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10 Brasil Econômico Quinta-feira, 12 de agosto, 2010 OPINIÃO José Dirceu Advogado e ex-ministro da Casa Civil Jogo de “ganha-ganha” Tornou-se corriqueira a preocupação alarmista sobre “gargalos de infraestrutura” para a próxima década, em movimento cujo interesse é responsabilizar o governo federal pelos entraves ao crescimento vindouro. Em primeiro lugar, trata-se de uma inversão de lógica, afinal, não fossem as medidas do governo Lula, não haveria necessidade de aprimoramento logístico porque o país não estaria crescendo de forma estruturada —entre 6% e 7%, nas previsões para 2010. As carências em infraestrutura advêm, portanto, de políticas bem sucedidas de fortalecimento da economia, e por isso devem antes ser encaradas como grandes desafios. O lugar comum às críticas é o setor de aeroportos, termômetro do crescimento porque revela os avanços com a marca da maior inclusão social, ampliação da renda e aumento do poder de compra. Vale o preceito de que o brasileiro tem viajado mais, para dentro ou fora do país, porque reúne hoje melhores condições do que há uma década, assim como há hoje maior movimentação de cargas aéreas do que há dez anos. A alternativa é fazer as concessões de grandes aeroportos pelo critério de maior outorga, viabilizando a presença do setor privado Esse aumento da demanda deve se intensificar, puxado de um lado pela continuidade do crescimento (desde que mantidas as atuais políticas federais) e, de outro lado, pela atração dos dois maiores eventos esportivos do mundo —a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Calcula-se algo em torno de R$ 6 bilhões de investimentos em aeroportos nos próximos quatro anos para que consigamos atender ao fluxo crescente. O governo já liberou R$ 5,5 bilhões para 13 aeroportos, em reformas que se encerram em 2013. É mais uma mostra do esforço de reestruturação do setor. Desde 2003, foram 25 obras em 19 aeroportos, além de obras de menor porte em diversos terminais. Alguns exemplos: Santos Dumont (RJ), Congonhas e Cumbica (SP), Marechal Rondon (MT), Eduardo Gomes (AM), Juscelino Kubitschek (DF), César Bombonato (MG), Lauro Carneiro de Loyola (SC) e Senador Nilo Coelho (PE). Hoje, a Infraero gerencia 67 aeroportos, 80 unidades de apoio e 32 terminais de carga. Impossível manter a atual estrutura, dada a necessidade de rápida expansão. Urge, então, atrair a iniciativa privada para vencermos o desafio dos aeroportos. Como o setor é estratégico, faz-se imprescindível descartar as privatizações. O caminho é aprovar um novo marco legal que permita tanto o modelo de concessões, como o de Parcerias Público-Privadas (PPPs), ainda que o primeiro revele-se mais factível, dada a premência de prazos. A alternativa é fazer as concessões de grandes aeroportos (cerca de dez) pelo critério de maior outorga, viabilizando a presença do setor privado na modernização dos aeroportos e garantindo o investimento público nos outros terminais. As concessões são positivas porque darão à sociedade: um sistema mais extenso, moderno e interiorizado; a dissolução de gargalos; a participação privada, sem viés predatório-privatista; o fortalecimento da Infraero e a garantia de que a Copa do Mundo e a Olimpíada serão de alto nível, dentro e fora da esfera esportiva. O resultado evidente é um jogo de “ganha-ganha”. ■ Adriano Pires Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura Declarações importantes Na semana passada tivemos declarações muito importantes sobre o setor de energia no Brasil. A primeira foi do presidente da Vale, respondendo se a empresa teria interesse em investir em nitrogenados. A resposta não poderia ser mais clara: “Para produzir nitrogenados é preciso usar gás natural. E a Petrobras se acha dona do gás. Então, ela que invista”. O presidente da Vale tem toda a razão, já que, além de ser a dona do gás, a Petrobras também é a dona de toda a rede de transporte, é a única importadora, tem participação na maioria das distribuidoras e é monopolista na produção de todos os derivados de petróleo substitutos do gás natural. Ou seja, no gás natural a Petrobras é um monopólio desregulado. E como monopólio desregulado decide para quem e como vai vender o gás natural. Isso acaba inviabilizando o aumento da participação do gás na matriz energética. O mercado e a política de gás natural no Brasil apresentaram nos últimos cinco anos um comportamento ciclotímico. O mercado alternou momentos de grande sobra de gás e escassez e a política usada para enfrentar essa realidade ora era pragmática e se utilizava de heterodoxias, como subsídio ao preço, ora era ortodoxa e seguia o preço do petróleo no mercado internacional. A perspectiva no Brasil é de uma grande oferta de gás natural no futuro. O que explica esse otimismo é o pré-sal. Esse cenário obriga que seja desenvolvida uma política para criar novos mercados e aumentar o consumo. A própria produção de petróleo do pré-sal pode ser prejudicada pelo gás natural. É fundamental dar um destino comercial para o gás, porque caso contrário será queimado, o que em termos ambientais é crime. O desenvolvimento do gás shale (extraído de rochas) nos EUA tornará o país menos dependente da importação de gás, o que significa uma redução do mercado externo para o gás do pré-sal. Discutir modicidade tarifária é falar de carga tributária e encargos setoriais. O setor elétrico não deve ser encarado como coletor de impostos A outra declaração foi de um executivo da Votorantim, sobre a tarifa de energia elétrica. O executivo chamou a atenção para o fato de que a tarifa no Brasil é mais elevada do que na Europa e na China. Segundo o executivo, a razão são os impostos e os encargos setoriais que incidem na tarifa final. O preço da energia é mais baixo no Brasil, porém quando são acrescentados os impostos e os encargos tornam a tarifa brasileira mais cara do que na Europa e na China. Não faz sentido existir uma carga tributária que, somada aos encargos setoriais, representam hoje 45,1% da tarifa final. É bom lembrar que em 2002, último ano do governo FHC, esse total era de 35,9%. Hoje a tarifa de energia elétrica no Brasil acaba tirando competitividade da indústria nacional e faz com que o investidor desloque seus projetos para países que têm menores tarifas. Discutir modicidade tarifária a sério significa discutir a carga tributária e os encargos setoriais. O setor elétrico não pode e não deve ser encarado como um setor coletor de impostos. Ambas as declarações deveriam merecer um posicionamento dos candidatos à Presidência da República. Pois, a persistirem essas políticas, o Brasil estará indo na direção de um país exportador de matérias-primas, ou seja, virando uma economia extrativista. ■ CARTAS O CAOS AÉREO DO PAÍS EM TOM DE DESABAFO — COLUNA DE RICARDO GALUPPO O Brasil sofre com o caos aéreo assim como um corpo em processo de crescimento acelerado não consegue suportar o próprio peso. Nos últimos anos, o Brasil teve um destaque no enfoque mundial, destaque que, devido à crise econômica internacional, chama a atenção para um mercado de capitais onde há espaço para grandes oportunidades de negócios e investimentos. Sendo direto, o Brasil como um todo precisa de uma reformulação de valores e estruturas urgentemente. Mas, como toda mudança, isso exige determinação e vontade, e nos acostumamos a ser chamados de país de terceiro mundo. Acabamos vestindo a carapuça. Entretanto, nós crescemos, nos destacamos, portanto devemos pensar e agir de acordo com o nosso tamanho. Somos bem grandinhos e devemos mostrar aos responsáveis pelo caos aéreo e ao mundo que devem nos tratar com o respeito que merecemos. Somos brasileiros, e não desistimos nunca porque unidos sempre seremos. Renan Viana Rio de Janeiro (RJ) INVESTIMENTO EM MINERAÇÃO ALCANÇARÁ US$ 62 BI ATÉ 2014 Precisamos urgentemente que o Congresso aprove um marco regulatório para mineração. Estão levando nossas riquezas minerais a preço de banana. E ao invés de as empresas mineradoras se unirem em uma grande holding nacional, estão vendendo seus ativos para a China, perdendo em breve o controle dos seus negócios para estrangeiros, que determinarão os preços que bem entenderem para essas commodities. Marcelo Luiz Santos (SP) AMBEV REVITALIZA FÁBRICA DA BOHEMIA EM PETRÓPOLIS A revitalização da antiga fábrica da Bohemia é a melhor estratégia de marketing que a AmBev poderia adotar. A marca está intimamente ligada à cidade de Petrópolis, e o resgate da memória da cerveja certamente trará grandes benefícios para a imagem da empresa. Luiz Claudio Scudese de Almeida Caxias do Sul (RS) FRANQUIA DA COCA INVESTE NO NORDESTE Qual o horizonte para uma empresa com números tão impressionantes? A elevação da renda e expansão da classe média, aliadas às mudanças de hábitos de consumo das classes C e D, devem gerar oportunidades ainda maiores. Paulo Mottola Vinhedo (SP) CLASSE C E EDUCAÇÃO A classe social brasileira de menor renda está crescendo, mudando de patamar. Essa é uma constatação de especialistas, configurada no aumento da renda a partir de melhoria nos níveis salariais, o que se reflete na produção em vários setores. Mas é preciso, por outro lado, que se criem formas de crescimento também no campo educacional, de maneira que essa mudança de classe social traga um equilíbrio muito necessário. São procedimentos que ajudarão a mudar o quadro em termos de políticas assistencialistas, que são importantes, mas não podem ser usadas como solução. A conclusão da opinião de especialistas diante desse quadro é de que as perspectivas brasileiras são muito positivas para os próximos anos. Uriel Villas Boas Santos (SP) Cartas para Redação - Av. das Nações Unidas, 11.633 – 8º andar – CEP 04578-901 – Brooklin – São Paulo (SP). redacao@brasileconomico.com.br As mensagens devem conter nome completo, endereço e telefone e assinatura. Em razão de espaço ou clareza, BRASIL ECONÔMICO reserva-se o direito de editar as cartas recebidas. Mais cartas em www.brasileconomico.com.br.
Vidal Cavalcante/AE O CERRADO VIROU SERTÃO Empresa de impressão e gerenciamento de mercadoria quer expandir atuação nas áreas de governo e varejo no Brasil Carolina Pereira cpereira@brasileconomico.com.br A americana Zebra Technologies, que atua em áreas como impressão de etiquetas, identificação, rastreamento e gerenciamento de ativos, quer expandir os negócios no país. A empresa faturou cerca de R$ 1,4 bi- Superbactéria chega à Grã-Bretanha Um novo supermicrorganismo pode se espalhar pelo mundo após viajar da Índia à Grã-Bretanha, e cientistas afirmam que quase não há drogas para combatê-lo. Pesquisadores anunciaram ontem no jornal de medicina The Lancet que detectaram a chamada NDM-1, resistente a praticamente todos os tipos de antibióticos, em pacientes de hospitais britânicos. A bactéria instala-se no aparelho digestivo e provoca infecções no organismo, principalmente nos sistemas urinário e respiratório. Uma árvore seca emoldura a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Depois de dois meses sem chuva na capital, a umidade relativa do ar caiu para cerca de 8% na cidade. O nível de umidade abaixo de 12%, de acordo com os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), já é considerado como uma situação de emergência. ENTREVISTA ANDERS GUSTAFSSON Presidente mundial da Zebra Technologies lhão em 2009, e 10% da sua receita, atualmente, vêm de países da América Latina. Qual a importância do mercado brasileiro para a Zebra? Apesar dos EUA serem o principal mercado, responsável por 45% da receita, Brasil, China Índia e Oriente Médio são os países em que a receita mais cresce. No Brasil, nossa meta é focar no setor de saúde, varejo e governo, por isso acabamos de abrir escritório em Brasília. No primeiro semestre, o crescimento da receita no país foi de 163%. Esperamos que o percentual seja mantido no segundo. Que tecnologias de gerenciamento de mercadorias devem crescer no país? Pretendemos expandir os produtos com tecnologia RFID (sigla para Radio-Frequency Identification). No último trimestre, tivemos a maior receita vinda dessa área da história da empresa. Os mercados que Quinta-feira, 12 de agosto, 2010 Brasil Econômico 11 Zebra Technologies cresce 163% no país Divulgação “Brasil, China, Índia e Oriente Médio são os mercados em que a receita da empresa mais cresce no mundo” Evaristo SA/AFP mais têm se interessado são manufaturados e varejo. Mas o varejo, no Brasil, ainda não utiliza tanto RFID, certo? Aqui o conceito é difundido em setores com linhas de produção muito complexas, como o automotivo, por exemplo. À medida que o preço da etiqueta com essa tecnologia for reduzido, a adoção vai expandir. ■ Leia versão completa em www.brasileconomico.com.br
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