You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
entrevista<br />
Como que é fazer teatro no Brasil?<br />
Fazer teatro no Brasil é um ato de heroísmo, porque<br />
tudo se volta contra. Temos governantes sem cultura<br />
suficiente para entender a importância da cultura. A<br />
cultura pode mudar o comportamento das pessoas,<br />
o olhar delas sobre a vida e sobre as coisas no modo<br />
geral. É o que estamos precisando, porque nossa realidade<br />
está muito feia com tanta violência, corrupção<br />
e problemas de relacionamento. A escola trabalha<br />
mais sobre a informação, a cultura pode mudar as<br />
pessoas pela formação, por trazer o novo, por estabelecer<br />
novos padrões e transgredir uma realidade que<br />
já está apodrecida. Temos que sensibilizar as pessoas<br />
e tirá-las desse cotidiano utilitário e consumista para<br />
algo mais espiritual, mais sensível, mais humano.<br />
Em 2015 foi a primeira vez que trabalhou na mesma<br />
novela que sua filha (a atriz Débora Bloch), mas não<br />
chegaram a contracenar. No teatro já fizeram alguma<br />
peça juntos?<br />
Até hoje só fizemos dois comerciais e uma convenção<br />
que apresentamos juntos. Mas no teatro nunca<br />
aconteceu e nem sei se é bom, porque o público olha<br />
muito mais pai e filha do que o personagem. Alguns<br />
atores que já trabalharam com os pais me disseram<br />
isso.<br />
Já atuou em novelas por diferentes emissoras. Como<br />
observou a abertura do mercado, depois que a Globo<br />
deixou de ser a única referência para as novelas<br />
brasileiras?<br />
Quanto mais mercado de trabalho existir, melhor<br />
para os atores. Já participei de todas as emissoras<br />
da televisão aberta e todas se esforçam para fazer o<br />
melhor que podem, mas nem sempre têm uma vivência<br />
como a Globo, que consegue atingir um público<br />
maior. Mas acho que elas vão evoluir e com o tempo<br />
vão conseguir um padrão cada vez melhor.<br />
Quais são as diferenças de trabalhar em teatro, televisão<br />
e cinema?<br />
O teatro não tem o intervalo comercial e nem o chavão,<br />
ele vai a temas mais aprofundados e procura<br />
trazer algo maior. Atualmente as minisséries estão<br />
com um padrão muito alto tentando abordar temas<br />
com mais consistência e qualidade, está se fazendo<br />
praticamente cinema nas minisséries hoje. Então, não<br />
se pode falar que a televisão é igual há anos atrás,<br />
ela evoluiu muito. O cinema é um trabalho mais<br />
artesanal que tenta pegar a imagem com muito mais<br />
cuidado, porque tem mais tempo para fazer. A televisão<br />
tem um ritmo muito intenso, nem sempre pode se<br />
fazer da maneira ideal como gostaríamos. O cinema<br />
pode trabalhar cada cena de forma diferente. A última<br />
minissérie que fiz, Se Eu Fechar os Olhos Agora<br />
era cinema puro. Até na novela Novo Mundo teve<br />
momentos que eram muito trabalhados com padrão<br />
alto igual ao cinema mesmo. Se exportamos nossas<br />
obras para mais de 100 países é porque algum talento<br />
existe.<br />
Por qual processo passa na construção de cada personagem?<br />
Quanto tempo leva?<br />
No caso do Manoel de Barros, tentei deixar em primeiro<br />
plano sempre o texto dele, o mais simples possível<br />
sem nenhum show de ator, simplesmente servir<br />
ao autor. É claro que com o meu olhar fiz a minha<br />
interpretação e em alguns momentos faço um personagem<br />
que o texto sugere. Normalmente fazemos um<br />
trabalho em várias frentes. Primeiro de compreensão,<br />
saber o que aquela obra significa e o que tem de conteúdo<br />
para saber as intenções do personagem, o que<br />
ele quer da vida, por que ele age daquela maneira.<br />
Tem todo um trabalho de compreensão da personagem<br />
e da circunstância em que a peça se passa.<br />
Agora existem diversos processos, cada peça se pede<br />
uma coisa diferente. Por exemplo, quando se faz um<br />
musical não vai aprofundar tanto como quando se<br />
As pessoas vão muito<br />
para o carnaval,<br />
para o futebol, se<br />
contentam em fazer<br />
um manifestozinho<br />
pelo whatsapp. Mas<br />
estamos precisando<br />
que o povo lance<br />
seu heroico brado<br />
retumbante<br />
30<br />
agosto 2018<br />
revistavoi.com.br