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Bauru de todos nós

Livro da Academia Bauruense de Letras em homenagem a Bauru no seu 124º aniversário

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As vinte línguas de Bauru

Graciliano Ramos, em carta a seu grande amigo J.

Pinto da Mota Lima Filho, em 1926, diz: “Um sertanejo daqui

foi o ano passado a Bauru, ao café. De volta, confessou-me

que o que lá havia mais extraordinário era se falarem mais

de vinte línguas difíceis, ‘principalmente a língua paulista e

a língua japão’. Parece que são duas línguas realmente difíceis.”

Graciliano estava perturbado com os novidades linguísticas

e literárias que aconteciam no sul, Rio, onde seu

amigo Pinto estava, e São Paulo, onde os tais modismos

mais o espantavam. Primeiro pede: “vê se me arranjas aí

uma gramática e um dicionário de língua paulista, que não

entendo, infelizmente.” Depois insiste, agora no campo da

literatura: “E manda-me dizer se é absolutamente indispensável

escrever sem vírgulas.” Graciliano estaria terminando

de escrever o seu primeiro romance, Caetés, que seria publicado

só em 1934. Logo iria provar para o mundo que o

novo em literatura independe das modas exteriores no trato

da língua e das sensações.

Quanto a Bauru, em 1926 ainda era considerada Boca

do Sertão, ainda estava bastante afastada da civilização. É

estranho para mim (que cresci numa fazenda de café, no

bairro rural Matão, em Dois Córregos) pensar em plantações

de café em Bauru – mas aqui houve (existe ainda, não produz

mais, mas pode ser visitada) a Fazenda Val de Palmas,

uma das maiores produtoras de café do país. Difícil é explicar

a questão das vinte línguas. Mas, além da “paulista” (que

Graciliano deveria ver, com razão, como muito diferente da

língua do sertanejo nordestino), teríamos a dos japoneses,

dos sírios, libaneses, italianos, espanhóis, austríacos, alemães,

dinamarqueses, franceses, judeus, que vieram ajudar

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