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JULHO_AGOSTO-2019 - edição Nº 255

Lusitano de Zurique - edição Nº 255

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16 | <strong>JULHO</strong>/<strong>AGOSTO</strong> <strong>2019</strong> | LUSITANO DE ZURIQUE | www.cldz.eu<br />

COMUNIDADES<br />

Toda a Suíça cheia de mulheres<br />

lutadoras<br />

DUARTE PACHECO<br />

O dia de greve das mulheres de 14<br />

de junho superou todas as expectativas.<br />

Centenas de milhares de<br />

mulheres manifestaram-se, muitas<br />

organizaram ações de greve -<br />

algumas delas, mesmo apesar de<br />

uma forte repressão.<br />

“Tanta energia, tanta solidariedade, tantas<br />

mulheres. Estou impressionada!”. Esta foi<br />

a reação de imensas participantes na demonstração<br />

de 14 de junho. Muitas delas<br />

não tinham sequer palavras para o que<br />

estavam a ver acontecer. Só em Zurique<br />

reuniram-se mais de 100.000 mulheres na<br />

manifestação para protestar contra a discriminação<br />

contra as mulheres. Dificilmente<br />

alguém teria perspectivado este número<br />

incrível de participação - esta foi a maior<br />

demonstração da história da Suíça. Havia<br />

professoras de jardim de infância, funcionárias<br />

de limpeza, mães com carrinhos de<br />

bebé, até avós, cuidadoras, estudantes,<br />

jardineiras...<br />

Paralisações e reivindicações<br />

Os problemas com que elas se deparam<br />

no seu quotidiano laboral são diferentes.<br />

Mas todas elas lutaram neste dia histórico<br />

por maiores salários, mais tempo e respeito.<br />

Também muitas ativistas do Sindicato<br />

Unia estiveram presentes. No dia da greve,<br />

muitas paralisaram o trabalho, organizando<br />

“Walk-outs”, ou seja, abandonaram<br />

temporariamente o seu local de trabalho,<br />

seja um jardim de infância ou um hotel, e<br />

manifestaram as suas exigências para com<br />

os seus empregadores. Por exemplo, reivindicaram<br />

o direito “de planear o seu tempo<br />

livre, para que se mantenham saudáveis” ou<br />

o direito ao emprego direto nos hotéis.<br />

Comprometimento apesar da forte<br />

repressão<br />

Na empresa farmacêutica Cilag foram mais<br />

de 40 mulheres que organizaram e participaram<br />

num Walk-out. Noutros lugares,<br />

foram menos as funcionárias que participaram<br />

nas ações. Particularmente na área<br />

da enfermagem, onde tradicionalmente<br />

muitas mulheres trabalham, não é de todo<br />

possível que as mulheres simplesmente<br />

parem de trabalhar. E o medo também é<br />

grande. Isabelle Lüthi, do Unia Zürich-Schaffhausen,<br />

afirma: “Em alguns lugares,<br />

por exemplo, na limpeza de hotéis, as mulheres<br />

foram ameaçadas antes da greve,<br />

para que não tivessem qualquer contato<br />

com o sindicato”.<br />

Mesmo assim, apesar destas ameaças, é<br />

de salientar o número de trabalhadoras de<br />

diferentes áreas que, inseridas na campanha<br />

“nosmulheres<strong>2019</strong>” do Sindicato Unia,<br />

prepararam com grande comprometimento<br />

nos meses anteriores, o dia da greve<br />

com o objetivo de melhorar as suas condições<br />

de trabalho. Por exemplo, a ativista<br />

do Unia e portuguesa Cátia dos Santos,<br />

funcionária de limpeza ou Helena*, do ramo<br />

da indústria. Cátia afirma: “Nós, mulheres<br />

de limpeza, temos direitos como todos os<br />

outros. É por isso que lutamos!<br />

Com efeito, no dia 13 de Junho, dia anterior<br />

à greve das mulheres, num artigo intitulado<br />

“Milhares de mulheres trabalham em empregos<br />

precários” o jornal Blick publicou<br />

duas entrevistas que comprovam a forte<br />

repressão que as mulheres sentem no seu<br />

quotidiano laboral quando decidem lutar<br />

pelos seus direitos. É o caso não só de<br />

Helena D.*, que trabalhava para a empresa<br />

Zimmer Biomet Group em Winterthur, líder<br />

global no ramo da tecnologia ortopédica,<br />

como também de Dolores V. e Inocencia<br />

F., que trabalhavam para a empresa de limpeza<br />

Burkhard & Partner, Reinigung AG,<br />

sub-contratada pelo Sheraton Zurich Hotel,<br />

pertencente à maior cadeia de hotéis<br />

do mundo, o Grupo Marriott.<br />

Aqui fica a tradução integral de ambas as<br />

entrevistas:<br />

Explorada, humilhada e despedida<br />

Tal como Helena D.*, milhares de mulheres<br />

trabalham em empregos precários na<br />

Suíça e são exploradas, humilhadas e despedidas<br />

pelos seus empregadores. Muitas<br />

delas são mulheres migrantes, mulheres<br />

suíças com baixa qualificação ou mães<br />

solteiras.<br />

Helena D. não consegue calar-se mais:<br />

«Não pode ser, que eu, uma funcionária<br />

motivada, alguém que fazia horas extras,<br />

do nada, seja descartada”. Para a mãe<br />

solteira portuguesa de 29 anos de dois filhos,<br />

o mundo desmoronou a 29 de maio<br />

de <strong>2019</strong>.<br />

Helena D., que trabalhou por pouco mais<br />

de 4.300 francos por mês durante quatro<br />

anos como empacotadora e coordenadora<br />

na bilionária empresa Zimmer Biomet<br />

Group em Winterthur ZH, é convocada<br />

para uma reunião numa quarta-feira. Nessa<br />

reunião, os seus superiores informaram-na<br />

que seria melhor para todos os envolvidos<br />

terminar a relação de emprego.<br />

Segundo uma carta da empresa Biomet<br />

que o jornal Blick na sua versão papel e<br />

online disponibiliza, a empresa afirma que<br />

“as atitudes, a motivação, o desempenho e<br />

a confiança não existem há muito tempo”.<br />

Para a jovem, esta é apenas uma desculpa<br />

para a despedirem: “Nós fomos constantemente<br />

pressionadas a trabalhar ainda<br />

mais rápido e a realizar mais turnos extra”.<br />

Ela opôs-se. “Eu disse ao meu supervisor<br />

que eu sou uma mãe solteira e, como tal,

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