RCIA - ED. 154 - MAIO 2018
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>ED</strong>ITORIAL<br />
por: Ivan Roberto Peroni<br />
As contrapartidas servem de pano de fundo<br />
para a corrupção e a injustiça<br />
Até que ponto a condenação e a prisão de Lula terão influência na mudança dos hábitos dos políticos<br />
e nos costumes dos gestores públicos? A nós que vivemos distante deste cenário bandido, só o tempo<br />
poderá dizer, contudo, o doleiro Alberto Youssef que orgulha-se de ter cumprido o que prometeu<br />
nos primórdios da Operação Lava Jato (que derrubaria a República), é taxativo ao afirmar que a<br />
investigação não vai mudar os costumes políticos no país. “Essa fase de Lava Jato vai passar e vai<br />
continuar tudo como está. O sistema vai continuar. O Brasil não vai mudar”.<br />
Quando o cineasta José Padilha, em<br />
artigo publicado n’ O Globo, disse<br />
que a Lava Jato é uma oportunidade<br />
de desmontar o mecanismo<br />
que vem explorando a sociedade<br />
brasileira há décadas, em favor de<br />
políticos corruptos, não estava desdenhando<br />
Colombo que num banquete<br />
colocou o ovo da galinha em<br />
pé. O Brasil sabia desta corrupção<br />
e qualquer um poderia denunciá-la,<br />
desde que tivesse inteligência para<br />
isso. Padilha foi mais além: “Na<br />
base do sistema político brasileiro,<br />
opera um mecanismo de exploração<br />
da sociedade por quadrilhas formadas<br />
por fornecedores do Estado e<br />
grandes partidos políticos”.<br />
Em meio ao clima de discussão sobre<br />
a prisão de um ex-presidente da<br />
República, é que vem a pergunta: o<br />
sistema político vai mudar? A tentativa<br />
de moralização deste cenário é<br />
curiosa pois fecha-se uma porta e<br />
são abertas outras três, novos métodos<br />
surgem e a operacionalização<br />
bandida não tem como ser contida.<br />
Nos últimos 30 anos, os gestores públicos - muitos são os municípios que<br />
usam essa estratégia - em nome de uma política de desenvolvimento produtivo,<br />
acabam pactuando com algumas concessões e sob a chancela em<br />
contrapartida, na ânsia de conquistarem a vinda de empresas, acabam<br />
entregando a chave da cidade. E a explicação para este fato é bem clara:<br />
quando algo é oferecido em contrapartida, significa que alguma coisa está<br />
sendo dada em troca ou em compensação de alguma coisa.<br />
Nesta convivência com Araraquara, cansamos de ouvir “eu trouxe para cá<br />
a indústria tal” ou o aporte manifestado sobre a chegada da rede de lojas<br />
do grande empresário. Ótimo que o campo industrial ou comercial venha<br />
a se expandir, desenvolva projetos, crie empregos, porém, na maioria das<br />
vezes pouco ou nada se fala de concessões, benefícios, contrapartida,<br />
beneficiando-se quem chega; enquanto isso, comerciantes e industriais que<br />
comeram aqui o pão que o diabo amassou, jamais receberam qualquer<br />
incentivo a não ser impostos e fiscalizações.<br />
A regra, ou melhor, a lei, teria que ser idêntica para todos, impedindo que os<br />
municípios se transformem escancaradamente em um balcão de negócios,<br />
troca de moedas ou toma lá da cá. O Brasil não pode ser pintado apenas<br />
pela desigualdade existente entre raças, ricos e pobres, mas também deve<br />
ter sua justiça social instalada na economia, onde o micro, pequenos e<br />
grandes empresários tenham os mesmos direitos.<br />
A contrapartida pode ser legal, mas imoral pelas circunstâncias que permitem<br />
aproximar os políticos das grandes empresas e estas acabam comprando<br />
benefícios, financiando campanhas e mantendo o mecanismo dito<br />
por Padilha.<br />
9|