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Revista VOi 155

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entrevista<br />

Como que é fazer teatro no Brasil?<br />

Fazer teatro no Brasil é um ato de heroísmo, porque<br />

tudo se volta contra. Temos governantes sem cultura<br />

suficiente para entender a importância da cultura. A<br />

cultura pode mudar o comportamento das pessoas,<br />

o olhar delas sobre a vida e sobre as coisas no modo<br />

geral. É o que estamos precisando, porque nossa realidade<br />

está muito feia com tanta violência, corrupção<br />

e problemas de relacionamento. A escola trabalha<br />

mais sobre a informação, a cultura pode mudar as<br />

pessoas pela formação, por trazer o novo, por estabelecer<br />

novos padrões e transgredir uma realidade que<br />

já está apodrecida. Temos que sensibilizar as pessoas<br />

e tirá-las desse cotidiano utilitário e consumista para<br />

algo mais espiritual, mais sensível, mais humano.<br />

Em 2015 foi a primeira vez que trabalhou na mesma<br />

novela que sua filha (a atriz Débora Bloch), mas não<br />

chegaram a contracenar. No teatro já fizeram alguma<br />

peça juntos?<br />

Até hoje só fizemos dois comerciais e uma convenção<br />

que apresentamos juntos. Mas no teatro nunca<br />

aconteceu e nem sei se é bom, porque o público olha<br />

muito mais pai e filha do que o personagem. Alguns<br />

atores que já trabalharam com os pais me disseram<br />

isso.<br />

Já atuou em novelas por diferentes emissoras. Como<br />

observou a abertura do mercado, depois que a Globo<br />

deixou de ser a única referência para as novelas<br />

brasileiras?<br />

Quanto mais mercado de trabalho existir, melhor<br />

para os atores. Já participei de todas as emissoras<br />

da televisão aberta e todas se esforçam para fazer o<br />

melhor que podem, mas nem sempre têm uma vivência<br />

como a Globo, que consegue atingir um público<br />

maior. Mas acho que elas vão evoluir e com o tempo<br />

vão conseguir um padrão cada vez melhor.<br />

Quais são as diferenças de trabalhar em teatro, televisão<br />

e cinema?<br />

O teatro não tem o intervalo comercial e nem o chavão,<br />

ele vai a temas mais aprofundados e procura<br />

trazer algo maior. Atualmente as minisséries estão<br />

com um padrão muito alto tentando abordar temas<br />

com mais consistência e qualidade, está se fazendo<br />

praticamente cinema nas minisséries hoje. Então, não<br />

se pode falar que a televisão é igual há anos atrás,<br />

ela evoluiu muito. O cinema é um trabalho mais<br />

artesanal que tenta pegar a imagem com muito mais<br />

cuidado, porque tem mais tempo para fazer. A televisão<br />

tem um ritmo muito intenso, nem sempre pode se<br />

fazer da maneira ideal como gostaríamos. O cinema<br />

pode trabalhar cada cena de forma diferente. A última<br />

minissérie que fiz, Se Eu Fechar os Olhos Agora<br />

era cinema puro. Até na novela Novo Mundo teve<br />

momentos que eram muito trabalhados com padrão<br />

alto igual ao cinema mesmo. Se exportamos nossas<br />

obras para mais de 100 países é porque algum talento<br />

existe.<br />

Por qual processo passa na construção de cada personagem?<br />

Quanto tempo leva?<br />

No caso do Manoel de Barros, tentei deixar em primeiro<br />

plano sempre o texto dele, o mais simples possível<br />

sem nenhum show de ator, simplesmente servir<br />

ao autor. É claro que com o meu olhar fiz a minha<br />

interpretação e em alguns momentos faço um personagem<br />

que o texto sugere. Normalmente fazemos um<br />

trabalho em várias frentes. Primeiro de compreensão,<br />

saber o que aquela obra significa e o que tem de conteúdo<br />

para saber as intenções do personagem, o que<br />

ele quer da vida, por que ele age daquela maneira.<br />

Tem todo um trabalho de compreensão da personagem<br />

e da circunstância em que a peça se passa.<br />

Agora existem diversos processos, cada peça se pede<br />

uma coisa diferente. Por exemplo, quando se faz um<br />

musical não vai aprofundar tanto como quando se<br />

As pessoas vão muito<br />

para o carnaval,<br />

para o futebol, se<br />

contentam em fazer<br />

um manifestozinho<br />

pelo whatsapp. Mas<br />

estamos precisando<br />

que o povo lance<br />

seu heroico brado<br />

retumbante<br />

30<br />

agosto 2018<br />

revistavoi.com.br

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