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informe científico<br />
Quebra-cabeça de<br />
onco-hematologia<br />
A importância da correlação entre clínica,<br />
morfologia, imunofenótipo e genética.<br />
Dr. André Marinato<br />
Hematologista | CRM-SP 103154<br />
A evolução no tratamento das doenças<br />
hematológicas malignas tem sido<br />
um propulsor para o desenvolvimento<br />
de novas técnicas e exames para o<br />
refinamento diagnóstico, definindo<br />
grupos específicos de pacientes que<br />
se beneficiam de novas estratégias de<br />
tratamento e especialmente de terapias<br />
com alvo bem definido. Nesta mesma<br />
linha, a classificação da Organização<br />
Mundial da Saúde para estas doenças<br />
vem evoluindo no sentido de diferenciar<br />
subgrupos de acordo com características<br />
fenotípicas e genéticas que<br />
tenham implicação prática no prognóstico<br />
e tratamento dos pacientes. Sendo<br />
assim, o laboratório deve estar atento à<br />
necessidade de evoluir tecnicamente,<br />
sem, no entanto, abandonar os conceitos<br />
que nos fizeram chegar onde estamos,<br />
mantendo a essência do diagnóstico<br />
que gera informações de relevância<br />
para a tomada de decisão clínica.<br />
As leucemias mielóides agudas tem<br />
sido um importante exemplo disto.<br />
Este grupo de doenças, até recentemente<br />
subclassificadas apenas por<br />
número de blastos e linhagens celulares<br />
envolvidas, atualmente demandam<br />
uma caracterização genética minuciosa<br />
a fim de se definir entre tratamento<br />
com apenas quimioterapia, para as de<br />
melhor prognóstico, ou quimioterapia<br />
seguida de transplante de medula óssea<br />
em primeira linha, para os vários<br />
grupos de mau prognóstico. Tamanha<br />
responsabilidade do clínico, ao instituir<br />
terapias com alto potencial de morbidade<br />
e mortalidade, deve ser compartilhada<br />
conosco, que à frente das amostras<br />
de sague ou medula óssea de seus<br />
pacientes, podemos fazer a diferença<br />
no sucesso deste tratamento.<br />
Temos então que chegar aos pontos<br />
de análise de alta relevância para cada<br />
caso, sem, no entanto, desperdiçar<br />
recursos. Se não podemos, e considero<br />
que não devemos lançar mão de<br />
amplos painéis cegos de imunofenotipagem<br />
e investigação genética, temos<br />
que montar este quebra-cabeça com<br />
as melhores peças que temos. Uma<br />
boa investigação clínica certamente<br />
define que materiais devem ser encaminhados<br />
para análise, os quais bem<br />
analisados morfologicamente darão<br />
subsídios à definição de um painel de<br />
imunofenotipagem com grande chance<br />
de conclusão diagnóstica. Neste ponto<br />
teremos segurança de indicar a melhor<br />
investigação genética, exames específicos<br />
para as alterações mais relevantes<br />
para cada caso, a fim de confirmar<br />
um diagnóstico, definir prognóstico ou<br />
alvos terapêuticos. Assim, ao observarmos<br />
que um paciente apresenta blastos<br />
no sangue, infiltração gengival, medula<br />
óssea com mieloblastos, monoblastos,<br />
eosinófilos com granulação anômala,<br />
podemos ser precisos ao indicar um<br />
painel de imunofenotipagem para uma<br />
leucemia mielomonocítica e solicitar<br />
ao citogeneticista especial atenção a<br />
uma possível inversão no cromossomo<br />
16, realizando um FISH ou PCR se<br />
necessário para confirmação desta<br />
alteração, e a pesquisa de mutação no<br />
c-KIT para refinar o prognóstico. Definimos<br />
um novo horizonte para o tratamento<br />
desta pessoa, que com uma<br />
leucemia mieloide aguda com inv(16)<br />
(p13.1q22);CBFB-MYH11 e ausência de<br />
mutação no c-KIT poderá ter uma estratégia<br />
de tratamento menos agressiva<br />
e com ótima perspectiva de sucesso.<br />
Sem desperdício de recursos, com visão<br />
clínica e precisão técnica.<br />
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Revista <strong>NewsLab</strong> | Jun/Jul 16