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RESERVA <strong>1500</strong><br />
CAÇADORES DE IGUARIAS<br />
- MAR<br />
Ro<br />
José da Silva Almeida e dos filhos,<br />
que ali trabalham diariamente entre<br />
uma bateria de garoupas, moreias,<br />
serras, bicudas, lírios, várias espécies<br />
de atum e muitos outros peixes<br />
frescos que põem em ebulição o<br />
espírito de qualquer gastrónomo.<br />
O rocaz é também conhecido pelo<br />
seu fígado de sabor amariscado. Um<br />
conselho: o rocaz exige algum cuidado<br />
na preparação ainda em cru, exatamente<br />
por causa dos espinhos. Outro conselho:<br />
este peixe, dada a sua qualidade, não<br />
exige preparações complexas, podendo<br />
ser assado, grelhado ou cozido, com um<br />
acompanhamento de sotaque açoriano,<br />
por exemplo um puré de batata doce e<br />
um molho vilão, preparado com vinho<br />
de cheiro, pimenta da terra e alho. Para<br />
beber, um vinho sério e fresco como<br />
o Quinta de Azevedo <strong>Reserva</strong> 2017.<br />
Por falar em espinhos<br />
Uma das espécies onde encontramos<br />
com maior intensidade aquilo que<br />
designamos genericamente por ‘sabor<br />
a mar’ é o ouriço, bicho equinodermo,<br />
tal como as estrelas do mar, com uma<br />
carapaça coberta de espinhos que<br />
podem variar na cor, entre o verde,<br />
vermelho e azulado. Vivem nos<br />
fundos rochosos, tanto nas grandes<br />
profundidades como junto à costa,<br />
muitas vezes nas zonas entre marés e,<br />
por isso, é relativamente fácil encontrálos<br />
em poças formadas pelas rochas<br />
que ficam descobertas na maré baixa.<br />
Arrastam-se lentamente à procura<br />
de alimento que consiste em algas e<br />
pequenos invertebrados, material que<br />
sintetizam e cujos aromas fazem o favor<br />
de destilar e conservar no seu interior.<br />
A parte comestível dos ouriços do<br />
mar são os seus órgãos reprodutores,<br />
5 tiras quase em forma de língua que<br />
estão coladas no interior da carapaça e<br />
que apresentam cor coral nas fêmeas<br />
ou mais esbranquiçada nos machos.<br />
Portugal não tem uma grande tradição<br />
no consumo de ouriços do mar, apesar de<br />
já haver, na vila da Ericeira, um festival<br />
anual do ouriço, onde vários chefs criam<br />
preparações com esta iguaria. Para<br />
não variar, 80% do consumo mundial<br />
de ouriços é feito pelos japoneses.<br />
Por não haver essa tradição de<br />
consumo entre nós, não é frequente<br />
encontrarmos esta espécie à venda nas<br />
peixarias ou mesmo em restaurantes.<br />
Em Lisboa, a peixaria Centenária<br />
vende ouriços, sendo necessário<br />
encomendá-los. Esta peixaria vai na<br />
terceira geração de gente que, além da<br />
frescura e da variedade, tem um serviço<br />
invulgarmente competente, tratando o<br />
peixe como se fosse artigo de joalharia.<br />
Encontramos a peixaria Centenária<br />
na Praça das Flores e nos mercados<br />
de Campo de Ourique e de Alvalade.<br />
Pelo menos uma vez na vida, é<br />
obrigatório provar esta iguaria no<br />
seu estado natural, crua. Depois<br />
então podemos começar a pensar em<br />
transformá-la em algo mais complexo<br />
que aproveite todo este aroma. Uma<br />
sugestão é um souflé, que pode ser<br />
preparado de forma semelhante ao<br />
souflé de peixe. Antes de ele chegar<br />
à mesa, está na altura de abrir uma<br />
garrafa de Nobody’s Hero Framingham<br />
Sauvignon Blanc 2017. O souflé é<br />
servido e, quando quebramos a sua<br />
crosta dourada, libertamos o vapor<br />
que estava preso no interior e que<br />
traz consigo o cheiro das ondas do<br />
oceano a rebentar junto às rochas.<br />
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