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*Novembro/2018 - Industrial 202

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ESPAÇO ABERTO<br />

CONDIÇÕES PARA<br />

RETOMADA ESTÃO DADAS<br />

Poucos parecem ter notado, mas os números da<br />

Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra<br />

de Domicílios), divulgados na semana passada<br />

pelo Ibge, revelaram que o emprego, ajustado<br />

ao padrão sazonal, retornou em setembro aos<br />

níveis vigentes antes da crise. De fato, entre o primeiro trimestre<br />

de 2015 e o primeiro de 2017, houve destruição de<br />

pouco mais de três milhões de postos de trabalho, cerca<br />

de 2/3 dos quais no setor industrial.<br />

De lá para cá, porém, foram recriados 3 milhões de<br />

empregos, cuja configuração é, contudo, muito distinta<br />

da que prevalecia quando a recessão atingiu em cheio<br />

o mercado de trabalho. Em grandes linhas, ainda que o<br />

emprego industrial tenha crescido, não conseguiu repor<br />

as perdas. A expansão foi puxada por segmentos ligados<br />

à administração pública e, em menor grau, por várias atividades<br />

de serviços. Pela ótica da situação no emprego,<br />

houve crescimento expressivo dos trabalhadores por conta<br />

própria e informais, assim como dos empregados pelo<br />

setor público.<br />

Já o trabalho formal, de acordo com os dados da<br />

Pnad, ficou para trás, embora outras fontes, em particular<br />

o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados),<br />

indiquem geração líquida de 375 mil postos nos<br />

últimos 12 meses, desmentindo os arautos da tragédia<br />

que resultaria da reforma trabalhista aprovada no ano<br />

passado.<br />

Com isso, a massa salarial real também retornou aos<br />

níveis pré-crise, na casa de R$ 200 bilhões/mês, ante R$<br />

189 bilhões/mês registrados há dois anos. Noto, por fim,<br />

DO LADO DO NOVO GOVERNO,<br />

PRECISAMOS SABER SUA<br />

DISPOSIÇÃO PARA LEVAR EM FRENTE<br />

REFORMAS QUE CUSTARÃO, POR CERTO,<br />

MUITO DE SEU CAPITAL POLÍTICO. DO<br />

LADO DA SOCIEDADE, SUA DISPOSIÇÃO<br />

PARA ACEITAR CORTES SEVEROS NOS<br />

GASTOS PÚBLICOS<br />

POR<br />

ALEXANDRE<br />

SCHWARTSMAN<br />

ECONOMISTA E EX-<br />

DIRETOR DE ASSUNTOS<br />

INTERNACIONAIS DO<br />

BC (BANCO CENTRAL)<br />

que o terceiro trimestre deste ano marcou o melhor desempenho<br />

em termos de criação de empregos desde o<br />

início da série, em 2012, mas não está claro se falamos<br />

aqui de uma nova tendência ou apenas o rebote natural<br />

que se seguiu a um período anormalmente fraco, em<br />

razão dos problemas ligados ao movimento dos caminhoneiros<br />

em maio.<br />

De qualquer forma, os dados mostram uma recuperação<br />

em curso no mercado de trabalho, embora ainda<br />

aquém do necessário para acompanhar a expansão da<br />

PEA (População Economicamente Ativa). Não é por outro<br />

motivo que a taxa de desemprego permanece alta, ainda<br />

que tenha se reduzido, lenta, porém consistentemente,<br />

nos últimos 18 meses. Nossas estimativas recentes sugerem<br />

que quedas mais pronunciadas da taxa de desemprego<br />

só se materializarão com crescimento mais vigoroso,<br />

acima de 2,5% ao ano pelo menos.<br />

Indicam também, mas com grau muito menor de certeza,<br />

que a taxa de desemprego coerente com a inflação<br />

estável se encontra na casa de 9,0% a 9,5% (o risco é<br />

que seja até menor do que isso), isto é, que haveria um<br />

espaço considerável para crescer sem que a redução do<br />

desemprego possa pressionar a inflação. As condições<br />

econômicas estão dadas, portanto, para uma retomada<br />

cíclica considerável, desde que a nova administração consiga<br />

afastar o espectro da crise fiscal que se desenha. Já<br />

as condições políticas para tanto permanecem nebulosas.<br />

Do lado do novo governo, precisamos saber sua<br />

disposição para levar em frente reformas que custarão,<br />

por certo, muito de seu capital político. Do lado da sociedade,<br />

representada (ainda que imperfeitamente) pelo<br />

congresso, sua disposição para aceitar cortes severos nos<br />

gastos públicos, em particular os previdenciários. Acredito<br />

que o segundo aspecto seja ainda mais problemático<br />

do que o primeiro. Quem apoiou a chantagem dos caminhoneiros<br />

em maio não me parece nada disposto a abrir<br />

mão de nenhum privilégio.<br />

Foto: divulgação<br />

REVISTA REFERÊNCIA,<br />

HÁ VINTE ANOS<br />

CRESCENDO JUNTO COM<br />

O SETOR MADEIREIRO<br />

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edição 01 edição 200<br />

74 referenciaindustrial.com.br NOVEMBRO <strong>2018</strong>

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