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Revista 83 Clube Reserva 1500

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RESERVA <strong>1500</strong><br />

CAÇADORES DE IGUARIAS<br />

- MAR<br />

Ro<br />

José da Silva Almeida e dos filhos,<br />

que ali trabalham diariamente entre<br />

uma bateria de garoupas, moreias,<br />

serras, bicudas, lírios, várias espécies<br />

de atum e muitos outros peixes<br />

frescos que põem em ebulição o<br />

espírito de qualquer gastrónomo.<br />

O rocaz é também conhecido pelo<br />

seu fígado de sabor amariscado. Um<br />

conselho: o rocaz exige algum cuidado<br />

na preparação ainda em cru, exatamente<br />

por causa dos espinhos. Outro conselho:<br />

este peixe, dada a sua qualidade, não<br />

exige preparações complexas, podendo<br />

ser assado, grelhado ou cozido, com um<br />

acompanhamento de sotaque açoriano,<br />

por exemplo um puré de batata doce e<br />

um molho vilão, preparado com vinho<br />

de cheiro, pimenta da terra e alho. Para<br />

beber, um vinho sério e fresco como<br />

o Quinta de Azevedo <strong>Reserva</strong> 2017.<br />

Por falar em espinhos<br />

Uma das espécies onde encontramos<br />

com maior intensidade aquilo que<br />

designamos genericamente por ‘sabor<br />

a mar’ é o ouriço, bicho equinodermo,<br />

tal como as estrelas do mar, com uma<br />

carapaça coberta de espinhos que<br />

podem variar na cor, entre o verde,<br />

vermelho e azulado. Vivem nos<br />

fundos rochosos, tanto nas grandes<br />

profundidades como junto à costa,<br />

muitas vezes nas zonas entre marés e,<br />

por isso, é relativamente fácil encontrálos<br />

em poças formadas pelas rochas<br />

que ficam descobertas na maré baixa.<br />

Arrastam-se lentamente à procura<br />

de alimento que consiste em algas e<br />

pequenos invertebrados, material que<br />

sintetizam e cujos aromas fazem o favor<br />

de destilar e conservar no seu interior.<br />

A parte comestível dos ouriços do<br />

mar são os seus órgãos reprodutores,<br />

5 tiras quase em forma de língua que<br />

estão coladas no interior da carapaça e<br />

que apresentam cor coral nas fêmeas<br />

ou mais esbranquiçada nos machos.<br />

Portugal não tem uma grande tradição<br />

no consumo de ouriços do mar, apesar de<br />

já haver, na vila da Ericeira, um festival<br />

anual do ouriço, onde vários chefs criam<br />

preparações com esta iguaria. Para<br />

não variar, 80% do consumo mundial<br />

de ouriços é feito pelos japoneses.<br />

Por não haver essa tradição de<br />

consumo entre nós, não é frequente<br />

encontrarmos esta espécie à venda nas<br />

peixarias ou mesmo em restaurantes.<br />

Em Lisboa, a peixaria Centenária<br />

vende ouriços, sendo necessário<br />

encomendá-los. Esta peixaria vai na<br />

terceira geração de gente que, além da<br />

frescura e da variedade, tem um serviço<br />

invulgarmente competente, tratando o<br />

peixe como se fosse artigo de joalharia.<br />

Encontramos a peixaria Centenária<br />

na Praça das Flores e nos mercados<br />

de Campo de Ourique e de Alvalade.<br />

Pelo menos uma vez na vida, é<br />

obrigatório provar esta iguaria no<br />

seu estado natural, crua. Depois<br />

então podemos começar a pensar em<br />

transformá-la em algo mais complexo<br />

que aproveite todo este aroma. Uma<br />

sugestão é um souflé, que pode ser<br />

preparado de forma semelhante ao<br />

souflé de peixe. Antes de ele chegar<br />

à mesa, está na altura de abrir uma<br />

garrafa de Nobody’s Hero Framingham<br />

Sauvignon Blanc 2017. O souflé é<br />

servido e, quando quebramos a sua<br />

crosta dourada, libertamos o vapor<br />

que estava preso no interior e que<br />

traz consigo o cheiro das ondas do<br />

oceano a rebentar junto às rochas.<br />

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