Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e a Sociedade<br />
Portuguesa da História dos Hospitais realizaram na ENSP uma<br />
sessão de homenagem com objetivo de evocar a obra do Professor<br />
Augusto Mantas e dos projetos de inovação da gestão hospitalar<br />
desenvolvidos nos anos 80, com apoio dos Estados Unidos<br />
da América, sob a liderança dos Drs. João Urbano e Margarida Bentes.<br />
Ver reportagem na presente edição.<br />
11.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais<br />
[19 janeiro, Portalegre]<br />
A APAH coorganizou com a Unidade Local do Norte Alentejano<br />
mais uma Conferência/debate inserida na iniciativa “Caminho dos<br />
Hospitais”, desta feita dedicada ao tema “10 Anos a Integrar Cuidados<br />
– Boas Práticas”. Ver reportagem na presente edição.<br />
Código dos Contratos Públicos Revisto | Seminários<br />
APAH/SPMS<br />
30 janeiro, Lisboa | 28 fevereiro, Porto]<br />
A APAH e SPMS realizaram dois seminários dedicados ao novo<br />
Código de Contratos Públicos, que entrou em vigor a 1 de janeiro<br />
deste ano, destinados a todos os profissionais do sector tendo a<br />
iniciativa contado com uma elevada adesão e participação.<br />
À Terça-feira com… | Webinars APAH | Pedro Pita<br />
Barros<br />
[6 fevereiro, Webconferência]<br />
“À Terça-feira com…” é uma iniciativa da APAH com o intuito de<br />
possibilitar a discussão e difusão de conhecimento sobre temas<br />
da atualidade na área de gestão em saúde. Todas as primeiras<br />
terças-feiras de cada mês, pelas 10h da manhã, a APAH convida<br />
um conhecedor da matéria para apresentar um tema da atualidade.<br />
Para esta iniciativa, a APAH aproveita as novas tecnologias<br />
permitindo que os participantes possam usufruir da conferência<br />
sem sair do seu local de trabalho e utilizando o seu computador<br />
pessoal, o seu telefone ou o seu tablet. O 1.<strong>º</strong> Webinar “À Terça-<br />
-feira com…” contou com Pedro Pita Barros, um dos maiores especialistas<br />
mundiais de economia da saúde, que analisou a flutuação<br />
da dívida dos hospitais do SNS com base nos dados de execução<br />
orçamental dos últimos anos.<br />
Barómetro dos Internamentos Sociais | 2.ª Interação<br />
[19 de fevereiro]<br />
O Barómetro de Internamentos Sociais (BIS) é uma iniciativa da<br />
APAH com o apoio institucional do Ministério da Saúde, suporte<br />
técnico da EY e tecnológico da Microsoft. O objetivo do BIS é estudar<br />
e dar relevo à problemática dos internamentos inapropriados<br />
e fomentar ações conjuntas que minimizem este impacto constituindo-se<br />
como um instrumento para a medição periódica deste<br />
fenómeno. Esta foi a 2.ª edição desta iniciativa que contou mais<br />
uma vez com a elevada colaboração e participação dos Hospitais<br />
do SNS. Ver reportagem na presente edição.<br />
Jornadas <strong>Hospitalar</strong>es do SNS <strong>2018</strong><br />
[27-28 fevereiro, Lisboa]<br />
A APAH associou-se à ACSS na organização das Jornadas <strong>Hospitalar</strong>es<br />
do SNS <strong>2018</strong> tendo como objetivo disseminar boas práticas<br />
e promover o desenvolvimento hospitalar. A edição deste ano<br />
esteve dedicada à Qualidade, Eficiência e redução do desperdício,<br />
<strong>Gestão</strong> do acesso, Inovação e Sustentabilidade.<br />
<strong>12</strong>.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais<br />
[2 março, Vila Nova de Gaia]<br />
A APAH coorganizou com o Centro <strong>Hospitalar</strong> Vila Nova de Gaia a<br />
<strong>12</strong>.ª Conferência/debate da iniciativa “Caminho dos Hospitais”, dedicada<br />
à “Inovação e Sustentabilidade Clínica e Económica “.<br />
Ver reportagem na presente edição.<br />
À Terça-feira com… | Webinars APAH | Marta Temido<br />
[6 março, Webconferência]<br />
O 2.<strong>º</strong> Webinar “À Terça-feira com…” contou com Marta Temido,<br />
uma das maiores especialistas nacionais em gestão de recursos<br />
humanos que analisou a “Combinação eficiente de recursos humanos<br />
da saúde” e qual o ponto de situação atual em Portugal.<br />
The Economist | Lisbon Summit <strong>2018</strong><br />
13 e 14 de março, Cascais, Portugal<br />
A APAH participou no Lisbon Summit <strong>2018</strong> do The Economist tendo<br />
sido representada pelo seu Presidente na sessão dedicada à<br />
saúde “Health: moving towards value-based financing and performance<br />
assessment”.<br />
4ª. Conferência de VALOR APAH<br />
[16 a 17 março]<br />
A APAH realizou a sua 4.ª Conferência de VALOR APAH em Viseu,<br />
dedicada ao tema “Modelos de <strong>Gestão</strong> de Acesso à Urgência e<br />
Continuidade <strong>Hospitalar</strong>”. Ver reportagem na presente edição.<br />
Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong> | Ciclo Conferências <strong>2018</strong><br />
[19 março, Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz<br />
em Lisboa]<br />
A APAH coorganizou com o Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Norte a 1.ª<br />
Conferência inserida no Ciclo de Conferências “Rumo ao Norte<br />
<strong>Hospitalar</strong>” dedicada ao tema “Desafios da Inovação e Segurança<br />
da Informação”.<br />
58
EVENTOS +<br />
…DEIXAMOS AQUI ALGUMAS SUGESTÕES DE EVENTOS FUTUROS:<br />
ORGANIZAÇÃO APAH<br />
5.ª Conferência de VALOR APAH<br />
Modelos de Liderança e <strong>Gestão</strong> da Mudança em Saúde<br />
Data: 8 a 9 de junho <strong>2018</strong><br />
Local: Tomar, Hotel Templários<br />
Mais informações em:<br />
https://apah.pt/iniciativas-projetos/conferencias-de-valor-apah/<br />
À Terça-feira com… | Webinars APAH<br />
Data: 1.ª Terça-feira de cada mês<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações em:<br />
https://apah.pt/iniciativas-projetos/a-terca-feira-com/<br />
27 th Congress of the European Association of Hospital Managers<br />
(EAHM)<br />
Redefining the Role of Hospitals - Innovating in Population<br />
Health<br />
Data: 26 e 28 setembro de <strong>2018</strong><br />
Local: Cascais – Centro Congressos do Estoril, Portugal<br />
Mais informações em: http://www.eahm-cascais<strong>2018</strong>.com<br />
5.<strong>º</strong> Prémio Healthcare Excellence<br />
Cerimónia de eleição e entrega do Prémio<br />
Data: 19 de outubro, Porto<br />
Local: Porto - Sessão Regional Norte da Ordem dos Médicos<br />
Mais informações em:<br />
https://apah.pt/iniciativas-projetos/premio-healthcare-excellence/<br />
X Fórum do Medicamento <strong>2018</strong><br />
Da investigação à optimização do tratamento<br />
Data: 16 de novembro, Lisboa<br />
Local: Lisboa - Centro Cultural de Belém, Sala Fernando Pessoa<br />
Mais informações em:<br />
https://apah.pt/iniciativas-projetos/forum-do-medicamento/<br />
CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />
Caminho dos Hospitais − Conferências debate<br />
Parceria APAH e Hospitais do Serviços Nacional de Saúde<br />
Periodicidade: mensal<br />
Mais informações em:<br />
https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-dos-hospitais/<br />
Medicina e Administração de Sistemas de Saúde – Ciclo Conferências<br />
<strong>2018</strong><br />
Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos<br />
(SRNOM)<br />
1.ª Conferência: Organização interna nos hospitais<br />
Data: 26 de abril <strong>2018</strong>, 19h00<br />
Local: SRNOM, Porto<br />
2.ª Conferência: Cooperação inter-hospitalar<br />
Data: 28 de junho <strong>2018</strong>, 19h00<br />
Local: SRNOM, Porto<br />
3.ª Conferência: Como integrar inovação em saúde<br />
Data: 21 de setembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />
Local: SRNOM, Porto<br />
4.ª Conferência: O Hospital e as pessoas<br />
Data: 29 de novembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />
Local: SRNOM, Porto<br />
5.ª Conferência: Informática e o hospital<br />
Data: 14 de dezembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />
Local: SRNOM, Porto<br />
Mais informações em:<br />
https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-administracaode-servicos-de-saude/<br />
Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong> – Ciclo de Conferências<br />
Parceria APAH e Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Norte (CHLN)<br />
1.ª Conferência: Desafios da Inovação e Segurança da Informação<br />
Data: 19 de março <strong>2018</strong>, 14h30<br />
Local: Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz, Lisboa<br />
2.ª Conferência: Green Hospital − O futuro é hoje<br />
Data: 18 de junho <strong>2018</strong>, 14h30<br />
Local: Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz, Lisboa<br />
3.ª Conferência: Segurança em Meio <strong>Hospitalar</strong><br />
Data: 22 de outubro <strong>2018</strong>, 14h30<br />
Local: Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz, Lisboa<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/cicloconferencias-rumo-ao-norte-hospitalar<br />
APAH RECOMENDA<br />
ICIC18 − 18 th International Conference on Integrated Care<br />
Organização: International Fundation Integrated Care (IFIC)<br />
Data: 23 a 25 de maio de <strong>2018</strong><br />
Local: NBC Congrescentrum, 3438 LC Nieuwegein, Utrecht<br />
Mais informações em:<br />
https://integratedcarefoundation.org/events/icic18-18th-international-conference-on-integrated-care-utrecht<br />
EHMA <strong>2018</strong> Annual Conference − Making It Happen<br />
Organização: European Healthcare Management Association<br />
(EHMA)<br />
Data: 20 a 22 de junho de <strong>2018</strong><br />
Local: Budapeste, Hungria<br />
Mais informações em:<br />
http://ehma.org/event/ehma-<strong>2018</strong>-annual-conference-makinghappen/<br />
42 nd World Hospital Congress − Patient-friendly & Smarter<br />
Healthcare<br />
Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />
Data: 10 a <strong>12</strong> de outubro de <strong>2018</strong><br />
Local: Brisbane, Australia<br />
Mais informações em: www.hospitalcongress<strong>2018</strong>.com<br />
7.<strong>º</strong> Congresso Internacional dos Hospitais − Envolvimento e<br />
Responsabilidade do cidadão no SNS<br />
Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />
<strong>Hospitalar</strong> (APDH)<br />
Data: 21 a 23 de novembro de <strong>2018</strong><br />
Local: Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Portugal<br />
Mais informações em: http://apdh.pt<br />
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PARCEIROS PLATINA<br />
PARCEIROS OURO<br />
PARCEIROS PRATA<br />
PARCEIROS BRONZE<br />
www.apah.pt