Bauru de todos nós
Livro da Academia Bauruense de Letras em homenagem a Bauru no seu 124º aniversário
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de lugares distantes em busca da eficiência do tratamento,
da cura, na marca apenas de uma cicatriz.
Foram-lhe outorgados prêmios internacionais no
campo da pesquisa, no aprimoramento das técnicas de fissura
labial e fenda palatina, em abordagem multidisciplinar.
Nosso querido escritor Rubem Alves conviveu nessa
realidade, sendo pai de um paciente com fissura labial. Escreveu
e ministrou a palestra “O Sentido da Vida”. Descobre
ser a sala de espera mais democrática já visitada. Não há o
silêncio velado, o medo da nudez revelada. Ninguém tem
receio de olhar para o outro. São iguais. Contam experiências.
Em qualquer parte do corpo as imperfeições são encobertas
pelas vestes, na face é estampada ao vento. Ali,
todas as diferenças desaparecem. Está presente uma amostra
da sociedade brasileira: negros, mulatos, brancos, rostos
com traços de índio, olhos puxados orientais. Sotaques de
um Brasil de norte a Sul. Cantam o rural, o urbano, o caipira,
o intelectual. O falar, o escrever não entram no prontuário
do paciente.
“Mas são nos pés que todas as diferenças perdem o
sentido. Contam as histórias por onde andam, caminho de
terra, de tapetes macios. Sandálias havaianas, tênis Nike,
alpercatas, botinas, sapatos rústicos, sapatos de verniz. Ao
serem internados, um conga azul, marcas da igualdade. E
tudo pelo mesmo preço – nada.”
Não há segredos, não há prioridade, pela conta bancária.
As pessoas se sentem mais fraternas. São tratados
pelo sofrimento de um erro da Natureza. “O corpo que a natureza
feriu é o pão eucarístico que se come”. O socialismo
sonhado e nunca vivido.