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A sensibilidade<br />
incontida de um<br />
Homem bom<br />
Conheci Vítor Ramalho numa época de grande turbulência pública. Daquelas em que só<br />
os grandes homens as conseguem dobrar. Vivíamos a excepcional crise de 93 do século<br />
passado e o Vítor detinha a tutela do Trabalho, como secretário de Estado de Mário Soares.<br />
Foram momentos de coragem, mas também de sofrimento, obrigando o governo a reagir<br />
com medidas drásticas perante a contestação caída nas ruas e do ambiente de gincana<br />
partidária que empurrou o país para quase setecentas greves num só ano. Conheci e<br />
reconheci a sua maestria política e a sua hábil gestão do diálogo e da concertação sem<br />
amarras que não fossem as do interesse da comunidade e das convicções.<br />
Tivemos e temos outras proximidades. Uma das mais fortes foi Mário Soares. Ele, que partilhou<br />
quase todas as façanhas do Soarista; Eu, que arranquei para o mundo do trabalho<br />
ao serviço desse Enorme Estadista.<br />
Vítor Ramalho veio, depois, chegar-se ainda mais ao distrito de Setúbal. E, aqui, fez também<br />
história, enquanto presidente da federação socialista. Acompanhei-o de perto e, não<br />
raramente, me pedia esta e aquela opinião. Ouvia-me por saber que partilhamos as mesmas<br />
causas, que não traímos. Mas também porque somos ambos livres-pensadores, que<br />
negam os dogmas, qualquer ‘verdade absoluta’, cegueiras ou seguidismos.<br />
Depois, no que cabe neste pequeno escrito, reafirmar a sua sensibilidade incontida, porque<br />
expressa nas suas pinturas e na sua literatura.<br />
Recebe deste amigo de sempre e para sempre uns abraços fraternos, dos que nos unem<br />
como legado de vida e depois dela.<br />
Raul Tavares<br />
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