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RCIA - ED. 154 - MAIO 2018

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<strong>ED</strong>ITORIAL<br />

por: Ivan Roberto Peroni<br />

As contrapartidas servem de pano de fundo<br />

para a corrupção e a injustiça<br />

Até que ponto a condenação e a prisão de Lula terão influência na mudança dos hábitos dos políticos<br />

e nos costumes dos gestores públicos? A nós que vivemos distante deste cenário bandido, só o tempo<br />

poderá dizer, contudo, o doleiro Alberto Youssef que orgulha-se de ter cumprido o que prometeu<br />

nos primórdios da Operação Lava Jato (que derrubaria a República), é taxativo ao afirmar que a<br />

investigação não vai mudar os costumes políticos no país. “Essa fase de Lava Jato vai passar e vai<br />

continuar tudo como está. O sistema vai continuar. O Brasil não vai mudar”.<br />

Quando o cineasta José Padilha, em<br />

artigo publicado n’ O Globo, disse<br />

que a Lava Jato é uma oportunidade<br />

de desmontar o mecanismo<br />

que vem explorando a sociedade<br />

brasileira há décadas, em favor de<br />

políticos corruptos, não estava desdenhando<br />

Colombo que num banquete<br />

colocou o ovo da galinha em<br />

pé. O Brasil sabia desta corrupção<br />

e qualquer um poderia denunciá-la,<br />

desde que tivesse inteligência para<br />

isso. Padilha foi mais além: “Na<br />

base do sistema político brasileiro,<br />

opera um mecanismo de exploração<br />

da sociedade por quadrilhas formadas<br />

por fornecedores do Estado e<br />

grandes partidos políticos”.<br />

Em meio ao clima de discussão sobre<br />

a prisão de um ex-presidente da<br />

República, é que vem a pergunta: o<br />

sistema político vai mudar? A tentativa<br />

de moralização deste cenário é<br />

curiosa pois fecha-se uma porta e<br />

são abertas outras três, novos métodos<br />

surgem e a operacionalização<br />

bandida não tem como ser contida.<br />

Nos últimos 30 anos, os gestores públicos - muitos são os municípios que<br />

usam essa estratégia - em nome de uma política de desenvolvimento produtivo,<br />

acabam pactuando com algumas concessões e sob a chancela em<br />

contrapartida, na ânsia de conquistarem a vinda de empresas, acabam<br />

entregando a chave da cidade. E a explicação para este fato é bem clara:<br />

quando algo é oferecido em contrapartida, significa que alguma coisa está<br />

sendo dada em troca ou em compensação de alguma coisa.<br />

Nesta convivência com Araraquara, cansamos de ouvir “eu trouxe para cá<br />

a indústria tal” ou o aporte manifestado sobre a chegada da rede de lojas<br />

do grande empresário. Ótimo que o campo industrial ou comercial venha<br />

a se expandir, desenvolva projetos, crie empregos, porém, na maioria das<br />

vezes pouco ou nada se fala de concessões, benefícios, contrapartida,<br />

beneficiando-se quem chega; enquanto isso, comerciantes e industriais que<br />

comeram aqui o pão que o diabo amassou, jamais receberam qualquer<br />

incentivo a não ser impostos e fiscalizações.<br />

A regra, ou melhor, a lei, teria que ser idêntica para todos, impedindo que os<br />

municípios se transformem escancaradamente em um balcão de negócios,<br />

troca de moedas ou toma lá da cá. O Brasil não pode ser pintado apenas<br />

pela desigualdade existente entre raças, ricos e pobres, mas também deve<br />

ter sua justiça social instalada na economia, onde o micro, pequenos e<br />

grandes empresários tenham os mesmos direitos.<br />

A contrapartida pode ser legal, mas imoral pelas circunstâncias que permitem<br />

aproximar os políticos das grandes empresas e estas acabam comprando<br />

benefícios, financiando campanhas e mantendo o mecanismo dito<br />

por Padilha.<br />

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